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Meio século a falar do céu
Sou um pregador da fé. Por profissão e por vocação. É meu trabalho e é o meu chamado. Vivo a propor um novo céu e uma nova terra. (2 Pd 3,13) Houve um dia na minha vida de jovem de pouco mais de 20 anos que achei que poderia passar resto dos meus dias como aproximador: aproximaria as pessoas de Deus, ligaria umas às outras, ajudaria meu povo a pensar o antes, o durante e o depois de cada vida.
Em dois cursos, um de Filosofia e outro de Teologia estudei 35 matérias, mais 15 ou 20 cursos sem os quais seria difícil exercer minha missão. Desde então, creio ter folheado e lido mais de 3 mil livros que me ajudaram a entender um pouco melhor o mundo e, nele, o ser humano. Li autores católicos, evangélicos, judeu, muçulmanos, ateus e agnósticos. Quando o bispo impôs as mãos sobre mim, dizendo que eu estava apto para anunciar Jesus, orientar os católicos e dialogar com outras religiões e igrejas eu tinha uma razoável idéia do que disseram os filósofos, os teólogos, os pensadores, os historiadores, os sociólogos, os psicólogos, os pedagogos, os cientistas, os antropólogos e os místicos sobre o universo, o planeta, os povos, a felicidade, as pessoas, as religiões, os acertos e os desvios dos pensadores e religiosos que me precederam.
Sou sacerdote. Cuido do sagrado. Num mundo que dessacraliza, tomo cuidado para não sacralizar demais, mas luto para que não se perca a noção do sagrado. Defendo a sacralidade do óvulo, do espermatozóide, do sexo, do homem, da mulher, do feto, da criança, do ancião, do matrimônio, da família, da fé, da política, da pessoa humana, da vida!
Outros também fazem isso, mas o fazem dentro da sua profissão e vocação que às vezes não inclui um criador de quem viemos e para quem iremos. Eu o incluo. Falo com um dedo da mão direita apontando, enquanto os outros se curvam reverentes para o céu e todos os outros dedos da mão esquerda em gesto de quem perpassa todas as coisas. Eu anuncio que Deus se importa com tudo e com todos.
Se me acho relevante? Acho! Não fabrico carros, nem casas, não lido com dinheiro, não produzo nem mesmo um alfinete, não crio bens materiais. Não sou psicólogo, nem psiquiatra, nem médico, nem sociólogo, nem político, nem assistente social. Numa reunião onde todos se apresentassem dizendo o que fazem eu teria que simplesmente dizer que sou sacerdote e aproximo, motivo, esclareço e serenizo pessoas! Se isso não for trabalho relevante então as outras profissões também não são.
Se todos na mesma reunião tivéssemos cinco minutos para dizer do que falamos quando estamos com uma pessoa, eu dispensaria os meus cinco minutos. Diria apenas que falo da busca de si mesmo, da busca do outro e da busca de Deus. Falo do grande antes e do grande depois da cada vida. Crio laços e ajudo ao máximo a desfazer nós. Tento descrucificar os crucificados, reparo pessoas estilhaçadas com oferecendo-lhes os ligamentos da esperança da fé e da caridade. Tento firmar os que perderam a firmeza. Ensino partilha solidariedade. E se isso não é algo relevante, então o que faço não é relevante!
Esses dias, completei 50 anos de vida religiosa. Eu e meus colegas não fizemos festa. Reunimo-nos e falamos sobre nossa opção. Ninguém contou vantagem. Mas todos achamos que valeu a pena gastar 50 anos falando de um Novo Céu e uma Nova Terra. Na maioria dos casos, alguém cresceu com nossa presença, nossa fala, nossa bênção e nossa prece! Pelos erros, perdão! Pelos acertos, gratidão!
Pe. ZEZINHO scj
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Lindo!!
ResponderExcluirJá fui católica, mas parti para outra opção. Embora não sendo católica comecei a apreciar as músicas de Pd Zezinho com uma Sra que mora comigo. Hoje(literalmente) percebi que as músicas me tocam profundamente e pretendo escutá-las todos os dias (terapia?!).Já são fundo do computador.
Exemplo de vida, estrela sem estar na midia!
Parabéns, felicidades,...