quinta-feira, 9 de julho de 2009

Artigo - EM BUSCA DA LINGUAGEM CERTA

-


A comunicação humana é feita de linguagens. E linguagem é mais do que vocábulos enfileirados. Não se prega apenas com a linguagem falada: existe a escrita, a dos sinais, a dos gestos, a de palco, a de rádio e a de televisão, existem o teatro e a música... Assumir uma linguagem equivale a viajar em veículo especial ao encontro dos outros. No veículo, quem vai precisa saber conduzir. Não se pode dirigir bicicleta como se fosse moto, nem moto como se fosse carro, nem carro como de fosse avião. Todos os veículos têm as suas vantagens e os seus limites.
Falemos das linguagens religiosas. Há religiosos pregadores não se importam muito com essa distinção e até se ofendem quando alguém lhes diz que usam de maneira errada um veículo certo. Na verdade, embrulham conteúdo bom em pacote errado. Fica pior quando o conteúdo é ralo e repetitivo, por falta de mais cultura e mais leitura, e, ainda por cima, a linguagem é exagerada.
Falar em linguagem de púlpito, com voz de púlpito para ressoar em abóbada que não existe é emitir o som errado no microfone e no lugar errado. O pregador teria que achar o tom e a altura do seu discurso sem gritar ou falar ao microfone perto demais. Quando a voz sai empolada e impostada, quando o povo mal ouve o que ele grita ou murmura, é sinal de que, embora o pregador use de vocábulos e termos teologicamente corretos, adota a linguagem errada. Ignorou a linguagem do microfone, onde o som mal utilizado prejudica o conteúdo.
Uma coisa é o idioma, outra, a linguagem pela qual o idioma passa. Microfone raramente é para gritar, exceto em estádios ou praças públicas e, mesmo assim, devidamente controlado.
Luzes e câmeras, lugar, posição dos pregadores ou cantores no palco, postura, trajes, uso de pequenos recursos e das cores adequadas, tudo isso requer engenharia e parceria. Se for para ser visto, que o pregador se mova, mova os olhos, mova a cabeça, os braços e as mãos como quem conta uma história ou leva à reflexão milhares de pessoas que estão em casa confortavelmente instaladas num sofá e facilmente sujeitos à distração.
A linguagem que vem pelas câmeras precisa ser mais envolvente, menos estática e muito mais cheia de detalhes que não ofusquem a fala nem o canto. Pregadores que não se mexem, ou que mal conseguem mover os dedos, tal a exigüidade dos gestos, parecerão estátuas.
Pregadores que pulam saltam, reviram os olhos, mexem-se demais, parecerão bonequinhos de desenho animado. O exagero dos gestos, bocas e olhos desmesuradamente abertos, exuberância estudada, já que no cotidiano não são assim, podem chamar demais a atenção do telespectador para a pessoa do pregador e não para a sua mensagem, que talvez seja boa.
Deitar e rolar no chão enquanto prega, engatinhar, agachar-se, pular pelos corredores do templo o diante das crianças pode dar certo com o grupo de dança, ou com a catequista a ilustrar o sermão ou a mensagem antes da missa. Mas, se o pregador fizer isso, terá usado as câmeras com gestos errados. O decoro da liturgia exige moderação do seu presidente. Boa intenção requer, no mínimo, boa reflexão e boa direção. Quem ainda não estudou a linguagem dos gestos e do visual e o impacto dessa linguagem sobre o telespectador precisa aconselhar-se com quem a conhece. Para isso, existem diretores de palco e professores de dança ou de cerimonial. É só convidá-los!
Quem vai conjugar duas ou três linguagens numa cerimônia precisa saber como usá-las. Gesto é uma coisa, dança é outra, som é outra. Além disso, existe o conteúdo que é também uma linguagem. Será de libertação? Será de louvor? Será carismática? Será sócio-política? Será de exortação? Será de testemunho? Será litúrgica?
Vejo muitos pregadores preocupados em aprender a linguagem do rádio e da televisão. Isso é bom. Vejo outros totalmente despreocupados, a improvisar gestos e mergulhos e pulos durante a liturgia, a soltar gritos, canções e melodias inadequadas para o momento. Vejo celebrantes a pegar o violão ou a sanfona, interromper a missa e cantar como se fosse este o seu mister. Vejo quem não tem o dom de compor a inventar melodias estapafúrdias e harmonias impossíveis, a sair do tom, teimando em cantar e inventar prefácios ali, no ato! É um desastre. Fiéis que conhecem música saem rindo da celebração. Equivale a mandar um jogador de pé quebrado chutar pênalti, ou um gago improvisar um discurso na festa de formatura. Gagueira é limite que quem tem administra, falando na hora certa e no lugar certo. Há momentos em que o gago diz com humor: -Não pó..pó...ss..ço, tenho limite na fala! Ch... Chamem outro!
Vejo tecladistas ou guitarristas improvisando melodias pobres durante a consagração e a distrair os fieis com seus “ding ding ding dong” repetitivos e fora de lugar, até porque não se deve tocar música durante a consagração. Vejo danças mal ensaiadas, gestos mal ensaiados e pergunto-me se não poderiam ser melhores. A resposta é: poderiam!
Há cursos de dicção, de linguagens, de dança e de música que os fiéis poderiam freqüentar para passar aos demais. Há professores que poderiam dar aos celebrantes algumas dicas de como usar os microfones e como se postar diante das câmeras. Em muitas comunidades nada disso é feito. O resultado são liturgias, ou exuberantes demais com palmas e danças e cantos fora de contexto, ou com gestos tímidos demais que mais lembram uma estátua falante do que um ser humano a discursar com todo o seu ser.
Acharemos a linguagem? Algumas igrejas acharam e colhem o resultado da postura de seus pregadores. Mesmo que discordemos do que dizem, eles estão sabendo dizê-lo. Se aparecer demais e de maneira atabalhoada é ruim, aparecer de menos também é.
O padre que, diante das câmeras, beijou as chagas de um rapaz ferido por um tiro de bandido, para demonstrar solidariedade, talvez tivesse a melhor das intenções, mas usou do gesto errado. Exagerou. Bastaria ter tocado nas mãos do moço e conversado com ele. O rapaz falava! Seu gesto dramático foi exuberante demais, porque visou às câmeras, uma vez que, logo a seguir, falou com o apresentador e não disse uma palavra ao moço ferido. Gesto televisivo, mas não cristão!

É justo que o povo pergunte se ele faz isso na igreja dele. Naquele momento, pareceu mais um ator a desempenhar o papel do bom samaritano que vê o enfermo como parte do teatro, mas quer mesmo é ser filmado. No caso, valeu mais o seu gesto do que o enfermo ali presente. Eis aí um exemplo de uso errado da linguagem das câmeras. É a tentação da microfonite ou da holofotite aguda, onde vale mais quem fala ou aparece do que aquilo que é dito ou do que a pessoa a quem foi dito.
Gestos traduzem um pensamento. O padre que foi visitar os amigos famosos que atropelaram e mataram um casal deveria também ter visitado a família do casal atropelado. Se o fez, deveria ter pedido à mídia que cobrisse as duas visitas. Em primeiro lugar, deveria ter exigido privacidade. Não havendo, deveria ter exigido a mesma cobertura. O que apareceu na mídia foi metade da linguagem.
Tomemos cuidado. Se somos aprendizes de pregação- e sempre o seremos-, convém aprender com quem sabe. Muitos de nós, que achamos que sabemos, na verdade, não sabemos. O diretor de palco pode errar, mas um pregador sem direção de alguém pode errar muito mais. Apresentar-se é matéria importante em qualquer curso de relações humanas, mas muitos pregadores nunca o freqüentaram, nem acham que precisam. Se o fizessem, melhorariam as suas pregações!


José Fernandes de Oliveira
PADRE ZEZINHO, SCJ

30/06/2009

Um comentário:

  1. Rodrigo Bianchesi
    Paz e bem!
    Pesquisando... Encontrei num site, aostolas-pr.
    Um artigo, Setembro é Mês da Bíblia. (Frei Ildo Perondi)
    Texto que diz:
    O Pe. Zezinho nos ensina cantando...
    “Dai-me a palavra certa, na hora certa, do jeito certo e pra pessoa certa”. Então buscando no Youtube, só encontrei a letra da música Palavra certa ¿ Onde...
    Não consegui o Youtube, mas para minha surpresa, e grande alegria Faço Parte dos seguidores do nosso querido Padre Zezinho!
    Bênção de Deus.
    Parabéns pelo blog!
    Fica na paz.

    ResponderExcluir