terça-feira, 17 de novembro de 2009

Artigos - 16 de Novembro

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VERDADES SOBRE A MÚSICA CATÓLICA


Após 45 anos de composição e de canção católica, creio ter algo a dizer aos que afirmam ter recebido alguma influência da minha parte. Aos outros, eu não saberia o que dizer. Deverão consultar seus mestres. Para quem pede que eu me pronuncie, eis algumas reflexões.

*A música católica tem séculos de existência. *Grandes músicos católicos fizeram história. *A Igreja aprendeu música com outras religiões; também a ensinou. *A boa música aproximou irmãos das mais diversas igrejas. *Alguns católicos e evangélicos preconceituosos proibiram seus discípulos de cantar músicas de outras igrejas, mesmo quando o texto em nada contrariava a doutrina da sua Igreja. *Há excelentes compositores e intérpretes católicos no Brasil. As letras e a melodias estão aí para confirmar esta verdade. *A música católica tem melhorado sensivelmente nas últimas décadas. *Duas vertentes marcam a música dos católicos: a vertente do louvor e a vertente da solidariedade.

Eis aí algumas das muitas verdades sobre a canção católica. Mas há outras verdades menos agradáveis de se lembrar. E convém que as encaremos.

*Há sectarismo por parte de alguns grupos e algumas mídias. Não vendem nem executam canções de ouros grupos e outras igrejas. Precisam vender o que produzem e acabam impondo as suas canções, porque possuem maior poder de mídia. *Nem sempre as composições cantadas na missa respeitam as normas litúrgicas. *Há textos cantados nas missas e editados por gravadoras católicas que ferem a ortodoxia e a catequese. *Muitos autores nunca leram o Catecismo da Igreja Católica (CIC), por isso alguns textos chegam a ser heréticos. *Muitos cantores e compositores desconhecem as encíclicas sociais e os documentos sobre a liturgia, por isso suas canções não respeitam as normas oficiais. *Há emissoras católicas que não tocam senão canções de um grupo. Ignoram as dos outros. *Instalou-se em alguns grupos um forte preconceito contra as canções de outras vertentes. Não tocam, não aprendem, não cantam junto e, quando podem, impõem na paróquia as canções do seu movimento. *Não há espaço para outros iluminados. *Há um tipo de sectarismo que impede músicos de cantarem juntos, um a canção do outro.

Recentemente, uma jovem propunha, na televisão, que católicos não cantassem canções de outras igrejas. Para começo de conversa, teríamos que parar de cantar Haendel e Bach e os evangélicos deveriam proibir Palestrina e Vivaldi que eram sacerdotes católicos.

Mesmo sendo alertadas, algumas comunidades insistem em cantar e tocar canções de sentido dúbio para a fé. Por exemplo, a conhecida frase de uma canção executada nas missas: “Quero amar somente a Ti” nega o essencial do cristianismo e o texto de Mc 12,28-32. Deus não quer que amemos somente a Ele. A mencionada canção vai contra a fé cristã. Mas é cantada em cultos e missas. Assim são inúmeras outras. Os corais e grupos nem sempre são felizes nas escolhas das canções. Não olham o texto. Olham mais a melodia.

Há muito que se elogiar e muito a ser corrigido. Um debate sincero e honesto em todas as comunidades e grupos de cantores ajudaria, em muito, a fé católica. Como está, deixa muito a desejar. Este diálogo deve ser feito sob direção de bispos e sacerdotes serenos que reúnam cantores de todas as linhas e tendências. Faz falta na Igreja. Toda a vez que um grupo se torna hegemônico, a Igreja fica mais pobre. A meu ver, está havendo mais fechamento do que abertura. É por ela que me pronuncio. Quem tem mais poder de mídia está impondo sua canção. Não é cristão, não é católico e não é santo.



CANTAR SEM RECEBER APLAUSOS


Quando canto, pedindo ao rico que dê mais e reparta; ao fanático, que respeite a fé do outro; ao dono do poder, que o partilhe; quando peço diálogo entre as igrejas, quando canto contra o aborto, ou em favor dos oprimidos, meu canto começa a incomodar. Aí já não encontro tantos patrocinadores, nem tanta gente que deseje me ouvir. E então? Cedo para vender e ser tocado? Mudo meu canto para poder ser convidado e ter os estádios cheios, ou sigo minha consciência? Quem me ouve há décadas já sabe que caminho foi o meu. Quero ser popular, mas não às custas de minhas convicções.



Há uma canção que dói, quando o cantor pede qualidade. Se o som não está bom será difícil dar o show que esperavam. Somos, então, mal vistos e mal falados, porque “exigimos” de um lugar pobre um bom som. Acham que cobramos caro e queremos demais. Pedimos água no palco para podermos cantar direito por três horas, pedimos um sanduíche ou frutas porque chegar de viagem e cantar com fome é impossível. Pedimos um banheiro, porque sair do palco, atravessar no meio do povo para ir ao banheiro lá no outro lado, às vezes fica impossível. O povo quer falar e segura a gente. Há organizadores que entendem isso como ofensa.



Já houve cantores que literalmente molharam as calças porque o povo não os deixava ir ao banheiro. Chega uma hora em que o som não sai e o corpo tem fome. Acresçamos a isso, viagens de oito ou dez horas de avião, mais cinco de carro. Poderíamos não ir, mas, então, aquele povo não teria o que deseja: ouvir ao vivo quem chegou a eles em disco. Pobre tem o direito à nossa presença. Para o pároco, nossa presença pode ser impulso para muitos meses de pregação. Se o conteúdo do show for denso, ele tirará proveito disso.



Por isso, vale a pena ir cantar. Fácil não é, mas também não é fácil ser bispo ou ser pároco. Cada qual com seus méritos e com suas cruzes. Cantores da fé também às têm. Critiquem-nos se formos exigentes demais. Mas aceitem o fato de que para cantar há que haver o mínimo necessário.




ACABOU A NOVIDADE


Isto mesmo! Acabou a novidade. Estão quase todos usando os mesmos vocábulos, as mesmas expressões, o mesmo jeito de cantar e introduzir a canção, as mesmas palavras de ordem para levar ao silêncio e à entrega, os mesmos pedidos de braços balançando, as mesmas mãos no peito, os mesmos “entregue-se a Jesus”... É tudo igual, repetitivo e previsível e as musicas quase sempre dizem as mesmas coisas, uma após outra. São shows monotemáticos.

É bom acentuar uma ênfase, mas há que haver renovação do seu conteúdo. Se querem louvar, porque gostam de louvar e esta é a sua vocação, que o façam! É maravilhoso, mas achem outras palavras, outras canções e outras expressões, porque até o salmista se dava conta disso quando mandava os cantores cantarem ao Senhor um canto novo e diferente e que tocassem com maestria. ( Sl 33,3; 40.3;96,1; 144,9)


O PERIGO DA MESMICE


A mesmice é inimiga da pastoral e da mensagem. Ninguém em sã consciência pode ser contra o louvor, mas pode questionar a maneira como ele é transmitido. Diga-se o mesmo de outras mensagens. Se o povo está indo menos, chamando menos e achando que, se for, vai ver a ouvir a mesma coisa, se há comunidades de pregadores que mal conseguem se manter, porque não são mais chamadas para pregar ou cantar sua fé, cabe aos cantores renovar a linguagem falada, cantada e coreografada para que as pessoas percebem ali um canto novo e diferente.

Se querem ressaltar as encíclicas sociais, a vida familiar, a fome do povo, e a resposta da Igreja, se querem cantar cantos de justiça e paz que o façam! Mas atualizem, o tempo todo, sua linguagem. Se querem louvar porque louvar é o seu chamado, atualizem sua expressões e linguagens. A Bíblia diz que devemos louvar, mas não manda só louvar nem louvar todos do mesmo jeito. E ainda acrescenta que se cante um cano novo. (Sl 98,1; 149,1) E pede que se toque direito e com alegria. (Sl 33,3).


Pe. Zezinho, scj


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4 comentários:

  1. De fato um sacerdote consciente da sua missão e do dom de Deus em sua vida que é a música! Que sirva de ensino para toda a Igreja!

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  2. eu nao sou nenhum compositor, mas arrisquei escrever algumas cancoes e todas expressam sonhos e alguns problemas socias, como esta:


    è por causa dessa mania de poder que a nossa gente nao pode crescer, é o rico semeando a injustica entre nos e é o pobre se enfrentedo para ser mais.

    >>é preciso mudar essa historia é preciso mudar a direcao, é preciso para de pensar nesse eu, é preciso repartir o pao.

    é por causa dessa mania de prazer que a nossa gente gente nao pode cescer, é o rico jogando fora o seu pao e éo pobre por ele criando confusão.
    >>refrao
    é por causa dessa mania de ter que a nossa gente nao pode crescer é o rico com essa cobica é o pobre nao sendo fiel a sua missa.

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  3. É um dilema para muitos,esse tópico ''renovar-se''...Sempre temos algo a aprender, não esquecendo o Catecismo Católico.Eu quando estou participando de retiros,escolas catequéticas e litúrgicas,aprendo tanto,me dá uma luz,vai encaixando as peças do imenso quebra-cabeça que é entender as leis da igreja com as necessidades de cada comunidade...Saio dali com mais coragem,mas quando chego em minha realidade atual
    tudo se desmorona...Você se vê sozinha,com todos até mesmo com pesar os Padres de minha paróquia contra as regras básicas,até da boa e velha educação... O que fazer?Tô lascada...Mas desistir
    nunca...Deus é muito mais...

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  4. Padre Zezinho não fala bobagens.
    É por isso que a maioria dos católicos o evitam, porque é mais conveniente para nós ouvir bobagens, pois estas não nos convidam ao compromisso.
    As músicas de Padre Zezinho incomodam.
    As que tocam no rádio incansavelmente são moda, deixam o povo "por dentro", "ligado na parada de sucesso".
    A música católica está correndo o risco de caminhar pra isso.
    Por isso digo que Padre Zezinho é o melhor compositor de música religiosa do mundo.

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