sexta-feira, 12 de março de 2010

Artigos - 08 de Março




ECUMENISMO E SINCRETISMO

Imagine uma dona de casa que fizesse uma sopa com verduras das quais ouviu falar, mas que não conhece. A sopa pode até sair com razoável sabor, mas as chances são de que saia com gosto no mínimo esquisito. Na base do ecumenismo está a atitude e o gesto de respeito pelas outras religiões. Não temos que concordar, mas temos que respeitar. O sincretismo, porém, leva ao desrespeito: é lidar com imagens e símbolos e doutrinas de outras religiões e misturá-las com elementos da nossa religião sem respeitar nem uma nem outra. Há o desrespeito para com a outra religião, cujos símbolos estamos usando de maneira errada e para com a nossa própria religião, na qual introduzimos símbolos que não têm nada a ver com o nosso modo de encarar a vida.

Uma coisa é o ecumenismo: respeitar a sopa e o gosto do outro; outra é o sincretismo: misturo a sopa dele e a minha e o que der, a gente assume! Uma coisa é respeitar a fé do outro, outra é adotá-la e misturar tudo no nosso culto para agradar quem veio. Nem eles gostam nem nós gostaríamos que misturassem as coisas. Por isso, o bispo reagiu contra o religioso de outro grupo que, querendo acolher os católicos, soprou baforadas de charuto sobre um cálice. Era sincretismo. Não é conveniente nem do nosso lado, nem do deles. Mas diálogo e respeito, isto sim! Orar juntos faz bem. Já o fizemos em encontros ecumênicos, onde um ouve e acolhe a prece do outro. Mas misturar gestos e objetos de cultos é mais do que orar junto.

Cuidado com tais misturas. Para qualquer mescla dar certo é preciso critério. Remédios, bebidas, comida não podem ser misturados ao bel prazer de qualquer pessoa ou grupo. Dá-se o mesmo com a fé. Cantar os cantos de outra igreja num culto é até possível, desde que as palavras não neguem o que cremos. Usar vestes de outros cultos é desrespeito a quem as usava primeiro. Usar expressões de outra igreja e com ela derrubar um conceito é no mínimo, provocação. Propor a Novena da Sagrada família que os católicos já praticam há séculos e usá-la, não para exaltar Jesus Maria e José e, sim, para chamar um casal para a Igreja é um tipo de pseudo-sincretismo: usa o termo, mas não no seu sentido original. Assim com os óleos, águas bentas e outros objetos de culto. Nem nós devemos desrespeitar o que é caro aos outros nem eles o que é caro a nós.

O respeito a nós mesmos e aos outros exige identidade. Não se cola pétalas de rosas numa orquídea, mas pode-se juntar ambas num buquê. O sincretismo não une: descaracteriza!



O DISCURSO SECTÁRIO

Grande sofrimento para a Igreja, porque leva á divisão e a distanciamentos é o discurso sectário, nascido de preconceitos que não interessa ao pregador sectário corrigir. Ele perderia espaço. Então ele ressalta o que á de bom no seu grupo e dá um jeito de mostrar o que há de errado nos outros. Falemos dos fatos e omitamos os nomes.

Funciona da seguinte forma: ele tem uma idéia de como deve ser a Igreja, evidentemente uma igreja que ore e pense como seu grupo faz. Afirma que Deus suscitou o seu grupo para melhorar e até salvar a Igreja. Está convicto disso. O seu jeito de ser católico é o jeito certo. Disso vive, por isso milita. Seus olhos estão voltados para o que seu grupo ou seu movimento leu e entendeu. O resto é inferior.

E, se alguém for em direção diversa ou oposta, na sua ótica este alguém está indo contras a Igreja, porque somente a sua direção é que é a correta. Não lhe ocorre em absoluto que os desvios possam ser dele e do seu grupo. Lembram os três soldados que marchavam a contra pé e acusavam todo o batalhão de marchar errado. Tinham escolhido outra batida como a batida correta.

O Papa se pronuncia num documento sobre os excessos de determinada teologia. Eles, que são da linha oposta, supervalorizam o que Roma disse e começam a divulgar que o Papa condenou aquela forma de fazer teologia. Dois anos depois, o mesmo Papa se pronuncia dizendo ver valores naquela teologia, e que dela se deve expurgar apenas alguns conteúdo estranho ao catolicismo. Este documento eles não repercutem. Seria elogio ao que eles condenam. A Conferência dos Bispos do Brasil emite um documento de Reflexão Cristã sobre a Conjuntura Política. Eles que fogem de política e discordam da política da CNBB, segundo eles, mais á esquerda não repercutem o documento. Seus membros não tomam conhecimento dele.

A CNBB emite um documento de orientações pastorais sobre a linha do dito movimento. Eles não obedecem e continuam a fazer o que sempre fizeram nas suas liturgias e ensino. Recorrem a outras fontes. Não se sentem atingidos pela orientação. Mas prosseguem lembrando sempre que, uma vez em tal e tal documento, o Papa condenou determinada teologia. Nunca dizem que em outra vez ele viu valores e mostrou aceitá-la sem os excessos. Assim, os membros daquele grupo ficam sempre sabendo do que o Papa disse contra os outros, mas nunca o que o Papa ou os bispos disseram contra eles. Vale o alerta contra os desvios dos outros e raramente o alerta contra os desvios deles. Divulgam entre si que deixou o sacerdócio por ser da outra linha de teologia, mas nunca falam dos que por serem da sua linha mudaram de igreja ou também deixaram o ministério.
Salienta-se o lado negativo dos outros, nunca as virtudes e acentua-se o lado positivo próprio e nunca os defeitos e falhas.

Acontece dentro das igrejas chamadas cristãs e acontece entre elas. O que é bom neles, eles super-exaltam. Super-exaltam o que é ruim nos outros. O que é bom nos outros eles silenciam. Mas silenciam também o que é ruim neles.

Eis o discurso sectário. Seu lado tem que vencer. Por isso, elogiar o que o outro tem de bom, reproduzir seus escritos ou canções não lhes interessa, já que acham que têm gente melhor fazendo coisa melhore entre eles. Elogiar ou reproduzir outros enfoques teológicos e pastorais parece-lhes que seja correr o risco de perder adeptos. Não lhes ocorre que o diálogo forma cristãos de coração aberto. Não compreendem que se possa admirar o que há de bom no outro sem ter que concordar em tudo.

Em alemão há um ditado que propõe que não se jogue pela janela a água suja da bacia com a criança. É o que fazem. No caso dos católicos, seus pregadores insistem e mostrar um documento que condenava a outra linha de teologia, mas intencionalmente omitem o que mostrava seus valores. Ocultam o que é dito sobre eles e seus desmandos e jamais divulgam suas perdas. As dos outros, sim! No caso de outras igrejas comprazem-se em mostrar os pecados do clero católico, mas ocultam os pecados do seu clero, insistem em mostrar a idolatria da nossa igreja e omitem as idolatrias e o culto da personalidade na deles.

Se vai mudar? Vai! Quando a honestidade entrar pela porta e expulsar o sectarismo pela janela. Quem não consegue mostrar o lado bom dos outros não está preocupado com a verdade, mas com a vitória da sua corrente. Isso é um gravíssimo pecado. Mas eles não se acham pecadores. A verdade está com eles e segundo eles, um dia os cristãos serão como eles são hoje! Tomara que não, porque seriam todos preconceituosos e incapazes de diálogo! A esperança é que os serenos, honestos e sensatos do mesmo grupo vençam e cheguem à liderança. Com eles haverá menos sectarismo, mais diálogo, mais fraternidade e mais verdade. É que há muita coisa boa entre eles, que, contudo se perde dentro de um fechamento propositado de líderes insistem em jogar suas lanternas na direção errada. Iluminam-se demais e quando podem apagam a luz dos outros!



MESTRES QUE ESCREVEM

Contar histórias, bem ou mal, qualquer um conta. Não faz muito tempo uma simpática senhora analfabeta apresentou-se numa editora com um livro de 100 páginas na mão sobre seus dois filhos, seu cão e seu gato. O livro era cheio de humor e sabedoria, e estava bem escrito. A editora não o quis. Motivo: as histórias eram dela, mas não o livro. Teria problemas na divulgação, posto que a trajetória do livro depende muito da palavra do autor. Ela não era escritora.

Há mestres competentíssimos que não escrevem. Sua sabedoria de décadas fica confinada à suas salas de aula. Uns poucos desfrutam de seus conhecimentos. Há doutores que não escrevem. Ensinam para poucos. Alegam não ter tempo nem jeito nem disposição para outros livros.

E há os mestres que colocam sua sabedoria por escrito. Quatro ou cinco décadas de leituras, estudos, armazenamentos tornam-se livros riquíssimos de conteúdo destinado a qualquer leitor à procura de mais informação. Seus alunos se multiplicam em milhares ou milhões. Tenho alguns desses mestres escritores na minha estante. Louvo a Deus por eles. Leram mais de 500 livros sobre o tema e nos brindam com um livro de 200 a 500 páginas que facilita o nosso trabalho. O livro é seguido de outros igualmente substanciosos. Sei que outros como eu sequiosos de saber, têm ricas estantes com livros plenos de conteúdo, graças aos mestres que escrevem.

Tenho instado com amigos e companheiros meus a que escrevam. Ainda que vendessem apenas mil cópias, serviriam a mais do que aos duzentos alunos que os ouvem. Alguns já se convenceram, outros resistem. Com tantos livros sem pé nem cabeça, com tanto erotismo e violência nas bancas e tantos autores de parcos conhecimentos, seria bom que tivéssemos em mãos o pensamento de quem estudou e sabe das coisas.

Conheço rapazes moças que, se aprendessem a deixar por escrito as coisas extraordinárias que falam, iriam longe. Escrever é uma arte que se aprende quando se tem o dom da comunicação e suficiente conteúdo. O país poderia incentivar os jovens a escreverem mais do que já faz. Seria um grande avanço.

Precisamos das boas traduções de obras literárias que repercutem no mundo e isto já temos. Mas precisamos também de mais escritores nacionais. Eu, você, todos sabemos disso. Temos excelentes mestres que não escrevem nem mesmo em revistas e jornais. Convencê-los a escrever é um serviço ao país. Se um país se faz com boas escolas e bons mestres também se faz com bons livros!



FAZER E PERDER AMIGOS

Esses dias chegou-me um bilhete de um casal amigo. O bilhete dizia: -“ O carinho é o mesmo, mas faz quinze anos que sumimos um do outro. Quando passar por aqui tire um dia em honra da nossa amizade que nunca diminuiu!” Telefonei e irei. Já têm três netos e eu nem sabia!

Já ganhei amigos que não merecia e perdi amigos que não desejaria ter perdido. Alguns, por culpa minha, outros por culpa deles. Eu fiz certo, mas eles acharam que não fiz. Em outros casos achei que fazia certo, mas fiz errado. Não me quiseram mais entre eles.

Tive amigos de infância que não prosseguiram como amigos de adolescência ou de juventude. Alguns de meus amigos de juventude não permaneceram comigo na idade adulta. Agora que chego quase aos setenta anos, percebo que muitos amigos de três a quatro décadas não mais me telefonam. Nem eu a eles. Algum laço se rompeu. E não foi nem inimizade. Parecemos continentes que se separaram com o movimento das placas tectônicas da vida.

Na verdade, poucas amizades duram a vida inteira. A maioria delas perde a impulso. Esses dias, encontrei dois velhos amigos de muitas décadas. Perguntamo-nos o que houve que não mais tivemos tempo nem de telefonar. Os dois lados não sabiam por quê. Um deles, americano, usou a palavra we drifted apart: boiamos para longe... Foi o que houve. As águas do tempo nos foram levando e esquecemos de remar contra a corrente para nos vermos mais vezes.

Amigos de longa data de repente foram embora e até hoje não sabemos por quê. Outros foram e quando nos vimos depois de 30 anos a amizade ainda era a mesma. Muitos de meus jovens precisaram da ausência para descobrir o que quanto fui importante na vida deles e eles na minha. Outros nunca perderam o contato. Colegas sacerdotes que conheço há cinqüenta anos permanecem grandes amigos, mesmo se faz dez que não nos vemos.

Isso de fazer e de perder amigos tem a ver com a atenção e o porquê. Às vezes ficamos desatentos e lá se vai o amigo. Às vezes ele perdoa. Ás vezes nós perdoamos os meses ou anos de telefonemas não dados. Há mais do que telefone nestes laços.

Há amigos pais, amigos filhos, amigos irmãos e amigos-amigos. Sem alguns, eu não saberia viver. Doeria demais. Nem eles vivem sem mim. Mas há outros cujo silêncio não doeu, mas nem por isso deixamos de nos querer bem. É mistério. Há amizades duradouras que nunca foram profundas. Há amizades profundas e duradouras. Há outras que duraram pouco. E há outras que não admitimos nem mesmo a hipótese de perder. Entraram na alma.

Uma coisa, porém, é certa. Trocar e substituir amigos, nunca! Não é porque arranjamos novos amigos que descartaremos os de ontem. O coração tem que ter lugar para outros mais. Amigo algum poderá ocupar o trono do outro, nem mesmo do que se foi e nos deixou sem uma palavra e um porquê. O lugar dele fica, à espera de sua volta, mesmo que nunca mais volte.

Isso de ser amigos é mistério. Nem Ágape, nem Eros nem Filia explicitam. É algo indefinível. Gostaríamos de não amar, mas amamos. E daí? Não os pedimos, mas vieram. Acho que Deus algo a ver com isso! Alguns amigos, por mais que briguemos foi Deus quem os deu. E dom de Deus a gente não desperdiça!



ENTRE A PALAVRA E SINAL

O perigo de todo pregador da fé que precisa vive entre a Palavra e o Sinal é o de chamar de símbolo o que não é, de sinal o que não é e de acentuar em demasia a Palavra, em detrimento do Sinal. Também erra ao colorir demais o Sinal em detrimento da Palavra.

Nem todo sinal diz o que dizemos que ele diz e nem toda palavra por nós interpretada diz o que dizemos que ela diz. Costumamos apressar o tempo da semente porque tememos que ela não frutifique ainda no curso da nossa vida. Então damos um jeito de urgentizar o que precisa de espaço e de tempo. É o que faz a comunicação açodada e apressada da fé que converte milhares de almas para Cristo, mas depois não sabe onde colocá-las dentro das igrejas. São tratadas como tijolos. Se não cabem são postas de lado no processo urgente de sucesso e mais valia que se tornaram algumas igrejas e alguns grupos de igrejas.


Aí entra a hermenêutica, aí entram as exegeses, aí entram as mais de trinta matérias do Curso de Teologia. Aí entra a Prática e a Crítica de Comunicação. São conhecimentos e experiências que obrigatoriamente se interligam e ensinam a semear, a valorizar o que outro já semeou, a cultivar e a esperar o tempo de Deus e o tempo da semente que não são os nossos.

Nem tudo é Palavra, nem tudo é Sinal, nem toda cerimônia litúrgica serve como Sinal e nem toda pregação é pregação da Palavra. Depende do que diz o pregador e de como conduz a celebração. Em termos de comunicação cristã , como nas grandes avenidas, há perigo na lentidão e há perigo no excesso de velocidade. Aas placas não estão lá por acaso! Já foi testado!

Aqui entramos no delicado campo da matéria relativamente nova chamada Pastoral da Comunicação e com diversos nomes, a depender da faculdade e de quem a ministra.

Aqui a temos chamado de Prática e Critica da Comunicação, porque por exigüidade de tempo não há como demorar na teoria. Isso, o aluno pode conseguir em livros. Parece-nos de suma importância que o aluno aprenda a ser crítico da própria comunicação, aprenda a aceitar as críticas dos outros e quando criticar a comunicação dos outros saiba fazê-lo levando em conta os valores, as intenções e o lado positivo daquele trabalho. Nem por isso deve ter medo de alertar o irmão e a irmã na fé quanto a possíveis desvios ou ensinamentos inadequados. Quem mais recebeu tem o dever de dar mais. Quem sabe mais tem o dever de ensinar. O mero fato de poderem ser alunos de Teologia em Faculdade que lhes mostra outros mestres além dos que vocês já seguem, aumenta em vocês a responsabilidade perante seus irmãos catequistas que não cursaram o que vocês cursam.

Professores de teologia e filosofia em fins dos anos 60, e mais tarde vários deles em cursos que fiz, ao nos apresentarem autores como Hans Kung, Gregory Baum, Karl Barth, Edward Schillebeeckx, Johannes Paul Tillich, Teilhard de Chardin, Romano Guardini Karl Rahner, Friedrich Nietzsche, e assim por diante, pediam o cuidado de não julgar apressadamente um teólogo. São anos e anos de estudo sério debruçados sobre a busca de Deus e da pessoa humana. É muito fácil desfazer de um pensador só porque ele não diz o que nosso mestre nos disse; especialmente quando nosso mestre nem sequer tem o hábito de ler livros. Acontece em muitas igrejas e não apenas na nossa, que muitos que formam a consciência cristã dos seus seguidores falam como se soubessem mais do que irmãos e irmãs com anos e anos de estudo da fé.

Estudas teologia e comunicação ainda não é fazer teologia e comunicação. Isso demora mais um pouco. Brincar de pregar teologia sem estudá-la, de fazer comunicação sem estudá-la pode dar em superficialidades e fanatismo perigosos. A nós, a quem foi dado por um tempo um microfone e uma câmera, não resta outra coisa senão estudar com profundidade a filosofia, a teologia, a catequese e a comunicação da Igreja através dos tempos: primeiro para ao repetirmos os erros dos hereges de ontem, segundo para levarmos ao povo a sabedoria de tantos séculos, os documentos e pronunciamentos da Igreja do nosso tempo e uma catequese abrangente, aberta e atual. Além disso, não se faz boa comunicação na mídia católica sem o conhecimento básico dos temas caros à catequese e à teologia dos católicos.

É mais do que aulas de catequese. É pratica, é vida, é ascese. Quem nunca sofreu para fazer teologia ou comunicação não entrou de cheio no tema. Os temas se confundem embora sejam tratados de maneira peculiar: história da comunicação humana, historia da comunicação cristã, história da comunicação entre os católicos, história da comunicação entre os evangélicos, psicopedagogia da fé, pedagogia da comunicação, sociologia da comunicação, filosofia da comunicação, teologia da comunicação, mitologia e comunicação, hermenêutica, símbolos e sinais, o poder do mito e dos sinais... Tudo isso está em livros nas nossas bibliotecas em extensos tratados de religião comparada. Destaco os autores Joseph Campbell, Karen Armstrong, Gerald Messadié, Mircea EIiade, Juan Antonio Estrada e centenas de obras de exegese e hermenêutica que nos ajudam a caminhar entre a Palavra o Sinal e distinguir o que realmente pode ter sido dito e o que não pode ter sido dito da forma como chegou até nós. Aquela narrativa do gesto de Jesus tinha que objetivo e que significado naqueles dias?

O perigo de seguir um só mestre é o de escolhermos um que por mais santo que seja sabe tão pouco que sua sopa será sempre rala. Melhor é ouvir vários mestres que nos levem com mais segurança ao Mestre dos Mestres.

Todo mestre precisa ter medo das próprias convicções e ter em conta que ele sozinho não tem como dar aos discípulos toda a sabedoria da Igreja. Seus discípulos, no mínimo, têm que ser alunos de outros mestres mais versados em teologia, filosofia, história e comunicação. Podem ser fiéis a ele, mas não podem ater-se apena ao que ele sabe. Bom mestre, humilde e santo é o que leva seus discípulos lerem e aprenderem com outros irmãos na fé que têm o que ensinar e gozam do respeito da Igreja.

Para quem tem fé sólida conhecer o pensamento de outros autores católicos com outros enfoques, de outros autores evangélicos, de ateus ajuda a ter mais abrangência no olhar. Perder a fé porque um autor o abalou é sinal de conhecimento insuficiente da fé que se tinha.



O SIGNO DO GRÃO DE MOSTARDA

Cuidado com a Teologia do Sucesso ou com a Teologia de Resultados. Não trabalhe com o objetivo de arrastar multidões. Erraria desde o começo. O Papa Bento XVI, quando ainda cardeal Joseph Ratinger diz isso no livro O Sal da Terra, pg 14-15, Editora Imago:

Nunca imaginei que pudesse, por assim dizer, mudar o rumo da História. E se até Nosso Senhor acaba primeiro na Cruz, vê-se que os caminhos de Deus não conduzem tão depressa a sucessos que se possam avaliar.

Julgo que isso seja de suma importância. Os discípulos fizeram-lhe algumas perguntas tais como : “o que se passa, por que é que nada avança?” E ele respondeu com as parábolas do grão de mostarda, do fermento e com outras semelhantes e disse-lhes que a estatística não era uma das medidas de Deus. Não obstante, acontece com os grãos de mostarda e com o fermento alguma coisa essencial e decisiva que não se pode ver agora.

Nesse sentido penso que se tem de abstrair dos parâmetros quantitativos do sucesso. É que nós não somos uma empresa comercial que pode avaliar em números se faz uma política de sucesso e se vende cada vez mais...


O então cardeal , hoje papa, vai ainda mais longe:

Talvez tenhamos de nos despedir das idéias existentes de uma Igreja de massas. Estamos possivelmente perante uma época diferente e nova da história da Igreja. Nela o cristianismo voltará a estar sob o signo do grão de mostarda, em pequenos grupos, aparentemente sem importância, mas que vivem intensamente contra o Mal e trazem o Bem para o mundo. Deixam Deus entrar! Vejo que há muitos movimentos desse tipo.

E observa:

Não há conversões em massa ao cristianismo, não há uma mudança história paradigmática nem uma virada. Mas existem formas fortes de presença da fé que voltam a dar ânimo, dinamismo e alegria às pessoas: presença da fé que significa alguma coisa para o mundo.

O papa compara a Igreja a um barco experimentado e provado e contudo novo porque renovado. O mundo ainda precisa dele para a travessia. E se ele não existisse teria que ser inventado.

O decantado declínio da Igreja que perdeu para o marketing do mundo dá a entender que o modelo de comunicação do mundo venceu e o da Igreja perdeu. Mas o papa lembra que exatamente nos últimos 60 anos quando a Igreja foi praticamente ignorada pelas políticas do mundo e pela mídia foi esta visão de sucesso mundano que causou tantos colapsos espirituais, econômicos, e abandonos que conhecemos.

O esquema do sucesso pessoal leva a graves cisões e rupturas com a família e com a comunidade. O modelo do sucesso pessoal ou de um grupo sobre o outro expulsa a cooperação e solidariedade e cria fanatismos e fechamentos.

Mais tarde o papa no livro DIO E IL MONDO continuação dessa mesma entrevista Peter Seewald entra no tema ESSENCIALIZAR. Tema que ele aborda também na página 17 do já citado livro o Sal da Terra.

E isto seria anunciar
um Deus no qual se crê de verdade
num Deus que conhece o Homem
num Deus que entra em relação com o Homem
num Deus que é acessível a todos
que se tornou acessível em Cristo
e que faz História conosco
e se tornou tão concreto que fundou uma comunidade.

O perigo do marketing da fé diz o papa é
1-Lançar uma religião contra a outra
2-ou nivelar tudo como se tudo fosse a mesma coisa

Deduzir que as religiões são simplesmente todas iguais e que estão umas para as outras como num grande concerto, numa grande sinfonia, em que todas, afinal, tem o mesmo significado seria errado. Há religiões que tocam desafinado e algumas delas podem tornar mais difícil para o Homem ser bom, porque aceitam ou pregam a vingança ou a violência, o aniquilamento dos outros. ( pg 21)

Aí entramos na comunicação sectária.

Assim como o homem tem capacidade para construir pontes e destruí-las, assim também as religiões. Depende de quem a dirige e de quem prega.

Se usar errado dos símbolos e sinais e ensinar como se fosse o que realmente não é vamos ter cegos guiando outros cegos. Alguém pode estar cego pelas luzes do seu grupo e de tanto holofote em si mesmo não saber para onde está levando seus ouvintes.

O marketing não tem paciência. Diz ainda o papa que faz parte da fé da Igreja a paciência do tempo. ( pg 27)

Fomos ensinados e muitos de nós adotamos a urgência do vencedor agora já. Aceite Jesus agora já. Consiga a graça agora, já. Deus está lhe dizendo agora, já. Somos pregadores e fiéis afobados porque os tempos urgem. Mas isto, só parta o milenaristas que acham que o mundo acabará em 2012.. São como os que achavam que acabaria a cada começo de século e apostavam que o anticristo já estava no mundo e que estávamos molhados da sua chuva! Erraram. O marketing leva a um pregação urgente. Vendem a laranja verdade como se fosse madura e quase sempre a um preço futuro!

É mais do que oportuna a mística da paciência para com a semente que tem seu tempo de germinar. O marketing agressivo de algumas igrejas não dá tempo á semente. Por isso elas se proclamam igrejas de resultados. A pergunta : - Que resultados? O tempo responde. Respondeu ao comunismo e ao nazismo implantados á força e responderá aos púlpitos apressados e apressadores do Reino de Deus.


Pe. ZEZINHO scj


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