sábado, 17 de julho de 2010

Artigos - 17 de Julho




OSIRIS, ODIN E JESUS

Demonstrando algum conhecimento de mitologia ela me trouxe recortes de uma revista esotérica que comparava Osíris, o senhor do submundo e da vida eterna e Jesus, o Senhor dos mundos e da via eterna. Segundo a mitologia egípcia, Osíris tornou-se importante depois que ressuscitou. Fazia par com a deusa Isis, sua irmã e sua esposa. Nos dias de hoje seria um incestuoso. Segundo o mito todos os faraós se tornariam Osíris depois da morte. A superação de Osíris que também foi esquartejado e remendado inspirou os mortais a desejarem a vida eterna.

Deixou o texto e foi embora. Dois dias depois me telefonou para saber o que eu achava das semelhanças. Falei-lhe de outras semelhanças em todas as mitologias e disse que o texto em nada mudava minha convicção de que Jesus é Deus. Falei de Cronos, o deus tempo que engoliu os filhos que mais tarde foram vomitados por interferência de Zeus ou Júpiter e por Métis, a deusa prudência. Falei de Vivasvat e Saranya, Vishnu e Shiva, Odin que sacrificou um olho em troca de sabedoria, porque toda sabedoria tem um preço. Falei de Ometeotl, de Huracan, de Viracocha e Mamacocha, de Tupã, de Tangaroa, de Thor, de Urano e de Hera, de Gaia, Poseidon, de Hades. Acentuei que cada povo tinha nomes e funções diferentes para seus deuses e deusas. Todos profundamente ligados à natureza e seus fenômenos e à busca do imanente e do transcendente. Lembrei que os povos contavam a história do universo endeusando o que viam, mas não compreendiam: chuva, tempestade, astros, ventos e luzes no céu. No caso dos gregos o Deus Cronos (tempo) engoliu alguns valores (filhos), mas a deus Prudência ou Métis e Zeus os devolveu à vida.

Falei-lhe de Prometeu, Epimeteu e Pandora, de Narciso, de Eco de deus vaidosos e superficiais que não percebiam o extremo grau de sua vaidade. Falei de Pandora e de Eva e da tentação de mexer nos segredos do infinito. Mostrei que também lia mitologia. Sabia das deusas, ninfas de musas, dos semideuses, dos gigantes e de como os gregos e latinos explicavam a vida, a dor, a alegria, a morte, as paixões com histórias e atribuições aos deuses.

Ouviu-me e perguntou como eu, sabendo tudo isso, ainda afirmava que Jesus é diferente. Respondi que poderia escolher o caminho da comparação como o sujeito que compara estradas e não viaja por nenhuma, compara computadores mas escreve a mão e compara veículos mas escolhi ir a pé. A fé supõe conhecimento, mas também supõe adesão. Mostrar cultura qualquer um pode. Informar-se sobretudo nos dias de hoje está ao alcance de qualquer um. Mas escolher e assumir é questão de atitude. O mundo tem muitos rios e estradas, mas se decidi aonde quero ir escolho os que me deixariam lá ou o mais perto possível de onde quero ir. Eu escolhi não ficar apenas nas comparações. Escolhi continuar crendo em Jesus, mesmo sabendo que antes dele houve histórias um pouco semelhantes às dele.

Conclui dizendo que sabia distinguir entre mito e realidade, entre símbolo e mistério e entre crença e fé.

Semanas depois veio falar comigo e quis saber mais sobre Cristologia. Indiquei cinco livros de católicos e dois de evangélicos que poderiam ajudá-la. Mas decidir, só ela poderia! Pelo que sei está lendo e comparando. Um dia desses ela decidirá se fica apenas no conhecimento ou se adere... Se aderir será por convicção dela. Não puxo ninguém para Jesus. Tenho sérias restrições ao marketing da fé. Deixo que a pessoa se informe e decida. O que decidir estará bom para mim. Não me tornei padre católico para encher os bancos dos nossos templos e arrastar milhões de almas para o Cristo e, sim, para revelar da melhor forma que conheço o rosto de Jesus Cristo. Tento seguir o jeito de Paulo:

Porque convosco falo e, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério, para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. (Rm 11, 13- 14)

Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. (I Cor 9, 22)

Não quero que ninguém me siga. Mas se alguém quiser caminhar comigo iremos juntos. E não faço questão de ser madrinha de tropa ou de ir à frente segurando a seta. Descobri a importância das palavras outro e juntos. Para ser ouvido não preciso estar acima do meu povo. Às vezes um barco bastava para Jesus.

Posso até levar a Jesus, mas na maioria dos casos, sei que bastará apontar. Eles já o procuram há muito tempo. Até porque Jesus mandou duvidar dos que se dispõem a levar até ele agindo como quem sabe o caminho. (Mt 24,24-26) Pregador não é aeronave: é seta. E se for piloto terá que obedecer as rotas e os limites da aeronave!


A ERA DO CRACK

Por crack entende-se “quebra”. Vem do inglês. Um galho que se quebra com alguém em cima dele faz crack. Nunca se espera coisa boa de um crack, seja ele de objeto de estimação, seja de galho onde estamos, seja de bolsa de valores.


O crack da bolsa de 1929 e o impasse econômico de 2008 foram frutos de dinheiro qualquer, oferecido de jeito qualquer para pessoa qualquer que não tinha como saldar. Emprestadores e tomadores de empréstimo deixaram-se levar pela urgência e pela falta de critérios. Aventuraram-se, arriscaram, jogaram e perderam.


De certa forma a droga crack é este passo urgente de quem quer chegar mais depressa, não se sabe aonde nem porquê. Semelhante é a aids que, nem sempre em todos os casos, mas em muitíssimos é o resultado um jogo chamado sexo sem proteção e sem cuidados, com parceiro qualquer de qualquer jeito urgente e sem maturidade. Não é por menos que todos os países, além de objetos que protejam, insistem na escolha de pessoa certa. A promiscuidade foi o crack do sexo depois dos anos 60, como já foi em eras prístinas.


A sociedade deu um passo mais avançados quando ligou o casamento ao amor e à escolha certa do parceiro ou da parceira. As pessoas, ao invés de serem dadas em casamento passaram a dar-se. Mas da mesma forma que havia promiscuidade quando se contraiam casamentos por interesse pecuniário e união de fortunas e, por isso, também de corpos, passou a haver promiscuidade quando as pessoas declaravam o fim de um ou vários casamentos por conta de beleza, sexo com alguém mais jovem, união com alguém socialmente mais interessante. O fim da fidelidade sacramentada pelo Estado possibilitou um crack assistido de casamentos juramentados e livremente contraídos. O contrato matrimonial passou a ser desfeito a partir do sentimento em baixa. Como no passado casamento não tinha muito a ver com amor porque fundamentado em fortunas, com o tempo passou a nada ter com fidelidade porque fundamentado em humores.


Excesso de retrocesso e de desajustes acaba em promiscuidade. Passa-se de um desajuste a outro desajuste, por conseguinte de uma a cinco ou seis uniões. O argumento é a felicidade pessoal. Não estando outra vez feliz com esta outra pessoa, a pessoa insatisfeita advoga o direito de tentar mais uma vez até encontrar alguém com quem se ajuste e seja feliz.

Trocar de parceiras com freqüência não é bom nem para o indivíduo, nem para os filhos nem para a sociedade; pior ainda, é transar sem transação de afeto, encontros que não nascem de uniões nem as visam, porque não haverá coabitação. De qualquer jeito, com qualquer um, a qualquer hora não é exercício da sexualidade: é crack. É como subir a dois em árvore desconhecida sem saber se os galhos resistirão... O ruim do quebra galho é que em geral o galho se quebra. Quem sobe depressa e sem cuidado corre maior risco de se machucar! O crack nas ruas, no leito e na política é esta pressa de novas sensações sem as devidas salvaguardas. Acaba em perda de critérios. Não deixa de ser triste que estejamos vivendo esta era e que as maiores vítimas tenham menos de 30 anos! É assassinato de uma geração!


INSTRUÇÕES DE AEROPORTO

Algumas pessoas são confiáveis como vozes de aeroporto. Isto é: não são. O que elas dizem não merece crédito. Espere por outras instruções, porque as primeiras raramente valem.
Há o lado ruim e o lado bom. Pelo que há de bom acho que devo agradecer quem dá aquelas instruções atabalhoadas porque graças a elas tenho caminhado cerca de dois quilômetros por vôo, e de mala na mão. Pratico, assim, um sadio halterofilismo, além de andar a quilometragem necessária para meu diabetes e minha pressão alta. Meu médico também agradece. Quem viajar de avião com freqüência semanal e embarcar no aeroporto de Congonhas certamente não levará vida sedentária. Infalivelmente a porta indicada não será a porta de embarque... Aos portadores de algum limite oferecem uma cadeira de rodas. E isto compensa em parte pelo incômodo causado aos demais. Ao menos alguém recebe os devidos cuidados. O resto, que se cuide.
O que isso tem a ver com religião? É que as pessoas dependem daquelas vozes de aeroporto para subir aos céus num avião e não poucas vezes são obrigadas a correr como baratas tontas de um lado para o outro por falta de melhores instruções. As companhias culpam a Infraero, a Infraero culpa o atraso das companhias e ninguém assume a culpa. Cai um avião e morrem 199 passageiros e ninguém assume a culpa. Reina a desinformação.
Não é muito diferente com as igrejas que chamam o povo para passar pelos seus templos se quer ir para o céu. Lá, supostamente os fiéis receberão as instruções. Mas também lá, a depender do pregador e da linha vigente na igreja ou no templo, como baratas tontas os fiéis não sabem o que é certo ou errado porque um pregador diz uma coisa e outro diz outra; um interpreta de um jeito de outro de outro. É outro empurra-empurra, outra prá-lá-pra-cá que cansa o fiel. Basta ligar o rádio e a televisão para ver o que as igrejas ensinam em nome de cristianismo. Pode e não pode, não pode e pode, Jesus falou, Jesus mandou, Jesus me disse, Jesus não quer, Jesus quer... Os textos caem como luva para os propósitos daquela igreja ou daquele movimento. Nunca se sabe qual a porta de acesso a Jesus porque cada pregador tem uma chave!
Estamos muito longe da unidade no essencial, como parece que os porta-vozes das companhias aéreas e a Infraero parecem não chegar a um acordo. Mais de cinqüenta vezes- e não exagero- fiz o trajeto do portão 12 para o portão 17 ou 21, porque a primeira instrução não valia.
As igrejas parece padecerem do mesmo problema. Não há unidade na pregação. Depois fica difícil explicar ao fiel que seguiu aquele pregador que São Paulo não disse aquilo daquele jeito, que isto é pecado e aquilo não é e que, quando alguém peca não enfia mais um espinho na cabeça de Jesus, nem que orar em línguas é sinal de maturidade na fé. Se fosse assim teríamos que dizer que os santos, as santas, os papas e os cardeais e bispos dos últimos séculos eram todos imaturos porque nenhum deles orou em línguas... Alguém inventa e depois não há quem tire a idéia da cabeça do fiel mal instruído pela voz não se sabe de quem... Talvez seja hora de voltarmos à catequese e abandonarmos o achismo que tomou conta de alguns púlpitos e mídias religiosas...


PROCLAMAR-SE CRISTÃO

Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. (I Cor 2, 2)

Imagino que o mesmo aconteça com você! Sou um religioso com intenção manifesta de ser cristão e católico. Isto significa que minha fé em Deus passa pela fé em Jesus e minha fé em Jesus, passa pelo meu catolicismo. Aceito o jeito da Igreja Católica falar de Jesus, seus ritos e suas práticas. Eu não saberia fazê-lo sozinho. Não tenho nem cultura nem espiritualidade para isso. Impressiona-me quem diz que não precisa de uma igreja. Eu preciso.

Falo com o Pai em nome Jesus e creio que Jesus é o Filho que me espera no Pai. Tenho consciência de que quando falo, seja com o Pai , seja com o Filho, seja com o Espírito Santo estou falando com o único Deus que existe. Minha cabeça é pequena demais para explicar este mistério, mas não para aceitá-lo; eu o aceito. Se discordasse teria que fundar uma nova religião, ou entrar numa outra, ou ainda, migrar para uma religião que creia num só Deus mais lógico para ela. Mas quem disse que este Deus que coubesse na lógica deles seria o verdadeiro Deus? E existe religião que se guie apenas pela lógica?

Então vem a pergunta: -“E se estivermos errados?” Ainda assim quero crer com os cristãos. E se os outros estiverem errados e Deus for um só, mas for Pai, Filho e Espírito Santo? Neste caso eles morrerão crendo errado, mas serão amados por Deus porque foram sinceros.

Não tenho o menor constrangimento em admitir que eu talvez creia errado. Mas, como não fui lá e não vi, e os outros também não foram e não viram, cada qual escolhe a fé que deseja seguir. Dia houve em que eu decidi continuar na fé que estava seguindo. Continuo não sabendo explicar Jesus, “O” Filho. Para mim Jesus é, antes de tudo, o próprio Deus. Mas, sendo Deus uma trindade e pessoas, ele é o Filho.

Difícil de crer? Eu também acho. Não creio porque é fácil, nem porque faz sentido. Creio porque aceito o que está nos evangelhos. Também não amo só porque faz sentido. Ninguém ama só porque faz sentido. A tendência é amar a quem nos agrada. E não poucas vezes amamos a quem não nos ama nem nos agradece. Nem o amor tem lógica, nem a fé. Foi o que Jesus disse a Tomé, que queria provas. Seguiu a lógica. Jesus lhe disse que há um caminho mais completo. O daquele que não vê, mas assim mesmo aceita. Não disse que era fácil. Não o é para um ateu e não o é para um crente que pensa.

Também não sei explicar nem pilotar um avião a jato, mas viajo nele, esperando sempre que aquele vôo não caia. Se confio nos engenheiros e no piloto que não vejo, posso também ter fé no Cristo que não vejo e na minha Igreja da qual vejo apenas uma parte. Não estou na Igreja por questão de certeza absoluta. Estou nela por questão de fé. É o avião que escolhi para ir aonde espero chegar!



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