terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Artigos - 21 de Dezembro

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TUDO OU NADA

Dito com sinceridade e sem malícia parece profundo, mas em termos de religião, é bom não confundir mediano, equilibrado e limitado com medíocre, incompetente ou pusilânime. São palavras que precisam ser explicadas uma por uma. Ninguém pode ser chamado de pusilânime ou medíocre apenas porque não deu tudo para Deus. Não se exija do balde que tenha a mesma quantidade de água que um barril. O máximo do balde é tão máximo quanto o máximo do barril, mesmo que sua quantidade seja menor.

Já tive que enviar jovens ao psicólogo por causa desse tudo ou nada, desse oito ou oitenta e desse máximo que alguém exigiu deles, mas que eles não puderam dar. Evidentemente este alguém propôs que lançassem a flecha mais longe do que seus arcos conseguiriam. Foi erro de instrutor e não de arqueiro novato. Conversei com um deles que demonstrava exagerado senso de culpa por não dar a Deus o que dele o Senhor supostamente esperava. Fiz ver que o instrutor que exigisse que o aprendiz de motorista desse 180 km/h porque o carro suportaria seria um desequilibrado. Não se exige isso de quem não aprendeu o suficiente. E ainda assim, é loucura dar 180 km/h numa estrada que não suporta semelhante velocidade. Se desse 80kmh estaria dentro da legalidade e da prudência, ainda que andasse em velocidade menor do que a permitida. Não vale a potencia do carro. Vale a prudência do condutor. E a prudência muitas vezes recomenda velocidade moderada.

Ninguém é mau motorista porque não usou toda a potência da sua máquina. Mau é quem prioriza o acelerador e esquece o freio e a estrada. Parece, mas não é vida cristã nem santidade exigir de alguém mais do que este alguém pode dar. Não é santo condenar alguém porque não deu o máximo. Há que se ver o quando, o como e o porquê.

Jesus não disse que devemos ser tão perfeitos como o Pai. Estaria propondo o impossível. Na verdade estava era propondo plenitude humana. A sentença “posso ir só até aqui” nem sempre é sinal de fraqueza; pode ser prudência! Não é traição a Deus nem é pusilânime reconhecer o nosso limite.

Foi esse o caso da menina que subia a montanha e parou para descansar, mesmo tendo forças de reserva para subir. Foi chamada de fraca e acomodada porque não deu tudo. Mas chegou antes das outras que, forçadas pelo instrutor, deram tudo e, mais adiante, precisaram descansar três horas. A parada dela enquanto tinha forças foi bem mais proveitosa. Uma estratégica parada no pit-stop pode valer uma corrida!

Ensinar, aos jovens que Deus quer tudo deles é esquecer a psicopedagogia das idades. Nos evangelhos há, sim, esta radicalidade, mas nunca ao ponto do desequilíbrio. Sugiro cuidado com esta proposta de tudo ou nada. Já jogou e vai jogar muitos num divã de psicanalista. Que ninguém se sinta medíocre porque atirou a flecha e não acertou o alvo, ou porque chutou e não fez o gol. Não conseguir não é a mesma coisa que não querer... Igreja compassiva ensina que entre o oito e o oitenta, os outros números também contam...



PIEDADE SINCERA, CATECISMO ERRADO

Pe Zezinho scj

Existe entre nós, católicos, a catequese e a anti-catequese. A primeira é vivência e transmissão correta de algumas verdades da fé, já que não temos como ensinar todas elas, tantas são as informações contidas no depósito da fé católica. A segunda é a vivência e a transmissão de alguma doutrina contrária ao que a Igreja ensina, mas mesmo assim carimbá-las como o falso nome de catolicismo. Não são poucos os pregadores anti-catequistas, sobretudo nesses dias de mídia intensa com pregadores que não estudaram e não estudam nem a pau o seu catecismo e os livros de teologia.


Exemplifico sem citar nomes. O sacerdote acabara de sugerir aos seus muitos ouvintes, naquele Natal, que com o mouse acessassem o site e, nele, apagassem uma das velinhas virtuais. O gesto equivaleria ao de acender ou apagar uma vela de cera num santuário e ajudaria uma entidade pobre. Boa proposta, bom simbolismo.


O erro veio na doutrina que seguiu. Garantiu que, a cada vela apagada, o fiel se libertaria de uma maldição. Ora, ele sabe e, se não sabe deveria saber, porque sua faculdade certamente ensinou que isso é amuletização e superstição. Vai contra a doutrina católica. Mas fez. Como ele, muitos outros do seu grupo fazem.


Irmãos que ensinam a anti-catequese a pretexto de evangelizar oram para que Deus “possa” curar alguém; como se Deus não pudesse! Anunciam quebra de maldições em família quando está claro, nos textos da Igreja e do Novo Testamento, que Jesus já morreu para que ninguém mais fosse maldito. Ele já nos resgatou de antemão. Uma coisa é aceitação de bênção e outra é a quebra de maldição. Uma é necessária, a outra cerimônia é inútil porque toda maldição já foi quebrada. Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; (Gálatas 3, 13) O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. (Mateus 20,28) Ninguém tem que pagar pelos pecados dos seus antepassados. Uma coisa é orar por eles, outra é crer que sobrou maldição para a família pagar. O Reino de Deus não funciona como o governo brasileiro com os impostos atrasados. Não depois da cruz e da ressurreição!


E há aquele ele que ensinou que se pode pagar o dízimo para a sua emissora e dar uma “contribuição” para a diocese... Dei e entender que uma emissora de rádio é mais importante que uma diocese. Dízimo para aquela obra e pequena ajuda para a igreja local...


O desfile de informações erradas continua. Vez por outra se ouve um pregador a dizer que, quando você peca você enfia um espinho na cabeça de Jesus e Maria lá no céu; e que eles sofrem com o seu pecado. Não é o que a Igreja ensina.


Está gravada a palestra na qual se afirma que ao comungar Jesus o fiel também comunga Maria porque, em virtude da união hipostática com o filho, ela e ele têm o mesmo DNA... Outro afirmou solenemente que se Maria não fosse virgem, não teria sido escolhida para gerar o Cristo porque foi sua virgindade que lhe mereceu este chamado. Não é desta forma que a Igreja vê os méritos de Maria. O próprio Jesus salienta que, mais do que pelo ventre que o gerou e pelos seios que o amamentaram, a bem aventurança de Maria estava no seu ouvir e praticar a Palavra. Com, ela todos os que o seguissem. (Lc 11,27-28)


E muitos viram o pregador anunciar um demônio que entrara numa mulher presente à missa, sem mostrar nem a mulher nem o demônio. Pior ainda foi quando orou em línguas antes do Pai Nosso para realizar aquele meio exorcismo e invocou São Miguel Arcanjo com sua espada luminosa para expulsar o tal demônio. Se já estavam no Pai Nosso e Jesus estava li no altar, porque tinha acontecido a consagração, por que recorrer a São Miguel Arcanjo? Jesus tem menos poder?


Não faltam canções a dizer que querem amar “somente” a Deus, negando a doutrina essencial do cristianismo, expressa com clareza em Mateus 25,31-46 e em Mt 7,15-23. E houve o caso do pregador que garantiu que, a cada rosário que oramos, uma alma é “resgatada do inferno”. O outro, querendo consertar a gafe, acentuou que o que ele queira dizer é que Maria resgata uma alma do purgatório a cada Ave Maria orada com fervor.


O desfile de gafes continua. Que falem os mestres, os doutores em teologia, o liturgistas para que se corrijam tais excessos. É de se duvidar que sejam ouvidos. Evidentemente, quem ensina dessa forma não estudou direito a doutrina católica. Os documentos da Igreja são claros a esse respeito. Não é que a Igreja não tenha falado. Falar, ela fala. O problema é que grande número muitos dos que gostam de ser ouvidos não ouvem. Se ouvissem não diriam o que andam dizendo!


De estarrecer foi a afirmação de que a dengue e o câncer são doenças trazidas por demônios. Na mesma semana um dos pregadores orou para expulsar do Brasil o demônio da dengue com seus mosquitos e o outro solenemente expulsou o demônio causador do câncer em cinco pessoas da assembléia. As pessoas não foram mostradas. Pena que meses depois não se tocou mais no assunto. Aquele demônio especializado em causar câncer existe? Foi embora ao comando de tão preparado pregador? As pessoas foram realmente curadas? Ou não interessava mais tirá-las do seu anonimato? Podem pregadores agir desta forma? O leitor já sabe a resposta!



IR OU NÃO PARA O CEÚ

Impressiona-me tudo nos evangelhos, mas há três capítulos de João do 13 ao 17 e três passagens de Mateus: 24,24-26, 25,31-46 e 7-15-21 que, para minhas pregações e para minha vida recordo com mais freqüência. João fala das últimas instruções de Jesus aos discípulos, numa ceia de cerca de três horas.

Imagino que, antes de ser preso, torturado e morto, pediu que quando se tornassem o numero um em algum lugar, fossem os que mais servissem; que se mantivessem unidos a Ele e uns aos outros para saberem viver no mundo sem ceder ao mundo.

Propôs que respondessem com amor e não com ódio ao ódio do mundo. Pediu para eles a alegria que Ele, Jesus, sentia... Humildade, unidade na diversidade com os outros pregadores e com o mundo, servir com alegria: eis ai quatro atitudes fundamentais para quem diz que ama a Deus e ao próximo.

Quem consegue isto é santo! Mateus alerta os que se acham santos renovados e santos, que não tenham tanta pressa em se achar candidatos aprovados para o céu. Nos textos acima citados Jesus diz que muitos que se acham candidatos porque pregaram uma religião espetaculosa com milagres, curas, exorcismos a toda a hora e em todo lugar não serão aprovados. E perguntarão por que, se encheram seus templos e lotaram paias e praças de ouvintes, derrubaram demônios e converteram milhões de almas para Ele.

Jesus é claro e convincente ao dizer que outros bem menos religiosos do que eles entrarão no céu; eles não. E Jesus então no capitulo 25,31-48 afirma que falaram bonito nos templos, mas não fizeram bonito!

Hoje ele talvez falasse de templos demais, emissoras demais, prédios maravilhosos, grandes concentrações, cruzadas, milagres e conversões, mas, poucas creches, asilos, hospitais, orfanatos, pouca presença lá onde existe algum rejeitado, pouco dialogo entre si, pouco acolhimento, braços demais na direção do céu e poucos na direção dos desassistidos pelo mundo.

Questionaria os que aplicaram os milhões arrecadados em obras monumentais, mas pouco em obras sociais. Onde coloquei minhas palavras? Onde apliquei o dinheiro que me confiaram? Onde e como semeei a Palavra de Deus? São perguntas que cada qual terá que se fazer responder antes daquele dia do Senhor, justo juiz. Os que acham que já ganharam e os que pensaram não ganharem o céu terão algumas surpresas... Releiamos Mateus 24, 24-26. Que mais ninguém diga que não foi alertado!



ORAÇÃO DE ANTI-DESLUMBRAMENTO

Sei que me ouves, Senhor. Atenderás se quiseres. Mas, como queres o meu bem e eu a tua glória, quero proclamar-te sem cair em deslumbramentos. Não quero esquecer, nem mesmo por um segundo, que não vi, não vejo e não verei tudo a teu respeito. Sei que existes, mas não sei quem és nem como és. És mais do que imagino e mais do que sei ou saberei.


Sou e serei de Ti eterno aprendiz, aluno que pouco sabe. Marcas presença, mas continuas misterioso, indizível, inefável e inenarrável. Há muito mais de Ti do que toda a sabedoria humana poderia apreender. Por mais que eu soubesse, quase nada eu saberia a teu respeito. Eu seria Deus se soubesse como és; eu que mal consigo saber como ages e mim...

Nunca direi, como dizem tantos pregadores, que basta orar com fé que atendes a qualquer prece e a qualquer suplicante, porque és misericordioso. Penso que, exatamente por seres misericordioso, é que não nos darás tudo do jeito que pedimos. Crianças pedem coisas erradas que os pais, por misericórdia, não concedem.


Entendo que poderás nos dar ou darás tudo o que pedirmos, mas não sei quando, nem está dito que é na hora e do jeito que pedirmos... És livre. Não sabes não amar nem odiar, mas atenderás apenas se quiseres. Mesmo atendendo, nem sempre atenderás do nosso jeito. Sabes do que realmente precisamos e nos darás o que nos convém; não o que achamos que nos convém.

Entrego-me ao teu mistério e à tua misericórdia, e peço, isto sim, que me ensines a confiar em Ti, como criança que se joga no colo da mãe, ou como adulto que se percebe profundamente amado.

***

Viverei de vislumbres. Ver-te, eu sei que não verei com os olhos da carne. Eles terão que morrer para que eu possa ver-te como és. Também não vejo a eletricidade, nem as ondas de rádio e, nem por isso deixo de saber que elas me cercam e até me invadem. Dia após dia, vejo suas conseqüências.


Eu mesmo sou conseqüência tua. Morrerei cercado dos teus sinais, mas ver-te, não verei! Teus sinais me falarão de Ti!...


Pe. Zezinho, scj



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