sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Artigos - 17 de Dezembro

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CANTAR NÃO MUDA MUITA COISA

O mundo é feito de pessoas felizes e infelizes.
As pessoas felizes são pessoas satisfeitas;
satisfeitas com o amor que encontraram, com os amigos que fizeram,
com as coisas que têm e com a situação em que vivem,
mesmo que a família que têm esteja cheia de defeitos,
mesmo quando o amor que encontraram não foi o amor perfeito.
Estão felizes e são felizes porque amam e são amadas.

O mundo também está cheio de pessoas infelizes.
Não estão satisfeitas, com a família que têm;
marido explosivo e insensível, esposa encrenqueira; filhos complicados.

Vivem presos ao o amor que nunca encontraram,
ou que encontraram e não satisfez e não satisfaz até agora.
Mal amados, mal casados, mal realizados; eles e elas sofrem.
O que possuem não é o suficiente para fazê-los felizes.
Os amigos não são suficientes.
Alguma coisa está errada no que são, no que desejam,
no que possuem, no que sonham possuir.

Mas a verdade é uma só: não se sentem suficientemente amados
e não conseguem amar o suficiente.

É para essas pessoas que falamos e cantamos;
para os felizes, afim de que passem adiante sua felicidade;
para os infelizes, afim de que não procurem lá fora nos outros,
uma resposta que só pode vir de dentro deles.

Cantar não muda muita coisa, mas já fez muita gente feliz.
Se, ao cantarmos lá naquele palco, uma só pessoa sair de lá
com um sorriso de paz inquieta no coração e no rosto,
terá valido o esforço.

Somos cantores da fé!
Que Deus nos ajude a dizer o que é certo
e a cantar o que é certo, e do jeito certo!...
Que o povo que nos ouve, de vez em quando ore por nós,
sobretudo, para que sejamos simples e humildes.

Estar em lugar visível
não ser mais do que os outros!



DECLARAR-SE UM GRANDE NADA

A humilde moça que, diante das câmeras, dizia: -“Eu não sou nada, não valho nada, não sou ninguém diante do Cristo”, estava dizendo algo bonito e encantador, mas não fazia teologia correta. Cristãos não têm o direito de se expressar dessa forma, até porque nós valemos, sim, valemos muito e, apesar de nossos defeitos e pecados, somos alguém.

Deus nos fez e nos deu valor. Não nos teria criado, para sermos como a pedra. E até mesmo a pedra acrescenta valores. Por isso falamos em pedras preciosas. Corre por aí um exercício falso, errôneo de humildade, da pessoa que, desejosa de mostrar seus limites e seus pecados, teima em dizer que não é nada e ninguém, o que não deixa de ser um ato de ingratidão contra Deus, porque Ele é alguém e criou pessoas para ser alguém.

Humilhar-se à nulidade é desdenhar da obra de Deus. Se até as larvas têm sentido e, de certa forma, sua individualidade; se arvores, até as da mesma espécie, são individuais e diferentes, por que negar que Deus nos tenha dado valores especiais e individualidade? Somos desejados e criados por Deus, para acrescentar algum valor ao mundo. Viemos por alguma razão. Por isso é que não somos um nada. Não voltaremos ao nada.

Se quisermos ser humildes, e devemos querer, digamos: - Estou longe de ser o alguém que Deus queria de mim; longe de ser a pessoa que poderia ser. Mas tenho consciência dos meus limites e dos meus valores. Espero que você me ajude a melhorar os meus valores. Existo, sou alguém e nunca voltarei a ser um nada. Deus me pôs aqui para somar, qualificar e acrescentar.



CRITICA E AUTOCRÍTICA

Um dos empecilhos mais complicados para a espiritualidade de um pregador é a autocrítica. Caiu de moda. São poucos os que a fazem ou que, após uma crítica, amiga ou maldosa, estão dispostas a fazer a autocrítica, isto é, a conversão e o devido exame de consciência. A tendência é ignorar, ficar chateado, justificar, responder com estatísticas e com outros apoios. Voltar atrás, corrigir, admitir que não foi milagre, que a pessoa não foi curada, re-editar, regravar aquela frase infeliz, admitir que, como foi dito não estava claro, é coisa rara. Há sempre um subterfúgio para que tudo fique como está, para não se corrigir, não voltar atrás e não admitir o erro.

Somos todos fortemente tentados a manter o que dissemos, cantamos, escrevemos e profetizamos, mesmo quando é evidente que estávamos errados. Vem de longe a caturrice, a dura cerviz e a teimosia dos profetas e pregadores que aceitam profetizar, mas não aceitam que outros profetizem a respeito deles, aceitam pregar, mas não gostam que alguém lhes pregue.

Alunos que não aceitam a correção dos mestres, professores que ignoram a observação dos colegas, profetas que não admitem que o outro também o seja, especialistas que, de tão especialistas, reagem com ironia quando alguém, não tão especializado, lança-lhe uma pergunta incômoda. Quem não viu e não passou por isso? Se você é um simples licenciado não ouse questionar doutor. Ele sofrerá a tentação de ignorar sua pergunta. Afinal, que tese você defendeu?

Se ele é tido como profeta no seu movimento e no veículo por ele dirigido ou protagonizado seus adeptos e admiradores perguntarão quem é o sujeito que o critica se é menos famoso? E se o for, falarão de inveja!... Tudo isso porque a correção fraterna e a autocrítica caíram de moda. Está em alta a auto-estima, pior do que isso, a alta-estima! Digo o que quero, profetizo como Deus me inspira e não aceito mudar.

Foi o que houve numa gravadora, quando um grupo cheio de alta-estima e convicto de que tinha uma profecia a viver, negou-se a corrigir o texto de uma canção que a diretora, formada em língua portuguesa e teologia pediu que fosse mudado. O texto dava a entender um velado subordinacionismo. Isto é, o autor dizia e o grupo cantava que “Ó filho que vens depois, nos trouxe quem vem depois de Ti”. Descontado o erro de concordância, a intenção era boa. Pretendia dizer que para nós cristãos, o Filho se revelou e a seguir nos revelou o Pai e o Espírito Santo. Mas o texto não dizia isso! O rapaz bateu o pé e disse que o Espírito Santo lhe sugerira aquela frase daquele jeito. À editora não restou senão cancelar a gravação. O grupo não aceitava crítica nem admitiu fazer autocrítica. Erraram gravemente porque a primeira proposta de João Batista e de Jesus, bem como a primeira atitude de quem de fato recebeu o Espírito é a conversão, o desejo de acertar, o diálogo e a capacidade de se corrigir caso tenha cometido algum erro. Está escancarado nos evangelhos. “Convertei-vos”... Quem não aceita que a Igreja ou irmãos que sabem mais, em nome da Igreja os advirtam e corrijam não entendeu o que é ser profeta.

Na mística do pregador, não aceitar correção é o mesmo que teimar em atravessar o sinal vermelho. Um dia, acaba esmagado pelo trem da História. Aquele velho e teimoso astrônomo que não aceitou novos telescópios, nem as novas descobertas da astronomia, nem a opinião de seus colegas mais estudiosos, prosseguiu impávido e desatualizado a anunciar como definitivo o que via na sua luneta de l950. Quando viu as fotos do gigantesco Hubble, primeiro não acreditou, depois chorou de frustração ao ver o quanto se fechara no seu pequeno e ultrapassado observatório. Ao não aceitar ver o universo por outros telescópios pregadores da fé correm o mesmo risco.

Sem autocrítica acabaremos pregando como em l960, e a falar em “plêiade de moços” “mocidade miriádica” e a chamar Maria de “íris fúlgido”, a conclamar os católicos num solene “eia, avante soldados da fé”, e a jurar ante o “altar da pátria e da Igreja triunfante, em busca de um futuro e lustroso refulgir na glória celeste”... É, pois é!



CASAIS QUE SE CONTEMPLAM

Contou-me ele, depois de onze anos de casamento. Não conseguindo dormir de dor no joelho, sentou-se numa poltrona ao lado da esposa que dormia no leito, chegou mais perto e passou a noite contemplando a mulher que o fizera pai, o ajudara a amadurecer para o amor e para a vida e o enchera de felicidade e sensatez.

-“Gratidão foi o que senti”-, dizia ele. E prosseguiu: - “Deus me deu uma mulher suave bonita, dois filhos, uma família amorosa e uma cúmplice para todos os momentos”

E discorria:

“Fiquei olhando a mulher que eu procurara e achara, a mãe dos meus filhos, aquele corpo bonito, aquela alma escondida sob os olhos que dormiam, e vi nela meu outro eu, extensão de mim, ou eu extensão dela, não sei ao certo!

Mas uma das frases dele captou-me de maneira especial. Disse-me: -“ Eu era um tipo de homem antes dela. Depois dela eu mudei. Acho que Deus a enxertou em mim e me enxertou nela. Produzo frutos que jamais pensei ser capaz de produzir. Ela deu sabor especial à minha vida. Acho que eu também a tornei mais pessoa.”

Palavras de marido apaixonado que contempla sua esposa à beira do leito. Quantas esposas e maridos não assinariam em baixo dessa frase? Embora vocês brinquem, dizendo que se casaram com um desastre, com um estrupício, brincadeiras à parte, vocês sabem que, agora, quando querem achar-se, precisam mergulhar um no outro, porque seu eu está dentro da pessoa amada. Vocês deram, um ao outro, o que tinham de melhor e, agora, quando querem achar o melhor si, procuram no cônjuge. É investimento que rende! Isso, quando o casamento deu certo!

Conto sempre a história de Dona Leila, para ilustrar o que é um bom casamento. As meninas, que a idolatravam pela excelente mestra e amiga que era, um dia, em aula, perguntaram, à queima roupa, quando ela perdera a virgindade. Dona Leila, tranqüila, reagiu:

- Mas eu não perdi! Não sou mais virgem, mas não perdi a virgindade!
- A senhora é casada e tem três filhos. Como não perdeu a virgindade?
- Eu não rodei bolsinha, nem saí do baile para o motel com um cara que nunca mais vi. Não perdi a virgindade para qualquer um. Dei-a ao meu marido e ele mora comigo. Minha virgindade está lá no mesmo leito que dividimos há catorze anos. E está em excelentes mãos. Só perde a virgindade quem não sabe onde a colocou. Eu sei o que fiz. Foi troca: eu me dei a ele e ele se deu a mim. Agora eu sou de um bom homem e ele, modéstia à parte é meu. Ele não precisa dizer isso: eu percebo.

Daquele dia em diante, as meninas perceberam que, isso de gostar de um cara, namorar e acasalar, passa pela descoberta de quem é este outro com quem criarão filhos. Sem alteridade, o sexo é apenas um troca-troca egoísta. Com alteridade é uma viagem de almas e corpos entrelaçados. É por isso que o casamento se chama de enlace! De laços o amor é feito.



ORAR E ABENÇOAR ERRADO

O sacerdote cantou: Noite feliz, oh Senhor, Deus de amor pobrezinho nasceu em Belém! Mas a canção diz: “O Senhor” e não “oh Senhor”. O mesmo sacerdote orou: na Salve Rainha: E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus bendito é o fruto do vosso ventre. Confundiu com a Ave Maria, na qual se ora: E bendito é o fruto de vosso ventre”, mas na Salve Rainha, deveria ser dito “Mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Seus cantores, na missa, oraram a Nossa Senhora Aparecida cantando: “Salve ó Mãe de Deus e nossa a Senhora Aparecida”. Deveriam ter cantado “Ó Senhora Aparecida. O mesmo grupo cantou que Maria é “virgem maculada”. Ao acentuar errado, esqueceu o “i”. O que se ouviu foi “Salve a Virgem maculada, a Senhora Parecida”. No CD, a canção dizia: Fez em Caná, tornou a fazer! O texto impresso rezava: “Fez encarnar”

O ideal seria que uma fonoaudióloga, professora de dicção orientasse a comunidade, sobretudo os que pregam e cantam para não pronunciarem errado as orações de tantos anos. Se ainda não se deram conta de que estão ensinando e orando errado é porque ninguém os alertou, ou porque não prestam atenção no que dizem! Ouça os cantos da missa e preste atenção nos verbos! Um deles dizia: “Maria, vós sois nosso modelo, porque que o Senhor te fez, a Mãe bendita que só você foi! “Vós, tu, você”, tudo na mesma sentença!

Poderíamos corrigir os textos de nossas canções de missa. Se quiséssemos, poderíamos!


ESPIRITUALIDADE DE PREGADOR

Espiritualidade tem a ver com a capacidade de conviver com o vento que sopra do alto, de lado, de baixo, de frente e à ré. Aviadores, marinheiros, baloeiros e navegadores sabem que os ventos não sopram somente neles e para eles, sopram em todos e para todos. Mas, como aqueles ventos sopram também sobre eles, como primeira regra, aprendem que precisam saber o que fazer com seus veículos quando o vento sopra e como flutuar ou navegar sem colidir com os outros, nem espatifar nas ondas, na rocha ou no solo.



Espiritualidade tem a ver com sopro do alto e da terra e com o que o indivíduo soprado faz com ele. Só pode dizer que tem espiritualidade o sujeito que, ao invés de ser soprado pelo vento e ir aonde o vento vai, aprende a ir aonde deve ir, sabendo valer-se do vento. Uma coisa é deixar-se levar dirigindo-se enquanto é levado e outra é ser empurrado e não saber como e para onde ir.



Os navegadores e pilotos que chegam ao porto e ao aeroporto que buscavam, chegam porque sabem a que altura ou profundidade vão, conhecem os canais e os ventos e sabem fugir ou utilizar a força das ondas e das correntes do mar e do céu. Quem sobe sem saber por que subiu, acaba levado pelo vento, como fez aquele, infeliz pregador da fé que subiu em balões, por entre câmeras, aplausos e incentivos de quem o viram subir e dias depois foi achado morto no mar sem saber por que subia, como desceria e como utilizaria seu frágil GPS.



Há igrejas e grupos de igreja que, de certa forma pregam esse tipo de espiritualidade... Sobem por entre glórias e aleluias e aplausos, mas de qualquer jeito e sem saber ler os sinais e os ventos. Preste atenção na espiritualidade festiva de alguns templos, pregadores e fiéis... Eles pensam que podem direcionar o vento.



ALI BABÁ E MILHARES DE LADRÕES

Os últimos acontecimentos no Congresso, o dinheiro nas meias, nos trajes íntimos e em malas mostram pela enésima vez a necessidade de uma reforma política no Brasil. Se quem deveria votar esta reforma não o faz deve ser porque os partidos e muitos congressistas perderiam com ela. As imagens de propinas e mensalões começam a gerar revolta na população. O povo quer a reforma.

Do jeito que os fatos correram nestes últimos 20 anos de Brasil, em muito pouco tempo haverá mais um requisito para alguém se considerar brasileiro de verdade: ter sido ameaçado, roubado, assaltado e espoliado. É impressionante a facilidade com que se toma ou se arranca o dinheiro do brasileiro. Ou damos sem reclamar, ou nos tiram, sem que possamos reagir. Na rua, nos juros e nos impostos. Aliás, aconselham-nos a não reagir contras o ladrões de rua e dissuadem-nos de reagir contra a extorsão chamada imposto. Quando ele é demais já não é mais governo: é desgoverno, assalto com caneta.

Dias atrás, uma senhora telefonou para a paróquia onde eu celebrara missa pela manhã e quis falar comigo. Disse que, ao voltar para casa, um ladrãozinho com um revolver na mão a rendera no portão de entrada, levara a bolsa e o dinheiro e acabara de ir embora. Lembrou-se da minha pregação sobre cidadania e coragem e, antes de ligar para a polícia ou dar queixa, pedia a minha bênção para ficar calma e resolver a situação de maneira a aliviar o trauma da filha de oito anos e do marido, homem irado e nervoso. Temia que ele, ao voltar do trabalho, fosse atrás do menino e o matasse.

Dei-lhe, com calma e paz na voz, as boas vindas para o clube dos brasileiros vítimas da violência, do roubo, da calúnia e da insegurança. Somos milhões. Lembrei-lhe que, no caso do Brasil e de alguns países, a história de Ali Babá precisaria ser recontada como Ali Babá e seus milhares de ladrões. São, certamente, mais de quarenta! Virou cotidiano. Os brasileiros, na sua maioria, ou já foram roubados, ou assaltados, ou espoliados, ou tiveram que pagar um imposto que lhes custaram o fim da firma e o fim do mês sem comida em casa. Afinal, 38 % de imposto é muito dinheiro para poder ter alguma coisa neste país. Falei-lhe do preço exorbitante do aluguel, de algumas mercadorias, dos juros, do pedágio, e da pequenez do salário. De quebra, há os que nos visitam para tirar da nossa gaveta o que as leis já nos tiraram, direto da fonte ou do banco.

Ela começou a rir e disse: - E, na época das eleições, eles querem que eu escolha um candidato, dentre centenas que falam uma frase de dez palavras em quinze segundos... Sou obrigada a votar sem ter as informações necessárias: os Partidos não as dão. É voto cego!

Foi esse o teor da conversa. Agradeceu e disse que era professora de inglês. Oramos ao telefone para que Deus nos iluminasse ao votar. Faltam profetas dentro e fora do Congresso!



A ERA DO SANTO FAMOSO

O mundo sempre buscou o sucesso. Notáveis e notórios sempre os houve, Famosos também. Mas há os que aconteceram, sem querer acontecer. E há os que fizeram de tudo para acontecer e ser chamados de nobres ou santos. Traçaram cuidadosamente sua trajetória. Seriam notados pelo mundo! Há os que a fama adota e há os que a perseguem, até que ela se renda a eles. É que fama e notoriedade podem trazer riqueza, aplausos ou reconhecimento! Há um tipo de crente que quer ser santo para ter imagens nos templos e peregrinos no seu túmulo. De santos têm muito pouco!

Noto que, na era fortemente voltada para o sucesso pessoal há igrejas construindo teologias em cima disso. O testemunho de vitória pessoal tornou-se uma assinatura de santidade. “Deus me deu sucesso pessoal porque eu me converti” Há muito “eu” nos depoimentos e testemunhos desses crentes e muito pouco nós, eles, os outros santos, aqueles a quem Deus favoreceu antes de nós.

É por essa razão que questiono a catequese do testemunho, da forma como tem sido vivida na mídia. A meu ver, é exagerada. Gostaria de ver esses piedosos cristãos falando mais da vida dos verdadeiros santos, provados por anos e anos de virtude. Não me impressiono com o testemunho de vida de quem se converteu há seis meses. É pouco tempo demais para se colocar uma vida na vitrine!

Andam esquecidas as histórias de Francisco de Assis, Vicente de Paula, Tereza de Ávila, Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Dom Elder, Irmã Doroti. Os novos arautos de Cristo falam muito mais do que Deus fez por eles mesmos. Não são testemunhas dos outros, são testemunhas de si mesmos. “Eu era assim e agora sou assado!” A meu ver é uma perigosa mesmice, e, se existisse o termo, eu diria “euísse”, egocentrismo demais disfarçado de testemunho.

Torno a dizer que não sou contra o testemunho pessoal. Sou contra o exagero dos testemunhos de vida na mídia atual. O mundo, a fé, o cristianismo não começaram com esses indivíduos. Deus fez muitos santos antes deles e fará muitos depois. Que os novos santos redimensionem os seus chamados e suas santidades. Não são assim tão importantes quanto pensam ser! Diminuam-se, e é possível que, então, o Cristo cresça através do seu humilde testemunho. Falem menos de si mesmos e, quem sabe, um dia o mundo falará mais deles, exatamente porque falaram pouco de si.

O modelo é a mãe do Cristo, a primeira cristã. E alguém podia apontar para si mesma e contar episódios da sua vida era ela. Não o fez. Há evangelhos apócrifos que pretendem resgatar seu testemunho, mas pecam pela vaidade. Não podem ter sido palavras dela. Maria viu muito, viveu muito e falou pouco de si mesma! E quando falou, deixou claro que seria elogiada por causa do Filho que teria. Alteridade! Disso, Maria entendeu!


A FÉ PELOS SENTIDOS

O judeu Israel bem Eliezer (1700-1760) não era muito amigo de livros. Gostava mais de contar histórias do que de estudar o Talmude. Assim dizem os seus biógrafos. Se foi verdade ou não, os fatos se encarregaram de mostrar.

Polonês, vendedor de cal, dono de uma estalagem, casado, aos 36 anos começou a ter visões e revelações, a curar com ervas e amuletos e a exorcizar. O povo passou a tratá-lo como rabino. Houve quem visse nele o Messias, mas ele resistiu ao título. Antes dele um Shabbetai Zevi passara por Messias e acabara traindo o judaísmo em favor do islamismo. Preferiu ser mestre.

Criou o que o movimento que hoje se conhece como hassidianos. Ensinava que livros não têm importância, Deus se manifesta; que temos que sentir Deus em tudo; que a questão não é entender ou compreender, mas sentir e sintonizar. Dizia que quem se esforçar vai conseguir; Deus está na comida, na bebida, na gota de orvalho, na cama do casal; a salvação de todos virá pela conversão e santificação do indivíduo. Garantia que, um por um, o mundo todo sentirá Deus. A razão não conclui: o que conclui é o sentimento. Cada hassidiano cuidará de si mesmo e se salvará. Seu testemunho de vida toda imersa em Deus salvará os outros.

Ele bem que poderia cantar uma canção muito em voga nas igrejas de hoje: “Quero amar somente a Ti!” A doutrina do “somente”, repousar só em Deus, só Deus basta, amar somente a Deus invadiu seus discípulos para susto dos rabinos do seu tempo. Era o anti-rabinato em ação. Contemplando as “centelhas divinas” o fiel se inflamaria de amor. O resto era inútil.

Mas havia um “zaddik”, intermediário entre Deus e o fiel que, este sim, poderia ler e interpretar o céu. Assim, o fiel vivia a fé pelo sentido e pelos ouvidos. O que o “zaddik”, mais profeta e ilumiando do que os demais dissesse, valeria. Cada comunidade teria o seu “zaddik”.

Sentir Deus em tudo, não buscar mais conhecimento nem explicações, cantar louvar e viver a festa do encontro celestial, era tudo o que um hassidiano precisava. Curas e milagres nos seus encontros eram a prova de que estavam certos. Eram todos iluminados. Deus faria, daria, diria o necessário porque eles, louvando, tudo conseguiriam.Os hassidianos ficaram conhecidos como fiéis sem livros e sem estantes. Davam seu generoso coração para Deus. A cabeça iria pelo coração.

Convém lembrar que, por mais santos que fossem, alguma coisa de errado havia com eles. Deus deve ser louvado, mas precisa também ser estudado.


Pe. Zezinho, scj




Um comentário:

  1. Eu estava lendo o trecho ORAR E ABENÇOAR ERRADO e percebi duas curiosidades: Em duas músicas do Padre Zezinho também acontece erros ao cantá-las:
    1 - O DEUS EM QUEM ESPERO
    A letra certa é essa:
    "...de toda violência, de toda falsidade, DA OBTUSA consciência que tem medo da verdade."
    Tem gente que canta ou escreve assim:
    "...de toda violência, de toda falsidade, ACUSA a consciência que tem medo da verdade."

    2 - AMAR COMO JESUS AMOU
    A letra certa é essa:
    "...Sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria, e ao chegar ao fim do dia eu sei que eu DORMIRIA muito mais feliz."
    Como o povo canta:
    "...Sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria, e ao chegar ao fim do dia eu sei que eu DORMERIA muito mais feliz."
    Detalhe: Não existe o verbo DORMER e sim DORMIR.

    Deve ter outros, mas não lembro.

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