segunda-feira, 12 de abril de 2010

Artigos - 12 de Abril

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DESLIZAMENTOS E DESLIZES

Eu me lembro de Campos do Jordão, de Santos, do Rio de Janeiro décadas atrás, de Petrópolis, de Blumenau, de Angra dos Reis e agora, outra vez Rio de Janeiro de Niterói. Os morros deslizaram e a lama sepultou quem não fugiu.

Naqueles morros moravam famílias. Algumas delas tinham dinheiro suficiente para morar em lugares mais seguros. Mas a paisagem era bonita, a visão, idílica. Outras eram famílias pobres. Foi o que seu dinheiro conseguiu. Não estavam lá porque era bonito e sim porque custava menos.

O solo em geral se assenta sobre rochas. Cortadas as árvores, mortas as raízes, casas no lugar da mata, na primeira grande chuva, talvez encharcasse, talvez deslizasse... Eles sabiam disso. Tinham lido reportagens e visto na televisão, mas não tinham para onde ir. Então, ficaram, apreensivos e esperando que a eles não sucedesse o mesmo. Mas sucedeu. Há milhões de brasileiros morando em morros e lugares onde pode haver deslizamentos. Não sabem para onde ir, não há dinheiro, não há perspectiva. Então, ficam. Viver é um risco!

Daqui de longe é fácil culpar os governos. Na hora do orçamento, porém, as necessidades são tantas e o dinheiro é tão pouco que os morros esperam. Além disso, como firmá-los? Quanto custaria para a prefeitura e para o Estado? E as outras prioridades? Esperariam? E não haveria passeatas e sindicatos a gritar por socorro imediato? E aquelas famílias, em tempo de seca aceitariam sair de lá?

O certo seria jamais ter permitido aquelas casas à beira daqueles abismos. O certo seria coibir o desmatamento para que não houvesse deslizamento. Seriam obedecidos? Daqui de longe, em cima da tragédia procuramos os culpados. Não há como culpar os governantes de agora. E não sabemos o que era governar ontem com orçamentos esquálidos. Ficam as casas no morro, mas a saúde, as estradas, o leite e a merenda das escolas, o esgoto, a água, o salário e o reajuste dos funcionários vem primeiro. Sobrava para a contenção dos morros? Ou para evacuá-los? Não!

Volto a pensar em Campos do Jordão. As feridas ainda estão lá. A cicatriz no morro permanece. Logo na entrada. E não foi a pior. A cidade não tem dinheiro para segurar a montanha. Outras cidades também não. O certo seria evacuar o morro e replantar a floresta. Mas que prefeito conseguirá? Com que verba?

O problema da habitação popular continuará, talvez por séculos, a ser o nosso maior desafio. E não apenas nosso, porque na rica Europa a neve e os morros também deslizam e fazem milhares de vítimas. Também os ricos moram em lugares perigosos. Aprenderemos? Solucionarão? Solucionaremos?



O TÚMULO VAZIO

Não está aqui.Vejam o túmulo vazio. (Mt 28,6, Lc 24,6) Lembro-me de nos meus vinte e dois anos ter assistido a uma peça com este título. Por uma hora e meia quatro mulheres e dois homens conversam diante de um túmulo vazio e um lençol, sobre o que poderia ter acontecido com aquele cadáver.

De reflexão em reflexão os seus personagens debatem a possibilidade e a impossibilidade da ressurreição. Os que se opunham à idéia de ressurreição diziam que alguém roubou o corpo, talvez o Arimatéia. Jesus, na verdade não morrera; fora morte aparente. Ou fora embuste: o sepultado não era o mesmo que morreu na cruz; truque dos discípulos... Uma das mulheres e um dos homens apostavam que se pode viver de novo e que Jesus tinha tal poder.

São Paulo magistralmente analisa a morte de Jesus, como prefiguração da nossa: um dia nós também ressuscitaremos (1 Cor 6,14), Um dia entenderemos tudo isso, com clara visão e sem véu, porque agora vemos tudo obnubilado, por espelhos embaçados. É tudo obscuro, mas um dia entendermos. E diz com ternura poética: “Não quero que vocês fiquem tristes, como quem não sabe (1 Ts 4,13) lamentando-se pela morte. Somos chamados a uma vida eterna. Da ressurreição de Jesus derivamos a nossa. Da passagem de Jesus derivamos as nossas passagens. Transcenderemos à morte.

São Francisco a chamava de irmã. Não se deve procurá-la, mas como ela certamente vem, o certo é estarmos de prontidão. Seguros de que não cairemos num nirvana ou no aniquilamento, cremos no encontro com quem nos criou, a quem veremos pela primeira vez e em quem viveremos para sempre. O Filho morto e ressuscitado nos levará ao mistério do Deus que é um só, mas que é três pessoas. Não cairemos no nada, até porque não viemos do nada: foi dele que viemos. Antes de sermos realidade já éramos pensados por quem nos fez.

O túmulo vazio é o nosso grande desafio. Pode falar por nós ou contra nós. Afinal, Jesus está ou não está vivo? Seria triste se nossos adversários, depois de convencerem o mundo de que o túmulo vazio foi um embuste, ainda venderem a idéia de que Jesus foi uma fraude. Dan Brown tentou. Vendeu milhões de livros. Outros, bem que tentam. Se tantos fazem de tudo para provar que não houve ressurreição é porque, vivo ou morto, Jesus os incomoda. Se não ressuscitou, como diz São Paulo, os cristãos estão ferrados. Mas se aquele túmulo vazio aponta para a ressurreição, os adversários que se cuidem! Perderão e Jesus prosseguirá. E talvez inadvertidamente algum coveiro ainda porá uma cruz sobre seus túmulos!



RESUMIR JESUS

Suponha que foram e sejam milhões os escritores que, em livros e artigos já falaram sobre Jesus. Suponha que foram e sejam milhões os pregadores da fé que anunciaram e aclamaram Jesus. Suponha, ainda, que milhares, talvez milhões de crentes de outras religiões e considerável número de ateus e agnósticos tenham lançado dúvidas sobre a pessoa de Jesus de Nazaré. Eles dizem que Jesus não foi quem dizem que ele era... Suas suposições não estarão longe de verdade.

Agora, suponha você que alguém, num programa de televisão para milhões de telespectadores lhe perguntasse ao microfone:- “Quem foi Jesus de Nazaré? Diga isso em sessenta segundos”

A pergunta foi feita a três pregadores da fé que representavam três igrejas e três obras sociais. O vencedor levaria dois caminhões de alimentos. Dois responderam resumidamente, afirmando que pelo que tinham lido, estudado e aprendido ao longo de 40 anos de pregação, Jesus era o diálogo da humanidade com Deus e de Deus com a humanidade e que ele foi o divino mais humano e o humano mais divino que já passou por este mundo! Arrancaram aplausos da multidão. Cada qual falou do seu jeito. Ambos encantaram a platéia.

O terceiro respirou fundo, fez um longo silêncio, olhou para os presentes que o miravam em silêncio, pediu desculpas e disse:- “Infelizmente, em mais de 30 anos de leituras não aprendi a responder com tanta pressa a uma pergunta tão grande como esta. Jesus não pode ser resumido numa frase de um minuto. Nenhuma pessoa pode ser resumida em 60 segundos. Estou levando uma vida para responder a esta pergunta; não saberia resumir Jesus em um minuto. Considerem-me fora da competição”.

O apresentador consultou a direção e esta reformulou a pergunta: - “Diga-nos em um minuto o que você considera o mínimo que se espera de quem crê em Jesus!” Os outros dois primeiro explicaram suas respostas anteriores e deram razão ao colega: não se resume Jesus em 60 segundos. Entre outras qualidades do discípulo de Jesus acentuaram a fé, a solidariedade, o coração fraterno, o diálogo, o senso de justiça e a humildade.

O terceiro fechou os olhos, fez uma pausa de 15 segundos e disse: - “Continuar aprendendo o que já sabe, tentar aprender o que não sabe sobre Jesus e ensinar o que já conseguiu assimilar”

Eram 20 perguntas. O primeiro, muito simpático e brincalhão, venceu. Mas o terceiro saiu de lá admirado pelos funcionários da emissora e, lá fora, pelos telespectadores: haviam conhecido um pregador que quando não tem certeza não fala, e quando fala, pensa em cada palavra que vai dizer!



CRUZ E PERPLEXIDADE

Diante da cruz pode-se ficar assustado, apavorado, perplexo, revoltado ou conformado. Depende de cada mente e de quanto alguém se preparou para o inevitável. Na trajetória humana, morte é previsível e inevitável, cruz é imprevisível, às vezes evitável, mas nem sempre evitada.

Nem toda morte tem a ver com dor, mas cruz tem. Há mortes serenas, ou tão súbitas que não chegam a doer. E há mortes dolorosas. Ninguém morre em cruzes de isopor. Cruzes doem porque pesam e pesam porque são cruzes. Por isso ninguém quer cruzes para si. Mas, quando alguém que amamos não consegue levar a dele ou dela, assumimos também aquela cruz. Além das que já temos, levamos também as da pessoa amada. E há os solidários e samaritanos que, em si não teriam nada a ver com a cruz do outro, mas que a assumem, porque alguém precisa ajudar quem jaz à beira do caminho.

Os católicos que ultimamente andam recebendo pauladas de todos os lados na mídia religiosa e laica por conta de erros de alguns de seus membros, mas também por causa de sua teimosa luta pela vida, contra o aborto, contra manipulação do embrião, contra a relativização dos valores, de cruz os católicos deveriam entender. Grande número deles a carrega no peito. E nos seus templos, pátios e paredes há cruzes de todos os tamanhos. Além disso, persignam-se com o sinal da cruz. Nascem e morrem sob o signo da cruz que eleva.

Jesus não a quis, mas aceitou levá-la. Não a procurou, mas não fugiu. E morreu perdoando quem o crucificava. Foi ele também quem disse que discípulo dele que não assume a própria cruz e, de quebra a dos outros, (Mt 25,31-46 ) não é digno dele. (Mt 10,37-38)

Não se brinca de cruz. Doer sempre doerá. Também os santos ficaram perplexos e Jesus certamente não morreu sorrindo. Foi sofrimento inimaginável. Daí, a mística da solidariedade cristã. Aí, a razão pela qual nós católicos levamos cruzes ao peito. Não é para lembrar onde Jesus está, mas onde esteve e a que ponto nos amou.

Entre ser crucificados ou crucificadores não se deve querer nem uma nem outra situação, mas é muito mais danoso ser aquele que crucifica. O crucificado acaba vencendo. O crucificador em pouco tempo descobrirá que não venceu. Há uma experiência chamada felicidade que só tem quem se mostra solidário. E os solidários não crucificam. Cruzes nem sempre se explicam. Mas, se vierem, pensemos em Jesus. Ele soube o que fazer com a dele. Depois de Jesus a cruz tem outro sentido. Tornou-se alteridade.



DELETAR O OUTRO

A notícia de que nos regimes comunistas, deturpava-se a História deletando nas fotos oficiais a imagem dos desafetos não é nem tão rara nem tão passada. Acontece hoje com enorme freqüência. Incapazes de distinguir entre o correligionário, o irmão de fé e o amigo, partidos deletam quem por questão de consciência política optou por outra sigla, igrejas deletam que aderiu a outra e movimentos de Igreja deletam quem optou por outro caminho dentro da própria igreja. E há os que deletam que os critica ou ousa sugerir que mudem. Falam como se o outro tivesse morrido, ou como se nunca tivesse existido. Apagam-no de sua mídia.

Há irmãos que deixam de ser irmãos e amigos que deixam de ser amigos porque o outro não pensa mais como pensava. Proíbem que se fale com a pessoa que mudou de idéia. Tratam-no como se tivesse roubado, matado ou destruído maldosamente um grupo. Não distinguem. Dão o mesmo tratamento a quem foi realmente maldoso e a quem apenas ousou dizer a verdade, discordar ou buscar outro caminho na mesma igreja ou no seio da fé cristã.

E houve e há os que matam quem ousa discordar da igreja ou do partido. Quando não matam, silenciam ou sujam o nome da pessoa. Uma coisa é falar à pessoa, falar às autoridades da Igreja, às autoridade do Partido e outra destruir sistematicamente em todo lugar o irmão ou a irmã que optaram por deixar o grupo.

A verdade é que deletar quem discorda nem sempre dá certo. Com todo poder de mídia, igrejas e grupos de igrejas, por mais que o façam não conseguem apagar a memória de alguém cuja palavra vingou e deixou marcas. Tentaram isso com Jesus! Quem acabou no esquecimento forma os seus deletadores.

Uma das atitudes mais cruéis de nossos dias é deletar alguém da mídia. Se não é dos nossos, não será lembrado, nem citado, nem elogiado. Morreu! Chega-se ao ridículo de esquecer de propósito um autor de mais de 100 obras para ressaltar o que fez duas, ignorar quem começou um caminho para ressaltar quem veio trinta anos depois. Tudo, porque a pessoa em questão na reza pela cartilha de quem possui aquela mídia. Acontece nos partidos, nas ONGs, nos movimentos, nas igrejas e nas comunidades.

Como Deus discorda, mas não deleta, os deletadores de ex companheiros vão na direção oposta de Deus. Quem não consegue ser amigo de quem não pensa nem ora do mesmo jeito não entendeu o que é política, nem religião. Setorizou e sectarizou! Os sectários e fanáticos raramente sabem conviver. Seu problema não são os outros: são eles mesmos!


Pe. ZEZINHO, scj

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