quinta-feira, 29 de abril de 2010

Artigos - 26 de Abril

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UM SERMÃO A BALANÇAR NO PEITO

Faz 50 anos que carrego um sermão pendurado no pescoço. Decidi aos 18 anos que assim o faria. E é o que tenho feito. Eu levo uma cruz comigo. Em geral, por cima da camisa.

Além da cruz no peito, tenho várias outras em casa. Você também as tem. Há quem não as leve, nem as tenha. Direito dele, direito nosso!

Não sei porque você as tem ou leva, mas imagino que suas razões sejam as mesmas que as minhas. É questão de fé. Não é para me exibir. É para testemunhar a quem quer que me veja com aquele metal a balançar no meu peito que acredito na pessoa, na vida e na morte de Jesus de Nazaré a quem vejo como o Cristo, e, indo mais longe, a quem adoro como filho de Deus. Direito meu! Se alguém não crê, direito dele!

Já fui contestado por causa da cruz no meu peito. Há quem diga que é lúgubre e que cultivo a morte e a derrota. Segundo ele, eu deveria levar uma frase que proclame a ressurreição e a vida, ou uma imagem de Cristo ressuscitado. Opinião dele! Eu tenho a minha!

Ele sabe porque não leva uma cruz nem a tem na sua casa.
Eu respeito e não discuto suas razões. O peito é dele e a casa é dele! Mas se ele não sabe porque eu levo uma cruz ao peito e tenho outras em casa e no meu carro, eu sei!

Não levo cruzes para dizer onde Jesus está e sim para dizer onde ele esteve e de que jeito encheu de esperança milhões de crucificados.

Se até alguém inocente e puro como Jesus acaba na cruz, então todas as cruzes podem ter um sentido e todos os crucificados podem transformar sua derrota em vitória, porque dois dias depois, de madrugada, ele tinha vencido a cruz e a morte. Tinha ressuscitado!

Na minha teologia cruz e ressurreição não se opõem. Antes, complementam-se. Foi ele quem disse que quem não levasse a própria cruz e, de quebra, a dos outros não seria digno dele. (Mt 10,38 )

Acredito nos crucificados, acredito nos descruficadores. Só não acredito em crucificadores, os que tudo fazem para esmagar e destruir os outros.

É por isso que levo uma cruz comigo. Contra ou favor, espero que quem me vir de cruz no peito se pergunte porquê. É meu jeito de não permitir que o mundo esqueça o que fizeram com Jesus e o que fizeram e fazem com milhões de homens, mulheres e crianças mundo afora. (1 Cor 1,17) O mundo é uma gigantesca indústria de cruzes. E os violentos e maus se encarregam de nunca deixá-las vazias.

É meu grito de protesto contra todos os crucificadores de plantão. É também meu grito de gratidão pelo que Jesus fez em favor dos feridos e oprimidos. Ele disse que daquela cruz atrairia todos a ele. ( Jo 12,32 ) E atraiu bilhões de almas.

Quem não quiser levar uma cruz, não leve! Quem não a quiser ter em casa, não tenha. Eu levo e tenho. Foi Paulo que disse que a cruz é vergonha só para os pagãos. Para nós é sinal de coragem e de solidariedade.

Entre Pilatos, Anás e Caifás e Simão Cireneu eu fico com Simão Cireneu. Os três primeiros comandaram a crucificação de Jesus. Simão ajudou a levar a cruz daquele que até hoje ajuda milhões a carregarem suas cruzes cotidianas.

Isto mesmo! Pendurei uma cruz ao meu pescoço! E aqui, ela balançará enquanto Deus me der uma réstia de vida. Minha cruz fala até quando eu fico quieto! É meu sermão silencioso que diz o tempo todo: não esqueçam as dores do mundo!



O HOMEM JESUS

Se houve no mundo um homem que sabia tudo sobre Deus, este homem foi Jesus. Se algum homem chegou à intimidade absoluta com Deus, este homem foi Jesus. Foi ele mesmo quem o disse. E era plenamente homem.

Se um homem é capaz de tamanha intimidade, ele não é um sujeito qualquer. É especial. Especialíssimo. Foi ele quem o disse.

Se Deus é este ser que pensamos que é, o homem que afirma ter intimidade absoluta com ele corre o risco de ser o doido mais varrido, o maior dos mentirosos, o maior dos megalomaníacos.

Mas, se for verdade, então ele é o mais especial, o mais homem entre os homens. E Jesus disse que sabia quem era e quem o havia mandado, ninguém menos que o Pai a quem ele chamava de Papai (Abbá, em aramaico). Tal pai tal filho? Um só ser? Quem concluiu isso? Na mesma substância? Consubstancial. Da mesma natureza? Igual ou apenas semelhante. As comunidades discutiram isso durante séculos. Para uns ele era Deus demais para ser homem. Para outros, homem demais para ser Deus. Para outros, impossível que fosse Deus e homem. Uma só pessoa e duas naturezas? O debate ainda continua.

Homem algum será capaz de conhecer Deus. Mas, Jesus disse que o conhecia. E somente ele. Ninguém antes, nem depois dele foi capaz disso. Se Deus existe, se criou o mundo e se criou o homem, somos todos filhos de Deus. Mas Jesus garante que é o Filho.

Há uma coisa nesse homem Jesus que homem nenhum relativamente inteligente é capaz de decifrar: fala como alguém igual, absolutamente identificado com Deus.

Ou sua mentira é mentira demais para nós, ou sua verdade é verdadeira demais. O fato é que nenhum homem jamais falou como Jesus falava.

Os homens que escreveram a seu respeito não teriam capacidade de criar um personagem assim tão forte, capaz de desafiar a mente de tantos pensadores e cientistas durante 20 séculos. Se Jesus foi invenção, então os quatro evangelistas que como insistem alguns teriam construído o personagem Jesus, seriam mais espertos que ele.

Para crer em Jesus, precisamos acreditar nos seus biógrafos: Mateus, Marcos, Lucas e João. O que deu neles? O que foi que viram e ouviram, para falar dele como falaram, e morrer por ele do jeito que morreram?

E os apóstolos? Que experiências tiveram para dar a vida por ele. Morreram por um personagem de novela ou por uma pessoa real? Como foi? O que viram eles em Jesus para viver por ele e morrer do jeito que morreram? Era Jesus, filho de Maria, filho de José, filho especialíssimo de Deus ou era uma invenção da cabeça deles? Jesus os fanatizou? Mas como, se Jesus nunca impôs nada em nenhuma cabeça? Não foi ele que os deixou livres para irem embora ,se quisessem?

Nunca usou de armas nem de violência. Falou claro que quem o seguisse teria felicidade, mas teria muito sofrimento. Nunca fez marketing mentiroso do caminho que propunha. Não era desesperado para fazer discípulos.

Que palavra forte tinha esse Jesus que ultrapassa e sobrevive aos homens, às ideologias, às seitas, e até mesmo aos erros colossais dos que transmitiram sua mensagem através dos séculos? Que foi que ele disse para ter se tornado a personalidade mais carregada de humanidade que se conhece?

A soma de todos os grandes homens, com as suas mensagens, não chega nem perto do mistério que é Jesus. Nenhum dos doze que o conheceram e com ele viveram tinha a mesma idéia sobre ele. Cada qual o viu de seu ângulo e da sua experiência. Mas, da sua pregação emerge um homem totalmente identificado com o Pai, totalmente filho - Filho especialíssimo de Deus. E se era tão filho, por que não Deus com quem ele afirmava ser um?

Era difícil crer. E ainda é difícil. O mistério de Jesus leva ao mistério de Deus e desafia tudo aquilo que se conhece de ciência e de religião. Porque esse homem Jesus é, antes de tudo, filho. Sem essa palavra é impossível continuar crendo nele.

O criador do homem tem um filho, que é Jesus. E é através desse filho especial que o Criador nos adota também como filhos seus, como disse o apóstolo Paulo.

Será nossa fé suficientemente forte para nos fazer sentir que, através de Jesus, somos filhos e herdeiros do Pai maior (Abbá), que nos ama e nos ampara nesta vida e na eternidade? Ou nossa casa é hermética demais para que nela entre ao menos uma réstia da luz do sol?



O “GPS” DE DEUS

Ganhei um GPS, assinalei a direção e fiz 150 quilômetros, orientado por uma voz de alguém que nunca vi. A voz me dizia onde eu estava, para onde deveria me virar e até me prevenia quanto a elevações e buracos no caminho. Os sinais me lembravam que eu estava sendo filmado e visto de lá de cima. Por ele eu sabia que passaria por câmeras. Com isso controlava a velocidade. Ouço dizer que há um GPS que alerta contra o excesso de velocidade.

Os humanos são muito criativos. Por um lado me orientam e por outro me vigiam. Sabem onde estou. Para me esconder daquele artefato no céu eu teria que me esconder num túnel. Sou vigiado 24 horas por dia nas ruas, nas avenidas, nos shoppings, nos aeroportos. Vivemos num imenso BBB. Apenas não nos damos conta disso nem somos tão exibidos quanto aqueles que lá se expõem por meses. Mas o Big Brother do famoso romancista inglês já chegou e já nos comanda.

Pensei comigo! Se os técnicos que não vejo podem me ver e me seguir, levando-me a endereços que eu não acharia sozinho e se aceito que os homens podem, por que eu negaria que Deus me vê, me guia e me orienta? Se aceito orientação de um aparelhinho com uma voz de alguém que não conheço, por que não aceitaria a orientação do Livro Santo, dos profetas e de Deus?

Ouço dizer que há aparelhos falsos que não levam aonde prometem. Também em questão de fé há pregadores falsos que garantem levar, mas não levam. Entregam aos seus fiéis um GPS estragado. No dizer de Padre Antônio Vieira nos eu Sermão da Sexagésima, não pregam a palavra de Deus, mas palavras sobre Deus e não poucas vezes, palavras altamente elogiosas sobre si mesmos.

Isso não quer dizer que todos os que se dispõem a nos conduzir são gene falsa e interesseira. Há os bons e desapegados. Assim como há GPS confiável, também há pregadores confiáveis. GPS às vezes falham e pregadores também. Mas se me deixei guiar por 150 quilômetros com a precisão incrível do satélite, não vejo porque não aceitar minha Igreja, que em muitos casos é imprecisa tanto quanto aquele GPS e em outros é certeira. É aquilo mesmo, sem tirar nem por!

Acho que Deus tem o seu modo de conduzir e nos dá a todos um GPS espiritual. Se o quisermos deixar desligado ou ignorá-lo, podemos. É só silenciar a voz de Deus como se silencia a de um GPS. Muitos o fazem. Desligam-se de Deus. Pensam que desligaram Deus, mas, na verdade, desligaram-se de Deus.

Na verdade há muito tempo que somos controlados pelo céu e pela terra. E se quiserem saber que mais nos espia e controla? O mundo! Deus é bem mais respeitoso de nossa liberdade. Experimente não pagar o aluguel, o empréstimo, os impostos ou o armazém... Deus vê mais, controla menos, vinga-se menos e dá muito mais chance do que o mundo costuma dar. É que Deus é amor e o mundo em geral é guiado por interesses. Deus se interessa, mas o mundo em geral é interesseiro. Entre o GPS de um e de outro, o de Deus é bem melhor!



FÉ EM JESUS

Sou um religioso cristão e católico. Isto significa que minha fé em Deus passa pela fé em Jesus e minha fé em Jesus, passa pelo meu catolicismo. Aceito o jeito da Igreja católica falar de Jesus, seus ritos e suas práticas.

Falo com o Pai em nome Jesus e creio que Jesus é o Filho e me espera no Pai. Mas tento me lembrar que estou falando com o único Deus que há. Minha cabeça é pequena demais para entender este mistério. Então, ou eu fundo uma nova igreja, ou entro numa outra, ou migro para um religião que crê numa só Deus que é uma só pessoa, ou fico com os cristãos que sustentam este mistério de que só há um Deus, mas ele é Pai, Filho e Espírito Santo.

E se estivermos errados? Ainda assim quero crer com os cristãos. E se os outros estiverem errados e Deus for um só, mas for Pai, Filho e Espírito Santo? Neste caso eles morrerão crendo errado, mas serão amados por Deus porque foram sinceros.

Não tenho o menor constrangimento em admitir que talvez eu creia errado. Mas, como não fui lá e não vi, e os outros também não foram e não vira, cada qual escolhe a fé que deseja seguir. Um dia eu decidi continuar na fé que estava seguindo.

Continuo não sabendo explicar Jesus, O Filho. Eu também não sei explicar nem pilotar um avião a jato , mas viajo nele e espero que aquele vôo não cairá. Se tenho fé nos engenheiros e no piloto, posso também ter fé na minha Igreja. Não estou nela por questão de certeza absoluta. Estou nela por questão de fé. É o avião que escolhi para ir aonde espero chegar!



AS CRUZES NA PAREDE

Não adoramos a cruz. Adoramos o crucificado.
Não adoramos um morto. Adoramos um ressuscitado. Mas somos agradecidos. Foi numa cruz que ele morreu.


Estavam errados, cruelmente errados aquele muçulmano italiano que no mês de outubro de 2003, em nome de sua fé islâmica, quase conseguiu que um juiz eliminasse a cruz da escola onde seus dois filhos estudavam. O troco veio na França quando uma lei proibiu que as moças muçulmanas usassem o véu. Ao passar por cima da fé de todos os outros em nome da sua fé e da democracia, deu o mesmo direito aos outros de proibir a fé dele. Ora, a cruz e o catolicismo estão na Itália muito antes de a lua crescente estar no Oriente Médio. Agiu pior ainda, quando disse que o crucifixo se tratava de um mini cadáver.

Errou também o vereador evangélico nordestino que tentou tirar de sua cidade uma enorme cruz e no lugar propôs que se pusesse uma Bíblia. Não deve ter lido direito a Bíblia da sua igreja, na qual Jesus dá sentido à cruz (Mt 10, 38) e diz que quem não encontra o sentido da cruz e não a assume não é digno dele. Paulo diz que escandalizar-se da mensagem da cruz é loucura para quem está se perdendo. Para quem se sente salvo ela é poder de Deus (1 Cor 1, 18 )

O mesmo Paulo diz que, se deve se gloriar de alguma coisa, será da cruz de Cristo .( Gl 6,14) E sugere que seus leitores não vivam como inimigos da cruz... Aquele sangue que eles tanto honram foi derramado numa cruz... (Cl 1,20) É impensável o Cristo vitorioso do começo ao fim. Jesus deixa claro que não veio ensinar uma fé triunfalista que só vence e nunca perde. ( Mt 10,39) Quem prega só vitória e recompensa monetária, casas, e sucesso na carreira, não está pregando a doutrina de Jesus e sim um capitalismo religioso. Dê mais a Deus que você terá sucesso financeiro. Isso pode até acontecer, mas não é assim que funciona. Deposite que Deus deposita.

... Os discípulos não se tornaram empresários bem sucedidos, além do que, praticamente todos eles morreram de morte violenta. O cêntuplo que Jesus oferece não cai na conta bancária de nenhum cristão. Entra na paz e na caridade que ele passa a viver...

Sem cruz não há Jesus, Não faz sentido uma cruz sem Cristo. Ninguém pede para sofrer e carregar a cruz. Jesus não pediu,( Mt 26,39) mas aceitou; nem também Simão Cireneu. Mas, chamado, ainda que forçado, a levar a de um outro, que era o próprio Jesus, ele a levou. ( Mt 27,32 ) Deve ter entendido e se convertido, porque Marcos cita seus dois filhos conhecidos dos cristãos, Alexandre e Rufo.( Mc 15,21 )

Algumas religiões cristãs, entre elas, o catolicismo usam a cruz como sinal de gratidão. Nos dedos, no peito, nas roupas, na casa, no nome das cidades, nas igrejas a cruz de Cristo nos lembra não onde Jesus está, mas onde ele esteve e de que jeito ele nos salvou. Não é porque ele foi para o Pai que jogaremos fora o sinal de seu amor por nós. Somos uma Igreja que cultiva a fé agradecida. Jesus rima com luz, mas também rima com cruz.

Para nós a cruz lembra martírio, altruísmo, coragem de morrer pelos outros, entrega total e vitória sobre o sofrimento, porque não cremos em dor sem resposta e nem em morte sem ressurreição. Achamos o sentido porque aprendemos com o maior de todos os crucificados.

Quando eu for elevado da terra atrairei todos a mim, disse Jesus (J o 12,32 )
Quem não tomar sua cruz e não me seguir não me merece.( Mt 10,38 )( Mt 16,24)

Jesus sempre deixou claro que a dor, a derrota, o sofrimento não devem assustar quem o segue. Sua ênfase na ressurreição e na superação é que dá origem às nossas igrejas. Cremos que o derrotado se recuperará, o crucificado ressuscitará, o perdedor inocente viverá terá mais a dizer do que aqueles que o martirizaram.

Ninguém mais se lembra daqueles que mataram Jesus. Quando são lembrados não somam. Jesus e todos os que com ele carregaram sua própria cruz ou a cruz dos outros fizeram e fazem a diferença no mundo. Não teríamos tido Vicente de Paula, Camilo de Lellis, Madre Tereza, Irmã Dulce, Dom Helder, e milhões de servidores em hospitais, creches, asilos e orfanatos, se eles não tivessem entendido a própria cruz e a cruz dos outros. Até porque, quanto maior a cruz, mais alto se eleva o crucificado. Para nós um hospital é mais importante do que uma emissora de rádio. Erraria que, para ter mais adeptos, fechasse um hospital para construir uma emissora. Ganharia agora, mas perderia a longo prazo. Sem a caridade e quem cuida e assume a dor do outro a palavra é vazia. A boca de quem anuncia não pode ser maior do que seu colo e seu ombro.

Nós católicos, como Paulo não confundimos as coisas. Cruz para nós não é derrota nem morte. É o túnel que leva para paisagem ainda mais bonita.

Não tenhamos vergonha de nossas cruzes. Não despreze a moldura que segura o retrato do irmão que o salvou. Ela sustenta uma lembrança!



ENTRE A CRUZ E A RESSURREIÇÃO

Se o pegassem ele morreria. Muito antes do julgamento apressado daquela manhã de torturas haviam decidido que ele não escaparia. Para quem o condenou ele era um subversivo que punha em perigo os laços entre Israel a dominada e Roma, a dominadora. Roma sabia muito bem esmagar quem ousasse questionar sua autoridade. E naqueles dias invadir um templo e, com uma corda, expulsar os cambistas e vendedores, perdoar nas ruas quando para isso havia um ritual, ensinar doutrinas contra a sacralidade do tempo a duras penas reconstruído, templo que era o símbolo da aliança de Israel com Javé, gritar dentro dele que quem tivesse sede viesse a ele, questionar o imposto do templo era subversão.

No tempo de Jesus os colonos tinham se transformado em sem terra, arrendatários ou meeiros por conta dos impostos. Quem comprou as terras era da elite que morava principalmente em Jerusalém. Entre a elite, o clero de então. O templo arrecadava milhões porque o dízimo já subira 20%. Não admira que tivessem surgido tantos libertadores do povo das duas opressões , a dos romanos e a do templo. Aliás foi essa a revolta do ano 66 quando os zelotas depuseram as autoridades do templo que coletava para si e para Roma. Os romanos como bem sabiam fazer vieram e arrasaram o templo. Jesus predissera isso. Do jeito que as coisas iam não se previa outro desfecho. O templo tornara-se uma coletoria e um centro de arrecadação, as terras tinham virado latifúndio e Israel vivia de produtos e exportação.

Quando João apareceu propondo penitência e anunciando uma nova ordem de coisas, um no reino incomodou. E tanto incomodou que lhe cortaram a cabeça, primeiro por censurar o rei que vivia amaziado com uma sobrinha, sobrinha que ele havia roubado do seu irmão. Mas o outro motivo foi a pregação de João. Um novo reino? Que novo reino? Israel já não tinha um bom rei e paz com os romanos?

Jesus retomou a pregação de João dizendo não que o reino estava por chegar, mas já estava começando. Então era isso. O pregador galileu, com essa história de reino de Deus , questionando o templo, agindo como e fosse rabino ele que nem sacerdote era, desligado de qualquer partido ou aliança e levando aquela multidão atrás dele fora longe demais. Se a idéia do novo reino pegasse, os romanos esmagariam Israel. O exercito romano era um rolo compressor. Que os romanos nomeassem os sumo-sacerdotes e interferissem no templo desde que Israel sobrevivesse. De destruição e exílios Israel tinha experiência. A Babilônia era mestra em invadir Israel e escravizar seus filhos.

João foi decapitado e Jesus deveria ser contido. Judas o traiu, ele foi preso e em quatro sessões de três horas eles haviam vencido. Não era o primeiro nem seria o ultimo libertador a perder para a elite que politicamente dominava Israel, sendo ela politicamente teleguiada por Roma.

A prisão ocorreu perto da madrugada. Ali mesmo começaram as torturas e a farsa do julgamento. Às 9h depois de um cortejo apressado eles o crucificaram, às 12 hs ele entrou em agonia . às 15 horas. Foram mais três horas de procedimentos até que o desceram da cruz. Às 18 h saíram para enterrá-lo num túmulo escavado na rocha e cedido por José de Arimatéia.

È claro que foi um julgamento político e é claro que Jesus mesmo não sendo de partidos, nem sedicioso, nem membro de guerrilha urbana, nem líder de sem terras, com sua pregação questionara a situação estranha vivida por Israel que dizia servir a Javé, mas servia ao imperador romano. Diante de Pilatos e de Herodes agiu como quem respeitava, mas não aceitava sua autoridade. Diante do rei dominado por Roma não disse uma palavra. E diante do governador romano disse que seu reino não era deste mundo e que Pilatos não tinha nem culpa nem autoridade. Os religiosos o queriam morto e Pilatos não tinha força para mudar a situação. Desafiou-o.

Morreu porque disse o que pensava e fez a cabeça do povo.

O que as autoridades não imaginavam é que depois da cruz e da morte haveria algo que eles não conseguiriam controlar. A ressurreição. Espalharam-se até hoje três versões. Ele não morrera: retirado do túmulo escondeu-se para sempre. Morrera, mas seus cúmplices roubaram o corpo e o esconderam num outro tumulo secreto. Ressuscitou porque era o Filho de Deus e dera a vida pela humanidade.

A escolha de crer ou não crer cabe a cada pessoa. Quem crê terá que viver como defensor da vida do começo ao fim, contra a tortura e contra qualquer forma de violência. Jesus não faria por menos. Quem não crê terá que provar o que diz contra Jesus. Milhares de livros forma escritos contra a favor, mas aquela cruz, aquele túmulo vazio e aquela ressurreição significaram diferença. São dois gigantescos pontos de interrogação e de exclamação esculpidos naquela colina e naquela rocha. Jesus continua incomodar!


Pe Zezinho, scj

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