quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Especial: Quando Chegar o Natal

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Através de um pedido que fiz à Milene da TV APARECIDA, ela publicou os vídeos do especial que foi ao ar no dia 24 de dezembro às 10:30 da noite.



No programa, Padre Zezinho recita poemas, e canta com o grupo IR AO POVO e SONIA MARA, grandes sucessos. Um espetáculo!


Obrigado Milene!





















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Artigos - 29 de Dezembro

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O PROFETA GARANTIDOR

Tudo o que o pregador que se considerava profeta dizia terminava com: “ Eu lhes garanto, em nome de Jesus! Eu lhes prometo, em nome de Jesus! Eu confio, em nome de Jesus! Eu estou dizendo, em nome de Jesus!” Parecia revestido de uma aura de incontestável certeza. Seu modo de falar era de absoluta convicção de que Jesus lhe falava e ele podia prever as coisas.

Chegou, certa vez a dizer que a diferença entre a dona de casa que não tem Jesus e a da sua Igreja é que a outra, ao preparar a comida e ver que faltava óleo, farinha e arroz, chorava, telefonava ao marido e se desesperava, não sabendo o que fazer. A da sua igreja pegava a ultima gota de óleo, o restinho da farinha e de arroz, chamava Jesus e ele multiplicava aquele pouco. O milagre acontecia nas casas de alguém da sua igreja, porque, sendo fiel, Jesus não os deixava passar necessidade.

Um dia um rapaz humilde de 22 anos, ousou perguntar ao profeta de onde ele tirava aquela certeza e o profeta disse:
- Deste livro, que me dá a autoridade que eu tenho, porque eu sigo! - Ao que disse o jovem:
- Meu pai também segue o mesmo livro e não fala como o senhor. Minha mãe o segue a 60 anos e não fala como o senhor. Eu o sigo desde criança e Deus nunca me apareceu para me dar uma certeza. Esse livro me dá fé e só isso: não dá garantia e nem certeza. Por isso, acho estranho que o senhor prometa milagres, graças, emprego e sucesso em nome deste livro.

E o pregador reagiu:
- Quem é você para me contestar? Você nem começou a viver e eu estou vivendo este livro há mais de 50 anos.
E replicou o jovem:
-Era só o que eu queria ouvir. Não irei mais às suas pregações. Vou procurar um profeta humilde que não garante nada, mas que aponta para aquele que me ensina a viver da fé. O justo vive da fé e o senhor vive da certeza e da garantia. Então só posso concluir que o senhor não é justo! Nunca mais voltou.


MUITOS LIVROS E POUCOS LEITORES

Especialista ou não, o estudioso de comunicação católica que perpassasse o seu olhar pelos últimos 30 anos de comunicação, nos púlpitos, na mídia impressa, no rádio e na televisão, nos shows e espetáculos e nas liturgias acabaria entre o positivo e o negativo, e, mais cedo ou mais tarde, teria que usar as palavras: confusa, errática, atabalhoada, perplexa.

Foi e continua louvável o gigantesco esforço dos católicos em atingir o seu rebanho com uma mensagem catequética compreendida por todos e em fazer uso dos meios para chegar aos fiéis. Investiu-se muito em comunicação e foi feito de tudo, na maneira mais sincera possível para impedir o fluxo de católicos para outras igrejas ou para trazê-los de volta ou para firmar os católicos nas suas comunidades no seu catolicismo. Em algumas dioceses o resultado foi claro e palpável, noutras faltou alguma coisa, isto, no dizer dos próprios bispos e sacerdotes.

O ponto crucial foi a formação do catequista, a formação dos comunicadores, a começar pelos padres. Não havendo normas coletivas, a grande maioria dos pregadores, sacerdotes e leigos, agiu do jeito que sabia de maneira atabalhoada, de maneira amadorística, e, quando houve cursos, nem todos os comunicadores os freqüentaram. O resultado foi um crasso individualismo de um grande número de comunicadores que, embora bem intencionados e querendo comunicar a catequese católica, acabaram fazendo-a do seu jeito personalista, ressaltando excessivamente o próprio nome e o próprio rosto, ou o grupo o fez de maneira fechada e não poucas vezes sectária: Não abriu espaço para outras correntes de espiritualidade.

Faltou um projeto de comunicação nacional da Igreja do Brasil. Se houve, eu não vi. Faltou um projeto que poderíamos chamar de global, abrangente, ao qual todo e qualquer comunicador estivesse atrelado. Com sensíveis melhorias nas revistas e jornais católicos, bastante melhoria nas emissoras de rádio e televisão, faltou para um grande número dos que a operam um preparo maior, faltaram os cursos especializados. Ainda temos muitos comunicadores que não leram nem mesmo o Catecismo da Igreja Católica. Percebe-se pelo seu discurso. É feito de frases feitas e decoradas.

De um grande número de comunicadores não se exigiu uma formação acadêmica, não se exigiu formação jornalística e não se pediu, o que é pior, formação em catequese. Foram lá, com sua piedade, seu desejo de ajudar, mas com conhecimento fraco e pequeno. Isso inclui sacerdotes e leigos. Valeu muito a cara, a coragem, o entusiasmo, a generosidade, o desejo de evangelizar, valeu menos o estudo, o diploma, o preparo, a prova de que sabiam do que estavam falando.

O problema continua, pois, se ligarmos o rádio e a televisão, veremos muitos desses irmãos católicos a dizer coisas que não combinam nem com a Bíblia nem com o catecismo. Mas está lá esbanjando simpatia, carinho, bondade. Demonstrando pequeno conhecimento das doutrinas católicas, parcializaram a catequese por falta de abrangência. A situação é tal, que quando um irmão chama a atenção para essa falta de conteúdo catequético, evidentemente sempre com as raras exceções, há quem se ofenda, por acreditar que no seu caso, ele está oferecendo a catequese católica, quando, na verdade, está oferecendo de maneira muito parcial, a catequese com a qual ele concorda: doutrina seletiva.

Não há repercussão de documentos básicos, não se toca mais no Vaticano II, nem Puebla, nem mesmo Aparecida. Não se tocam nas encíclicas dos últimos 50 anos, não se repercute o que a Igreja ensina. Fica-se muito no que o movimento ensina, ou no que o indivíduo acha que deve ensinar. Fica-se no fervor, no entusiasmo espiritual e nos conselhos cheios de emoção, mas abandonou-se a catequese e a teologia primeira.

Leciono comunicação há quase 30 anos, gravo os programas de televisão e de rádio, leio, percorro as mais diversas estações e os canais de comunicações das igrejas e percebo que somos vítimas da mesmice. É tudo muito repetitivo e isso demonstra a falta de conhecimento dos comunicadores. Se lessem mais e estudassem mais, teriam muito mais a dizer, mas estão fechados na sua pequena comunicação e nos seus grupos de espiritualidade e não se abrem. Sabem que existem documentos e encíclicas, mas às vezes não lembram nem o seu nome e demonstram claramente que não os leram.

Se falam de nomes e de livros de catequese, não levam a conversa adiante, porque tem dificuldade de dizer qual o conteúdo daquelas mensagens. Simplesmente não leram, mas estão lá oferecendo uma catequese, que destoa da catequese oferecida nos últimos 50 anos aos católicos. Parecem o garçom que, diante de uma terrina da mais suculenta sopa, cheia de grandes nacos de verdura e de carne, mergulha sua concha e põe apenas caldinho no prato do ouvinte. Eles mesmos não fazem uso e não oferecem o conteúdo sólido desses documentos.

Tenho falado à exaustão sobre isso, a tempo e a contratempo como pede São Paulo, mas parece que não chega à maioria dos comunicadores. Ou não acreditam ou se irritam, e se magoam profundamente. Verdade é verdade e fato é fato e não há como negá-lo: continuam não lendo e por isso não oferecem o pensamento dos Papas, dos últimos 50 anos e os documentos da Igreja na América Latina. Simplesmente não estudaram e não leram, não são catequistas de verdade porque não repercutem o pensar de toda a Igreja.

Enquanto advogados, médicos, sociólogos, psicólogos se atualizam, eles parecem não querer fazê-lo. A diferença é gritante. Coloque um desses comunicadores ao lado de outros especialistas médicos, engenheiros, advogados e até políticos e veja quem deles tem mais dificuldade de demonstrar conhecimento. É que os outros, bem ou mal, tiveram uma formação acadêmica. Eu disse e torno a dizer que ninguém precisa ser doutor; eu mesmo não o sou; mas tem que ser leitor. Não é o papel de uma Faculdade que vai nos garantir que somos competentes, mas as milhares de folhas de livros que nós manuseamos, estas, sim, determinarão o nosso falar, o nosso pensar e até o nosso agir. Somos hoje uma igreja de muitos livros, mas de poucos leitores. Pior ainda: muitos que falam a milhões de ouvidos não lêem mais de dois livros por ano...

Vivemos muito o que o nosso pregador preferido dizia e vivemos a repeti-los, quando, na verdade deveríamos viver do que pesquisamos, anotamos, lemos e aprofundamos. Não é uma comunicação católica profunda e nem chega a ser popular, porque não consegue dar ao povo o básico da Igreja. Em termos de catolicismo popular é o conteúdo que deveria chegar ao povo e não o pregador agradável. Também isso, mas somente quando seguido de citações da Igreja. Temos nos tornado uma Igreja de muitas excitações e poucas citações. O entusiasmo derrotou o conteúdo.

O amadorismo de inúmeros pregadores, que nunca se importaram em ler e se aprofundar fez escola. Felizmente está havendo mudança, porque alguns jovens sacerdotes já se formam na convicção de que precisam ler mais e que não podem nunca parar de ler e de estudar. Mas esses jovens sacerdotes, na sua maioria, não estão na mídia. Estão outros que, pelo que pregam, não se dão bem com livros. Desculpe a dureza da afirmação, mas a maioria dos sacerdotes sabe que digo uma verdade.

A igreja no Brasil produz um considerável número de livros, de antropologia, de sociologia e de pastoral, mas pouquíssimos lêem. A maioria dos que estão no rádio e na televisão, falando para milhões não os lê. E então, esses teólogos, antropólogos, sociólogos da fé e pensadores profundos não chegam ao povo, porque são de certa forma consciente ou inconscientemente boicotados pelos pregadores que não passam adiante esse conhecimento. E não passam porque não leram.

Eu disse isso muitas vezes na nossa Faculdade Dehoniana, disse-o em outros cursos que dei e direi, sempre que for necessário, em qualquer lugar onde for chamado a falar. O grande problema dos comunicadores católicos de hoje é o livro. Falta leitura e, faltando leitura, falta conhecimento. Faltando conhecimento, falta reflexão, faltando reflexão,falta catequese abrangente.

Vejo pensadores profundos na nossa Igreja, mas muitos deles não chegam nem sequer à mídia, não são divulgados. Penso nos sacerdotes cultos do passado, por exemplo, Antonio Vieira com seus sermões. Vejo que não são nem sequer levados em conta. Vejo uma Igreja que teve e tem grandes pensadores, mas eles não chegaram à mídia. No máximo, ficam em algumas estantes de livrarias de faculdades. A mídia católica em geral escolheu não repercuti-los, nem a eles, nem as encíclicas e documentos da igreja.

Quem vai convencer esses simpáticos e simpáticas comunicadores e comunicadoras de que não basta a sua simpatia e que precisam oferecer muito mais conteúdo do que estão oferecendo no rádio e na televisão. Quem vai provar a eles que estão dando 2 a 5% do que poderiam realmente dar, se tivessem na sua estante esses livros e os lessem? Que bispo vai ver o que está nas estantes desses pregadores? Quem vai correr o risco de ser mal visto e malquisto por eles, ao dizer verdades que eles precisam ouvir, já que todos os dias falam para milhões de católicos?

Quem não estiver afim de tapas nas costas, aplausos e popularidade arrisque-se, mas quem não quiser se incomodar com a controvérsia, aliás, proposta de maneira saudável pelo número 229 do Documento de Aparecida, omita-se. Quem quiser arrisque-se. Quem não quiser guarde silêncio, e diga só as coisas boas, aquelas que todo mundo gosta de ouvir e que não ferem ninguém.

Mas simpatia nem sempre rima com teologia e sabedoria nem mesmo com espiritualidade. Ninguém tem que ser um brutamonte para anunciar o evangelho, mas há momentos em que a simpatia é inconveniente ou insuficiente. Jesus às vezes dizia coisas duras. Também os apóstolos. E se há momentos em que a simpatia é extremamente necessária, há outros em que o que precisa ser dito deve ser dito. O pregador não pode ser simpático o tempo todo. Vez por outra terá que dizer o que deve ser dito, porque está nas encíclicas, está nos documentos da igreja.

Se ele escolhe só os textos que não o comprometam, para ganhar audiência, vai ganhar audiência, mas não fará catequese. É como se, ao divulgar uma mensagem do Papa, alguém divulgasse apenas as frases mais leves e suaves. Mais cedo ou mais tarde esses fiéis sentirão a falta de conteúdo daquela pregação e perceberão a mesmice de frases feitas, das expressões de comando e das orações eternamente repetitivas.

Haverá mudanças? No fruto bem próximo, não! Há uma geração cheia de boa vontade que lê pouco. Se começar a fazê-lo agora, veremos o resultado em dois ou três anos. Faltam livros e leitores na mídia dos católicos. Não é que esteja melhor entre os pentecostais e evangélicos. Mas cada Igreja supra as suas próprias deficiências. Estamos dando caldo de galinha a um povo que tem condições de assimilar alimento bem mais sólido.


EX ESBOÇO

Já faz tempo que você deixou de ser um esboço. Os traços que Deus foi acrescentando à sua vida e o que você foi agregando, tiraram você da categoria de esboço. Você é como o prédio que saiu da planta e já pode ser habitado.

O projeto, cada dia mais delineado, já é realidade. O que está ainda em construção é processo de acabamento. Segue, não o esboço que você era, mas o projeto melhorado que você se tornou. Todos os dias Deus acrescenta mais um detalhe à obra que é você.

Por isso mesmo você já é realidade. No dia em que morrer, provavelmente não haverá mais acréscimos, mas, enquanto você estiver vivo, haverá sempre algum retoque ou detalhe a ser melhorado. Até o último dia da sua vida você estará em construção. Preste atenção nos engenheiros e veja como os primeiros traços são leves, quase imperceptíveis. Depois ele liga coisa com coisa, linha com linha, faz compartimentos, repartições, detalhes e, aos poucos, lá está o edifício todo detalhado, medido, metro por metro, centímetro por centímetro.

Mas tudo começou com o esboço, que foi sendo melhorado. Depois do edifício pronto o engenheiro mostra o esboço, a planta melhorada e os detalhes. Os arquitetos e auxiliares acrescentam ainda mais. Assim é a nossa vida. Alguém sempre acrescenta alguma coisa ao projeto que somos, e, se deixarmos que irmãos que entendem de formação humana nos toquem e nos melhorem, chegaremos a uma idade cercados de respeito, porque as pessoas nos verão como alguém que pensa, que aceita se corrigir, que compreende o outro e que se deixa melhorar.

Se acha que pode fazer isso consigo mesmo, revista-se de humildade e deixe-se melhorar. Acontecerão coisas incríveis na sua vida, mas, se você achar que nada pode ser melhorado, não há retoque possível. Preste atenção nos alcoólatras inveterados. Não admitem que são. Bebem, andam, falam como alcoólatras, mas negam peremptoriamente que beberam. Mesmo caindo de embriagues negam-se a receber qualquer ajuda. Tentam parar os ônibus nas ruas, gritam berram, atrapalham qualquer reunião, urinam nas calças, vomitam na rua e até na mesa, mas não aceitam ser corrigidos, porque aqueles copos diários são sua razão de viver. Dá-se o mesmo com os viciados em cocaína ou crack. Não querem ajuda. Só sairão do buraco se agarrarem a corda. Mas isso significará admitir que estão errados. É assunto que não querem ouvir.

Narciso não sabia o quanto era bonito e o quanto, ao mesmo tempo, era feio. Terminou seus dias, afogado na própria imagem. Admita que você é um ser corrigível e melhorável e provavelmente será mais aceito. Mais do que isso: aceitará os outros.


ENTRE ÁGABO E SIMÃO

Para quem não se lembra, Ágabo foi um profeta leigo que, por palavras e atos, provou que o Senhor estava nele. Os apóstolos o respeitavam. (At 11,28-30) (At 21,8-13) Naqueles dias também havia virgens profetizas. Mas provaram por atos e atitudes que o Senhor estava nelas. E houve os falsos e estrepitosos, ávidos de publicidade, que faziam apenas golpe de cena. Fingiam ser profetas que não eram. Simão o Mago (At 8,9-24) e os filhos de Ceva são exemplo disso. (At 19,13-17) Já no tempo de Jeremias , 650 anos antes de Cristo havia os sérios e os teatrais e interesseiros a quem convinha posar de profetas. (Jr 14,14)

A televisão, hoje, está pródiga de profetas, alguns como Ágabo e outros como os sete filhos de Ceva; bons e falsos, serenos e espetaculares. Não são poucos os que freqüentam teologia para conseguir diploma e depois agir como se nunca tivessem estudado naquelas faculdades. Elas serviram de trampolim para estes falsos profetas. Precisavam de licença para pregar e não a conseguiriam sem uma faculdade, posto que numa igreja séria, não seriam ordenados nem padres nem pastores. Então foram, ouviram, passaram nos exames, mas não pregam nada daquilo que lhes foi ensinado. Alguns dormiam durante as aulas mais exigentes. É testemunho de seus próprios colegas. Já tinham sua própria doutrina. Só lhes faltava um diploma.

Não foram éticos. Dez anos depois, diante dos exorcismos, profecias, anúncios de anjos e demônios em ação e outras pregações que fogem da doutrina de sua igreja, alguém pergunta onde estudaram e eles dão o endereço da Faculdade de Teologia que lhes deu o título, mas cujo ensinamento eles não praticam. Pega mal para aquela instituição que certamente não ensinou o que eles pregam.

Recentemente deparei-me com um pregador que fazia sessões de quebra de maldição, libertação da antiga culpa dos antepassados e purificação da árvore genealógica, coisa que no seu curso de Teologia foi vivamente criticado como gesto não cristão, posto que o Cristo já as quebrou e Paulo o atesta em mais de cinco passagens de seus escritos. Os estudos bíblicos daquela faculdade de nada valeram. Já tinham a intenção de seguir outro pregador, mas este não podia lhes dar o título. Foram lá enganar a faculdade. Simão o Mago quis fazer o mesmo, mas os apóstolos reagiram. Nem todas as igrejas e escolas fazem o que os apóstolos fizeram. Não aceitaram ser usados por profetas com doutrinas estranhas à sua escola de fé.

Pseudo-Ágabos com freqüência profetizam, a cada fim de ano. Lembram os videntes de fim de ano. Fazem parte do mesmo fenômeno. Garantem, na televisão, debaixo de intensos holofotes, com rostos de santos iluminados, que o tempo da dor e do sofrimento acabou. Proclamam com voz solene, um tempo de vitória para o seu povo. Humildemente pedem mais contribuição para que a vitória seja completa e garantem que, no ano seguinte, seus ouvintes só colherão graças e vitórias.

Não há profecia nisso! Todo mundo sabe que no espaço de 365 dias colhem-se graças e vitórias. Por conta do novo Ágabo fica a promessa de que “só” colherão isso. Se acontecer uma perda, um acidente, o desemprego ou alguma eventual derrota, o novo profeta espalhafatoso, iluminado pelos holofotes da televisão, dirá que foi vontade do céu, e não tocará no fato de que no dia 25 de novembro ele predissera o fim dos sofrimentos. É o velho truque do marketing que prediz graças e milagres em nome do céu, com a possibilidade de sempre explicar por que não aconteceu do jeito que foi predito.

Entre Ágabo e Simão, os fiéis de todas as igrejas são convidados e discernir quem de fato é profeta sincero e quem faz papel de profeta que não é. O tempo, mais breve do que eles esperam, mostra quem disse a verdade e quem se enganou ou mentiu para ganhar audiência e adeptos. É um problema que todas as igrejas precisam resolver. O quanto antes! Se não reagirem, eles continuarão predizendo um futuro brilhante sem dor alguma, como os profetas que Jeremias enfrentou (Jr 14, 10-15).


Padre Zezinho, scj


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sábado, 26 de dezembro de 2009

Artigos - 26 de Dezembro

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O DEUS QUE NOS VEM AO ENCONTRO

A Bíblia diz que Deus faz isso. Ele vem! Marana tha! Veio em socorro de Israel porque ouviu os seus clamores (Ex 3,7). Defendeu os indefesos Go’el (Ex 22,22; Sl 103,6). Mandou seu filho, quando não o pedíamos (Jo 5,24; Jo 6,39). O filho, quando veio, foi ao povo e teve pena dele (Mt 14,14)
Camelos e elefantes se abaixam para levantar seus passageiros. Alguns ônibus se rebaixam para que crianças e pessoas feridas entrem neles. Deus faz melhor, porque desce do infinito e nos eleva bem mais alto.
Curvar-se é um verbo eminentemente gentil. É como dizer : Se você não consegue subir onde estou, eu desço e busco você! Feliz o crente que entendeu esta verdade. Jesus fez isso! É dessa forma que um católico deveria ver a vida e obra de Jesus de Nazaré. É isso que nos faz vê-lo como o Messias. Assumiu nossas dores. Humilhou-se a esse ponto. É belíssima a passagem de Paulo aos Filipenses 2,3-8) Gosto de assim interpretá-la nos meus encontros com o povo.
Não façam nada por ambição, nem por vaidade; mas, com humildade considerem-se menos do que os outros. Ninguém busque apenas o próprio interesse. Todos e cada QUAL procure fazer o que é bom para os outros.
Tenham dentro de si o mesmo sentir de Jesus, que, sendo de condição divina não estaria usurpando nada ao se considerar igual a Deus com quem era um.
No entanto o que fez? Esvaziou-se, assumiu a condição de servo, assumiu a aparência de um ser humano que de fato ele foi porque, manifestou-se e identificou-se como homem. Rebaixou-se a este ponto e foi obediente até á morte, aceitando uma das formas mais humilhantes de morrer: morte de cruz.
Por isso Deus o elevou acima de tudo e deu a ele um nome que está cima de todo o nome.
Que ao nome de Jesus se dobrem todos os joelhos, dos seres do céu, da terra e dos debaixo da terra. Humilhem-se todos como ele se humilhou e toda a língua proclame : - Sim Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai.




JESUS JÁ FOI MENINO

Jesus já foi menino
Agora não é mais.
Cresceu, viveu, morreu
Amou e padeceu
Mas nos legou a paz.

Quando eu era criança
Orava ao Deus menino
Pensava que ele era
Um Deus bem pequenino.

Depois que fui crescendo
Eu fui compreendendo
O caminhar da história
e a graça da memória
na vida do cristão.

Não mais orei ao Cristo
Falando em Deus menino
Não há Jesus menino
É que Jesus cresceu,
E adulto está no céu
Aonde agora vive
E, gloriosamente,
Um dia voltará.

E, enquanto o esperamos,
Lembramos seu Natal
E oramos neste dia
Junto á Virgem Maria
que salva está no céu

E então assim oramos:
-Ó Cristo que és divino,
Que já foste um menino
E agora não és mais,

Ajuda nosso povo
A respeitar aqueles
Que foram concebidos
E não os abortar

E aos nossos pequeninos
Dar colo e proteção,
Pra que sejam felizes
Aqui nesta nação.

Jesus já foi menino.
Agora não é mais!
Mas nós o festejamos
Lembrando a sua vinda
Passados 2000 anos
E já 2000 Natais!

Jesus faz diferença
Onde esta fé alcance!
E onde ele é amado
A paz tem uma chance!




UMA PRECE POR MARIA

O Senhor nos deu um filho
Desde sempre filho seu
Mas deu ao mundo o seu brilho
E do céu ele desceu

Veio assumir nossas dores
Fez-se humana criatura
Quis viver entre os humanos
Quis nascer de virgem pura

Foi assim que, um certo dia,
Ele, que era o filho eterno,
Encarnou-se e fez morada
Dentro de um ventre materno.

Maria ficou pensando:
-Por que eu? Sou tão pequena!
E o anjo foi avisando
-Deus acha que vale a pena!

A vida inteira, Maria
Pensou naquele mistério;
A vida inteira do Cristo
A mãe o levou a sério.

Por isso é que a gente a louva
E, a cada novo rosário,
Com ela contempla o Cristo
Desde Belém ao calvário
Desde o anúncio à ascensão
E agora, lá no sacrário

Em tudo isso, Maria
Estava lá toda pura
Na maior contemplação,
Coisa de quem é cristão,
Pois de Jesus ela entende
Muito mais que todos nós.


Creio no Pai e no filho
E no Espírito Santo
Um só Deus em três pessoas
É este o Deus que eu adoro

E, quando posso, acrescento
Uma prece por Maria
Que não é nem poderia
Ser Deus, como Deus é Deus

Mas merece meus respeitos
Porque de todos os ventres
O dela o Pai escolheu
E dentre todos os seios
O dela é que amamentou
Aquele que, anos mais tarde,
Por mim se sacrificou!



DEUS ESTÁ ME CRIANDO

DEUS não me criou: está me criando
não me formou:, está me formando
não me chamou: está me chamando
não me amou: está me amando
não me disse: está me dizendo
não me salvou: está me salvando

EU

Não cheguei lá: estou indo
Não sou santo : estou me santificando
Não me converti : estou me convertendo
Não me encontrei : estou me encontrando
Não sei o suficiente: estou aprendendo

DEUS

Não me responde tudo: me ensina a pensar
Não me dá sempre a mão: quer que eu caminhe
Não me empurra: me convida a ir
Não me fala aos ouvidos: dá sinais
Não pára o rio: me ensina como atravessá-lo
Não tira os obstáculos: me ensina a superá-los

Eu

Não sou um zero á esquerda: sou pessoa
Não sou um lixo: Deus não fabrica lixo
Não digo que não sou nada: eu sou alguém
Não me sobreponho: ponho-me no meu lugar
Não me deixo pisar: não sou capacho
Não piso nos outros: caminho junto

É Deus em primeiro e. depois, os outros e eu, lado a lado
Nessa ordem, porque já havia o outro, antes do nascer do meu “eu.”
Se tiver que perder de vez em quando, entederei.
Não pretendo me proclamar vencedor em tudo e sobre todos.
Saberei perder sem me sentir um perdedor.
Jesus também perdeu, mas venceu a longo prazo.

Do meu ângulo, o mundo tem 6,8 bilhões de “outros” e só um “eu”
Não posso querer que tudo passe pelo meu pequeno e inacabado “eu”.
Por isso, tomarei cuidado para não fazer marketing exagerado do meu “eu”
porque certamente não sou e não serei pessoa nota dez.
Além DISSO, o Procom do céu nâo costuma carimbar produtos falsos.

Sou uma obra inacaba.
O jeito é deixar que Deus termine o que já começou em mim



POEMA DA TRINDADE

Jesus falou que existe um céu eterno
Falou que Deus existe e é paterno
E disse muito mais:
Falou que Deus nos ama ternamente
E que nos quer pra sempre eternamente
Vivendo a sua paz.

Ele não é o Pai, mas vem do Pai
O Pai é uma pessoa e ele é outra,
Mas deixa claro que ambos são um só.
Se são um só, como é possível isto?
O Pai o enviou a este mundo
Para nos dar o dom desta verdade
Por isso é o chamamos Jesus Cristo
Ungido pelo Pai na caridade
E o que ele diz a gente aceita e pensa.

Se ele falou que é então será.
E se mostrou que ama e tem poder
Que o Pai lhe deu todo o poder que existe,
Então, amigos meus, assim será!

Quando partiu, soprou sobre os amigos
Dizendo –Eu volto para o Pai, de quem eu vim
Vou preparar a ida de vocês.
E isso ele falou mais de uma vez.
E deu a eles neste sopro santo
O amor do Pai e o dele, que nos amam tanto
E este amor, eu sei, é o Espírito Santo.

Jesus falou que ele e o Pai são um
E ele não é o Pai, e o Pai não é o Filho
E os dois nos dão, porém os dois não são
o Espírito que nos enviam.
Ele é outra pessoa do mistério
De um Deus que é um só, e um não é o outro.

Mas há um Pai que nos envia o Filho
E há um Filho que nos traz o Pai
E um sopro santo a proceder de ambos
Que nos conduz, por causa de Jesus,
Ao Pai eterno e à sua santa luz.

Se Cristo fala ao Pai como outra pessoa
E manda o seu Espírito que não é ele mesmo
E diz que são um só, um só é o que eles são:
Trindade Santa , mas um só Senhor!

Eu sou monoteísta e trinitário
Creio que há um só Deus em três PESSOAS
Não sei dizer nem explicar bem isto
Porém quem me falou foi Jesus Cristo.
Que está no Pai de quem um dia veio

E vai voltar, e isto eu não sei quando
Mas antes disso eu sigo acreditando
E esperando ver um dia esta verdade
Do Deus que é um, mas que é um Deus Trindade.


Padre Zezinho, scj


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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Então é Natal...

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A canção que, com a tradicional “Noite Feliz” toca cada dia menos e, às vezes, aparece depois das marchas que já antecipam o carnaval, fez-me pensar no “então” de cada vida e de cada família. Então o é isso que o Natal de Jesus se tornou? Com exceção dos lugares turísticos, sem presépios, sem árvores iluminadas, sem canções natalinas no rádio, sem novenas, sem preparação e sem a gratidão de outros tempos?





Não é que o Natal tenha desaparecido. Ele apenas encolheu. Católicos que ainda ontem enfeitavam suas janelas e portas com os símbolos do Natal abandonaram a prática. Testemunhar o quê? Há mais Papais-Noéis e Mamães-Noelas do que meninos-Jesus nas lojas e em lugares públicos. Há sinos anunciando o bom velhinho e poucos anunciando o santo menino. O não aniversariante é mais festejado do que o aniversariante. O não existente recebe mais festa do que o existente, aquele que veio e chamou-se Jesus. O mitológico velhinho Natal que, na realidade não nasceu velho e nem sequer nasceu, desbancou o não mitológico menino Deus. Há quem diga que os dois são mitos. Nós dizemos que não. Real é Jesus.




Quem era, segundo a tradição, o caridoso bispo Nicolau, celebrado ainda hoje nos Estados Unidos e dezenas de outros paises com o nome de Saint Nicklas ou Santa Klaus tornou-se na França e em outros povos Papai Natal, Papa Noël, com direito a neve, renas e trenó. Simbolicamente ele também aparece no céu, mas vindo de algum lugar Pólo Norte. Isto é: vem do céu, mas não é daqui mesmo. Mas, como ele vende mais, então a festa é para ele. Sem orar se sobrevive, mas sem vender não! Como o menino vende menos, seja ele celebrado nas igrejas, ou colocado debaixo de uma arvore com chumaços de algodão e luzes.





Exceto em poucos lugares haverá uma estrela, um casal e um menino. Nos outros, estará um velhinho vestido de vermelho que ninguém mais sabe que já foi um bispo católico transformado em vovô-papai-natal. Então é isso? É! A menos que sua família decida recolocar as coisas nos seus devidos lugares e fazer o Papai Noel deixar de lado sua enorme sacola para ajoelhar-se diante do menino no presépio, suas crianças não entenderão os dois. Não destruam o fictício Papai Noel. Apenas, façam-no voltar a ser bispo, a ajoelhar-se diante do menino e, por causa do menino, sair jogando presentes pela chaminé. E digam por quê! Quem sabe, um dia, lojistas cristãos porão de volta a imagem da família de Nazaré nas suas vitrines e todas as prefeituras as plantarão nas ruas. Disseram-me que há uma cidade no Brasil que todos os anos expõem, numa galeria no centro, as fotos de todos os bebês nascidos naquele ano ao redor de uma imagem do menino Jesus... Eu gostaria de conhecer o secretário da cultura que teve esta idéia!





Nossa Senhora do Natal

Nossa Senhora do primeiro dos natais
Estou pensando cada dia mais e mais
Naquela graça singular que Deus te deu
Naquele dia em que o Senhor te escolheu.
Sou pecador e nunca vou saber
Do jeito que soubeste, ver e crer
Sou limitado para interpretar
A tua vocação tão singular.
Ser mãe do Cristo: não pensavas nisso!
Eras humilde por demais , Maria.
Querias o Messias, isso tu querias
Mas que seria teu não o sabias.
E quando aconteceu, meu Deus, que susto!
O anjo te falou: não tenhas medo.
O teu segredo é grande, mas verás,
quanto o Criador em ti confia.
Não tenhas medo um dia entenderás.
Fizeste uma pergunta inteligente
Que o anjo respondeu tranqüilamente
"A Deus tudo é possível,
ó Maria e se não fosse assim eu bem viria!"
Ficaste silenciosa e meditando
Tentando compreender aquela hora
Nove meses de espera silenciosa
Ninguém entenderia se falasses.
Mas Deus falou, José acreditou
E foram nove meses infinitos.
O teu menino veio tão bonito!
Na pobreza, por certo eras tão pobre!
Mas o teu coração, este era nobre!
E foi assim.
Que noite celestial
A noite de Maria do Natal!
Mãe silenciosa, olhando aquele filho.
Tentando compreender aquele brilho
E, no entanto, que fragilidade!
Tiveste muita fé, Maria santa.
Tiveste fé e é isso o que me encanta.
Tens o maior milagre no teu colo
E guardas um silêncio criativo
Naquele coração contemplativo.
Olhavas, contemplavas e oravas Bendita mãe,
Maria do Natal Ensina-me a pensar como pensavas!

Padre Zezinho, scj


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Artigos - 21 de Dezembro

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TUDO OU NADA

Dito com sinceridade e sem malícia parece profundo, mas em termos de religião, é bom não confundir mediano, equilibrado e limitado com medíocre, incompetente ou pusilânime. São palavras que precisam ser explicadas uma por uma. Ninguém pode ser chamado de pusilânime ou medíocre apenas porque não deu tudo para Deus. Não se exija do balde que tenha a mesma quantidade de água que um barril. O máximo do balde é tão máximo quanto o máximo do barril, mesmo que sua quantidade seja menor.

Já tive que enviar jovens ao psicólogo por causa desse tudo ou nada, desse oito ou oitenta e desse máximo que alguém exigiu deles, mas que eles não puderam dar. Evidentemente este alguém propôs que lançassem a flecha mais longe do que seus arcos conseguiriam. Foi erro de instrutor e não de arqueiro novato. Conversei com um deles que demonstrava exagerado senso de culpa por não dar a Deus o que dele o Senhor supostamente esperava. Fiz ver que o instrutor que exigisse que o aprendiz de motorista desse 180 km/h porque o carro suportaria seria um desequilibrado. Não se exige isso de quem não aprendeu o suficiente. E ainda assim, é loucura dar 180 km/h numa estrada que não suporta semelhante velocidade. Se desse 80kmh estaria dentro da legalidade e da prudência, ainda que andasse em velocidade menor do que a permitida. Não vale a potencia do carro. Vale a prudência do condutor. E a prudência muitas vezes recomenda velocidade moderada.

Ninguém é mau motorista porque não usou toda a potência da sua máquina. Mau é quem prioriza o acelerador e esquece o freio e a estrada. Parece, mas não é vida cristã nem santidade exigir de alguém mais do que este alguém pode dar. Não é santo condenar alguém porque não deu o máximo. Há que se ver o quando, o como e o porquê.

Jesus não disse que devemos ser tão perfeitos como o Pai. Estaria propondo o impossível. Na verdade estava era propondo plenitude humana. A sentença “posso ir só até aqui” nem sempre é sinal de fraqueza; pode ser prudência! Não é traição a Deus nem é pusilânime reconhecer o nosso limite.

Foi esse o caso da menina que subia a montanha e parou para descansar, mesmo tendo forças de reserva para subir. Foi chamada de fraca e acomodada porque não deu tudo. Mas chegou antes das outras que, forçadas pelo instrutor, deram tudo e, mais adiante, precisaram descansar três horas. A parada dela enquanto tinha forças foi bem mais proveitosa. Uma estratégica parada no pit-stop pode valer uma corrida!

Ensinar, aos jovens que Deus quer tudo deles é esquecer a psicopedagogia das idades. Nos evangelhos há, sim, esta radicalidade, mas nunca ao ponto do desequilíbrio. Sugiro cuidado com esta proposta de tudo ou nada. Já jogou e vai jogar muitos num divã de psicanalista. Que ninguém se sinta medíocre porque atirou a flecha e não acertou o alvo, ou porque chutou e não fez o gol. Não conseguir não é a mesma coisa que não querer... Igreja compassiva ensina que entre o oito e o oitenta, os outros números também contam...



PIEDADE SINCERA, CATECISMO ERRADO

Pe Zezinho scj

Existe entre nós, católicos, a catequese e a anti-catequese. A primeira é vivência e transmissão correta de algumas verdades da fé, já que não temos como ensinar todas elas, tantas são as informações contidas no depósito da fé católica. A segunda é a vivência e a transmissão de alguma doutrina contrária ao que a Igreja ensina, mas mesmo assim carimbá-las como o falso nome de catolicismo. Não são poucos os pregadores anti-catequistas, sobretudo nesses dias de mídia intensa com pregadores que não estudaram e não estudam nem a pau o seu catecismo e os livros de teologia.


Exemplifico sem citar nomes. O sacerdote acabara de sugerir aos seus muitos ouvintes, naquele Natal, que com o mouse acessassem o site e, nele, apagassem uma das velinhas virtuais. O gesto equivaleria ao de acender ou apagar uma vela de cera num santuário e ajudaria uma entidade pobre. Boa proposta, bom simbolismo.


O erro veio na doutrina que seguiu. Garantiu que, a cada vela apagada, o fiel se libertaria de uma maldição. Ora, ele sabe e, se não sabe deveria saber, porque sua faculdade certamente ensinou que isso é amuletização e superstição. Vai contra a doutrina católica. Mas fez. Como ele, muitos outros do seu grupo fazem.


Irmãos que ensinam a anti-catequese a pretexto de evangelizar oram para que Deus “possa” curar alguém; como se Deus não pudesse! Anunciam quebra de maldições em família quando está claro, nos textos da Igreja e do Novo Testamento, que Jesus já morreu para que ninguém mais fosse maldito. Ele já nos resgatou de antemão. Uma coisa é aceitação de bênção e outra é a quebra de maldição. Uma é necessária, a outra cerimônia é inútil porque toda maldição já foi quebrada. Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; (Gálatas 3, 13) O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. (Mateus 20,28) Ninguém tem que pagar pelos pecados dos seus antepassados. Uma coisa é orar por eles, outra é crer que sobrou maldição para a família pagar. O Reino de Deus não funciona como o governo brasileiro com os impostos atrasados. Não depois da cruz e da ressurreição!


E há aquele ele que ensinou que se pode pagar o dízimo para a sua emissora e dar uma “contribuição” para a diocese... Dei e entender que uma emissora de rádio é mais importante que uma diocese. Dízimo para aquela obra e pequena ajuda para a igreja local...


O desfile de informações erradas continua. Vez por outra se ouve um pregador a dizer que, quando você peca você enfia um espinho na cabeça de Jesus e Maria lá no céu; e que eles sofrem com o seu pecado. Não é o que a Igreja ensina.


Está gravada a palestra na qual se afirma que ao comungar Jesus o fiel também comunga Maria porque, em virtude da união hipostática com o filho, ela e ele têm o mesmo DNA... Outro afirmou solenemente que se Maria não fosse virgem, não teria sido escolhida para gerar o Cristo porque foi sua virgindade que lhe mereceu este chamado. Não é desta forma que a Igreja vê os méritos de Maria. O próprio Jesus salienta que, mais do que pelo ventre que o gerou e pelos seios que o amamentaram, a bem aventurança de Maria estava no seu ouvir e praticar a Palavra. Com, ela todos os que o seguissem. (Lc 11,27-28)


E muitos viram o pregador anunciar um demônio que entrara numa mulher presente à missa, sem mostrar nem a mulher nem o demônio. Pior ainda foi quando orou em línguas antes do Pai Nosso para realizar aquele meio exorcismo e invocou São Miguel Arcanjo com sua espada luminosa para expulsar o tal demônio. Se já estavam no Pai Nosso e Jesus estava li no altar, porque tinha acontecido a consagração, por que recorrer a São Miguel Arcanjo? Jesus tem menos poder?


Não faltam canções a dizer que querem amar “somente” a Deus, negando a doutrina essencial do cristianismo, expressa com clareza em Mateus 25,31-46 e em Mt 7,15-23. E houve o caso do pregador que garantiu que, a cada rosário que oramos, uma alma é “resgatada do inferno”. O outro, querendo consertar a gafe, acentuou que o que ele queira dizer é que Maria resgata uma alma do purgatório a cada Ave Maria orada com fervor.


O desfile de gafes continua. Que falem os mestres, os doutores em teologia, o liturgistas para que se corrijam tais excessos. É de se duvidar que sejam ouvidos. Evidentemente, quem ensina dessa forma não estudou direito a doutrina católica. Os documentos da Igreja são claros a esse respeito. Não é que a Igreja não tenha falado. Falar, ela fala. O problema é que grande número muitos dos que gostam de ser ouvidos não ouvem. Se ouvissem não diriam o que andam dizendo!


De estarrecer foi a afirmação de que a dengue e o câncer são doenças trazidas por demônios. Na mesma semana um dos pregadores orou para expulsar do Brasil o demônio da dengue com seus mosquitos e o outro solenemente expulsou o demônio causador do câncer em cinco pessoas da assembléia. As pessoas não foram mostradas. Pena que meses depois não se tocou mais no assunto. Aquele demônio especializado em causar câncer existe? Foi embora ao comando de tão preparado pregador? As pessoas foram realmente curadas? Ou não interessava mais tirá-las do seu anonimato? Podem pregadores agir desta forma? O leitor já sabe a resposta!



IR OU NÃO PARA O CEÚ

Impressiona-me tudo nos evangelhos, mas há três capítulos de João do 13 ao 17 e três passagens de Mateus: 24,24-26, 25,31-46 e 7-15-21 que, para minhas pregações e para minha vida recordo com mais freqüência. João fala das últimas instruções de Jesus aos discípulos, numa ceia de cerca de três horas.

Imagino que, antes de ser preso, torturado e morto, pediu que quando se tornassem o numero um em algum lugar, fossem os que mais servissem; que se mantivessem unidos a Ele e uns aos outros para saberem viver no mundo sem ceder ao mundo.

Propôs que respondessem com amor e não com ódio ao ódio do mundo. Pediu para eles a alegria que Ele, Jesus, sentia... Humildade, unidade na diversidade com os outros pregadores e com o mundo, servir com alegria: eis ai quatro atitudes fundamentais para quem diz que ama a Deus e ao próximo.

Quem consegue isto é santo! Mateus alerta os que se acham santos renovados e santos, que não tenham tanta pressa em se achar candidatos aprovados para o céu. Nos textos acima citados Jesus diz que muitos que se acham candidatos porque pregaram uma religião espetaculosa com milagres, curas, exorcismos a toda a hora e em todo lugar não serão aprovados. E perguntarão por que, se encheram seus templos e lotaram paias e praças de ouvintes, derrubaram demônios e converteram milhões de almas para Ele.

Jesus é claro e convincente ao dizer que outros bem menos religiosos do que eles entrarão no céu; eles não. E Jesus então no capitulo 25,31-48 afirma que falaram bonito nos templos, mas não fizeram bonito!

Hoje ele talvez falasse de templos demais, emissoras demais, prédios maravilhosos, grandes concentrações, cruzadas, milagres e conversões, mas, poucas creches, asilos, hospitais, orfanatos, pouca presença lá onde existe algum rejeitado, pouco dialogo entre si, pouco acolhimento, braços demais na direção do céu e poucos na direção dos desassistidos pelo mundo.

Questionaria os que aplicaram os milhões arrecadados em obras monumentais, mas pouco em obras sociais. Onde coloquei minhas palavras? Onde apliquei o dinheiro que me confiaram? Onde e como semeei a Palavra de Deus? São perguntas que cada qual terá que se fazer responder antes daquele dia do Senhor, justo juiz. Os que acham que já ganharam e os que pensaram não ganharem o céu terão algumas surpresas... Releiamos Mateus 24, 24-26. Que mais ninguém diga que não foi alertado!



ORAÇÃO DE ANTI-DESLUMBRAMENTO

Sei que me ouves, Senhor. Atenderás se quiseres. Mas, como queres o meu bem e eu a tua glória, quero proclamar-te sem cair em deslumbramentos. Não quero esquecer, nem mesmo por um segundo, que não vi, não vejo e não verei tudo a teu respeito. Sei que existes, mas não sei quem és nem como és. És mais do que imagino e mais do que sei ou saberei.


Sou e serei de Ti eterno aprendiz, aluno que pouco sabe. Marcas presença, mas continuas misterioso, indizível, inefável e inenarrável. Há muito mais de Ti do que toda a sabedoria humana poderia apreender. Por mais que eu soubesse, quase nada eu saberia a teu respeito. Eu seria Deus se soubesse como és; eu que mal consigo saber como ages e mim...

Nunca direi, como dizem tantos pregadores, que basta orar com fé que atendes a qualquer prece e a qualquer suplicante, porque és misericordioso. Penso que, exatamente por seres misericordioso, é que não nos darás tudo do jeito que pedimos. Crianças pedem coisas erradas que os pais, por misericórdia, não concedem.


Entendo que poderás nos dar ou darás tudo o que pedirmos, mas não sei quando, nem está dito que é na hora e do jeito que pedirmos... És livre. Não sabes não amar nem odiar, mas atenderás apenas se quiseres. Mesmo atendendo, nem sempre atenderás do nosso jeito. Sabes do que realmente precisamos e nos darás o que nos convém; não o que achamos que nos convém.

Entrego-me ao teu mistério e à tua misericórdia, e peço, isto sim, que me ensines a confiar em Ti, como criança que se joga no colo da mãe, ou como adulto que se percebe profundamente amado.

***

Viverei de vislumbres. Ver-te, eu sei que não verei com os olhos da carne. Eles terão que morrer para que eu possa ver-te como és. Também não vejo a eletricidade, nem as ondas de rádio e, nem por isso deixo de saber que elas me cercam e até me invadem. Dia após dia, vejo suas conseqüências.


Eu mesmo sou conseqüência tua. Morrerei cercado dos teus sinais, mas ver-te, não verei! Teus sinais me falarão de Ti!...


Pe. Zezinho, scj



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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Artigos - 17 de Dezembro

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CANTAR NÃO MUDA MUITA COISA

O mundo é feito de pessoas felizes e infelizes.
As pessoas felizes são pessoas satisfeitas;
satisfeitas com o amor que encontraram, com os amigos que fizeram,
com as coisas que têm e com a situação em que vivem,
mesmo que a família que têm esteja cheia de defeitos,
mesmo quando o amor que encontraram não foi o amor perfeito.
Estão felizes e são felizes porque amam e são amadas.

O mundo também está cheio de pessoas infelizes.
Não estão satisfeitas, com a família que têm;
marido explosivo e insensível, esposa encrenqueira; filhos complicados.

Vivem presos ao o amor que nunca encontraram,
ou que encontraram e não satisfez e não satisfaz até agora.
Mal amados, mal casados, mal realizados; eles e elas sofrem.
O que possuem não é o suficiente para fazê-los felizes.
Os amigos não são suficientes.
Alguma coisa está errada no que são, no que desejam,
no que possuem, no que sonham possuir.

Mas a verdade é uma só: não se sentem suficientemente amados
e não conseguem amar o suficiente.

É para essas pessoas que falamos e cantamos;
para os felizes, afim de que passem adiante sua felicidade;
para os infelizes, afim de que não procurem lá fora nos outros,
uma resposta que só pode vir de dentro deles.

Cantar não muda muita coisa, mas já fez muita gente feliz.
Se, ao cantarmos lá naquele palco, uma só pessoa sair de lá
com um sorriso de paz inquieta no coração e no rosto,
terá valido o esforço.

Somos cantores da fé!
Que Deus nos ajude a dizer o que é certo
e a cantar o que é certo, e do jeito certo!...
Que o povo que nos ouve, de vez em quando ore por nós,
sobretudo, para que sejamos simples e humildes.

Estar em lugar visível
não ser mais do que os outros!



DECLARAR-SE UM GRANDE NADA

A humilde moça que, diante das câmeras, dizia: -“Eu não sou nada, não valho nada, não sou ninguém diante do Cristo”, estava dizendo algo bonito e encantador, mas não fazia teologia correta. Cristãos não têm o direito de se expressar dessa forma, até porque nós valemos, sim, valemos muito e, apesar de nossos defeitos e pecados, somos alguém.

Deus nos fez e nos deu valor. Não nos teria criado, para sermos como a pedra. E até mesmo a pedra acrescenta valores. Por isso falamos em pedras preciosas. Corre por aí um exercício falso, errôneo de humildade, da pessoa que, desejosa de mostrar seus limites e seus pecados, teima em dizer que não é nada e ninguém, o que não deixa de ser um ato de ingratidão contra Deus, porque Ele é alguém e criou pessoas para ser alguém.

Humilhar-se à nulidade é desdenhar da obra de Deus. Se até as larvas têm sentido e, de certa forma, sua individualidade; se arvores, até as da mesma espécie, são individuais e diferentes, por que negar que Deus nos tenha dado valores especiais e individualidade? Somos desejados e criados por Deus, para acrescentar algum valor ao mundo. Viemos por alguma razão. Por isso é que não somos um nada. Não voltaremos ao nada.

Se quisermos ser humildes, e devemos querer, digamos: - Estou longe de ser o alguém que Deus queria de mim; longe de ser a pessoa que poderia ser. Mas tenho consciência dos meus limites e dos meus valores. Espero que você me ajude a melhorar os meus valores. Existo, sou alguém e nunca voltarei a ser um nada. Deus me pôs aqui para somar, qualificar e acrescentar.



CRITICA E AUTOCRÍTICA

Um dos empecilhos mais complicados para a espiritualidade de um pregador é a autocrítica. Caiu de moda. São poucos os que a fazem ou que, após uma crítica, amiga ou maldosa, estão dispostas a fazer a autocrítica, isto é, a conversão e o devido exame de consciência. A tendência é ignorar, ficar chateado, justificar, responder com estatísticas e com outros apoios. Voltar atrás, corrigir, admitir que não foi milagre, que a pessoa não foi curada, re-editar, regravar aquela frase infeliz, admitir que, como foi dito não estava claro, é coisa rara. Há sempre um subterfúgio para que tudo fique como está, para não se corrigir, não voltar atrás e não admitir o erro.

Somos todos fortemente tentados a manter o que dissemos, cantamos, escrevemos e profetizamos, mesmo quando é evidente que estávamos errados. Vem de longe a caturrice, a dura cerviz e a teimosia dos profetas e pregadores que aceitam profetizar, mas não aceitam que outros profetizem a respeito deles, aceitam pregar, mas não gostam que alguém lhes pregue.

Alunos que não aceitam a correção dos mestres, professores que ignoram a observação dos colegas, profetas que não admitem que o outro também o seja, especialistas que, de tão especialistas, reagem com ironia quando alguém, não tão especializado, lança-lhe uma pergunta incômoda. Quem não viu e não passou por isso? Se você é um simples licenciado não ouse questionar doutor. Ele sofrerá a tentação de ignorar sua pergunta. Afinal, que tese você defendeu?

Se ele é tido como profeta no seu movimento e no veículo por ele dirigido ou protagonizado seus adeptos e admiradores perguntarão quem é o sujeito que o critica se é menos famoso? E se o for, falarão de inveja!... Tudo isso porque a correção fraterna e a autocrítica caíram de moda. Está em alta a auto-estima, pior do que isso, a alta-estima! Digo o que quero, profetizo como Deus me inspira e não aceito mudar.

Foi o que houve numa gravadora, quando um grupo cheio de alta-estima e convicto de que tinha uma profecia a viver, negou-se a corrigir o texto de uma canção que a diretora, formada em língua portuguesa e teologia pediu que fosse mudado. O texto dava a entender um velado subordinacionismo. Isto é, o autor dizia e o grupo cantava que “Ó filho que vens depois, nos trouxe quem vem depois de Ti”. Descontado o erro de concordância, a intenção era boa. Pretendia dizer que para nós cristãos, o Filho se revelou e a seguir nos revelou o Pai e o Espírito Santo. Mas o texto não dizia isso! O rapaz bateu o pé e disse que o Espírito Santo lhe sugerira aquela frase daquele jeito. À editora não restou senão cancelar a gravação. O grupo não aceitava crítica nem admitiu fazer autocrítica. Erraram gravemente porque a primeira proposta de João Batista e de Jesus, bem como a primeira atitude de quem de fato recebeu o Espírito é a conversão, o desejo de acertar, o diálogo e a capacidade de se corrigir caso tenha cometido algum erro. Está escancarado nos evangelhos. “Convertei-vos”... Quem não aceita que a Igreja ou irmãos que sabem mais, em nome da Igreja os advirtam e corrijam não entendeu o que é ser profeta.

Na mística do pregador, não aceitar correção é o mesmo que teimar em atravessar o sinal vermelho. Um dia, acaba esmagado pelo trem da História. Aquele velho e teimoso astrônomo que não aceitou novos telescópios, nem as novas descobertas da astronomia, nem a opinião de seus colegas mais estudiosos, prosseguiu impávido e desatualizado a anunciar como definitivo o que via na sua luneta de l950. Quando viu as fotos do gigantesco Hubble, primeiro não acreditou, depois chorou de frustração ao ver o quanto se fechara no seu pequeno e ultrapassado observatório. Ao não aceitar ver o universo por outros telescópios pregadores da fé correm o mesmo risco.

Sem autocrítica acabaremos pregando como em l960, e a falar em “plêiade de moços” “mocidade miriádica” e a chamar Maria de “íris fúlgido”, a conclamar os católicos num solene “eia, avante soldados da fé”, e a jurar ante o “altar da pátria e da Igreja triunfante, em busca de um futuro e lustroso refulgir na glória celeste”... É, pois é!



CASAIS QUE SE CONTEMPLAM

Contou-me ele, depois de onze anos de casamento. Não conseguindo dormir de dor no joelho, sentou-se numa poltrona ao lado da esposa que dormia no leito, chegou mais perto e passou a noite contemplando a mulher que o fizera pai, o ajudara a amadurecer para o amor e para a vida e o enchera de felicidade e sensatez.

-“Gratidão foi o que senti”-, dizia ele. E prosseguiu: - “Deus me deu uma mulher suave bonita, dois filhos, uma família amorosa e uma cúmplice para todos os momentos”

E discorria:

“Fiquei olhando a mulher que eu procurara e achara, a mãe dos meus filhos, aquele corpo bonito, aquela alma escondida sob os olhos que dormiam, e vi nela meu outro eu, extensão de mim, ou eu extensão dela, não sei ao certo!

Mas uma das frases dele captou-me de maneira especial. Disse-me: -“ Eu era um tipo de homem antes dela. Depois dela eu mudei. Acho que Deus a enxertou em mim e me enxertou nela. Produzo frutos que jamais pensei ser capaz de produzir. Ela deu sabor especial à minha vida. Acho que eu também a tornei mais pessoa.”

Palavras de marido apaixonado que contempla sua esposa à beira do leito. Quantas esposas e maridos não assinariam em baixo dessa frase? Embora vocês brinquem, dizendo que se casaram com um desastre, com um estrupício, brincadeiras à parte, vocês sabem que, agora, quando querem achar-se, precisam mergulhar um no outro, porque seu eu está dentro da pessoa amada. Vocês deram, um ao outro, o que tinham de melhor e, agora, quando querem achar o melhor si, procuram no cônjuge. É investimento que rende! Isso, quando o casamento deu certo!

Conto sempre a história de Dona Leila, para ilustrar o que é um bom casamento. As meninas, que a idolatravam pela excelente mestra e amiga que era, um dia, em aula, perguntaram, à queima roupa, quando ela perdera a virgindade. Dona Leila, tranqüila, reagiu:

- Mas eu não perdi! Não sou mais virgem, mas não perdi a virgindade!
- A senhora é casada e tem três filhos. Como não perdeu a virgindade?
- Eu não rodei bolsinha, nem saí do baile para o motel com um cara que nunca mais vi. Não perdi a virgindade para qualquer um. Dei-a ao meu marido e ele mora comigo. Minha virgindade está lá no mesmo leito que dividimos há catorze anos. E está em excelentes mãos. Só perde a virgindade quem não sabe onde a colocou. Eu sei o que fiz. Foi troca: eu me dei a ele e ele se deu a mim. Agora eu sou de um bom homem e ele, modéstia à parte é meu. Ele não precisa dizer isso: eu percebo.

Daquele dia em diante, as meninas perceberam que, isso de gostar de um cara, namorar e acasalar, passa pela descoberta de quem é este outro com quem criarão filhos. Sem alteridade, o sexo é apenas um troca-troca egoísta. Com alteridade é uma viagem de almas e corpos entrelaçados. É por isso que o casamento se chama de enlace! De laços o amor é feito.



ORAR E ABENÇOAR ERRADO

O sacerdote cantou: Noite feliz, oh Senhor, Deus de amor pobrezinho nasceu em Belém! Mas a canção diz: “O Senhor” e não “oh Senhor”. O mesmo sacerdote orou: na Salve Rainha: E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus bendito é o fruto do vosso ventre. Confundiu com a Ave Maria, na qual se ora: E bendito é o fruto de vosso ventre”, mas na Salve Rainha, deveria ser dito “Mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Seus cantores, na missa, oraram a Nossa Senhora Aparecida cantando: “Salve ó Mãe de Deus e nossa a Senhora Aparecida”. Deveriam ter cantado “Ó Senhora Aparecida. O mesmo grupo cantou que Maria é “virgem maculada”. Ao acentuar errado, esqueceu o “i”. O que se ouviu foi “Salve a Virgem maculada, a Senhora Parecida”. No CD, a canção dizia: Fez em Caná, tornou a fazer! O texto impresso rezava: “Fez encarnar”

O ideal seria que uma fonoaudióloga, professora de dicção orientasse a comunidade, sobretudo os que pregam e cantam para não pronunciarem errado as orações de tantos anos. Se ainda não se deram conta de que estão ensinando e orando errado é porque ninguém os alertou, ou porque não prestam atenção no que dizem! Ouça os cantos da missa e preste atenção nos verbos! Um deles dizia: “Maria, vós sois nosso modelo, porque que o Senhor te fez, a Mãe bendita que só você foi! “Vós, tu, você”, tudo na mesma sentença!

Poderíamos corrigir os textos de nossas canções de missa. Se quiséssemos, poderíamos!


ESPIRITUALIDADE DE PREGADOR

Espiritualidade tem a ver com a capacidade de conviver com o vento que sopra do alto, de lado, de baixo, de frente e à ré. Aviadores, marinheiros, baloeiros e navegadores sabem que os ventos não sopram somente neles e para eles, sopram em todos e para todos. Mas, como aqueles ventos sopram também sobre eles, como primeira regra, aprendem que precisam saber o que fazer com seus veículos quando o vento sopra e como flutuar ou navegar sem colidir com os outros, nem espatifar nas ondas, na rocha ou no solo.



Espiritualidade tem a ver com sopro do alto e da terra e com o que o indivíduo soprado faz com ele. Só pode dizer que tem espiritualidade o sujeito que, ao invés de ser soprado pelo vento e ir aonde o vento vai, aprende a ir aonde deve ir, sabendo valer-se do vento. Uma coisa é deixar-se levar dirigindo-se enquanto é levado e outra é ser empurrado e não saber como e para onde ir.



Os navegadores e pilotos que chegam ao porto e ao aeroporto que buscavam, chegam porque sabem a que altura ou profundidade vão, conhecem os canais e os ventos e sabem fugir ou utilizar a força das ondas e das correntes do mar e do céu. Quem sobe sem saber por que subiu, acaba levado pelo vento, como fez aquele, infeliz pregador da fé que subiu em balões, por entre câmeras, aplausos e incentivos de quem o viram subir e dias depois foi achado morto no mar sem saber por que subia, como desceria e como utilizaria seu frágil GPS.



Há igrejas e grupos de igreja que, de certa forma pregam esse tipo de espiritualidade... Sobem por entre glórias e aleluias e aplausos, mas de qualquer jeito e sem saber ler os sinais e os ventos. Preste atenção na espiritualidade festiva de alguns templos, pregadores e fiéis... Eles pensam que podem direcionar o vento.



ALI BABÁ E MILHARES DE LADRÕES

Os últimos acontecimentos no Congresso, o dinheiro nas meias, nos trajes íntimos e em malas mostram pela enésima vez a necessidade de uma reforma política no Brasil. Se quem deveria votar esta reforma não o faz deve ser porque os partidos e muitos congressistas perderiam com ela. As imagens de propinas e mensalões começam a gerar revolta na população. O povo quer a reforma.

Do jeito que os fatos correram nestes últimos 20 anos de Brasil, em muito pouco tempo haverá mais um requisito para alguém se considerar brasileiro de verdade: ter sido ameaçado, roubado, assaltado e espoliado. É impressionante a facilidade com que se toma ou se arranca o dinheiro do brasileiro. Ou damos sem reclamar, ou nos tiram, sem que possamos reagir. Na rua, nos juros e nos impostos. Aliás, aconselham-nos a não reagir contras o ladrões de rua e dissuadem-nos de reagir contra a extorsão chamada imposto. Quando ele é demais já não é mais governo: é desgoverno, assalto com caneta.

Dias atrás, uma senhora telefonou para a paróquia onde eu celebrara missa pela manhã e quis falar comigo. Disse que, ao voltar para casa, um ladrãozinho com um revolver na mão a rendera no portão de entrada, levara a bolsa e o dinheiro e acabara de ir embora. Lembrou-se da minha pregação sobre cidadania e coragem e, antes de ligar para a polícia ou dar queixa, pedia a minha bênção para ficar calma e resolver a situação de maneira a aliviar o trauma da filha de oito anos e do marido, homem irado e nervoso. Temia que ele, ao voltar do trabalho, fosse atrás do menino e o matasse.

Dei-lhe, com calma e paz na voz, as boas vindas para o clube dos brasileiros vítimas da violência, do roubo, da calúnia e da insegurança. Somos milhões. Lembrei-lhe que, no caso do Brasil e de alguns países, a história de Ali Babá precisaria ser recontada como Ali Babá e seus milhares de ladrões. São, certamente, mais de quarenta! Virou cotidiano. Os brasileiros, na sua maioria, ou já foram roubados, ou assaltados, ou espoliados, ou tiveram que pagar um imposto que lhes custaram o fim da firma e o fim do mês sem comida em casa. Afinal, 38 % de imposto é muito dinheiro para poder ter alguma coisa neste país. Falei-lhe do preço exorbitante do aluguel, de algumas mercadorias, dos juros, do pedágio, e da pequenez do salário. De quebra, há os que nos visitam para tirar da nossa gaveta o que as leis já nos tiraram, direto da fonte ou do banco.

Ela começou a rir e disse: - E, na época das eleições, eles querem que eu escolha um candidato, dentre centenas que falam uma frase de dez palavras em quinze segundos... Sou obrigada a votar sem ter as informações necessárias: os Partidos não as dão. É voto cego!

Foi esse o teor da conversa. Agradeceu e disse que era professora de inglês. Oramos ao telefone para que Deus nos iluminasse ao votar. Faltam profetas dentro e fora do Congresso!



A ERA DO SANTO FAMOSO

O mundo sempre buscou o sucesso. Notáveis e notórios sempre os houve, Famosos também. Mas há os que aconteceram, sem querer acontecer. E há os que fizeram de tudo para acontecer e ser chamados de nobres ou santos. Traçaram cuidadosamente sua trajetória. Seriam notados pelo mundo! Há os que a fama adota e há os que a perseguem, até que ela se renda a eles. É que fama e notoriedade podem trazer riqueza, aplausos ou reconhecimento! Há um tipo de crente que quer ser santo para ter imagens nos templos e peregrinos no seu túmulo. De santos têm muito pouco!

Noto que, na era fortemente voltada para o sucesso pessoal há igrejas construindo teologias em cima disso. O testemunho de vitória pessoal tornou-se uma assinatura de santidade. “Deus me deu sucesso pessoal porque eu me converti” Há muito “eu” nos depoimentos e testemunhos desses crentes e muito pouco nós, eles, os outros santos, aqueles a quem Deus favoreceu antes de nós.

É por essa razão que questiono a catequese do testemunho, da forma como tem sido vivida na mídia. A meu ver, é exagerada. Gostaria de ver esses piedosos cristãos falando mais da vida dos verdadeiros santos, provados por anos e anos de virtude. Não me impressiono com o testemunho de vida de quem se converteu há seis meses. É pouco tempo demais para se colocar uma vida na vitrine!

Andam esquecidas as histórias de Francisco de Assis, Vicente de Paula, Tereza de Ávila, Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Dom Elder, Irmã Doroti. Os novos arautos de Cristo falam muito mais do que Deus fez por eles mesmos. Não são testemunhas dos outros, são testemunhas de si mesmos. “Eu era assim e agora sou assado!” A meu ver é uma perigosa mesmice, e, se existisse o termo, eu diria “euísse”, egocentrismo demais disfarçado de testemunho.

Torno a dizer que não sou contra o testemunho pessoal. Sou contra o exagero dos testemunhos de vida na mídia atual. O mundo, a fé, o cristianismo não começaram com esses indivíduos. Deus fez muitos santos antes deles e fará muitos depois. Que os novos santos redimensionem os seus chamados e suas santidades. Não são assim tão importantes quanto pensam ser! Diminuam-se, e é possível que, então, o Cristo cresça através do seu humilde testemunho. Falem menos de si mesmos e, quem sabe, um dia o mundo falará mais deles, exatamente porque falaram pouco de si.

O modelo é a mãe do Cristo, a primeira cristã. E alguém podia apontar para si mesma e contar episódios da sua vida era ela. Não o fez. Há evangelhos apócrifos que pretendem resgatar seu testemunho, mas pecam pela vaidade. Não podem ter sido palavras dela. Maria viu muito, viveu muito e falou pouco de si mesma! E quando falou, deixou claro que seria elogiada por causa do Filho que teria. Alteridade! Disso, Maria entendeu!


A FÉ PELOS SENTIDOS

O judeu Israel bem Eliezer (1700-1760) não era muito amigo de livros. Gostava mais de contar histórias do que de estudar o Talmude. Assim dizem os seus biógrafos. Se foi verdade ou não, os fatos se encarregaram de mostrar.

Polonês, vendedor de cal, dono de uma estalagem, casado, aos 36 anos começou a ter visões e revelações, a curar com ervas e amuletos e a exorcizar. O povo passou a tratá-lo como rabino. Houve quem visse nele o Messias, mas ele resistiu ao título. Antes dele um Shabbetai Zevi passara por Messias e acabara traindo o judaísmo em favor do islamismo. Preferiu ser mestre.

Criou o que o movimento que hoje se conhece como hassidianos. Ensinava que livros não têm importância, Deus se manifesta; que temos que sentir Deus em tudo; que a questão não é entender ou compreender, mas sentir e sintonizar. Dizia que quem se esforçar vai conseguir; Deus está na comida, na bebida, na gota de orvalho, na cama do casal; a salvação de todos virá pela conversão e santificação do indivíduo. Garantia que, um por um, o mundo todo sentirá Deus. A razão não conclui: o que conclui é o sentimento. Cada hassidiano cuidará de si mesmo e se salvará. Seu testemunho de vida toda imersa em Deus salvará os outros.

Ele bem que poderia cantar uma canção muito em voga nas igrejas de hoje: “Quero amar somente a Ti!” A doutrina do “somente”, repousar só em Deus, só Deus basta, amar somente a Deus invadiu seus discípulos para susto dos rabinos do seu tempo. Era o anti-rabinato em ação. Contemplando as “centelhas divinas” o fiel se inflamaria de amor. O resto era inútil.

Mas havia um “zaddik”, intermediário entre Deus e o fiel que, este sim, poderia ler e interpretar o céu. Assim, o fiel vivia a fé pelo sentido e pelos ouvidos. O que o “zaddik”, mais profeta e ilumiando do que os demais dissesse, valeria. Cada comunidade teria o seu “zaddik”.

Sentir Deus em tudo, não buscar mais conhecimento nem explicações, cantar louvar e viver a festa do encontro celestial, era tudo o que um hassidiano precisava. Curas e milagres nos seus encontros eram a prova de que estavam certos. Eram todos iluminados. Deus faria, daria, diria o necessário porque eles, louvando, tudo conseguiriam.Os hassidianos ficaram conhecidos como fiéis sem livros e sem estantes. Davam seu generoso coração para Deus. A cabeça iria pelo coração.

Convém lembrar que, por mais santos que fossem, alguma coisa de errado havia com eles. Deus deve ser louvado, mas precisa também ser estudado.


Pe. Zezinho, scj




sábado, 12 de dezembro de 2009

Padre Zezinho - Especial de Natal

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Quando Chegar o Natal

Música de qualidade, fé e devoção. Estas foram marcas do programa especial “Quando chegar o Natal”, apresentado por Padre Zezinho e gravado na noite de 07 de novembro. Com a participação do Grupo Ir ao Povo e das cantoras Adriana Melo e Sônia Mara, o especial contou com a animação da platéia que encheu o Auditório Padre Orlando Gambi. Com uma carreira de mais de quarenta anos, Padre Zezinho foi pioneiro na música católica e inspirou muitos artistas. Neste ano, todos poderão conferir um espetáculo de fé e música e, sem dúvida, terão uma noite de natal inesquecível.

O especial “Quando chegar o Natal” será exibido na noite do dia 24 véspera de Natal, às 22h30 pela TV Aparecida. Você não pode perder!


Imagens da gravação do especial:


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