quinta-feira, 29 de abril de 2010

Artigos - 26 de Abril

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UM SERMÃO A BALANÇAR NO PEITO

Faz 50 anos que carrego um sermão pendurado no pescoço. Decidi aos 18 anos que assim o faria. E é o que tenho feito. Eu levo uma cruz comigo. Em geral, por cima da camisa.

Além da cruz no peito, tenho várias outras em casa. Você também as tem. Há quem não as leve, nem as tenha. Direito dele, direito nosso!

Não sei porque você as tem ou leva, mas imagino que suas razões sejam as mesmas que as minhas. É questão de fé. Não é para me exibir. É para testemunhar a quem quer que me veja com aquele metal a balançar no meu peito que acredito na pessoa, na vida e na morte de Jesus de Nazaré a quem vejo como o Cristo, e, indo mais longe, a quem adoro como filho de Deus. Direito meu! Se alguém não crê, direito dele!

Já fui contestado por causa da cruz no meu peito. Há quem diga que é lúgubre e que cultivo a morte e a derrota. Segundo ele, eu deveria levar uma frase que proclame a ressurreição e a vida, ou uma imagem de Cristo ressuscitado. Opinião dele! Eu tenho a minha!

Ele sabe porque não leva uma cruz nem a tem na sua casa.
Eu respeito e não discuto suas razões. O peito é dele e a casa é dele! Mas se ele não sabe porque eu levo uma cruz ao peito e tenho outras em casa e no meu carro, eu sei!

Não levo cruzes para dizer onde Jesus está e sim para dizer onde ele esteve e de que jeito encheu de esperança milhões de crucificados.

Se até alguém inocente e puro como Jesus acaba na cruz, então todas as cruzes podem ter um sentido e todos os crucificados podem transformar sua derrota em vitória, porque dois dias depois, de madrugada, ele tinha vencido a cruz e a morte. Tinha ressuscitado!

Na minha teologia cruz e ressurreição não se opõem. Antes, complementam-se. Foi ele quem disse que quem não levasse a própria cruz e, de quebra, a dos outros não seria digno dele. (Mt 10,38 )

Acredito nos crucificados, acredito nos descruficadores. Só não acredito em crucificadores, os que tudo fazem para esmagar e destruir os outros.

É por isso que levo uma cruz comigo. Contra ou favor, espero que quem me vir de cruz no peito se pergunte porquê. É meu jeito de não permitir que o mundo esqueça o que fizeram com Jesus e o que fizeram e fazem com milhões de homens, mulheres e crianças mundo afora. (1 Cor 1,17) O mundo é uma gigantesca indústria de cruzes. E os violentos e maus se encarregam de nunca deixá-las vazias.

É meu grito de protesto contra todos os crucificadores de plantão. É também meu grito de gratidão pelo que Jesus fez em favor dos feridos e oprimidos. Ele disse que daquela cruz atrairia todos a ele. ( Jo 12,32 ) E atraiu bilhões de almas.

Quem não quiser levar uma cruz, não leve! Quem não a quiser ter em casa, não tenha. Eu levo e tenho. Foi Paulo que disse que a cruz é vergonha só para os pagãos. Para nós é sinal de coragem e de solidariedade.

Entre Pilatos, Anás e Caifás e Simão Cireneu eu fico com Simão Cireneu. Os três primeiros comandaram a crucificação de Jesus. Simão ajudou a levar a cruz daquele que até hoje ajuda milhões a carregarem suas cruzes cotidianas.

Isto mesmo! Pendurei uma cruz ao meu pescoço! E aqui, ela balançará enquanto Deus me der uma réstia de vida. Minha cruz fala até quando eu fico quieto! É meu sermão silencioso que diz o tempo todo: não esqueçam as dores do mundo!



O HOMEM JESUS

Se houve no mundo um homem que sabia tudo sobre Deus, este homem foi Jesus. Se algum homem chegou à intimidade absoluta com Deus, este homem foi Jesus. Foi ele mesmo quem o disse. E era plenamente homem.

Se um homem é capaz de tamanha intimidade, ele não é um sujeito qualquer. É especial. Especialíssimo. Foi ele quem o disse.

Se Deus é este ser que pensamos que é, o homem que afirma ter intimidade absoluta com ele corre o risco de ser o doido mais varrido, o maior dos mentirosos, o maior dos megalomaníacos.

Mas, se for verdade, então ele é o mais especial, o mais homem entre os homens. E Jesus disse que sabia quem era e quem o havia mandado, ninguém menos que o Pai a quem ele chamava de Papai (Abbá, em aramaico). Tal pai tal filho? Um só ser? Quem concluiu isso? Na mesma substância? Consubstancial. Da mesma natureza? Igual ou apenas semelhante. As comunidades discutiram isso durante séculos. Para uns ele era Deus demais para ser homem. Para outros, homem demais para ser Deus. Para outros, impossível que fosse Deus e homem. Uma só pessoa e duas naturezas? O debate ainda continua.

Homem algum será capaz de conhecer Deus. Mas, Jesus disse que o conhecia. E somente ele. Ninguém antes, nem depois dele foi capaz disso. Se Deus existe, se criou o mundo e se criou o homem, somos todos filhos de Deus. Mas Jesus garante que é o Filho.

Há uma coisa nesse homem Jesus que homem nenhum relativamente inteligente é capaz de decifrar: fala como alguém igual, absolutamente identificado com Deus.

Ou sua mentira é mentira demais para nós, ou sua verdade é verdadeira demais. O fato é que nenhum homem jamais falou como Jesus falava.

Os homens que escreveram a seu respeito não teriam capacidade de criar um personagem assim tão forte, capaz de desafiar a mente de tantos pensadores e cientistas durante 20 séculos. Se Jesus foi invenção, então os quatro evangelistas que como insistem alguns teriam construído o personagem Jesus, seriam mais espertos que ele.

Para crer em Jesus, precisamos acreditar nos seus biógrafos: Mateus, Marcos, Lucas e João. O que deu neles? O que foi que viram e ouviram, para falar dele como falaram, e morrer por ele do jeito que morreram?

E os apóstolos? Que experiências tiveram para dar a vida por ele. Morreram por um personagem de novela ou por uma pessoa real? Como foi? O que viram eles em Jesus para viver por ele e morrer do jeito que morreram? Era Jesus, filho de Maria, filho de José, filho especialíssimo de Deus ou era uma invenção da cabeça deles? Jesus os fanatizou? Mas como, se Jesus nunca impôs nada em nenhuma cabeça? Não foi ele que os deixou livres para irem embora ,se quisessem?

Nunca usou de armas nem de violência. Falou claro que quem o seguisse teria felicidade, mas teria muito sofrimento. Nunca fez marketing mentiroso do caminho que propunha. Não era desesperado para fazer discípulos.

Que palavra forte tinha esse Jesus que ultrapassa e sobrevive aos homens, às ideologias, às seitas, e até mesmo aos erros colossais dos que transmitiram sua mensagem através dos séculos? Que foi que ele disse para ter se tornado a personalidade mais carregada de humanidade que se conhece?

A soma de todos os grandes homens, com as suas mensagens, não chega nem perto do mistério que é Jesus. Nenhum dos doze que o conheceram e com ele viveram tinha a mesma idéia sobre ele. Cada qual o viu de seu ângulo e da sua experiência. Mas, da sua pregação emerge um homem totalmente identificado com o Pai, totalmente filho - Filho especialíssimo de Deus. E se era tão filho, por que não Deus com quem ele afirmava ser um?

Era difícil crer. E ainda é difícil. O mistério de Jesus leva ao mistério de Deus e desafia tudo aquilo que se conhece de ciência e de religião. Porque esse homem Jesus é, antes de tudo, filho. Sem essa palavra é impossível continuar crendo nele.

O criador do homem tem um filho, que é Jesus. E é através desse filho especial que o Criador nos adota também como filhos seus, como disse o apóstolo Paulo.

Será nossa fé suficientemente forte para nos fazer sentir que, através de Jesus, somos filhos e herdeiros do Pai maior (Abbá), que nos ama e nos ampara nesta vida e na eternidade? Ou nossa casa é hermética demais para que nela entre ao menos uma réstia da luz do sol?



O “GPS” DE DEUS

Ganhei um GPS, assinalei a direção e fiz 150 quilômetros, orientado por uma voz de alguém que nunca vi. A voz me dizia onde eu estava, para onde deveria me virar e até me prevenia quanto a elevações e buracos no caminho. Os sinais me lembravam que eu estava sendo filmado e visto de lá de cima. Por ele eu sabia que passaria por câmeras. Com isso controlava a velocidade. Ouço dizer que há um GPS que alerta contra o excesso de velocidade.

Os humanos são muito criativos. Por um lado me orientam e por outro me vigiam. Sabem onde estou. Para me esconder daquele artefato no céu eu teria que me esconder num túnel. Sou vigiado 24 horas por dia nas ruas, nas avenidas, nos shoppings, nos aeroportos. Vivemos num imenso BBB. Apenas não nos damos conta disso nem somos tão exibidos quanto aqueles que lá se expõem por meses. Mas o Big Brother do famoso romancista inglês já chegou e já nos comanda.

Pensei comigo! Se os técnicos que não vejo podem me ver e me seguir, levando-me a endereços que eu não acharia sozinho e se aceito que os homens podem, por que eu negaria que Deus me vê, me guia e me orienta? Se aceito orientação de um aparelhinho com uma voz de alguém que não conheço, por que não aceitaria a orientação do Livro Santo, dos profetas e de Deus?

Ouço dizer que há aparelhos falsos que não levam aonde prometem. Também em questão de fé há pregadores falsos que garantem levar, mas não levam. Entregam aos seus fiéis um GPS estragado. No dizer de Padre Antônio Vieira nos eu Sermão da Sexagésima, não pregam a palavra de Deus, mas palavras sobre Deus e não poucas vezes, palavras altamente elogiosas sobre si mesmos.

Isso não quer dizer que todos os que se dispõem a nos conduzir são gene falsa e interesseira. Há os bons e desapegados. Assim como há GPS confiável, também há pregadores confiáveis. GPS às vezes falham e pregadores também. Mas se me deixei guiar por 150 quilômetros com a precisão incrível do satélite, não vejo porque não aceitar minha Igreja, que em muitos casos é imprecisa tanto quanto aquele GPS e em outros é certeira. É aquilo mesmo, sem tirar nem por!

Acho que Deus tem o seu modo de conduzir e nos dá a todos um GPS espiritual. Se o quisermos deixar desligado ou ignorá-lo, podemos. É só silenciar a voz de Deus como se silencia a de um GPS. Muitos o fazem. Desligam-se de Deus. Pensam que desligaram Deus, mas, na verdade, desligaram-se de Deus.

Na verdade há muito tempo que somos controlados pelo céu e pela terra. E se quiserem saber que mais nos espia e controla? O mundo! Deus é bem mais respeitoso de nossa liberdade. Experimente não pagar o aluguel, o empréstimo, os impostos ou o armazém... Deus vê mais, controla menos, vinga-se menos e dá muito mais chance do que o mundo costuma dar. É que Deus é amor e o mundo em geral é guiado por interesses. Deus se interessa, mas o mundo em geral é interesseiro. Entre o GPS de um e de outro, o de Deus é bem melhor!



FÉ EM JESUS

Sou um religioso cristão e católico. Isto significa que minha fé em Deus passa pela fé em Jesus e minha fé em Jesus, passa pelo meu catolicismo. Aceito o jeito da Igreja católica falar de Jesus, seus ritos e suas práticas.

Falo com o Pai em nome Jesus e creio que Jesus é o Filho e me espera no Pai. Mas tento me lembrar que estou falando com o único Deus que há. Minha cabeça é pequena demais para entender este mistério. Então, ou eu fundo uma nova igreja, ou entro numa outra, ou migro para um religião que crê numa só Deus que é uma só pessoa, ou fico com os cristãos que sustentam este mistério de que só há um Deus, mas ele é Pai, Filho e Espírito Santo.

E se estivermos errados? Ainda assim quero crer com os cristãos. E se os outros estiverem errados e Deus for um só, mas for Pai, Filho e Espírito Santo? Neste caso eles morrerão crendo errado, mas serão amados por Deus porque foram sinceros.

Não tenho o menor constrangimento em admitir que talvez eu creia errado. Mas, como não fui lá e não vi, e os outros também não foram e não vira, cada qual escolhe a fé que deseja seguir. Um dia eu decidi continuar na fé que estava seguindo.

Continuo não sabendo explicar Jesus, O Filho. Eu também não sei explicar nem pilotar um avião a jato , mas viajo nele e espero que aquele vôo não cairá. Se tenho fé nos engenheiros e no piloto, posso também ter fé na minha Igreja. Não estou nela por questão de certeza absoluta. Estou nela por questão de fé. É o avião que escolhi para ir aonde espero chegar!



AS CRUZES NA PAREDE

Não adoramos a cruz. Adoramos o crucificado.
Não adoramos um morto. Adoramos um ressuscitado. Mas somos agradecidos. Foi numa cruz que ele morreu.


Estavam errados, cruelmente errados aquele muçulmano italiano que no mês de outubro de 2003, em nome de sua fé islâmica, quase conseguiu que um juiz eliminasse a cruz da escola onde seus dois filhos estudavam. O troco veio na França quando uma lei proibiu que as moças muçulmanas usassem o véu. Ao passar por cima da fé de todos os outros em nome da sua fé e da democracia, deu o mesmo direito aos outros de proibir a fé dele. Ora, a cruz e o catolicismo estão na Itália muito antes de a lua crescente estar no Oriente Médio. Agiu pior ainda, quando disse que o crucifixo se tratava de um mini cadáver.

Errou também o vereador evangélico nordestino que tentou tirar de sua cidade uma enorme cruz e no lugar propôs que se pusesse uma Bíblia. Não deve ter lido direito a Bíblia da sua igreja, na qual Jesus dá sentido à cruz (Mt 10, 38) e diz que quem não encontra o sentido da cruz e não a assume não é digno dele. Paulo diz que escandalizar-se da mensagem da cruz é loucura para quem está se perdendo. Para quem se sente salvo ela é poder de Deus (1 Cor 1, 18 )

O mesmo Paulo diz que, se deve se gloriar de alguma coisa, será da cruz de Cristo .( Gl 6,14) E sugere que seus leitores não vivam como inimigos da cruz... Aquele sangue que eles tanto honram foi derramado numa cruz... (Cl 1,20) É impensável o Cristo vitorioso do começo ao fim. Jesus deixa claro que não veio ensinar uma fé triunfalista que só vence e nunca perde. ( Mt 10,39) Quem prega só vitória e recompensa monetária, casas, e sucesso na carreira, não está pregando a doutrina de Jesus e sim um capitalismo religioso. Dê mais a Deus que você terá sucesso financeiro. Isso pode até acontecer, mas não é assim que funciona. Deposite que Deus deposita.

... Os discípulos não se tornaram empresários bem sucedidos, além do que, praticamente todos eles morreram de morte violenta. O cêntuplo que Jesus oferece não cai na conta bancária de nenhum cristão. Entra na paz e na caridade que ele passa a viver...

Sem cruz não há Jesus, Não faz sentido uma cruz sem Cristo. Ninguém pede para sofrer e carregar a cruz. Jesus não pediu,( Mt 26,39) mas aceitou; nem também Simão Cireneu. Mas, chamado, ainda que forçado, a levar a de um outro, que era o próprio Jesus, ele a levou. ( Mt 27,32 ) Deve ter entendido e se convertido, porque Marcos cita seus dois filhos conhecidos dos cristãos, Alexandre e Rufo.( Mc 15,21 )

Algumas religiões cristãs, entre elas, o catolicismo usam a cruz como sinal de gratidão. Nos dedos, no peito, nas roupas, na casa, no nome das cidades, nas igrejas a cruz de Cristo nos lembra não onde Jesus está, mas onde ele esteve e de que jeito ele nos salvou. Não é porque ele foi para o Pai que jogaremos fora o sinal de seu amor por nós. Somos uma Igreja que cultiva a fé agradecida. Jesus rima com luz, mas também rima com cruz.

Para nós a cruz lembra martírio, altruísmo, coragem de morrer pelos outros, entrega total e vitória sobre o sofrimento, porque não cremos em dor sem resposta e nem em morte sem ressurreição. Achamos o sentido porque aprendemos com o maior de todos os crucificados.

Quando eu for elevado da terra atrairei todos a mim, disse Jesus (J o 12,32 )
Quem não tomar sua cruz e não me seguir não me merece.( Mt 10,38 )( Mt 16,24)

Jesus sempre deixou claro que a dor, a derrota, o sofrimento não devem assustar quem o segue. Sua ênfase na ressurreição e na superação é que dá origem às nossas igrejas. Cremos que o derrotado se recuperará, o crucificado ressuscitará, o perdedor inocente viverá terá mais a dizer do que aqueles que o martirizaram.

Ninguém mais se lembra daqueles que mataram Jesus. Quando são lembrados não somam. Jesus e todos os que com ele carregaram sua própria cruz ou a cruz dos outros fizeram e fazem a diferença no mundo. Não teríamos tido Vicente de Paula, Camilo de Lellis, Madre Tereza, Irmã Dulce, Dom Helder, e milhões de servidores em hospitais, creches, asilos e orfanatos, se eles não tivessem entendido a própria cruz e a cruz dos outros. Até porque, quanto maior a cruz, mais alto se eleva o crucificado. Para nós um hospital é mais importante do que uma emissora de rádio. Erraria que, para ter mais adeptos, fechasse um hospital para construir uma emissora. Ganharia agora, mas perderia a longo prazo. Sem a caridade e quem cuida e assume a dor do outro a palavra é vazia. A boca de quem anuncia não pode ser maior do que seu colo e seu ombro.

Nós católicos, como Paulo não confundimos as coisas. Cruz para nós não é derrota nem morte. É o túnel que leva para paisagem ainda mais bonita.

Não tenhamos vergonha de nossas cruzes. Não despreze a moldura que segura o retrato do irmão que o salvou. Ela sustenta uma lembrança!



ENTRE A CRUZ E A RESSURREIÇÃO

Se o pegassem ele morreria. Muito antes do julgamento apressado daquela manhã de torturas haviam decidido que ele não escaparia. Para quem o condenou ele era um subversivo que punha em perigo os laços entre Israel a dominada e Roma, a dominadora. Roma sabia muito bem esmagar quem ousasse questionar sua autoridade. E naqueles dias invadir um templo e, com uma corda, expulsar os cambistas e vendedores, perdoar nas ruas quando para isso havia um ritual, ensinar doutrinas contra a sacralidade do tempo a duras penas reconstruído, templo que era o símbolo da aliança de Israel com Javé, gritar dentro dele que quem tivesse sede viesse a ele, questionar o imposto do templo era subversão.

No tempo de Jesus os colonos tinham se transformado em sem terra, arrendatários ou meeiros por conta dos impostos. Quem comprou as terras era da elite que morava principalmente em Jerusalém. Entre a elite, o clero de então. O templo arrecadava milhões porque o dízimo já subira 20%. Não admira que tivessem surgido tantos libertadores do povo das duas opressões , a dos romanos e a do templo. Aliás foi essa a revolta do ano 66 quando os zelotas depuseram as autoridades do templo que coletava para si e para Roma. Os romanos como bem sabiam fazer vieram e arrasaram o templo. Jesus predissera isso. Do jeito que as coisas iam não se previa outro desfecho. O templo tornara-se uma coletoria e um centro de arrecadação, as terras tinham virado latifúndio e Israel vivia de produtos e exportação.

Quando João apareceu propondo penitência e anunciando uma nova ordem de coisas, um no reino incomodou. E tanto incomodou que lhe cortaram a cabeça, primeiro por censurar o rei que vivia amaziado com uma sobrinha, sobrinha que ele havia roubado do seu irmão. Mas o outro motivo foi a pregação de João. Um novo reino? Que novo reino? Israel já não tinha um bom rei e paz com os romanos?

Jesus retomou a pregação de João dizendo não que o reino estava por chegar, mas já estava começando. Então era isso. O pregador galileu, com essa história de reino de Deus , questionando o templo, agindo como e fosse rabino ele que nem sacerdote era, desligado de qualquer partido ou aliança e levando aquela multidão atrás dele fora longe demais. Se a idéia do novo reino pegasse, os romanos esmagariam Israel. O exercito romano era um rolo compressor. Que os romanos nomeassem os sumo-sacerdotes e interferissem no templo desde que Israel sobrevivesse. De destruição e exílios Israel tinha experiência. A Babilônia era mestra em invadir Israel e escravizar seus filhos.

João foi decapitado e Jesus deveria ser contido. Judas o traiu, ele foi preso e em quatro sessões de três horas eles haviam vencido. Não era o primeiro nem seria o ultimo libertador a perder para a elite que politicamente dominava Israel, sendo ela politicamente teleguiada por Roma.

A prisão ocorreu perto da madrugada. Ali mesmo começaram as torturas e a farsa do julgamento. Às 9h depois de um cortejo apressado eles o crucificaram, às 12 hs ele entrou em agonia . às 15 horas. Foram mais três horas de procedimentos até que o desceram da cruz. Às 18 h saíram para enterrá-lo num túmulo escavado na rocha e cedido por José de Arimatéia.

È claro que foi um julgamento político e é claro que Jesus mesmo não sendo de partidos, nem sedicioso, nem membro de guerrilha urbana, nem líder de sem terras, com sua pregação questionara a situação estranha vivida por Israel que dizia servir a Javé, mas servia ao imperador romano. Diante de Pilatos e de Herodes agiu como quem respeitava, mas não aceitava sua autoridade. Diante do rei dominado por Roma não disse uma palavra. E diante do governador romano disse que seu reino não era deste mundo e que Pilatos não tinha nem culpa nem autoridade. Os religiosos o queriam morto e Pilatos não tinha força para mudar a situação. Desafiou-o.

Morreu porque disse o que pensava e fez a cabeça do povo.

O que as autoridades não imaginavam é que depois da cruz e da morte haveria algo que eles não conseguiriam controlar. A ressurreição. Espalharam-se até hoje três versões. Ele não morrera: retirado do túmulo escondeu-se para sempre. Morrera, mas seus cúmplices roubaram o corpo e o esconderam num outro tumulo secreto. Ressuscitou porque era o Filho de Deus e dera a vida pela humanidade.

A escolha de crer ou não crer cabe a cada pessoa. Quem crê terá que viver como defensor da vida do começo ao fim, contra a tortura e contra qualquer forma de violência. Jesus não faria por menos. Quem não crê terá que provar o que diz contra Jesus. Milhares de livros forma escritos contra a favor, mas aquela cruz, aquele túmulo vazio e aquela ressurreição significaram diferença. São dois gigantescos pontos de interrogação e de exclamação esculpidos naquela colina e naquela rocha. Jesus continua incomodar!


Pe Zezinho, scj

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domingo, 25 de abril de 2010

Vídeo - Entrevista recente em TV local

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No vídeo abaixo postado no YouTube por uma emissora de TV na cidade de Campo Mourão PR, Padre Zezinho fala do livro DE VOLTA AO CATOLICISMO que já está com sua segunda edição esgotada, e falou também dos seus próximos projetos, como seu próximo livro que se chamará MEU IRMÃO CRÊ DIFERENTE, que seria uma continuação desse último.



Padre Zezinho também contou que lançará mais 3 ou 4 CD's narrados, um deles terá o título de O AMOR QUE NÃO DEU CERTO, para casais com dificuldade matrimonial. Disse que o resultado desses trabalhos tem sido muito satisfatórios, pois o povo está sedento de conteúdo; de bom conteúdo para se fazer pensar.

Vale a pena conferir:



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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Artigos - 19 de Abril

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O CRISTO QUE DESCE

Entre os cristãos vigora a mística da kênosis. Tem a ver com descida, esvaziamento, descer ao abismo com a vítima para trazê-la à superfície. Não é descer uma corda de lá de cima e puxá-la. É mais. É descer com a corda, amarrar a vítima ao próprio corpo, já que ela não tem forças, nem mesmo para agarrar a salvação. Fazem isso bombeiros, marinheiros e outros salva-vidas.

Para nós, cristãos, o verdadeiro Cristo é aquele que desceu para resgatar o pecador e subiu levando o pecador ao ombro, deixando lá em baixo o pecado que o prendia. O Evangelho de João (3,13) e Paulo magistralmente ensinam isso. Dizia Paulo: Achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. (Fp 2, 8) Em Gálatas 3,13 ele torna a falar dessa descida, a ponto de Jesus aceitar uma situação de maldição para dar sentido às cruzes do cotidiano. Morrer pelos outros nunca é derrota. Matar é que é.

Por isso também entre nós, só pode ser verdadeiro profeta aquele que primeiro desce e depois sobe levando os outros. O que desesperadamente sobe em busca de dinheiro, fama e notoriedade como quis fazer Simão o Mago, dificilmente desce. Pensa demais em si mesmo. Este é o falso apóstolo. O aviso não é para os outros: é para cada um de nós que precisamos saber o que fazer com riquezas, posição e fama, se vierem.

Profeta que mais coleta e acumula do que distribui está trilhando caminho tortuoso. Quem quiser justificar riquezas, tronos, palacetes, recompensas e galardão, vai achar alguns textos. Mas se não ensinar também os textos que falam de pobreza, desprendimento, descidas, renúncias, perdas e cruzes terá deturpado o evangelho.

E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. (Mc 8, 34)

Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. (Mc 10, 45)

Não faz tempo ouvi alguém a pregar que, se Jesus vivesse hoje também teria aviões e helicópteros e moraria em condomínios porque mereceria... Duvido! Tudo nele falava de kênosis. Foi ele quem disse que as raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. (Mt 8, 20) Não tinha porque não arrecadava o suficiente ou não tinha porque não queria?

O mestre que lavou os pés dos discípulos. (Jo13,12), o puro e sem pecado se curvou diante da pecadora que permanecia em pé, desceu até nós para nos elevar. (Jo 8,3-11) Não jogou a corda. Desceu e amarrou-nos a Ele. Registre-se esta forma de ascese!



ENTRE O COPO E O CÁLICE

Falo de sofrimento. Enorme sofrimento para o pregador e para a sua comunidade. Falo com a maior delicadeza possível. Se não era, virou enfermidade. Para as igrejas, faz tempo que virou angústia. Se já dói numa família de cinco pessoas, imagine a dor de uma família de 80 mil paroquianos... Afeta quem prega e quem ouve. É humilhante para todos.

O tema é delicado, mas precisa ser abordado. O alcoolismo tem sido uma das cruzes mais pesadas das igrejas cristãs, principalmente quando subjuga seus pregadores, alguns deles cultos e preparados, mas incapazes de permanecer lúcidos, antes e, muitas vezes, durante as pregações. O copo a mais os derrotou.

Se tivessem admitido ajuda enquanto jovens ou no tempo de sua preparação, talvez não tivessem tomado aquele copo a mais nas festas e encontros. Se me lembro bem, um grande número dos ontem seminaristas que conheci, e não só os da nossa igreja, quinze ou vinte anos depois de ordenados perderam o controle da dose justa. Bebiam cinco a seis copos de cerveja, duas garrafas, ou dois a três copos de vinho e até se gabavam de nada sentir. O tempo deu vitória ao copo. Perderam.

Algumas dioceses nos Estados Unidos pedem do sacerdote um juramento de não beber por cinco anos. Depois disso, o sacerdote se compromete a ser acompanhado periodicamente para não perder a batalha entre o copo e o cálice. Numas delas, onde celebrei, uma frase na casa paroquial lembrava: “No more than one glass a day, if you are to daily raise the salvation chalice!” “Não mais de um copo por dia se você pretende diariamente elevar o cálice da salvação”.

Lembro-me que discutíamos abertamente entre nós a possível tendência à bebida. Lembrávamos os familiares e as desculpas usadas para ir além do copo. Com tristeza lembrávamos colegas e outros sacerdotes que tiveram que ser substituídos por causa do copo a mais. Na faculdade os seminaristas evangélicos tocavam nas feridas de suas comunidades. O álcool era e continua sendo uma das cruzes que mais afetam o púlpito. Quem é vitima dele não admite. Se admite, ou se ofende e rompe a amizade, ou mente para si mesmo dizendo que o que ele faz não afeta a comunidade.

Numa cidade cujo nome não vem ao caso, havia duas paróquias distantes não mais de dez quadras uma da outra. Num domingo, às 11 horas onze casais iriam batizar suas crianças. Um deles, marido e mulher eram líderes comunitários. Infelizmente o sacerdote chegou agressivo; bebera e mal se mantinha de pé. Assim que começou a chamar os nomes, o casal viu o risco para a fé dos presentes. Pediram um tempo ao padre. Cochicharam. Em dois minutos todos se retiraram. Mas de 100 pessoas. Foram todos de carro para a paróquia vizinha, onde esperaram que um dos dois padres chegasse. Quatro casais os conheciam. Avisado pelo celular, o pároco chegou o mais rápido que pode.

Às 13 horas as crianças foram batizadas. Ninguém deixou a igreja. Tiveram pena da enfermidade do seu pároco, mas não admitiram que suas crianças recebessem um sacramento daquela forma. O padre, pela primeira vez chocado e ferido, apresentou-se em lágrimas ao bispo, pediu ajuda e internou-se. Mudou de paróquia e hoje auxilia um colega da mesma diocese. Nunca mais tocou num copo. Ainda chora quando se lembra do episódio. Pediu perdão a cada uma das famílias. Sua humildade e penitência reconquistou-as.

Agora, quando vai a uma festa, a primeira coisa que pede aos amigos é esta:-“Não tirem os olhos de mim. Eu tenho esta enfermidade. Se não for ajudado, entre o copo e o cálice, escolho o copo! É minha cruz, mas não pode ser crua da paróquia!”. Amado e respeitado, o carinho dos paroquianos o recuperou. É hoje benquisto nas duas paróquias. Seu irmão padre, diabético, vigia o que come, ele vigia o que bebe! Santos também escorregam, mas os humildes não mentem para si mesmos, pedem ajuda e se levantam!

Nenhum de nós tem o direito de atirar a primeira pedra. Deus não fabrica santinhos nem tijolos. Cria gente que às vezes se fere gravemente. Alguns deles atuam em púlpitos!



PAÍS QUE AMADURECE

Que nem tudo vai bem com o Brasil e com praticamente todos os países do mundo, é sabido. Também se sabe que há países com maior e menor grau de cidadania. Na “Republica” da Platão, Livro V, um dos critérios de cidadania era a capacidade de os cidadãos saberem o que era e o que não era deles: o “meu” e o “não meu”. A julgar pelos colossais desvios de verbas, pelos impostos ditatoriais que nem sempre retornam em forma de melhorias, pelos preços sempre acima das tabelas, pelos salários sabidamente injustos, pelos caixas dois de partidos, pelos apadrinhamentos, pelos ladrões de gravata ou de chinela, estamos longe desta cidadania. No Brasil, boa parte do que seria do povo acaba em mãos de políticos inescrupulosos com seus apadrinhados.

Mas estamos melhorando. Já houve ex-governador preso, governador pilhado em flagrante e preso, deputados obrigados a renunciar, mensalão provado e documentado. Se nem todos foram punidos, já é um bom começo que a mídia publique e mostre os documentos da corrupção. Apesar dos seus defeitos, sem a imprensa este país seria bem menos democrático. Igrejas que apenas anunciam não servem. Igreja também precisa denunciar o que fere o povo.

Como país estamos entre o mais e o menos, um pouco mais para mais do que para menos. Temos mídia mais ou menos isenta, igrejas mais ou menos abertas a diálogo e desapegadas de riquezas, policiais mais ou menos preparados e honestos, Ongs mais ou menos honestas, políticos mais ou menos desapegados e honestos, organismos fortes, racismo combatido, produtos mais ou menos de alta qualidade, impostos mais ou menos sonegados, preconceitos condenados, violência denunciada... O mostrador se aproxima do mais e se distancia do menos.

A população ainda segrega, mas com delicadeza. A segregação é hoje de cunho econômico. Índios e negros podem ser vistos ao lado dos brancos, desde que cada qual na sua devida classe... Por isso temos piscinas, condomínios, hotéis, shoppings, lojas e restaurantes de ricos, de classe média e de pobres. A cor da pele já não importa. Importa o poder aquisitivo. Entra quem tem como pagar! Há shows aonde o pobre não vai e shows aonde o rico não vai. O preço os separa. Mas já temos um presidente sindicalista de sucesso que veio da pobreza e ainda fala como pobre e ex metalúrgico; seu vice-presidente é um empresário de sucesso que se mostra corajoso sereno e simples. Um país onde se pode eleger dois cidadãos supostamente opostos não vai assim tão mal!

Entre os candidatos à presidência, praticamente todos são de esquerda moderada. Ninguém tem a intenção de dividir o país em dois ou de por fogo nas instituições. Não há nem haverá bolivarianismo por aqui. Há quem já foi guerrilheiro, mas jura que nunca pegou em armas, quem foi exilado por combater a ditadura, quem quis o poder pelas armas e agora não quer mais; há quem veio da pobreza e subiu na vida pelo estudo e pela pertinácia. Também há católicos, evangélicos e ateus, gente bem casada e quem sofreu a tristeza do divórcio. Eles conhecem a dor, a decepção e sabem que um país não é feito nem de pessoas nem partidos angelicais. Mas querem o melhor. Parece que nos convertemos ao diálogo.

Vejo isso nos restaurantes de ricos e de pobres: chão limpo, mesas limpas, ninguém fumando, pessoas educadamente nas filas. Também nas filas de banco e de padarias, cada qual espera a sua vez. No metrô e nos ônibus a maioria dos jovens cede a vez aos velhinhos, as crianças são respeitadas, nos estacionamentos há vagas para os idosos e os portadores de algum limite, as grávidas ainda encontram delicadeza. Nosso presidente e nossos militares foram ajudar o Haiti que perdeu 200 mil vidas e o Chile que foi literalmente devastado. Poucos brasileiros se queixaram. Acharam certo. Existe o senso de alteridade. Também fomos vítimas de enchentes e sabemos o que é perder tudo e recomeçar.

Não somos um povo tão desorganizado. Ainda se respeitam os juizes e estes ainda levam em consideração os direitos da pessoa. As igrejas ainda se encontram e, mesmo os pregadores que não dialogam, já não chutam os símbolos um do outro. Diminui o número dos que se proclamam mais eleitos do que os demais. Fiéis e pregadores hoje contentam-se em se proclamarem eleitos.

Este ainda não é o país dos meus sonhos, mas já não é o país dos meus pesadelos. Há bandidos, há droga, há feras humanas passeando pelas ruas e arrastando velhinhos e crianças, há meninos queimando índios e empregadas em pontos e ônibus, há criminosos espreitando nossas casas. Mas tudo indica que serão derrotados. Melhoramos e melhoraremos. Parece que o país adolescente irresponsável de ontem começa a amadurecer. É possível que daqui a vinte anos os partidos, as igrejas, o judiciário, a receita, as mais diversas instituições terão se aperfeiçoado a ponto de não ser preciso pegar em armas para mudar a cara da Nação. Movimentos violentos perderão o apoio do povo. Terão que se enquadrar na vida política, como os outros fizeram. Talvez estejamos condenados a fazer política e a dialogar, o que é bem melhor do que derramar sangue em nome de fé ou de ideologia.

Tudo somado, sou um brasileiro que lutou 45 anos como sacerdote para ver meu povo dialogando. Não fui e não sou o único. Acho que vencemos. Ex guerrilheiros e combatentes, ex exilados, chegaram ao poder e à maneira de Nelson Mandela entenderam que vingança não leva a nada. Os que ainda conservam ódio no coração terão que amansar. Talvez não sejamos o Brasil que eles queriam, mas faz tempo que nos transformamos num país que não quer mais revanche nem ódio, venha ele da esquerda ou da direita. Os irados que se acalmem, e os calmos demais que aprendam a ira justa. Aí, talvez, possamos cantar que nossos risonhos lindos campos têm mais vida que nossa vida neste colo tem mais amores. Quem viver verá! Sonho com um Brasil parlamentarista, porque um povo que não aprende a parlamentar mais cedo ou mais tarde acaba por se lamentar. Oro para que tal tsunami não nos aconteça!



UM BRASIL SEM DESPERDÍCIOS

Em boa hora, como sempre, a Campanha da Fraternidade, desta vez e outra vez ecumênica, entra em tema social. Tema forte. Não há como amenizá-lo e pregar apenas espiritualidade. A campanha olha para um dos aspectos mais dolorosos da vida de um país: o uso da sua riqueza.

Bem escrito, o manual da Campanha nos brinda com reflexões profundas nascidas das várias igrejas que participam. “Economia para Vida”, “Economia e Vida”. Não é distinção pequena. A capacidade de administrar os bens da nação e da comunidade produz vida mais adiante e é um ato de vida agora. Não é possível desligar o uso dos bens da vida e da sobrevivência de um povo.

Um desvio colossal de 700 milhões de reais, praticado por um pequeno grupo de ladrões de gravata e de vestido chique pode deixar milhares de crianças sem escolas, milhares de pessoas sem um teto, ou milhares de enfermos sem remédio. Desperdício, corrupção e desvio de bens é morte ou perda de qualidade de vida para milhares ou milhões de cidadãos.

A Campanha, em boa hora, alerta para o fato de que muitos consomem o que não precisam e não poucas vezes armazenam e jogam fora água, alimentos e roupas que irão para ninguém. Se o comunismo foi péssimo, o consumismo também é. Um em ditaduras de esquerda concentrava o poder em poucas mãos, o outro concentra bens em poucos bolsos e prateleiras. Um queria corrigir o outro e ambos exorbitaram. Nada melhor do que boas famílias, boas igrejas, boas democracias, bons partidos, bons sindicatos de patrões e de operários para não esbanjar o que a todos pertence.

Se parece utopia, será melhor do que aquilo que mês após mês freqüenta nossas manchetes: alguém desperdiçou água, verduras, cereais, dinheiro, recursos e bens que eram de todos. Maus administradores e gente safada no poder puxaram para si o que era de todos.

Um país tem que aprender a se defender contra tais pessoas, não importa o grau de poder que acumulem. Para isso o país tem que ter imprensa livre, juízes com tempo hábil para julgar, promotores com liberdade para agir, igrejas que não apenas ensinem a orar e sim também conduzam pregações que eduquem o fiel para os temas sociais.

Se é religioso ir ao templo e louvar o Senhor toda quarta e domingo, também é um ato religioso poupar água em nome do futuro e em favor da comunidade que sofre o drama da sede. Não é mesma coisa, mas nascem da mesma verdade os atos de levar a Palavra de Deus e água e esgoto a um bairro onde faltam os três benefícios. Pode não parecer, mas são gestos de fraternidade!



O PRESIDENTE E A IDEOLOGIA

Soou contundente a frase do dissidente Guillermo Fariñas, vitima da repressão em Cuba e punido por subversão, depois da morte por greve de fome, de Orlando Zapata e da frase infeliz do presidente brasileiro Luiz Inácio da Silva que o comparou a um bandido comum. Disse Fariñas, também ele em greve de fome por direitos humanos em Cuba: “A história se encarregará de colocar Lula em seu devido lugar”. Guardem esta frase porque não tem nada de novo. A história já pôs no devido lugar papas, reformadores e conquistadores de renome.

“Fizeram coisas boas, mas disseram coisas bobas”. E fizeram bobagem ainda maior. Perguntem aos historiadores! Pessoas de fama e renome pagaram alto preço por não fazerem ou não terem dito o que deveriam dizer quando era sua vez de mostrarem quem eram. Ficou como mancha nas suas biografias, Lutero ter permitido um massacre de camponeses e revolta, Calvino ter, de certa forma, sido a causa de Miguel Serveto ser queimado vivo como herege. Papas como Libério e João XXII nunca mais escaparam da pecha de hereges por terem silenciado ou cedido em questões fundamentais. E tinham feito coisas boas!

Lula tem feito coisas boas, mas algumas de suas posturas se revelam mais ideológicas do que democráticas ou éticas. O governo Lula mais que depressa devolveu a Cuba esquerdista dois atletas cubanos que pediam asilo, sob a alegação de que se arrependeram do pedido. Ou a mídia não os entrevistou ou assinaram um papel que não foi mostrado. Tiveram que voltar para Cuba.

Mais que depressa o governo devolveu um direitista acusado de crimes para ser julgado num país de esquerda. Mas hesitou em devolver um esquerdista histórico italiano acusado de terrorismo e de morte. O caso continua pendente a depender apenas do presidente. Um dos seus ministros argumenta que seu governo só se relaciona com governos. Pois é o governo italiano que pede a extradição do esquerdista acusado de terrorismo. Vai devolvê-lo ou não vai?

Diz o governo que não tinha porque interferir no caso do grevista que morreu de fome porque Cuba é soberana. Mas comparou-o a bandido comum, logo o Lula que não era bandido e que também fez greve de fome, tendo inteligentemente parado em poucos dias. O governo cedeu. Se a ditadura de direita não tivesse cedido e se Lula tivesse morrido de fome, a culpa seria de quem? Do opositor Lula ou da ditadura? A ditadura de Cuba não cedeu e a culpa foi de quem? Lula jogou a culpa no grevista que pôs o governo dos irmãos Castro em situação incômoda. Compará-lo a bandido e não dizer aos amigos o que um democrata deve dizer manchou a biografia do até agora democrata Lula.

Por isso soa contundente a frase de Guillermo Fariñas. Quando a ideologia soa mais forte do que filosofias, antropologias, sociologias e a teologias, perde o povo e perde o líder. Diante do mesmo fato o que teriam dito Mandela e Mahatma Ghandi? Teriam culpado a greve de fome?



MÍDIA, LABIRINTOS E SEMENTES

Dirão que me preocupo demais com a mídia ao escrever sobre ela e suas conseqüências, mas eu leio os documentos da nossa igreja e os das outras e percebo que lidar com a mídia é preocupação da maioria dos religiosos educadores. A mídia pode fazer imenso bem e pode causar imensos desvios. É como faca na mão de criança ou de escultor despreparado. Pode ferir quem brinca com ela. Pode ferir e fere.

Não sou profeta, mas estudo mídia há mais de 40 anos e sei que mais de 500 pessoas famosas morreram, exatamente por causa dela. Entraram nos seus intrincados labirintos, um dos quais é a fama, sem conhecer as saídas nem o caminho de volta e só saíram de lá mortos. Entre eles contabilizam-se também famosos missionários e pregadores. Sem achar a saída, morreram e até mataram. Tudo começou com a mídia e a fama que qual cavalo xucro, desembestou, ou carro sem freio, tomou velocidade e se desgovernou.

É bom lembrar que labirintos às vezes sufocam e matam e que sementes não conhecidas às vezes dão frutos que não se buscava. Conhecer a semente, o cultivo e o solo é fundamental para o semeador. Conhecer as rotas de escape é fundamental para o espeleólogo ou para o alpinista.

Acontece com a mídia moderna que muitos entram nela pela empolgação do momento e da grande chance, ignoram quem a estudou, e, tendo achado uma semente rara, jogam-na ou plantam do seu jeito, sem olhar os detalhes do semeio ou do plantio; acharam a entrada que garantia levar a milhões de ouvidos e olhos e entraram. Foi vôo entusiasmado, mas cego. Todo mundo via, só eles não viam!

Feliz de quem foi até onde podia e voltou atrás. Alguns, infelizmente, não acharam mais a saída. Elvis Presley e Michael Jackson, Marilyn Monroe e o pastor Jim Jones são os mais comentados. Não foi a droga, nem a depressão que os levou. Isso veio depois. Foi a mídia e afama não assimiladas que trouxeram o resto. Feliz do artista, do escritor, do desportista, do cantor, do religioso e da modelo que souberam até onde ir, até onde se deixar levar e quando parar.

Há mídias lentas e mídias velozes demais. Em termos de mídia, a velocidade mata o talento e a alma! Um curso de como lidar com a fama que vem com a mídia seria muito oportuno para quem não percebe que está deslumbrado ou deslumbrada com os holofotes. Artistas mais experientes e religiosos mais vividos tentam aconselhar, mas nem sempre são ouvidos. A chance fala mais alto. É, agora, ou tudo ou nada. Muitos acabam no nada!

Veículo maravilhoso ela pode se encapelar, como oceano em tormenta. Há sempre algum Triângulo das Bermudas em toda mídia. Navegar é preciso, às vezes, fugir é fundamental. Depende de quem foi e até onde foi. Falarei mais sobre o assunto nos próximos temas.


Pe. ZEZINHO, scj

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Quem é esse Jesus?

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"Quem é esse Jesus" de que nos fala Padre Zezinho?




"E seu nome era Jesus de Nazaré
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor."



Coletânea em comemoração ao 50 anos da COMEP





Em 45 anos de dedicação à música católica, foram pelo menos 200 canções que tinham o nazareno como tema central. Padre Zezinho, scj, decidiu, então, comemorar também os 50 anos da gravadora parceira Paulinas-Comep, selecionando dentre essas as 12 que melhor traduzem um pouco do aprendizado com e sobre o mestre Jesus. E reconhece: mesmo com essa bagagem de peso, nada de respostas definitivas, afinal, “sobre Ele é muito mais o que ainda precisamos saber do que aquilo que já sabemos...”

Compõem o álbum as músicas: “Quem é esse Jesus?”; “Sem eira nem beira”; “E eu penso em Jesus”; “O filho do Carpinteiro”; “Canção para o Sol maior”; “O Rabi”; “Foi em nome de Jesus”; “Jesus é luz!”; “Ieshuá”; “Eu gritei teu nome santo”; “Sempre sol nascente”. Para finalizar, uma versão ampliada da memorável “Um certo Galileu”.

Faixas e seus respectivos álbuns:

Quem é esse Jesus? (Ao país dos meus sonhos)
Sem eira nem beira (Qualquer coisa de novo)
E eu penso em Jesus (Manhãs iluminadas)
O filho do carpinteiro (O Filho do Carpinteiro
Canção para o sol maior (Canções para o sol maior)
O Rabi (Qualquer coisa de novo)
Foi em nome de Jesus (Canções em Fé maior)
Jesus é luz (Canções que a fé escreveu)
Ieshuá (Um certo galileu 2)
Eu gritei teu nome santo (Oremos pela terra)
Sempre sol nascente (Canções para o sol maior)
Um certo galileu (versão ampliada)


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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Padre Zezinho presente na ExpoCatólica em SP

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Padre Zezinho marcou presença na ExpoCatólica nesse domingo passado dia 11, em São Paulo, capital.

O Padre andou pela feira para ver as novidades expostas e tirou fotos com admiradores.



Depois disso, às 15 horas, foi para o stand da Paulinas-COMEP para assinar seu livro novo DE VOLTA AO CATOLICISMO e seus novos CDs: MEU CRISTO JOVEM e QUEM É ESSE JESUS?.



Pude ter o prazer de conhecê-lo pessoalmente, e ver um verdadeiro exemplo de humildade, de pessoa simples.




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Artigos - 12 de Abril

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DESLIZAMENTOS E DESLIZES

Eu me lembro de Campos do Jordão, de Santos, do Rio de Janeiro décadas atrás, de Petrópolis, de Blumenau, de Angra dos Reis e agora, outra vez Rio de Janeiro de Niterói. Os morros deslizaram e a lama sepultou quem não fugiu.

Naqueles morros moravam famílias. Algumas delas tinham dinheiro suficiente para morar em lugares mais seguros. Mas a paisagem era bonita, a visão, idílica. Outras eram famílias pobres. Foi o que seu dinheiro conseguiu. Não estavam lá porque era bonito e sim porque custava menos.

O solo em geral se assenta sobre rochas. Cortadas as árvores, mortas as raízes, casas no lugar da mata, na primeira grande chuva, talvez encharcasse, talvez deslizasse... Eles sabiam disso. Tinham lido reportagens e visto na televisão, mas não tinham para onde ir. Então, ficaram, apreensivos e esperando que a eles não sucedesse o mesmo. Mas sucedeu. Há milhões de brasileiros morando em morros e lugares onde pode haver deslizamentos. Não sabem para onde ir, não há dinheiro, não há perspectiva. Então, ficam. Viver é um risco!

Daqui de longe é fácil culpar os governos. Na hora do orçamento, porém, as necessidades são tantas e o dinheiro é tão pouco que os morros esperam. Além disso, como firmá-los? Quanto custaria para a prefeitura e para o Estado? E as outras prioridades? Esperariam? E não haveria passeatas e sindicatos a gritar por socorro imediato? E aquelas famílias, em tempo de seca aceitariam sair de lá?

O certo seria jamais ter permitido aquelas casas à beira daqueles abismos. O certo seria coibir o desmatamento para que não houvesse deslizamento. Seriam obedecidos? Daqui de longe, em cima da tragédia procuramos os culpados. Não há como culpar os governantes de agora. E não sabemos o que era governar ontem com orçamentos esquálidos. Ficam as casas no morro, mas a saúde, as estradas, o leite e a merenda das escolas, o esgoto, a água, o salário e o reajuste dos funcionários vem primeiro. Sobrava para a contenção dos morros? Ou para evacuá-los? Não!

Volto a pensar em Campos do Jordão. As feridas ainda estão lá. A cicatriz no morro permanece. Logo na entrada. E não foi a pior. A cidade não tem dinheiro para segurar a montanha. Outras cidades também não. O certo seria evacuar o morro e replantar a floresta. Mas que prefeito conseguirá? Com que verba?

O problema da habitação popular continuará, talvez por séculos, a ser o nosso maior desafio. E não apenas nosso, porque na rica Europa a neve e os morros também deslizam e fazem milhares de vítimas. Também os ricos moram em lugares perigosos. Aprenderemos? Solucionarão? Solucionaremos?



O TÚMULO VAZIO

Não está aqui.Vejam o túmulo vazio. (Mt 28,6, Lc 24,6) Lembro-me de nos meus vinte e dois anos ter assistido a uma peça com este título. Por uma hora e meia quatro mulheres e dois homens conversam diante de um túmulo vazio e um lençol, sobre o que poderia ter acontecido com aquele cadáver.

De reflexão em reflexão os seus personagens debatem a possibilidade e a impossibilidade da ressurreição. Os que se opunham à idéia de ressurreição diziam que alguém roubou o corpo, talvez o Arimatéia. Jesus, na verdade não morrera; fora morte aparente. Ou fora embuste: o sepultado não era o mesmo que morreu na cruz; truque dos discípulos... Uma das mulheres e um dos homens apostavam que se pode viver de novo e que Jesus tinha tal poder.

São Paulo magistralmente analisa a morte de Jesus, como prefiguração da nossa: um dia nós também ressuscitaremos (1 Cor 6,14), Um dia entenderemos tudo isso, com clara visão e sem véu, porque agora vemos tudo obnubilado, por espelhos embaçados. É tudo obscuro, mas um dia entendermos. E diz com ternura poética: “Não quero que vocês fiquem tristes, como quem não sabe (1 Ts 4,13) lamentando-se pela morte. Somos chamados a uma vida eterna. Da ressurreição de Jesus derivamos a nossa. Da passagem de Jesus derivamos as nossas passagens. Transcenderemos à morte.

São Francisco a chamava de irmã. Não se deve procurá-la, mas como ela certamente vem, o certo é estarmos de prontidão. Seguros de que não cairemos num nirvana ou no aniquilamento, cremos no encontro com quem nos criou, a quem veremos pela primeira vez e em quem viveremos para sempre. O Filho morto e ressuscitado nos levará ao mistério do Deus que é um só, mas que é três pessoas. Não cairemos no nada, até porque não viemos do nada: foi dele que viemos. Antes de sermos realidade já éramos pensados por quem nos fez.

O túmulo vazio é o nosso grande desafio. Pode falar por nós ou contra nós. Afinal, Jesus está ou não está vivo? Seria triste se nossos adversários, depois de convencerem o mundo de que o túmulo vazio foi um embuste, ainda venderem a idéia de que Jesus foi uma fraude. Dan Brown tentou. Vendeu milhões de livros. Outros, bem que tentam. Se tantos fazem de tudo para provar que não houve ressurreição é porque, vivo ou morto, Jesus os incomoda. Se não ressuscitou, como diz São Paulo, os cristãos estão ferrados. Mas se aquele túmulo vazio aponta para a ressurreição, os adversários que se cuidem! Perderão e Jesus prosseguirá. E talvez inadvertidamente algum coveiro ainda porá uma cruz sobre seus túmulos!



RESUMIR JESUS

Suponha que foram e sejam milhões os escritores que, em livros e artigos já falaram sobre Jesus. Suponha que foram e sejam milhões os pregadores da fé que anunciaram e aclamaram Jesus. Suponha, ainda, que milhares, talvez milhões de crentes de outras religiões e considerável número de ateus e agnósticos tenham lançado dúvidas sobre a pessoa de Jesus de Nazaré. Eles dizem que Jesus não foi quem dizem que ele era... Suas suposições não estarão longe de verdade.

Agora, suponha você que alguém, num programa de televisão para milhões de telespectadores lhe perguntasse ao microfone:- “Quem foi Jesus de Nazaré? Diga isso em sessenta segundos”

A pergunta foi feita a três pregadores da fé que representavam três igrejas e três obras sociais. O vencedor levaria dois caminhões de alimentos. Dois responderam resumidamente, afirmando que pelo que tinham lido, estudado e aprendido ao longo de 40 anos de pregação, Jesus era o diálogo da humanidade com Deus e de Deus com a humanidade e que ele foi o divino mais humano e o humano mais divino que já passou por este mundo! Arrancaram aplausos da multidão. Cada qual falou do seu jeito. Ambos encantaram a platéia.

O terceiro respirou fundo, fez um longo silêncio, olhou para os presentes que o miravam em silêncio, pediu desculpas e disse:- “Infelizmente, em mais de 30 anos de leituras não aprendi a responder com tanta pressa a uma pergunta tão grande como esta. Jesus não pode ser resumido numa frase de um minuto. Nenhuma pessoa pode ser resumida em 60 segundos. Estou levando uma vida para responder a esta pergunta; não saberia resumir Jesus em um minuto. Considerem-me fora da competição”.

O apresentador consultou a direção e esta reformulou a pergunta: - “Diga-nos em um minuto o que você considera o mínimo que se espera de quem crê em Jesus!” Os outros dois primeiro explicaram suas respostas anteriores e deram razão ao colega: não se resume Jesus em 60 segundos. Entre outras qualidades do discípulo de Jesus acentuaram a fé, a solidariedade, o coração fraterno, o diálogo, o senso de justiça e a humildade.

O terceiro fechou os olhos, fez uma pausa de 15 segundos e disse: - “Continuar aprendendo o que já sabe, tentar aprender o que não sabe sobre Jesus e ensinar o que já conseguiu assimilar”

Eram 20 perguntas. O primeiro, muito simpático e brincalhão, venceu. Mas o terceiro saiu de lá admirado pelos funcionários da emissora e, lá fora, pelos telespectadores: haviam conhecido um pregador que quando não tem certeza não fala, e quando fala, pensa em cada palavra que vai dizer!



CRUZ E PERPLEXIDADE

Diante da cruz pode-se ficar assustado, apavorado, perplexo, revoltado ou conformado. Depende de cada mente e de quanto alguém se preparou para o inevitável. Na trajetória humana, morte é previsível e inevitável, cruz é imprevisível, às vezes evitável, mas nem sempre evitada.

Nem toda morte tem a ver com dor, mas cruz tem. Há mortes serenas, ou tão súbitas que não chegam a doer. E há mortes dolorosas. Ninguém morre em cruzes de isopor. Cruzes doem porque pesam e pesam porque são cruzes. Por isso ninguém quer cruzes para si. Mas, quando alguém que amamos não consegue levar a dele ou dela, assumimos também aquela cruz. Além das que já temos, levamos também as da pessoa amada. E há os solidários e samaritanos que, em si não teriam nada a ver com a cruz do outro, mas que a assumem, porque alguém precisa ajudar quem jaz à beira do caminho.

Os católicos que ultimamente andam recebendo pauladas de todos os lados na mídia religiosa e laica por conta de erros de alguns de seus membros, mas também por causa de sua teimosa luta pela vida, contra o aborto, contra manipulação do embrião, contra a relativização dos valores, de cruz os católicos deveriam entender. Grande número deles a carrega no peito. E nos seus templos, pátios e paredes há cruzes de todos os tamanhos. Além disso, persignam-se com o sinal da cruz. Nascem e morrem sob o signo da cruz que eleva.

Jesus não a quis, mas aceitou levá-la. Não a procurou, mas não fugiu. E morreu perdoando quem o crucificava. Foi ele também quem disse que discípulo dele que não assume a própria cruz e, de quebra a dos outros, (Mt 25,31-46 ) não é digno dele. (Mt 10,37-38)

Não se brinca de cruz. Doer sempre doerá. Também os santos ficaram perplexos e Jesus certamente não morreu sorrindo. Foi sofrimento inimaginável. Daí, a mística da solidariedade cristã. Aí, a razão pela qual nós católicos levamos cruzes ao peito. Não é para lembrar onde Jesus está, mas onde esteve e a que ponto nos amou.

Entre ser crucificados ou crucificadores não se deve querer nem uma nem outra situação, mas é muito mais danoso ser aquele que crucifica. O crucificado acaba vencendo. O crucificador em pouco tempo descobrirá que não venceu. Há uma experiência chamada felicidade que só tem quem se mostra solidário. E os solidários não crucificam. Cruzes nem sempre se explicam. Mas, se vierem, pensemos em Jesus. Ele soube o que fazer com a dele. Depois de Jesus a cruz tem outro sentido. Tornou-se alteridade.



DELETAR O OUTRO

A notícia de que nos regimes comunistas, deturpava-se a História deletando nas fotos oficiais a imagem dos desafetos não é nem tão rara nem tão passada. Acontece hoje com enorme freqüência. Incapazes de distinguir entre o correligionário, o irmão de fé e o amigo, partidos deletam quem por questão de consciência política optou por outra sigla, igrejas deletam que aderiu a outra e movimentos de Igreja deletam quem optou por outro caminho dentro da própria igreja. E há os que deletam que os critica ou ousa sugerir que mudem. Falam como se o outro tivesse morrido, ou como se nunca tivesse existido. Apagam-no de sua mídia.

Há irmãos que deixam de ser irmãos e amigos que deixam de ser amigos porque o outro não pensa mais como pensava. Proíbem que se fale com a pessoa que mudou de idéia. Tratam-no como se tivesse roubado, matado ou destruído maldosamente um grupo. Não distinguem. Dão o mesmo tratamento a quem foi realmente maldoso e a quem apenas ousou dizer a verdade, discordar ou buscar outro caminho na mesma igreja ou no seio da fé cristã.

E houve e há os que matam quem ousa discordar da igreja ou do partido. Quando não matam, silenciam ou sujam o nome da pessoa. Uma coisa é falar à pessoa, falar às autoridades da Igreja, às autoridade do Partido e outra destruir sistematicamente em todo lugar o irmão ou a irmã que optaram por deixar o grupo.

A verdade é que deletar quem discorda nem sempre dá certo. Com todo poder de mídia, igrejas e grupos de igrejas, por mais que o façam não conseguem apagar a memória de alguém cuja palavra vingou e deixou marcas. Tentaram isso com Jesus! Quem acabou no esquecimento forma os seus deletadores.

Uma das atitudes mais cruéis de nossos dias é deletar alguém da mídia. Se não é dos nossos, não será lembrado, nem citado, nem elogiado. Morreu! Chega-se ao ridículo de esquecer de propósito um autor de mais de 100 obras para ressaltar o que fez duas, ignorar quem começou um caminho para ressaltar quem veio trinta anos depois. Tudo, porque a pessoa em questão na reza pela cartilha de quem possui aquela mídia. Acontece nos partidos, nas ONGs, nos movimentos, nas igrejas e nas comunidades.

Como Deus discorda, mas não deleta, os deletadores de ex companheiros vão na direção oposta de Deus. Quem não consegue ser amigo de quem não pensa nem ora do mesmo jeito não entendeu o que é política, nem religião. Setorizou e sectarizou! Os sectários e fanáticos raramente sabem conviver. Seu problema não são os outros: são eles mesmos!


Pe. ZEZINHO, scj

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Artgos - 06 de Abril

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DAQUI DE TAUBATÉ

Se não vai di anssim, tão vai a zóio memo! Passo perto do bar e ouço o balconista. Gosto de ouvir. Não é dialeto. É português autóctone!

Gosto imenso de Taubaté, cidade para onde vim aos dois anos de idade, oriundo dos morros de Machado, em Minas. Pai paralítico por acidente, família pobre, lembro-me da cidade que através do SESI promovia encontros com as crianças. Taubaté cuidava bem dos pequenos. Esporte, distribuição de presentes no Natal, animação de rádio do Cesar Moreira e do Silva Junior no domingo da petizada.

Lembro-me do Anacleto Rosas, dos livros de Monteiro Lobato, do Sitio do Picapau Amarelo, dos Cines Urupês, Palace e Boa Vista, onde filho de operário da Juta e da CTI assistia de graça os filmes de Durango Kid e Roy Rogers. Descíamos o morro montados em cabos de vassoura e imitando os mocinhos enquanto atirávamos com os dedos e com a boca.

Foi na descida da Juta que caí da bicicleta sem freio alugada por alguns “destoes” e meu braço virou para trás. O Dr. Avediz me desafiou perguntando se eu era homem para não chorar. Respondi que ainda era um menino, mas que não choraria. E não chorei! Tinha oito anos! Tínhamos brio! Ninguém desistia só porque caíra. Voltei a descer o morro, desta vez com bicicleta de freio.

Gosto de Taubaté onde há uma safra de bons artistas e cantores, um dos berços da moderna música católica, assim me dizem! Na verdade meu trabalho começou em São Judas, São Paulo. Mas vim para cá outra vez em l980. Mas Taubaté traduz cultura, boas faculdades, bons hospitais, razoável distribuição de renda, boas e grandes indústrias, locação privilegiada entre o mar e a montanha, restaurantes de primeira linha, igrejas que dialogam; não tanto quanto deveriam, mas bastante.

Gosto de chegar na Faculdade Dehoniana e no Convento onde moro e ver, em caminho, a faixa em defesa dos animais, porque animal não é brinquedo, sente fome dor e medo. Gosto de ver os anciãos se exercitando na academia ao ar livre, na praça da velha rodoviária, construída só para eles. Gosto dos nossos museus e das nossas muitas casas de cultura.

Quanto à imaginária Velhinha de Taubaté do Veríssimo, que acredita em todo mundo e até no Governo, eu nunca a encontrei. Também não tive a aventura de ser apresentado à Neide Taubaté do Chico Anísio. Mas passo pela cidade, pelos bairros, vejo as casas simples e pobres, mas bem cuidadas, passo pelas vilas de classe média e vejo que aqui as coisas têm dado certo. Não conheço bairros de milionários. Não vejo luxo em Taubaté. Vejo conforto. É uma boa cidade.

Se é bom viver aqui? Acho que sim! Conheço 55 países, para onde me levou minha missão de anunciar Jesus. Conheço o Brasil de ponta a ponta. Até dizem que já fui um padre famoso, agora que despontam outros famosos por aqui, o Padre Joãozinho e o Padre Fábio de Melo. Ando fora porque ainda não parei a vida missionária, mas, quando volto celebro nas capelas, no meio do povo simples que me pergunta por que não tenho guarda-costas. Respondo que nunca tive. Nunca fui famosos a este ponto! Melhor para mim que não assinei contratos perigosos que me exporiam demais!

Gosto de andar no meio do povo do jeito que ele é e eu do jeito que sou. Converso com a elite pensante que ouve minhas pregações e as comenta. Dou aulas. Vejo os seminaristas e sua fome de conteúdo. A cidade também quer pão e cultura. E parece que os tem.

Se é tudo perfeito? Não é nem será. Mas tudo considerado, a vida aqui é serena. Montanhas à direita, o mar à esquerda, o Paraíba a lhe banhar os limites, a Dutra e a Carvalho Pinto a cruzá-la. Aparecida e Campos do Jordão a quarenta minutos, o mar a oitenta quilômetros. Aqui onde moro, mas moro, aprende-se muito. Acabei de ir ao mercado ouvir o sotaque do Registro. Cunvers, num vorto mai lá qu urtimavei que fui lá o cachor mordeu eu! Se é português caipira? Não. É cultura Taubateana, que Monteiro Lobato soube valorizar, que Mazaroppi transformou em comédia, o Cid Moreira em português castiço e bem pronunciado, o Anacleto em música sertaneja, o Renato Teixeira em canto interiorano elaborado, a Hebe Camargo em conversas de comadres felizes e ligadas ao cotidiano.

Gosto de Taubaté. Há trinta anos querem dar-me o título de cidadão Taubateano, porque sou das montanhas de Minas. Ainda não aceitei. É que sou daqui também e como há milhares de Taubateanos adotivos, penso neles. Primeiro eles, depois eu. Fazem mais por Taubaté do que eu fiz. Um dia quem sabe! Mas, pensando bem, porque diploma e prêmio? Morar aqui e ter aprendido aqui as primeiras letras e primeiras canções já foi meu prêmio.

Onde acham que comecei a gostar de música e de literatura para depois chegar ao mundo inteiro com meus Lps, CDs e DVDs em, shows e livros? Meus cinco irmãos, Dona Wanda, Professor Mário, Dona Anita, Dona Angelina, Dona Maria José Arantes, Padre Teodoro, Padre Fisher, padres Ivo, Humberto, Matias e André têm algo a ver com isso! Não fossem eles, eu não teria aprendido o que aprendi, nem sonhado o que sonhei.

Pensando bem e outra vez, acho que sou um produto de exportação de Taubaté! E aviso que aqui onde moro há muito mais cabeças como a minha, a do Pe. Joãozinho e do Pe. Fábio. Aguardem alguns anos e verão. Conheça nossos cantores e nossas cantoras, nossos professores, nossos universitários, nossas empresas, nosso restaurantes, nossas figureiras, nosso canto e nossa arte. Terá uma idéia de Taubaté que incidentemente, não acha que o Governo é bonzinho e está certo em tudo. Nisso, a velhinha de Taubaté está sozinha!



MÍDIA labirintos e sementes

Dirão que me preocupo demais com a mídia ao escrever sobre ela e suas conseqüências, mas eu leio os documentos da nossa igreja e os das outras e percebo que lidar com a mídia é preocupação da maioria dos religiosos educadores. A mídia pode fazer imenso bem e pode causar imensos desvios. É como faca na mão de criança ou de escultor despreparado. Pode ferir quem brinca com ela. Pode ferir e fere.

Não sou profeta, mas estudo mídia há mais de 40 anos e sei que mais de 500 pessoas famosas morreram, exatamente por causa dela. Entraram nos seus intrincados labirintos, um dos quais é a fama, sem conhecer as saídas nem o caminho de volta e só saíram de lá mortos. Entre eles contabilizam-se também famosos missionários e pregadores. Sem achar a saída, morreram e até mataram. Tudo começou com a mídia e a fama que qual cavalo xucro, desembestou, ou carro sem freio, tomou velocidade e se desgovernou.

É bom lembrar que labirintos às vezes sufocam e matam e que sementes não conhecidas às vezes dão frutos que não se buscava. Conhecer a semente, o cultivo e o solo é fundamental para o semeador. Conhecer as rotas de escape é fundamental para o espeleólogo ou para o alpinista.

Acontece com a mídia moderna que muitos entram nela pela empolgação do momento e da grande chance, ignoram quem a estudou, e, tendo achado uma semente rara, jogam-na ou plantam do seu jeito, sem olhar os detalhes do semeio ou do plantio; acharam a entrada que garantia levar a milhões de ouvidos e olhos e entraram. Foi vôo entusiasmado, mas cego. Todo mundo via, só eles não viam!

Feliz de quem foi até onde podia e voltou atrás. Alguns, infelizmente, não acharam mais a saída. Elvis Presley e Michael Jackson, Marilyn Monroe e o pastor Jim Jones são os mais comentados. Não foi a droga, nem a depressão que os levou. Isso veio depois. Foi a mídia e afama não assimiladas que trouxeram o resto. Feliz do artista, do escritor, do desportista, do cantor, do religioso e da modelo que souberam até onde ir, até onde se deixar levar e quando parar.

Há mídias lentas e mídias velozes demais. Em termos de mídia, a velocidade mata o talento e a alma! Um curso de como lidar com a fama que vem com a mídia seria muito oportuno para quem não percebe que está deslumbrado ou deslumbrada com os holofotes. Artistas mais experientes e religiosos mais vividos tentam aconselhar, mas nem sempre são ouvidos. A chance fala mais alto. É, agora, ou tudo ou nada. Muitos acabam no nada!

Veículo maravilhoso ela pode se encapelar, como oceano em tormenta. Há sempre algum Triângulo das Bermudas em toda mídia. Navegar é preciso, às vezes, fugir é fundamental. Depende de quem foi e até onde foi. Falarei mais sobre o assunto nos próximos temas.



PORQUE SERVIR À IGREJA

Amigos e adversários me perguntaram por que sirvo à Igreja Católica, ontem e hoje tão controvertida. Isso mesmo, e já vai para cinqüenta anos. Respondi que controvérsia existe por toda a parte. Se tivesse escolhido ser político ou servir algum exército vede ou vermelho também a encontraria. Além do mais, nutro a convicção de que sirvo é a Deus e ao meu povo e faço isso na instituição chamada Igreja Católica.

Ao escolher a vida que vivo escolhi o sinal, a provocação, a controvérsia, mas também o diálogo, o estudo, a prece, a convivência e a paz. De alguma forma sou mestre e sou visto como mestre. Se outros quiseram ser mestres em história, sociologia, filosofia, medicina, ciências biológicas e política, eu quis ser um eco de Jesus, portanto: catequista e mestre de espiritualidade, o que não me parece coisa pouca nem pequena.

De homens e mulheres que assumiram crer e ensinar espiritualidade nasceram hospitais, creches, asilos, orfanatos, universidades, grandes obras de filantropia, grandes livros, grandes estudos, grandes descobertas, o processo civilizatório da Europa, da América Latina e de boa parte de outros continentes. Houve erros? Houve. E as ideologias de hoje também não impuseram e não erraram?

Os católicos iam lá anunciar Jesus do jeito deles e lá criavam escolas e cidades. Aconteceu no Brasil onde milhares de obras sociais têm o sinal da cruz nas suas paredes, onde famosas universidades de hoje nasceram de escolas católicas de ontem e onde, primeiro existiu uma capela no lugar em que hoje se erguem pujantes metrópoles.

É a esta Igreja que eu sirvo com todos os limites de uma agremiação de pessoas. Estamos no mundo há seguramente 20 séculos, ou como querem alguns, há dezessete séculos desde que nos chamamos de católicos, o que é mais tempo do que a maioria dos países e continentes de hoje, mais do que a maioria das igrejas e mais do que a maioria dos partidos e instituições de agora. Se duramos tanto tempo é porque soubemos durar e não nos faltou a graça de Deus que, cheio de misericórdia, viu nossos pecadores mas viu também os nossos santos e mártires.

Não tenho porque me achar mais do que os outros por ser católico, mas também não tenho porque pedir desculpas por servir a uma Igreja que modificou a história do mundo. Não devo encurralar ninguém com meus argumentos, mas também não tenho porque deixar me encurralar por este ou aquele autor que nos diminui. Mostro a quem me fala deles e de suas denúncias, centenas de outros que nos respeitam e admiram. Além disso, historiadores são humanos: há os que só destacam o lado bom e os que só acentuam o lado ruim. E há os honestos que mostram o poder, a glória e as derrotas. Fico com estes. Faço o mesmo diante dos pregadores de religião. Suas religiões e igrejas têm méritos e pecados, também a nossa. Respeito-os e espero ser respeitado.

Disse mais aos meus amigos naquela tarde fria de fogo a crepitar na lareira. Não escolhi ser sacerdote e aceitar que me chamem de reverendo e de padre apenas pelas honrarias e medalhas. Eu sabia que seria questionado porque teria que ensinar a doutrina da Igreja que é muito mais do que confeites, pudins e chantilis. Ela mexe com relacionamentos humanos e macro-políticas. Eu teria que anunciar e denunciar. Sabia disso há cinqüenta anos e sei agora. Se aceitei é porque achei que a isso Deus me chamava.

Continuo não me achando melhor do que os outros, mas não silenciei nem escolhi o conforto da palavra que agrada. Abracei um caminho que às vezes fere primeiro o pregador. Sirvo a Deus, assim penso eu, numa Igreja rica de história e de martírios. Os pecados? Sou leitor de História. Sei o que houve com outras religiões, com as esquerdas e direitas e outras ideologias. Não fujo ao debate. Espero que eles também não fujam! Não se descartam vinte séculos com algumas frases feitas. Nem do nosso lado nem do lado deles!

Padre Zezinho, scj

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Artigos - 29 de Março

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O FIM DO CATOLICISMO?

Predizer e desejar a morte da mãe do outro enquanto ele é convidado a aceitar a nossa mãe como sua é desvio de conduta. O mesmo desvio cometem os que, membros de uma igreja de menos de 1 milhão de fiéis, desejam e anunciam o fim de uma igreja com 1 bilhão e duzentos milhões e convidam os fiéis da Igreja que se deseja morta a virem adorar com eles. Equivale a dizer: somos poucos, mas somos os melhores. Depois de Jesus e da sua proposta de fraternidade não há como aceitar semelhantes arroubos.

Corre, pela Internet, uma “profecia” que anuncia para breve o fim do catolicismo romano. Mais uma agressão a nós que, mesmo acreditando em ecumenismo, de vez em quando somos obrigados a ouvir tais rompantes e ainda ver pregadores a chutar com desprezo as nossas imagens e fiéis a quebrá-las em pleno santuário dedicado à memória da mãe do Cristo.

Dirão que alguns católicos também os ofendem, o que infelizmente é verdade e altamente condenável. Mas nada disso justifica o comportamento desses cristãos irados. Nem dos de cá nem dos de lá. A imensa maioria jamais diria ou faria tal coisa. São cristãos sensatos.

A profetiza que anunciou o fim dos católicos foi entusiasticamente aplaudida pelos fiéis presentes. Andou “bombando” na Internet. Na verdade ela apenas repete o que milhares de pregadores antes dela fizeram por razões ideológicas, religiosas ou políticas. Mas o catolicismo não acabou e os corpos dos tais profetas, se ainda existem, estão em algum túmulo esperando a ressurreição na companhia do filósofo Voltaire que também propunha que a “infame” fosse esmagada. Ele também queria o fim do catolicismo. O fim dele veio muito antes e parece que nem mesmo existe uma igreja voltairiana. Sua ira não colou!

Católicos de hoje são proibidos de querer o fim das outras igrejas. Encíclicas como a “Ut Unum Sint” de João Paulo II, deixam claro que agressões e ofensas como as do tempo da reforma e da contra ficaram para trás. Os livros daquele tempo vazavam ódio, tudo em nome da verdade mais verdadeira. É triste e é triste ler. Continua triste ver e ouvir algumas pregações que garantem que nossa Igreja será derrotada. Aos católicos não é permitido falar dessa forma. Sei disso porque leciono Pratica e Crítica de Comunicação nas Igrejas. Católico que falasse do jeito daquela pastora no mínimo será chamado às falas pelo seu bispo. Não é por aí que se evangeliza. Alguém diga isso àquela profetiza. Se queria nos ofender, conseguiu! ( Mt 5,22; 7,2)



O CRISTO QUE DESCE

Entre os cristãos vigora a mística da kênosis. Tem a ver com descida, esvaziamento, descer ao abismo com a vítima para trazê-la à superfície. Não é descer uma corda de lá de cima e puxá-la. É mais. É descer com a corda, amarrar a vítima ao próprio corpo, já que ela não tem forças, nem mesmo para agarrar a salvação. Fazem isso bombeiros, marinheiros e outros salva-vidas.

Para nós, cristãos, o verdadeiro Cristo é aquele que desceu para resgatar o pecador e subiu levando o pecador ao ombro, deixando lá em baixo o pecado que o prendia. O Evangelho de João (3,13) e Paulo magistralmente ensinam isso. Dizia Paulo : Achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. (Fp 2, 8) Em Gálatas 3,13 ele torna a falar dessa descida, a ponto de Jesus aceitar uma situação de maldição para dar sentido às cruzes do cotidiano. Morrer pelos outros nunca é derrota. Matar é que é.

Por isso também entre nós, só pode ser verdadeiro profeta aquele que primeiro desce e depois sobe levando os outros. O que desesperadamente sobe em busca de dinheiro, fama e notoriedade como quis fazer Simão o Mago, dificilmente desce. Pensa demais em si mesmo. Este é o falso apóstolo. O aviso não é para os outros: é para cada um de nós que precisamos saber o que fazer com riquezas, posição e fama, se vierem.

Profeta que mais coleta e acumula do que distribui está trilhando caminho tortuoso. Quem quiser justificar riquezas, tronos, palacetes, recompensas e galardão, vai achar alguns textos. Mas se não ensinar também os textos que falam de pobreza, desprendimento, descidas, renúncias, perdas e cruzes terá deturpado o evangelho.

E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. (Mc 8, 34)

Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. (Mc 10, 45)

Não faz tempo ouvi alguém a pregar que, se Jesus vivesse hoje também teria aviões e helicópteros e moraria em condomínios porque mereceria... Duvido! Tudo nele falava de kênosis. Foi ele quem disse que as raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. (Mt 8, 20) Não tinha porque não arrecadava o suficiente ou não tinha porque não queria?

O mestre que lavou os pés dos discípulos. (Jo13,12), o puro e sem pecado se curvou diante da pecadora que permanecia em pé, desceu até nós para nos elevar. (Jo 8,3-11) Não jogou a corda. Desceu e amarrou-nos a Ele. Registre-se esta forma de ascese!



A BOMBA NO SACRÁRIO

Estive, a convite, na abertura dos 50 anos da martirizada e marcante diocese de Nova Iguaçu. Fiz questão de ir. Cantei cantos de cruz, de dor e de esperança. Não será possível escrever a História da Igreja do Brasil das últimas décadas sem falar das igrejas da Baixada Fluminense: entre elas Volta Redonda e Nova Iguaçu, com destaque para Dom Adriano Hipólito e Dom Waldir Calheiros. Não esquecemos os outros bispos, que também os reverenciam. Mas o destaque é para falar de um momento de martírios.

É uma pena que jovens de agora não saibam do que ali aconteceu. Talvez nem mesmo seus catequistas o sabiam. Mas ali se viveu um dos pedaços cruciais da História do Catolicismo no Brasil. O bispo seqüestrado, deixado nu e amarrado à beira da estrada, o corpo pintado de vermelho, pichações nos muros, o carro do bispo explodido à frente da sede da CNBB, uma bomba que explodiu o altar e o sacrário revelaram o grau de ódio e desprezo que aqueles militantes da ditadura nutriam pela Igreja e pela fé católica. Fizeram o mesmo contra Dom Helder Câmara, Dom Paulo Arns e Dom Pedro Casaldáliga. Foram tempos de ir à rua, marchar em silêncio e em lágrimas numa diocese que nascia e já pagava um alto preço por ter escolhido por a ênfase no social e no resgate dos pobres, em região que hoje cresce e promete, mas que, então era dormitório do Rio de Janeiro e onde os pobres eram cada dia mais encurralados num processo de guetização.

Uma Igreja inteira organizou-se. Concordem ou não com sua pastoral, era uma igreja que seguia os documentos do Vaticano II, do Celam e da CNBB. Nada foi inventado ali. O que houve foi a coragem de por em prática o que estava no papel.

O filme dos 50 anos é uma lição de eclesialidade e de humildade. Não se citam nomes, não se pede vingança, não se busca revanche, apenas se lembra o que houve, as dores, o medo, a coragem e a resistência daqueles dias. Há perdão em cada relato, mas há verdade em cada frase. Bispos e padres, irmãs e leigos pagaram alto preço por quererem uma Igreja que ia ao povo lembrar que democracia é melhor do que ditadura. Estavam tão ocupados em ser igreja que não tinham tempo de ser nem de direita nem de esquerda, mas levaram a pecha de uma guerrilha e um terrorismo que nunca fizeram. Havia, sim, uma igreja de comunidades, uma das experiências pioneiras da nossa Igreja; certamente não a única, mas experiência altamente revelante. Em Nova Iguaçu, como de resto em muitas outras dioceses a pastoral saiu do papel e aconteceu.

E foi lá que explodiram Jesus...literalmente. Foi o jeito ateu de mostrar desprezo por uma Igreja que prezava os mais pobres e queria mais democracia. Cinqüenta anos depois, cheia de perdão ela floresce. Quem fez aquelas barbaridades caiu no esquecimento. De heróis não tinham nada. Oura vez venceu a Igreja que perdoa!


Pe. ZEZINHO scj

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