domingo, 29 de novembro de 2009

Artigos - 28 Novembro

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FOLHETOS E CARTAZES

Se você em intenção de publicar algum folheto ou cartaz, reveja e aceite críticas antes, para não ter que engoli-las depois. Falo de algumas orações distribuídas entre o povo e de algumas frases bonitas, mas imprecisas que, com o tempo, se transformam em verdadeiras heresias. Contabilizei muitas, mas lembro-me de cinco delas.

Um cartaz chamava Nossa Senhora de “Mãe da SSma. Trindade”. Anos depois, vi outro que a chamava de “Filha da Santíssima Trindade”. A ser verdade, ela acabaria sendo mãe do Pai e do Espírito Santo e filha de Jesus Cristo... Quem criou aquelas frases não estudou teologia.

Outro cartaz de Natal dizia: “ Venha orar conosco com aquela por quem Deus se apaixonou”. Verbo perigoso que não diz o que o autor queria ter dito... Entre nós “apaixonar-se” demonstra um sentimento sobre o qual não temos muito controle! Deus teria se descontrolado ante a beleza de Maria?...

E há frases tiradas de canções que são verdadeiras heresias. Quem canta que quer “amar somente a Deus” canta errado e ora errado. Está claro nos evangelhos (Jo 13,34 ) e nas epístolas ( Rm 12,10) que não faz sentido amar somente a Deus. E o próximo, onde fica? Em Mateus Jesus diz que a razão pela qual alguns não ganharão o céu será pela falta de amor ao próximo! ( Mt 25,31-46)

Um folheto de oração distribuído para milhares de fiéis começava a prece “Em nome do Deus Pai, do Deus Filho e do Deus Espírito Santo”... Três pessoas e um só Deus ou três deuses? Seria, os cristãos daquela comunidade ao invés de crentes trinitários, crentes triteistas?

É sempre oportuno buscar correção prévia das nossas publicações. Se mesmo com elas ainda sobram erros, sem elas pode ser catastrófico, como foi o caso da letra da canção a Nossa Senhora Aparecida que, cantada sem o devido acento, já soa estranha. Imagine-se então o que houve quando o rapaz da gráfica tirou a letra de ouvido. Na hora de cantar estava lá, grafada a frase: “ Salve o virgem maculada, ó Senhora Parecida ”. O pároco se descuidou! Não reviu o texto antes da impressão!



O TOTALMENTE OUTRO

Scotus Erigena dizia que Deus é o super ser, o super existente. Afirmava que Deus é mais do que um “ser”. O substantivo “ser” ainda não o exemplifica. Da mesma forma que o ser do homem não pode ser comparado ao ser do animal e o ser do animal não se compara ao ser da pedra, porque está muito acima do ser da pedra, assim, o conceito do ser de Deus está infinitamente acima de qualquer ser.

Por isso, Javé, aquele que é quem é, é um termo filosófico que pretende lembrar que Deus é o único que é. Nós derivamos. Nosso ser é limitado. Viemos depois. O verbo ser no presente: “é” aplica-se com toda a propriedade a Deus: Revela seu infinito. No nosso caso, “é” revela o nosso limite. Somos porque viemos daquele que é. Ele sempre “é”. Nós, um dia começamos a ser. Viemos infinitamente depois. Quando Deus diz “eu sou”, não tem que explicar-se. Quando eu digo “eu sou” tenho que explicar-me. É que não sou exatamente quem digo que sou.

Karl Barth, teólogo evangélico era entusiasta de Santo Anselmo. A teologia de Santo Anselmo de “Credo ut intelligam” é um profundo chamado à fé que supera, mas não despreza a razão. Primeiro, aceito, dou a minha adesão para, passo a passo, tentar entender o colo que aceitei, confiando em Deus.

São Tomé fez o caminho inverso. Primeiro, quis tocar e ver; tentou confirmar para, só depois, aceitar e aderir. Ele vinha da decepção e sua fé precisou do reforço dos sentidos. Para Santo Anselmo e inúmeros teólogos católicos, evangélicos e ortodoxos o crer e aceitar, transcende o tocar, o sentir, o ver e o entender. Deus é provável, mas pode-se prová-lo, sem ter antes degustado. A fé pode vir num repente, embora a compreensão desta fé venha aos poucos. Pode-se discutir o tema à exaustão. Mas a verdade é que a compreensão realmente nos vem aos poucos.



OLHAR PARA MARIA

Olho para as imagens de Maria mas não falo com elas.
Maria não está lá.
Vou ao templo a ela dedicado, mas não falo olhando para a sua imagem.
Maria não está lá.

Tenho imagens dela no meu escritório e no quarto,
mas não falo com suas imagens.
Maria não está lá.

Canto sobre Maria e para Maria, sem olhar para sua imagem.
Maria não está lá.

Em geral, olho a escultura, depois perco os olhos no infinito,
às vezes os fecho e imagino Maria, lá onde ela está,
no colo infinito de Deus, ao lado de seu divino Filho.

Então eu lhe digo coisas. E peço que interceda por mim,
porque, de Jesus e de orar e interceder, Maria entende mais.

Não sou um cristão mariano, sou um cristão Cristocêntrico,
mas exatamente por colocar o Cristo Jesus o tempo todo no centro da minha fé
tornei-me também mariano.

Percebo Maria, porque, quem está perto de Jesus nunca está longe de Maria, assim como quem está perto de Maria nunca está longe de Jesus.

A um amigo de outra religião que me perguntou por que sou cristão falei de Jesus. Sou cristão por causa dele, não por causa dos seus santos. Mas sou-lhe grato pelos santos que ele nos deu.

A outro amigo que me perguntou por que fiz tantas canções para Maria, respondi que nunca ouvi dizer que um filho não gostasse de ver sua mãe elogiada.

Maria não é deusa, mas nunca ninguém neste mundo esteve tão perto de Deus quanto ela. Afinal, o Filho de Deus morou no seu ventre por nove meses e esteve lado a lado com ele por mais de trinta anos. Maria é cristocêntrica. Ela aponta o tempo todo para o centro que é Jesus e este, para a Santíssima Trindade.



PROFECIA DE BASTIDORES

Diga-se, para começo de conversa, que é muito difícil criar e manter uma editora, uma gráfica, uma emissora de TV ou de rádio. Trata-se de uma forma de profecia: criar veículos e possibilitar a divulgação da profecia dos outros. Quem pensa nos colegas pregadores e catequistas ao criar uma mídia está sendo mais profeta do que aqueles que falam diante de câmeras e microfones, da mesma forma que quem cria um hospital, faz mais do que o médico que vai lá e opera. Se alguém criasse uma mídia pensando em si mesmo, e apenas nos seus colegas de comunidade teria feito escolha errada, porque sectária. Cria-se para toda a Igreja e ensina-se ali o que é doutrina de toda a Igreja, não apenas do grupo que mantém aquela mídia. É por isso que nos intitulamos “católicos”: “para todos”!

É trabalho hercúleo manter uma editora, uma gravadora ou qualquer veículo de comunicação. Merece aplauso, elogio e respeito quem teve ou tem a coragem de assumir tamanho empreendimento que possibilita aos católicos tocar adiante a sua mensagem. É pastoral e profecia de bastidores.

Merecem aplausos e respeito, os grupos católicos que há 40, 60 e 70 anos mantêm algum veículo de comunicação. Posso imaginar o quanto de sacrifício e incompreensão custou e custa aquela obra. Se durou tanto tempo é sinal de que seus mantenedores trabalharam duro e souberam trabalhar.

Por isso mesmo, todo elogio possível deve ser feito e toda critica, se necessária, deve ser respeitosa. No lugar deles, provavelmente faríamos pior. Para quem milita há décadas no campo da comunicação, como é o meu caso, e o de muitos companheiros meus, sacerdotes, religiosas e leigos só nos resta ser gratos a estes profetas. Podemos até discordar neste ou naquele ponto, mas trata-se de um altíssimo grau de espiritualidade. Estes irmãos editores, diretores, criadores de faculdades, de espaço e veículo para a catequese católica sabem onde dói a sua profecia. Na hora de pagar as contas no fim do mês, o escritor ou o pregador que solta o verbo e colhe os aplausos não estava lá! Quem as pagou foi o criador de espaços para a comunicação do verbo!

Por um lado é triste ver como alguns comunicadores despreparados brincam narcisísticamente de fazer mídia. Percebe-se que não se preparam. Vão lá se exibir. Descobriram um brinquedinho agradável. Não estudam. Vão com a cara e a coragem mostrar-se diante das câmeras ou falar ao microfone. Não sobra quase nada do que dizem. Por outro lado, é uma alegria ver um cantor e um pregador preparado que, desde o primeiro minuto de conversa, mostra que pediu luzes para aquele momento. Dele ou dela flui conteúdo e sabedoria. Causa alegria imensa ver e ouvir bons comunicadores no rádio e na televisão. O mérito é deles que estudaram e estudam a fé, mas é também dos veículos de comunicação onde trabalham. São duas profecias, das quais retenho que a maior é a do que abriu espaço para a comunicação do outro. Há uma profecia de bastidores que deveria ser mais valorizada do que é. Reflitamos sobre ela!



PRONTO PARA O CÉU

Acompanhei a morte de vários amigos e amigas, anciãos, adultos, jovens, sacerdotes, religiosos, minha mãe e minha irmã. Pude conversar com todos, antes do seu grande momento, direi “do seu gran finale”. Na quase totalidade, percebi que estavam preparados para abrir a cortina da eternidade. Não havia medo neles. Aceitaram submissamente os tratamentos que os médicos ofereciam, mais para amenizar do que para curar. Entenderam que, num determinado momento da vida, que não haveria recuperação. E começaram a entregar-se ao seu Criador.

Eram crianças, adolescentes, jovens, adultos e anciãos, religiosos, homens e mulheres. Cristina, portadora de gravíssima disfunção renal ao saber que não resistiria sugeriu-me o que eu deveria dizer na missa de sepultamento. Escolheu as canções e ditou as palavras que eu deveria dizer à mãe e ao pai, separados. Ela saiu daqui com classe. Entrou no céu como quem já sabia de onde vivera. Foi um dos muitos anjos que vi partir, sem medo.


O último a cuja morte assisti, um dia antes me olhou nos olhos e se despediu. Era sacerdote. Disse que estava indo tranqüilo e que, no céu, oraria muito pela igreja e pelos que ficaram porque, da parte dele, a batalha estava concluída. Só lhe restava, como São Paulo, esperar a coroa, porque havia combatido o bom combate. (2 Tm 4,7 ) Brincamos. Sorriu no meio das dores e disse: -“Achei que seria mais difícil, mas meu corpo se adaptou ao sofrimento. Para mim vai ser uma libertação”. Pedi que falasse de mim lá no céu. Ele garantiu que o faria. –“Acredito na intercessão dos santos”. “Não estou acabando; estou apenas me mudando”,- disse ele.

Conversei com pessoas de outras religiões, no momento do morrer. Dei-lhes a benção final. Eram pessoas de vida santa sobre as quais eu não tinha a menor dúvida que estavam a caminho do céu. Meu conceito do céu mudou muito a partir das mortes que vi às quais assisti. Era a catequese do morrer, concluindo a catequese do viver. Uma das coisas mais bonitas na vida de um médico ou de um sacerdote é assistir a estas mortes serenas. Há um recado em cada uma dessas mortes. “Deus existe e eu estou indo para Ele!” “Isto aqui foi passagem.”

Foi assistindo a essas mortes que eu concluí que há uma só vida, vida que começa aqui e continua depois, mas passa pelo túnel. O túnel porem é iluminado pelas luzes da fé. Nenhuma estrada começa ou termina no túnel, mas toda estrada, se tem que atravessar mares, vales e montanhas, às vezes passa por algum túnel.

O grande túnel, porém é a morte. Precisamos nos conscientizar que isto aqui é passagem. Mais dia, menos dia, vai chegar a nossa vez. E quem não tiver recebido essa catequese, talvez tenha maior dificuldade de se despedir. Quando a gente sabe que está indo e vai estar bem na outra terra, a despedida dói muito menos. Quando não se sabe aonde se vai e porque se vai, dói muito mais uma despedida.



Pe. Zezinho, scj


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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Adeus Aparecida - Música Nova

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Adeus Aparecida

Nova música de Padre Zezinho, disponibilizada essa semana, que fará parte do novo cd mariano que será lançado ainda este ano, por coincidência estive em Aparecida nesse final de semana, aproveitem.







Letra:

Minha Nossa Senhora,
Eu já vim, eu já vou de Aparecida
Já rezei, já chorei,

já falei o que eu penso da minha vida
Já nem sei quantas vezes eu vim

Mas penso em voltar
Há qualquer coisa neste lugar
Que eu venho aqui meditando
E vou pra casa pensando

Por enquanto até mais ó Maria
Rezarei a caminho e lá em casa
Mas voltarei pra sentir
No meio da multidão
O gosto de ser cristão
Intercede ó Senhora querida
A quem chamo mãe Aparecida
E mais de mil nomes tu tens
Estou voltando na paz
Por enquanto Maria até logo, até mais


(Letra e Música: Pe Zezinho, scj)
























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Imagens da minha visita à Aparecida dia 22.

Artigos - 23 de Novembro

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O PESO DE SER EU MESMO

Do livro “ Um Entre Bilhões”

Posso ser pequeno e quase insignificante, mas não sou insignificante. Tenho meu peso. Eu significo, até mesmo quando não pareço pesar. E sou tanto mais significante quando mais aumento minha capacidade de resposta. Todo grão de areia tem seu peso. Eu, que sou um entre bilhões de humanos tenho o meu peso, você tem o seu, cada um de nós tem seu pondus. Por isso quando respondo e pondero, mostro meu peso. Quando uso de minha capacidade de ponderar e respondo começo a fazer a diferença. Deixo de ser número para ser agente de transformação.

Comparado ao peso da Terra, o grão de areia não é muito, mas ele é ponderável, pode ser pesado e junto a outros grãos pode mudar o fiel da balança. Até o Criador, ao nos criar, dotou-nos da capacidade de ponderar, responder, dizer sim ou dizer não. Não flutuamos no existir. Não somos seres etéreos. Temos nosso peso no chão em que pisamos, chão do qual fazemos parte.

Por isso, educar é ensinar a ponderar, a ter consciência do nosso peso, a suportar os nossos pesos, a responder e a corresponder. Família, escola, igrejas que não ensinam a ponderar falham na missão. Quem cria filhos, alunos ou crentes instintivos que deixam para os outros, principalmente para Deus a tarefa de ponderar, cria tiranos, fanáticos ou dependentes. Por isso diz Lucas que Maria ponderava... Elaborava o que via e guardava no coração. Era mulher de peso. Respondeu. Guardou a Palavra e a pôs em prática. Não é sem razão que os católicos acentuam o “sim” de Maria. Jesus a elogiou por isso. Não foi por seus seios e por seu ventre. Foi por sua ponderação e capacidade de responder. Ela sabia do seu peso e do seu lugar na História do Cristo. É o que se lê no Canto de Maria.

Mas Maria guardava todas estas coisas, ponderando-as em seu coração. (Lucas 2,19)

E aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher dentre a multidão, levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste. Mas ele disse: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam. ( Lc 11,27-28)

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. (Mateus 7, 24-25)

Eis aqui a serva do Senhor. Aconteça em mim o que diz a tua mensagem. ( cf Lc 1,38)

Maria é modelo para um católico que se sente um entre bilhões. O canto a ela atribuído, ainda que seja no seu todo muito semelhante ao de Ana de Elcana, mãe de Samuel, o canto mostra como a mãe de Jesus exerceu a auto- estima, sem cair em estima excessiva de si.


46 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,
47 E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador;
48 Porque atentou para a pequenez de sua serva; pois eis que de agora em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada,
49 Porque em mim fez grandes coisas o Poderoso; Seu nome é santo.
50 E a sua misericórdia é de geração em geração Sobre os que o temem.
51 Com o seu braço agiu fortemente; dispersou os soberbos e desmascarou-os mostrando o que eles pensam.
52 Depôs os poderosos dos tronos e elevou os humildes.
53 Encheu de bens os que tinham fome, e despediu os ricos de mãos vazias.
54 Auxiliou a Israel seu servo, Recordando-se da sua misericórdia;
55 Como falou a nossos pais, Para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.
56 E Maria ficou com ela quase três meses, e depois voltou para sua casa. ( Lc 1,46-56)

Maria comunicou-se, entendeu o peso que lhe punham nos ombros e correspondeu!



SOCIEDADE SEM FREIOS


As pessoas escolhem. Também os comerciantes. E não são poucos os que escolhem o erotismo como forma de vender. Como era de se imaginar, notícia de 13 de novembro, menos de quinze dias depois do incidente Geisy Arruda e Band, nos informa que a Du Loren pensa em contratar Geisy para divulgar suas lingeries. Não tivesse havido o incidente da excessiva exposição, será que a contratariam? A projeção por ela conseguida ajudou a moça e prejudicou a faculdade. Venceu o indivíduo, perdeu a comunidade. Por conta do episódio, em nome da liberdade no vestir-se em público, estudantes se desnudaram em Brasília. A questão ganhou contornos políticos.

Estamos em plena era da licenciosidade. O “eu quero, e daí?” trouxe à cena a primazia do indivíduo sobre a comunidade. O que pensa a comunidade vale menos do que o que o sujeito pensa. A comunidade que se lixe e os incomodados que olhem para o outro lado. E quero mostrar nudez e baixaria na televisão, a dona de casa que mude de canal. Se há crianças do outro lado, a família que controle o que elas vêem. Eu, indivíduo, não aceito que me digam o que dizer o que vestir e como conduzir meu corpo em público!

Tem sido assim nas sociedades ocidentais onde o culto ao indivíduo virou ditadura. E o erotismo é um dos fortes componentes dessa imposição de costumes. Está na bancas, na televisão, em programas ditos humorísticos, em piadas que 90% das vezes visam o sexo, nos desfiles de moda íntima, nas praias, nas canções. O sexo tornou-se o tema principal de muitos veículos de comunicação. Quando acham alguém disposta a vender seus produtos porque esta moça teve a coragem de bater de frente com uma instituição de ensino, abrem-lhe espaço. Às faculdade fica reservado apenas e tão somente o ofício de informar. Se ela opinar, será desafiada. Escolas não põem mais formar: devem apenas informar...

Aonde vamos? Na direção do “é proibido proibir”. Isso, até que as mesmas heroínas um dia se tornem mães de crianças e adolescentes e descubram que sem semáforos em casa e na sociedade ninguém avança. Precisamos redescobrir a palavra não! Ela nem sempre é negativa. Lembra-se do dia em que você, ainda criança começou a bater a porta da geladeira e a mãe reagiu irada? Pois é. De estudantes universitários era de se esperar que já tivessem entendido a importância do limite. E nem sempre somos nós a decidir onde eles começam. Faça isso no trânsito e seus amigos em lágrimas saberão no que dá, isso de passar por cima das leis vigentes. Nem todas elas são estúpidas...



INCIVILIZADOS


Civitas (pronúncia: cívitas) e polis (pronúncia: pólis) referem-se à arte de viver em comum. Delas vieram os conceitos de cidadão, cidadania, civismo, civilidade, civilização, política, politicagem. Trata-se a virtude da convivência, de achar o nosso lugar e nossa vez e respeitar o lugar e a vez do outro.

Platão no seu “De Republica”, Livro V, cita como sinal claro de cidadania a descoberta do “meu” e do “não meu”. Quando, pois, na cidade e no país se rouba, se desvia vultosas e polpudas quantias de dinheiro do povo para o bolso do político, do partido e dos seus apaniguados, quando se aplica errado o dinheiro das igrejas e o pregador enriquece visivelmente, quando alguém assalta, rouba e mata para tomar posse do que pertence ao outro, quando nossos parentes e amigos têm mais chance porque estamos no poder, quando damos emprego a familiares e amigos do peito; quando nos colocamos em primeiro lugar como se, por termos dinheiro, fama, ou poder fôssemos mais cidadãos do que os outros... Uma cidade e um país correm perigo, posto o nosso é cada dia mais nosso e o dos outros passa a ser cada dia mais nosso.

É o caso do Brasil de agora que, quase todos os dias instaura mais um inquérito e abre mais uma sindicância para verificar as responsabilidades. No fim o culpado é o clima, são os raios, os pilotos que morreram. Quem tem algum poder escapa ileso: a grande construtora e o grande funcionário. É a clássica versão da culpa do mordomo. Onde há muita corrupção e impunidade há pouca cidadania e onde há brechas demais para quem tem poder há sangramentos demais nas reservas moais de um país. Mina-se a confiança do povo.

Tudo começa no cotidiano. Cidadão que fura fila porque é amigo do amigo do secretário do prefeito; distinta senhora que consegue porque é prima da primeira dama e por quatro anos a família dela será mais cidadã do que as outras... Um jeito aqui, outro jeito ali e, de jeito em jeito, criamos um país sem jeito.

Os fura filas, o lixo nas ruas, os pneus e fogões boiando no rio, o barzinho com o som ao máximo após as 10 da noite, os palavrões e os murros, os gritos na rua em plena madrugada, o carro estacionado em frente à garagem do outro... Quando isso deixa de ser exceção para ser corriqueiro, a democracia corre perigo. Começa na rua e continua no Congresso.




NUS PERANTE MILHÕES


Nuas por alguns milhões. Nuas perante milhões. A linda moça disse que vendeu 1,5 milhões de cópias. Triunfo da beleza. Triunfo do marketing. Exaltação do estético. Quem comprou queria ver ao menos a imagem da mulher que nunca poderá ter perto de si.

A moça que briga pelo direito de mostrar-se mais na praia, na faculdade e na televisão sem ser punida e o casal que teimou em caminhar totalmente nu pela praia desafiaram um costume. Em nosso país o costume é o de caminhar vestidos de maneira adequada, em público e em casa. Um juiz tem o direito de proibir que um casal ande em roupa diante dos filhos e filhas, ou que receba as visitas sem roupas.

Os costumes de um povo impõem limites. Cristãos, judeus e muçulmanos, budistas e hinduístas consideram o corpo sagrado. Expô-lo demais e para qualquer um é ofensa e transgressão. A nudez pode até ser bonita, mas não é decente ostentá-la diante de quem não quer vê-la. Também é questionável a venda do corpo, como se vendê-lo fosse o mesmo que vender um objeto bonito, que não é a pessoa. Acontece que enquanto estivermos vivos somos também nosso corpo.

Por isso, a Igreja impõe limites para a nudez. O mundo parece não aceitá-los mais. Mais cedo ou mais tarde veremos as suas conseqüências. Há mistérios na pessoa humana. O corpo é um deles. Tratá-lo como se fosse um colar, uma faixa ou uma pulseira que se exibe pode ser nefasto.

Perguntada sobre seu passado, o que ela não repetiria se voltasse atrás, uma jovem senhora que duas vezes posara nua para revista masculina disse que aquilo de ter se desnudado em fotos para milhões de pessoas a incomodava. Depois dos vinte e cinco anos, o amor e o casamento lhe trouxeram outra dimensão do corpo e da sexualidade. Os filhos, agora jovens, a compreendem, mas se ele pudesse viver de novo, não mais se desnudaria para olhos desconhecidos. A vaidade, o dinheiro e o marketing a haviam seduzido. O matrimônio e a maternidade a fizeram ver que o corpo humano é sagrado. Não se o descortina a qualquer um.

À outra entrevistada que achou aquilo um retrocesso, disse ela:- Opinião também é sagrada. Eu respeito a sua. Agradeceria se respeitasse a minha!



MEDO DE CORRESPONDER

Do livro “ Um Entre Bilhões”

Se pondus é peso e se ponderar é assumir-nos como pessoas que respondem então sólida é a pessoa que tem como e o que responder e sabe corresponder. Relações de peso são portanto relações sólidas solidárias e conscientes. Responder de direito e de fato é ponderar junto. Supõe reciprocidade. O outro posta, você resposta, pondera e você re-pondera, fala e você reage. A relação é de conteúdo e de peso. Corresponder supõe responsabilidade, ou seja: capacidade de responder pelos nossos atos. É coisa de pessoas em diálogo, às vezes terno, ás vezes, sereno, às vezes, áspero. Ainda assim pode ser diálogo.

Não se faz isto sem alteridade, sem reconhecer o outro com os seus valores, ainda que ele não pense como você pensa. Se quiser dialogar com a árvore, com o cãozinho, com o seu papagaio, vá em frente! Não é diálogo no mesmo nível. Por isso é mais fácil. Eles raramente o desafiam! O cãozinho entortará a cabeça até captar suas ordens. O papagaio falará o que sempre falou. Mas, se dialogar com seres humanos será desafiado pela imprevisibilidade da resposta deles. Como os animais, nem sempre as pessoas respondem como esperávamos, mas quando respondem lançam-nos o desafio da clareza.

Pessoas, às vezes prometem uma coisa e fazem outra, porque nem todo ser humano é confiável. Também as feras domadas não são. Chega o dia em que o leão come o domador... Se você não tiver medo do outro, fale, pergunte, deixe que ele fale e responda e aceite que pessoas nem sempre correspondem. Conte com a possível mentira, o embuste, a ingratidão. Mas confie, porque é melhor confiar e ser enganado do que desconfiar a vida inteira de tudo e de todos. È assim que se constroem a fé, a família, as amizades, os grupos sociais, a cidadania.

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Se tiver medo da fé ou das idéias dos outros, torne-se um fanático a mais e fale o tempo todo. Não deixe o outro falar. Interrompa-o a todo instante e insista que Deus assim o quer porque você é porta-voz dele! Evite que o outro conclua o que está dizendo, amordace-o e não o ouça por nada neste mundo. Fanático que se preza não dá chance para o outro se expressar. Se o faz, não prossegue no assunto. Muda-o com uma pergunta fora de contexto, porque diálogo não é com ele. O fanático religioso ou político não troca nem vende idéias, Impõe a sua.

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Fanáticos adoram pregar e odeiam ouvir as pregações dos outros. Fazem inimigos com a maior facilidade. Basta que um irmão discorde para excluí-lo do seu círculo. Não hesitam em jogar seus discípulos contra quem aponta neles algum desvio. Fanáticos são tudo, menos generosos para com quem pensa ou crê diferente deles.

Se você é um misógino, desses que vêm cheios de novas idéias, mas temem as novas idéias do outros; se tem medo de ouvir ou ler os outros, comporte-se como quem já viu, já foi revelado e já sabe tudo. Morra de medo da opinião dos outros e continue embrião, botão, lagarta, crisálida. Seu mundo será sempre pequeno, redoma feliz onde não cabe ninguém que pense, ore, cante, fale ou cuspa diferente de você. Mas se for honesto, não diga que foi Deus quem o fez essa pessoa fechada e ditatorial que gosta de falar, mas não gosta de ouvir os outros.
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O certo é que seu pequeno mundo-redoma terá o tamanho do seu pequeno cérebro. Será como aquele astrônomo que nunca aceitou os modernos telescópios nem as novas lentes dos seus colegas. Descobriu, num congresso do qual não foi possível fugir, que estava cinqüenta anos atrasado. Parara de ler os outros e de ver as novidades no campo da física e da astronomia. Via tudo, mas não soube ver o novo chegar...

Pe. Zezinho, scj



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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Artigos - 19 de Novembro

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A MÚSICA QUE UNE E QUE SEPARA
Pe. Zezinho, scj

Musica é como rosa. Bonita, mas tem espinhos. Pode encantar e pode ferir. Mas o mundo a usa desde tempos imemoriais. De sons desarticulados, mas diferenciados, acabou em harmonia, som após som, justaposição de notas e virou mensagem pensada. Salmistas, sacerdotes e reis sabiam do poder da canção. Davi tocava harpa e, mais tarde, como rei achou lugar de destaque para a música no seu governo. Tanto, que chegava a escalar pessoalmente os cantores do templo, tamanha a importância que dava aos que viviam da música. (1 Cro 933 ; 15,27) Afirma-se que Nero a usava. Os detratores acrescentam: muito mal! Hitler a usou abertamente para o mal. As cortes e os exércitos a usavam e usam. Bandas, orquestras, quartetos, corais, concertos, canto litúrgico, tudo é para divulgar, organizar, motivar e chamar. A música pode ferir, ensurdecer e desestruturar. Pode harmonizar, aclamar e até contribuir para a cura. A músico-terapia é experiência mais séria do que se imagina ou se admite.

Usam da canção as religiões; investem pesadamente nela os católicos, os evangélicos, os mais diversos credos religiosos. Algumas igrejas pentecostais gastam hoje milhões de dólares ou reais na preparação dos seus cantores. Monges, autoridades e povo cantam desde tempos imemoriais. Entre os católicos a música forjou toda uma geração de religiosos. Levantavam e ainda levantam-se de madrugada e vão dormir ao som de louvores cantados. Cantores tocam, cantam e dançam nas salas de concerto, nos templos, nas ruas. Música bem tocada chama o povo. Abre espaço para a mensagem que vem depois. E há uma canção mais agressiva que às vezes vem acompanhada de tóxicos; quem pensou em rock pensou errado. Há muita música que se executa regada de bebida e de tóxicos porque cria e serve a determinado ambientes, no mínimo suspeitos.

Cantam os da Teologia da Libertação, os da Renovação Carismática, os marianos, os arautos do Evangelho, os monges do Tibet, os Católicos, os Pentecostais, os conservadores, os progressistas, os moderados, os ecumênicos, os proselitistas. Sua música traduz o seu modo de ver a terra e o céu. Entra lá a canção que afina com seu projeto. Só ela! Raramente cantam o canto do outro. Nem sequer expõem nas suas lojas as canções do outro do outro movimento ou da outra igreja. Ciumentamente divulgam apenas os seus cantores. É que dentro da canção vai a fé ou a ideologia. Precisam dela porque além de evangelizar canção pode dar lucro! Cantam os seus e esperam que o outro os ouça. Eles preferem não ouvir quem não ora como eles.

A música une ou separa. Chama para o amor e para a guerra. Para o bem e para o mal. Feita por vozes e instrumentos, ela é também instrumento e porta-voz, de Hitler, Stalin ou de uma simples e humilde escola para cegos. Feliz é quem a usa de maneira ética! Feliz de quem não se deixa dominar ou enganar por ela! Instrumento de diálogo, não deveria cair nas mãos nem dos violentos, nem de pessoas incapazes de dialogar. Não pode ser transformada em arma, nem veículo de mentira ou de fanatismo. É divina demais para isso!


O LIVRO E O TECLADO
Pe. Zezinho, scj


Dias atrás, dizia-me um professor, afirmação confirmada por pelo menos quinze professores de outras matérias que seus alunos são rápidos de acesso e ruins de pesquisa. Vale dizer: correm para a WEB quando precisam de alguma informação, mas perderam a capacidade de manusear livros, folhear, anotar e saber o nome dos pensadores do seu tempo. Vem tudo resumido, reescrito, recortado e parcelado. O livro é inteiro, mas o verbete que buscam vem ruminado e parcelado. Parecem a dona de casa que nunca comprou um queijo, ou um pernil inteiro. Só os conhece em fatias.

Perguntei, esses dias, a acadêmicos em fim de curso os nomes de cinco filósofos e cinco teólogos modernos. Tiveram dificuldade de lembrar, embora soubessem. Admitiram que falta familiaridade com os pensadores do seu tempo. Não ficaram íntimos com os seus livros. A Internet não tem o mesmo fascínio de um livro à cabeceira ou no banco ao lado.

Existe hoje uma “geração www”. Não procuram, não manuseiam, nem pesquisam. Digitam e a Internet vomita a informação, mas vomita em fatias. Quem aposenta um livro corre o risco de perder parte significativa do mundo da cultura. Nas duas meadas, acha um fio e perde o outro.

O que dizer sobre o uso da Internet e o manuseio dos livros? Que um não deveria dispensar o outro. Há temas que não se encontra em livros e há conteúdos que não se acha na Internet. Cabe aos professores motivar o aluno a freqüentar bibliotecas tanto quanto as lan-houses ou os cafés digitais, tenham estas casas o nome que tenham. Ensine-se aos jovens que a cultura do teclado não pode substituir a do manuseio das páginas. Há que se ter familiaridade com os dois, porque nem acabou nem acabará a era do livro, venha ele como vier no futuro e pelo visto a Internet veio para ficar.

Perde, e muito, o aluno que apenas se guia pela Internet, ainda que sonora e bem mais sofisticada. Num mundo digitalizado vale lembrar que o mesmo dedo que digita é o que ainda segura a caneta, manuseia o livro impresso e a revista de banca. Cabe aos pais e professores mostrar ao aluno a importância de saber quando desligar o computador para se ligar num livro.


AMAR SOMENTE A DEUS
Pe Zezinho scj

Bonita e agradável de ouvir, há uma canção executada nas missas, que exclama: “Quero amar somente a ti” . Num exercício de súplica, pede graça de santidade e de conversão a Deus. Se o autor tivesse consultado um teólogo, um bispo, um catequista, teria sido aconselhado a mudar a letra. Motivo: a canção esconde uma insuficiência teológica. Está claro como a luz do dia nos evangelhos que um cristão não pode querer amar “somente” a Deus. É doutrina central do catecismo o amor a Deus e ao próximo. Afirmar amor somente a Deus não é erro pequeno. Jesus resume tudo nestes dois quesitos. Mateus 7,15,23; Mt 25,31-46; Mt 19, 19 ; 22,39; 25,4-45 e centenas de passagens nos evangelhos e nas epístolas deixam claro que não se pode nem se deve amar somente a Deus. Não viemos a este mundo para viver “apenas” para Deus. O próximo existe e precisa ser amado. Foi o que Francisco pediu na sua belíssima e famosa oração: esta, sim teológica e profunda. “Só em Deus encontramos refúgio”, diz o salmista. Mas não se chega a tal refúgio sem o amor ao próximo, diz Jesus.

Orar todos os dias para amar somente a Deus é orar errado, até porque não é graça que se peça. Oramos como cristãos para que o Reino de Deus venha a este mundo, mas isto só acontecerá se amarmos este mundo que Deus tanto amou a ponto de entregar seu filho a nós. (Jo13, 16) Um dos maiores tesouros da fé cristã é essa o propósito de amar a Deus acima de tudo, mas não somente a Ele: ao próximo como a nós mesmos.

Quando uma canção ou uma pregação atinge milhões de pessoas cabe ao compositor revê-la, se vem com eventual desvio ou acentua apenas uma parte da doutrina. O fiel, que nem sempre lê, não estuda e não freqüenta cursos de teologia ou de catequese pode captar a idéia errada. Pensará que é possível amar somente a Deus. E essa é uma graça que Deus não concede, nem quer nos dar. Quando seus paroquianos cantam que querem amar somente a Deus o pároco terá que explicar a eles que isso não é possível.

Não há autores perfeitos. Um bispo me pediu que revisse um Veni Creator que traduzi. Estou tentando reconstruir o texto sem imprecisões. Assim que puder, reeditarei a canção, agora corrigida. Catequistas erram, corrigem-se e reeditam.



CRISTO AOS PEDAÇOS

Pe.Zezinho, scj

Não querem Jesus, querem a parte suave de Jesus.
Não querem o Cristo, querem a parte agradável do Cristo.
Não querem a cruz, querem a parte menos dolorosa da cruz.
Não querem o manto, querem a parte mais bonita daquele manto.
Não querem a Bíblia, querem parte dela: a que prova que estão certos.
Assim agem muitos cristãos. Assim talvez nós ajamos.

Alguns cristãos continuam querendo o melhor lado do trono,
o primeiro lugar, lugar de vencedor,
o melhor lugar à mesa do Senhor,
o lugar mais visível do púlpito e do altar,
o melhor som e os melhores holofotes,
a melhor divulgação mesmo que o seu produto não seja lá tão eclesial
alguma badalada a mais do sino que toca para a sua chegada
uns segundos a mais de aplausos,
ou algum balanço a mais do turíbulo.
O perigo ronda a todos nós que lidamos com a mídia e com a multidão.

E há quem, como Simão o Mago, (At 8,9-24)
faz qualquer coisa para ser chamado de apóstolo ou de profeta.
Paga o seu caminho pela mídia, sabendo que, se não o fizer, ninguém o chamará.
Então ele se chama e se projeta.

Se não tomarmos cuidado, aparecer em nome da religião poderá tornar-se,
sem que nos demos conta, obsessão e doença:
acabamos comendo, bebendo e dormindo publicidade em nome da fé.
E pensamos que é virtude. Pode parecer zelo, mas não é.

Há um ponto em que o anúncio da fé,
que até então era coisa de missionário desapegado,
transforma-se em coisa de fanático ou em alta fonte de lucro.
Depende do conteúdo, da obsessão e da ênfase que dá ao que anuncia.
É tentação corrente em todas as igrejas.
Ate que ponto se pode cobrar pela Palavra?
Pode o empresário cobrar duas vezes mais do que o pregador?
Até que ponto se pode arrecadar e quanto a arrecadação é demais?

Quando o pregador começa a falar sempre na primeira pessoa
e deixa claro que não ouvirá a ninguém mais senão a Deus,
estamos diante não de um santo, mas de um obcecado.
Não consegue mais anunciar o Cristo sem, primeiro, se anunciar longamente.
Quando gosta muito de falar de si mesmo, de contar suas histórias pessoais
e de dizer que Jesus lhe disse ou está lhe dizendo alguma coisa
convém que os amigos o alertem, se é que ele ainda ouve algum amigo.

Serve para mim, para os outros, serve para nós que subimos ao púlpito.
Se insistirmos em ficar apenas com a parte que nos interessa,
nossa Bíblia encolherá, porque o cérebro já de há muito que encolheu!.

Enquanto não entendermos que aquele livro também fala contra nós
não o teremos entendido.
Jesus deixa claro que cobrará mais de quem diz que sabe mais sobre Ele!
(Mc 12,40) (Mt 24,24-26) Não merecem confiança.
Disse que não reconhecerá quem na terra contou vantagem e fingiu ser seu confidente e quem serviu-se do seu nome ao invés de servir o seu nome. (MT 24,5) (Mt 7,15-23)

Procura-se urgentemente uma ascese e uma sólida teologia da comunicação! Deveria ser matéria obrigatória em todos os seminários e cursos de catequese!


EU PRECISO DOS TEÓLOGOS

Pe. Zezinho, scj

Aquele senhor que, entusiasmado, disse num programa religioso de madrugada que não precisava dos livros de teólogos porque já tinha a Bíblia, disse um disparate. Nas entrelinhas disse que não precisa nem dos catecismos, nem das encíclicas, nem dos documentos, nem de catequistas, nem do papa nem dos bispos. Desprezou os pensadores e os catequistas, dando a entender que Deus lhe diz tudo quando ele lê a Bíblia. Sua frase caiu tola e contundente pelas antenas. É como se dissesse: não creio na catequese da Igreja. Praticou o pior tipo de fundamentalismo. É Deus e ele e ninguém mais.

Eu preciso da Bíblia dos mestres que a interpretam. Nenhuma sabedoria nasce da leitura, mas poucos se tornam sábios sem os livros.


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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Artigos - 16 de Novembro

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VERDADES SOBRE A MÚSICA CATÓLICA


Após 45 anos de composição e de canção católica, creio ter algo a dizer aos que afirmam ter recebido alguma influência da minha parte. Aos outros, eu não saberia o que dizer. Deverão consultar seus mestres. Para quem pede que eu me pronuncie, eis algumas reflexões.

*A música católica tem séculos de existência. *Grandes músicos católicos fizeram história. *A Igreja aprendeu música com outras religiões; também a ensinou. *A boa música aproximou irmãos das mais diversas igrejas. *Alguns católicos e evangélicos preconceituosos proibiram seus discípulos de cantar músicas de outras igrejas, mesmo quando o texto em nada contrariava a doutrina da sua Igreja. *Há excelentes compositores e intérpretes católicos no Brasil. As letras e a melodias estão aí para confirmar esta verdade. *A música católica tem melhorado sensivelmente nas últimas décadas. *Duas vertentes marcam a música dos católicos: a vertente do louvor e a vertente da solidariedade.

Eis aí algumas das muitas verdades sobre a canção católica. Mas há outras verdades menos agradáveis de se lembrar. E convém que as encaremos.

*Há sectarismo por parte de alguns grupos e algumas mídias. Não vendem nem executam canções de ouros grupos e outras igrejas. Precisam vender o que produzem e acabam impondo as suas canções, porque possuem maior poder de mídia. *Nem sempre as composições cantadas na missa respeitam as normas litúrgicas. *Há textos cantados nas missas e editados por gravadoras católicas que ferem a ortodoxia e a catequese. *Muitos autores nunca leram o Catecismo da Igreja Católica (CIC), por isso alguns textos chegam a ser heréticos. *Muitos cantores e compositores desconhecem as encíclicas sociais e os documentos sobre a liturgia, por isso suas canções não respeitam as normas oficiais. *Há emissoras católicas que não tocam senão canções de um grupo. Ignoram as dos outros. *Instalou-se em alguns grupos um forte preconceito contra as canções de outras vertentes. Não tocam, não aprendem, não cantam junto e, quando podem, impõem na paróquia as canções do seu movimento. *Não há espaço para outros iluminados. *Há um tipo de sectarismo que impede músicos de cantarem juntos, um a canção do outro.

Recentemente, uma jovem propunha, na televisão, que católicos não cantassem canções de outras igrejas. Para começo de conversa, teríamos que parar de cantar Haendel e Bach e os evangélicos deveriam proibir Palestrina e Vivaldi que eram sacerdotes católicos.

Mesmo sendo alertadas, algumas comunidades insistem em cantar e tocar canções de sentido dúbio para a fé. Por exemplo, a conhecida frase de uma canção executada nas missas: “Quero amar somente a Ti” nega o essencial do cristianismo e o texto de Mc 12,28-32. Deus não quer que amemos somente a Ele. A mencionada canção vai contra a fé cristã. Mas é cantada em cultos e missas. Assim são inúmeras outras. Os corais e grupos nem sempre são felizes nas escolhas das canções. Não olham o texto. Olham mais a melodia.

Há muito que se elogiar e muito a ser corrigido. Um debate sincero e honesto em todas as comunidades e grupos de cantores ajudaria, em muito, a fé católica. Como está, deixa muito a desejar. Este diálogo deve ser feito sob direção de bispos e sacerdotes serenos que reúnam cantores de todas as linhas e tendências. Faz falta na Igreja. Toda a vez que um grupo se torna hegemônico, a Igreja fica mais pobre. A meu ver, está havendo mais fechamento do que abertura. É por ela que me pronuncio. Quem tem mais poder de mídia está impondo sua canção. Não é cristão, não é católico e não é santo.



CANTAR SEM RECEBER APLAUSOS


Quando canto, pedindo ao rico que dê mais e reparta; ao fanático, que respeite a fé do outro; ao dono do poder, que o partilhe; quando peço diálogo entre as igrejas, quando canto contra o aborto, ou em favor dos oprimidos, meu canto começa a incomodar. Aí já não encontro tantos patrocinadores, nem tanta gente que deseje me ouvir. E então? Cedo para vender e ser tocado? Mudo meu canto para poder ser convidado e ter os estádios cheios, ou sigo minha consciência? Quem me ouve há décadas já sabe que caminho foi o meu. Quero ser popular, mas não às custas de minhas convicções.



Há uma canção que dói, quando o cantor pede qualidade. Se o som não está bom será difícil dar o show que esperavam. Somos, então, mal vistos e mal falados, porque “exigimos” de um lugar pobre um bom som. Acham que cobramos caro e queremos demais. Pedimos água no palco para podermos cantar direito por três horas, pedimos um sanduíche ou frutas porque chegar de viagem e cantar com fome é impossível. Pedimos um banheiro, porque sair do palco, atravessar no meio do povo para ir ao banheiro lá no outro lado, às vezes fica impossível. O povo quer falar e segura a gente. Há organizadores que entendem isso como ofensa.



Já houve cantores que literalmente molharam as calças porque o povo não os deixava ir ao banheiro. Chega uma hora em que o som não sai e o corpo tem fome. Acresçamos a isso, viagens de oito ou dez horas de avião, mais cinco de carro. Poderíamos não ir, mas, então, aquele povo não teria o que deseja: ouvir ao vivo quem chegou a eles em disco. Pobre tem o direito à nossa presença. Para o pároco, nossa presença pode ser impulso para muitos meses de pregação. Se o conteúdo do show for denso, ele tirará proveito disso.



Por isso, vale a pena ir cantar. Fácil não é, mas também não é fácil ser bispo ou ser pároco. Cada qual com seus méritos e com suas cruzes. Cantores da fé também às têm. Critiquem-nos se formos exigentes demais. Mas aceitem o fato de que para cantar há que haver o mínimo necessário.




ACABOU A NOVIDADE


Isto mesmo! Acabou a novidade. Estão quase todos usando os mesmos vocábulos, as mesmas expressões, o mesmo jeito de cantar e introduzir a canção, as mesmas palavras de ordem para levar ao silêncio e à entrega, os mesmos pedidos de braços balançando, as mesmas mãos no peito, os mesmos “entregue-se a Jesus”... É tudo igual, repetitivo e previsível e as musicas quase sempre dizem as mesmas coisas, uma após outra. São shows monotemáticos.

É bom acentuar uma ênfase, mas há que haver renovação do seu conteúdo. Se querem louvar, porque gostam de louvar e esta é a sua vocação, que o façam! É maravilhoso, mas achem outras palavras, outras canções e outras expressões, porque até o salmista se dava conta disso quando mandava os cantores cantarem ao Senhor um canto novo e diferente e que tocassem com maestria. ( Sl 33,3; 40.3;96,1; 144,9)


O PERIGO DA MESMICE


A mesmice é inimiga da pastoral e da mensagem. Ninguém em sã consciência pode ser contra o louvor, mas pode questionar a maneira como ele é transmitido. Diga-se o mesmo de outras mensagens. Se o povo está indo menos, chamando menos e achando que, se for, vai ver a ouvir a mesma coisa, se há comunidades de pregadores que mal conseguem se manter, porque não são mais chamadas para pregar ou cantar sua fé, cabe aos cantores renovar a linguagem falada, cantada e coreografada para que as pessoas percebem ali um canto novo e diferente.

Se querem ressaltar as encíclicas sociais, a vida familiar, a fome do povo, e a resposta da Igreja, se querem cantar cantos de justiça e paz que o façam! Mas atualizem, o tempo todo, sua linguagem. Se querem louvar porque louvar é o seu chamado, atualizem sua expressões e linguagens. A Bíblia diz que devemos louvar, mas não manda só louvar nem louvar todos do mesmo jeito. E ainda acrescenta que se cante um cano novo. (Sl 98,1; 149,1) E pede que se toque direito e com alegria. (Sl 33,3).


Pe. Zezinho, scj


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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Atigos - 11 de Novembro

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DE VOLTA ÀS CATACUMBAS


Não podendo exercer em público sua fé, os primeiros cristãos, por largos períodos recorreram aos cemitérios daquele tempo. Iam orar perto dos mortos em catacumbas, até hoje preservadas. Os imperadores baniram a nova fé em defesa dos seus deuses.

Uma decisão da corte européia na primeira semana de novembro de 2009 baniu os símbolos religiosos entre eles o crucifixo, das salas de aula. Por trás da decisão está a laicização e a radicalização de algumas sociedades ditas modernas. Baseadas nos direitos de todos proíbem símbolos de apenas uma religião em lugares públicos. Ou se permite todos ou não se permite nenhum, mesmo que aquele país seja, na sua imensa maioria cristão. É evidente que os países muçulmanos não farão o mesmo. Então, é atitude de países que já foram cristãos e agora não lutam mais pelo seu direito de ostentar sua fé em público. Os muçulmanos não estão nem aí nos países onde são maioria. Lutam pelo seu direito.

Levada a sério, amanhã serão banidas as Bíblias nas lojas, os monumentos à Bíblia, os crucifixos, as vestes das freiras católicas e das muçulmanas, véus e chadores, porque são símbolos públicos de uma fé. E quem ostentar crucifixos no peito poderá estar sujeito à multa. Levado ainda a extremos, só se permitirá símbolos religiosos dentro dos templos e dos lares. Nem mesmo na fachada dos edifícios, dos templos e nas torres será permitido ostentar sinais. Quem os quiser terá que entrar no templo. Nomes nas fachadas, então nem se fala! Não se permitia nos estádios, nos tribunais e em qualquer lugar público que alguém faça propaganda de sua fé.

Se a moda iconoclasta pegar, a religião terá sido levada de volta às catacumbas. Os não religiosos terão vencido, mesmo sendo eles a minoria que sempre serão. Da intolerância dos religiosos de ontem passamos à intolerância dos não religiosos de hoje. Não querem ter que ver os sinais dos outros. Mas os outros terão que ver os seus sinais, posto que algumas imagens pagãs classificadas como esculturas registram cenas de ateísmo ou se paganismo. Estas também teriam que ser banidas das universidades, das praças e dos frontispícios. E de quebra teriam também que ser retirados das escolas desenhos, estátuas, gravuras ou pinturas que façam propaganda do ateísmo. Inclusive os símbolos da maçonaria e da rosa-cruz. A Venus de Milo, as estátuas de Hércules, as de alguma deusa da antiguidade teriam também que ser banidas. Afinal, lembram outra fé. Se um não pode, também o outro não deve. De radicalização em radicalização teremos quebras de crucifixos, de estátuas, de monumentos, de pinturas e esculturas que lembram qualquer religião de ontem ou de hoje.

Já prevejo o quadro: virão os jurisconsultos a dizer: “isto pode, isto não pode!” E de “pode-não-pode” acabaremos onde estamos: o cidadão que paga imposto, tem o direito de exibir em público os seus símbolos. A minoria também terá direito de trazer o seu, As escolas e tribunais terão, então cada qual um panteón onde caberão todos os símbolos e todos ficarão felizes. Maioria e minoria. Tudo democraticamente muito legal! Mas assim mesmo, eles terão vencido. Países de maioria católica poderão levar cruzes no peito, evangélicos poderão ter seus sinais, mas terão que aceitar os símbolos de três alunos muçulmanos e dois budistas. As meninas muçulmanas poderão usar suas vestes, mas terão que se abster de pregar a sua fé e orar do jeito delas nas escolas.

Quem viver verá aonde nos levará a nova iconoclastia. Ah! Ficarão também proibidas imagens de ursos, águias, foices e martelos, cruzes nazistas e outros sinais que possam significar uma volta a tais doutrinas. E os casais não poderão usar alianças, porque talvez digam alguma coisa em público!... É, pois é! Há direitos que parecem Direito, mas já nascem tortos. Discriminam e incriminam!


COMO SER FELIZ POR 20 REAIS


A livraria estava repleta de livros de auto-ajuda. Contei 48 títulos, todos trazendo a solução mágica para negócios, amores, relacionamentos, fé, saúde, sorte e loterias.

Quase todos traziam o pomposo título: “Como fazer”, “Como chegar”, “Como conseguir”, “Como alcançar”. Mundo mágico e tudo ao alcance do leitor por R$ 20 ou R$ 30.

Tomei nas mãos um deles, cujo título sugeria uma vida para sempre feliz. Prefiro não declinar o título. Custava apenas R$ 20. Comprei, não porque o precisasse, mas por curiosidade. Alguém estava garantindo felicidade eterna por 20,00.

Li, pacientemente, até o fim. Cento e vinte páginas. O autor citava a Bíblia, o Alcorão, o RigVeda e os principais livros sagrados. Também os principais filósofos. Pelo número de citações bastante acuradas, o livro valeu o seu preço. Fiquei sabendo dos vários caminhos de felicidade propostos pelas mais diversas religiões, filosofias e culturas.

O livro não enganava. O autor, honestamente, apresentava aqueles caminhos como alternativas e em nenhum momento garantiu que a leitura do livro faria alguém feliz. Então, saltou-me a pergunta: se dentro do livro ele deixou claro que não queria enganar ninguém e apenas mostrava propostas de como ser feliz, por que na capa aquele título enganoso que garantia felicidade para sempre?

Caímos no marketing e nas suas falácias. Nem sempre o que está na vitrina é o que depois é vendido no balcão; nem sempre o que está na capa é o que está no livro. Nem sempre encontramos as ofertas a preços baixíssimos, porque, assim que chegamos, dizem que já foram vendidas. Mas, como fizemos uma visita – e era isso o que queriam – talvez compremos outra coisa. Nem sempre a moça de sorriso maravilhoso é quem tem as melhores maçãs para vender. Às vezes as aparências enganam e o marketing também.

Aquele livro valeu pelo miolo, mas a casca mentia. As editoras fazem conosco o que a mãe faz com a criança que não gosta de se alimentar: inventa um aviãozinho!

Aqui e acolá alguns livros são realmente bons, embora o título seja mentiroso, mas há os outros de título maravilhoso e miolo intragável.

Escrever anda fácil; ler é que está cada dia mais difícil!


CATÓLICOS NA CIDADE GRANDE


As milhões de vidas que aqui partilham o mesmo espaço, dividem os mesmos sonhos e sofrem as mesmas pressões, buscam auxílio umas nas outras e a grande maioria o busca em Deus.



Motivados por seus líderes e pregadores, milhões de corações que aqui labutam e aqui habitam, vivem as suas convicções debaixo de mansardas e porões, em favelas e em coberturas de altíssimos prédios. Alguns são riquíssimos, outros ricos, outros remediados, outros paupérrimos e cada um se refere a Deus do seu jeito, quase sempre de maneira utilitária: “meu Deus”.



Seguem uma religião que lhes serve. Por isso também não hesitam em mudar de religião, se a mudança lhes parecer solução melhor. Não é questão de convicção; é questão de utilidade. Um grande número vai para quem grita mais, dá mais e promete mais.



No meio dessa algaravia de vozes e desse pulular de púlpitos e altares estamos nós, católicos, que já fomos maioria e de certa maneira ainda o somos. Mas somos todos os dias desafiados por outras vozes, outros púlpitos e outros altares.



Precisamos ter a humildade de admitir que não temos todas as respostas, como eles também não têm, embora às vezes gritem em alta voz que a possuem. As grandes tentações de alguns religiosos são achar que a sua igreja responde a todos os problemas e de se colocarem como os únicos capazes de oferecer solução para o coração humano.



A felicidade nesta cidade está oculta e é preciso garimpá-la. Não vem de graça, não vem fácil e não está em todos os púlpitos e altares. Requisito número um de convivência numa cidade gigantesca como a nossa é gostar de gente, compreender que os problemas que afligem os outros também nos afligem.



Sem ter cabeça e coração de bom samaritano, crente algum poderá se proclamar seguidor de Jesus Cristo. Vale para nós católicos e para os outros que seguem Jesus. Então, o jeito é dialogar.



Os católicos na cidade grande são chamados a dialogar até à exaustão, inclusive com quem nos combate, nos condena e tenta calar a nossa voz. Esses podem se dar esse luxo, nós não.



“Cat holou” significa “para todos”. Sem abertura não há catolicismo. Sem abertura para a cidade grande não há testemunho. Precisa-se de católicos abertos numa cidade aberta, católicos que vão para o alto e para o lado, numa cidade que vai para cima e para o lado, católicos que aprendem e ensinam a viver numa cidade que vive de aprender e ensinar a viver.



É impossível morar numa cidade gigantesca como São Paulo e não sentir-se pequeno, mas é exatamente esse o começo de toda boa Igreja. A pequenez é uma das maiores virtudes de um grande ser humano. Miremo-nos no exemplo da mãe de Jesus. Sabia que a enalteceriam, mas proclamou-se a serva do Senhor. Nunca esqueceu que era pequena. Serve de modelo a nós que nos sentimos pequenos diante da cidade grande. Não há mal nenhum em ser pequeno. O problema é um pequeno proclamar-se maior do que realmente é.


Pe. Zezinho, scj



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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Artigos - 09 de Novembro

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A UNIVERSIDADE E O MICRO-VESTIDO


Como não poderia deixar de ser, sobrou para os católicos o conflito começado pela jovem Geisy Arruda, 20 anos, com a sua Universidade. Não sei como a London, a Upckins e a Berkeley tratariam do caso, mas sei que o problema era com ela e a comunidade Uniban de Santo André. Estudei nos Estados Unidos e sei que lá as universidades reagem a provocações de cunho social ou moral. Quebra de decoro vai contra os estatutos. Quem estuda lá tem um compromisso. A Universidade que suspendeu seis a oito alunos por causa do tumulto, expulsou-a. Entende que ela causou conscientemente aquela reação. Os alunos se dividiram entre apoiadores e apupadores.

Mas alguns provedores na Internet, entre eles o Google News, deram um jeito de falar do país da tanga e da quase nudez nas praias e da nossa maioria católica. De repente, sobrou para nós católicos, como se nos países evangélico sou pentecostais tais comportamentos fossem tolerados. Mesmo que Geisy fosse de comunhão diária, os católicos não têm absolutamente culpa alguma no que aconteceu naquele recinto sagrado de cultura e de conhecimento. A Igreja Católica não é a favor da expulsão de uma estudante que errou ao trazer à cena de maneira negativa numa instituição digna de crédito, mas também não é a favor de Geisy Arruda, que admite ter errado ao passar dos limites daquela casa.

Já que fomos citados, opinemos sobre o que houve naquela universidade e o que pensam os católicos. Não é preciso nem que os bispos, nem o Papa se pronunciem. Qualquer católico que foi ordenado para ensinar a doutrina sabe a resposta. Micro-vestidos mais as formas da mulher. Sabemos o que isso causaria numa comunidade muçulmana. Sabemos dos limites até nas mais tolerantes instituições do Ocidente. A depender do local e do ambiente, a mulher que quase se despe, exceto nas passarelas, sabe muito bem o que causa. Temos uma cultura cristã e muitas igrejas, não apenas a católica, desaprovam a excessiva exposição do corpo humano de ambos, homem e mulher. Um homem que desfilasse de calças excessivamente reveladoras receberia a mesma desaprovação.

Talvez devamos, todas as igrejas, desenvolver uma catequese do corpo e do seu uso. Ela anda esquecida. Vende-se e expõe-se o corpo com enorme facilidade como se ele fosse um produto dissociado da pessoa. Ele seria um objeto e a pessoa o sujeito que o usa, vende, ou aluga. Nada mais errado! Para a grande maioria das religiões a pessoa humana é sagrada e o corpo não é apenas um adendo. É sagrado porque a pessoa é sagrada. Creu-se que Deus criou o ser humano, então o ser humano prestará contas a ele do que faz no e com o seu corpo. Se o usa para ganhar dinheiro, provocar ou desafiar, a instituição provocada tem o direito de reagir. Como reagirá, já são outros quinhentos, mas ficar impassível, ela não pode. Universidade não é passarela. Há lugares outros para quem quer revelar o corpo ou provocar pessoas. Não é preciso ser crente em Deus parta saber que há limites para um traje. Cristão, muçulmano, judeu o ateu, quem pensa sabe que há limites para a convivência. Não se faz o que se quer numa comunidade.

Já que lá fora falaram dos católicos e da nossa cultura, pois, então, saibam todos que de uma católica, e não sabemos se Geisy o é, espera-se que se porte e saiba o que vestir numa universidade ou numa igreja. A Igreja tem, sim o direito e o dever de orientar. A Universidade tem , sim o direito de reagir e censurar. Não é necessário expulsar. Mas a moça deve ser chamada às falas. Se ela fez o que quis e para alguns até virou heroína e vítima, a Universidade também se sentiu vítima. Alguém desafiou suas leis. O protocolo do Palácio do Planalto teria o que dizer, se uma funcionária se vestisse daquela forma.

Estive em Aparecida no domingo, dia 8 de novembro. Entre os fiéis que me reconheceram e vieram pedir a minha bênção estavam duas moças de mini-vestido. Fiz uso do momento para oferecer a elas uma catequese de padre católico. Perguntei, sem ofendê-las, se tinham trazido no ônibus alguma calça comprida e uma blusa mais longa para participarem da missa. Uma delas baixou os olhos, pediu desculpas e disse que sim. Perguntei se, com a minha bênção, eu poderia pedir que não usassem aquela roupa lá no templo. Concordaram sem conflito. Tornei a vê-las no mesmo lugar onde estava meu carro. Estavam de calça comprida. Toquei-lhes o nariz como fazem os idosos meio tio velho e meio avô e disse: - Assim, sim!

Não foi preciso expulsá-las de Aparecida... Imagino que alguém da Uniban tenha feito o mesmo. Se fez, erro da moça. Se não fez, erro da Uniban.


UMA IGREJA EM CADA QUADRA


No Brasil inteiro há cidades onde a média é de um lugar de oração e de pregação para cada duas ou três quadras. O fenômeno tem sido estudado, mas os estudos não chegam nem aos pregadores nem aos seus fiéis. Na vale a interpretação dos estudiosos e, sim, o que eles sentem. E eles sentem que Deus os chamou para aquele lugar e que de lá sairão vencedores, num mundo que derrota e humilha.

Saberemos as conseqüências daqui a algumas décadas. É na terceira ou quarta geração desses crentes que verá o resultado dessa ocupação de terreno e utilização de espaços vazios. Funciona como um MST espiritual. Movimento dos Sem Templo. Ocupam uma casa ou um galpão, onde pregam e oram. Com o tempo a depender do número de fiéis que conseguem tirar da outra igreja, ou constroem e ocupam aquela região, ou mudam. Mas os fiéis são disputados quadra por quadra, casa por casa.

Não importa se já são de outra igreja, ou de terreno já cultivado. Arranja-se um motivo para atraí-lo. A terceira ou quarta geração mostrará se saberão conviver, ou se brigarão nas ruas para mostrar quem é o herdeiro da verdade mais verdadeira. Já vimos este filme dos séculos XI ao XVIII entre cristãos católicos e ortodoxos, católicos e muçulmanos, católicos e evangélicos. Era briga para ver quem sabia mais sobre Deus e quem era mais fiel a ele. Nasceu política e terminou em violência. Ou se conversa desde o começo, ou se disputa terreno na ânsia de crescer e, com isso, a caridade vai embora. Ela vai embora toda a vez que convencemos os nossos de que o outro é inferior a nós...

Felizes os cristãos que sabem ouvir os outros e trata-os como irmãos, ainda que orem e pensem diferente sobre alguns aspectos da vida e da fé. Mas nem sempre eles vencem. A maioria dos muçulmanos não é terrorista, mas bastam alguns deles para que toda uma região sofra um conflito religioso. Foi assim e continua assim com cristãos, sicks, muçulmanos, católicos, pentecostais e evangélicos mundo afora. Vão ceifar na roça dos outros. Não estão buscando vitória apenas contra o pecado. Muitos falam claramente de vitória sobre outras igrejas. É só prestar atenção nas suas pregações para saber onde situam o demônio. Nunca na Igreja deles. Quase sempre no mundo imundo e numa outra religião ou igreja... Fiel dele não precisa tirar encosto. Já está salvo em Jesus. Tira-se o encosto do fiel que veio de outro grupo.

Oremos pela paz e segurança do mundo, mas oremos, também, para que Deus nos livre de pregadores fanáticos que não conseguem nem sequer tomar um café na esquina com o pregador da outra igreja!... Eles dizem que Deus os está usando, mas é Deus quem está sendo usado por eles...


PELO PRAZER DE MATAR


Dizem que Gengis Khan matava por prazer. Também Nero e Calígula. Para eles era espetáculo. Embora o mundo não toque no assunto, é de se perguntar o que passa pela cabeça de um ditador que prendeu amigos e mandou matar seus adversários e aldeias inteiras. Como é a cabeça de um terrorista que destrói um prédio cheio de crianças? Cruzou de volta a fronteira entre a fera e o humano? O que terá passado na cabeça de H.Trumann após o lançamento das até agora, duas e únicas bombas atômicas a cair sobre o povo inocente?

Não mudou muito. Arranja-se um motivo e, se não há motivo, mata-se do mesmo jeito. Uma geração sem nenhum critério de vida mata para se divertir, e acha que está limpando o país de outros bandidos como eles, até que outros bandidos como eles os matem pelo mesmo motivo. O publico considera a violência na televisão uma boa programação, caso contrário, não lhe daria o Ibope que ela afirma ter. Tínhamos nas mãos as escolas que, bem ou mal, educaram milhares de cidadãos para a convivência. Três piedosas freirinhas chegavam a tocar com disciplina um orfanato de 100 crianças. Agora, nas mãos do Estado ou de particulares, para cada três crianças há dez funcionários. Creches do Estado viraram lugar de poucas crianças e muitos funcionários. Perdeu-se o sentido social. Há crianças ocupando as ruas e os faróis e fingindo que vendem doces ou lavam carros, para pedir dinheiro que nem sempre entregam para os pais. Vão para quem os recrutou.

O Governo sabe disso e age pisando em ovos porque tem medo da opinião pública. O mesmo jornal que mostra a violência desses meninos mostrará a dos policiais. O circulo é vicioso. O criminoso bem armado comete crimes e, se for pego, tem defesa bem armada que o coloca de vítima e quem o prendeu se torna o repressor que lhe tirou seu direito de continuar envenenando o povo com drogas.

Acham sempre uma brecha. O criminoso sai de lá e quem o denunciou fica mal. Das muitas escolas de violência, a imprensa e a televisão são as mais eficientes. Gostam de levar o lixo para todas as casas. Chamam a isso de informação e cultura e classifica como espetáculo ou diversão. Não são todas, mas você sabe qual delas pisoteia na cidadania. Quando matar vira espetáculo a algo de errado em quem o produziu e em quem o sintoniza.


IGREJA VERDADEIRA


Um livro pode conter verdades e nem por isso ser verdadeiro. As outras passagens podem estar cheias de mentiras. Um locutor de rádio ou um cantor pode dizer algumas palavras em inglês e nem por isso pode afirmar que sabe inglês. O marketing contém verdades e nem por isso é verdadeiro. Se a equipe exaltar demais o produto de quem a contratou e se diminuir o produto concorrente, provavelmente estará mentindo.

Uma igreja pode conter verdades e nem por isso ser verdadeira. Se falsear os números, se omitir as passagens do livro santo que podem ir contra a sua pregação, se citar apenas as que lhe interessa, se mudar o sentido dos textos sempre a seu favor, se anunciar milagres sem submetê-los a exame acurado dos médicos e de outras cabeças, se encherem os fiéis de medo e de culpas, ou de falsa certeza, se ensinar que a eles estão reservados os primeiros lugares aqui e na eternidade, podem até parecer verdadeiras, mas não são.

A Bíblia é um livro de verdades e, além disso, revela-se verdadeiro. Mostra o lado bom e o lado mau, os acertos e os erros da maioria dos seus personagens. Não faz marketing enganador ou maravilhoso de nenhum deles. Abraão, Sara, Agar, Isaque, Jacó, os filhos de Jacó, Rebeca, Moisés, Elias, os profetas, os reis, os apóstolos, de todos eles a Bíblia conta o lado bom e algum lado obscuro. Ou mandaram matar, ou se descontrolaram, ou puxaram mais para um do que para outro filho, ou mentiram para conseguir seus objetivos, ou se vingaram de maneira brutal, ou faltaram à palavra dada, ou quiseram ser mais do que os outros... Quem lê a Bíblia sabe disso.

Por isso, mostrar só o lado bom da nossa igreja e ocultar os pecados dos nossos, enquanto quase nos deliciamos em mostrar os pecados dos membros da outra igreja; mostrar em fotos e letras garrafais no jornal da nossa igreja os pecados de alguém da outra e nem mencionar a noticia de que um membro da nossa assassinou o colega num dos nossos templos é viver da mentira.

O que seria uma comunidade cristã verdadeira? Uma que faz mais do que contar algumas verdades. Uma que não faz uso da mentira para atingir os seus objetivos. O pregador que chamou a jovem para anunciar-se curada de um câncer naquele encontro de domingo e lhe deu três minutos ao microfone, mas negou-lhe, três meses depois, o acesso ao mesmo microfone para dizer que não tinha sido curada e pode pedir mais orações, mostrou de que lado está. O fiel pode anunciar que sua prece conseguiu o milagre, mas não pode anunciar que não o conseguiu! Seu microfone só vai à boca de quem mostra as maravilhas da sua igreja... Nesta busca desenfreada por novos testemunhos a meia verdade acontece mais do que imaginamos!



EX-CATÓLICOS


A fala tranqüila de um amigo, que eu não via há mais de 15 anos mexeu comigo. Disse-me que há doze anos não era mais católico e que, ao mudar de cidade, e ao casar-se pela segunda vez com uma pentecostal, mudou também de igreja e agora é pastor da mesma igreja. Disse-o, sorrindo, feliz, enquanto deixava claro que a amizade era a mesma.
O mundo sempre teve ex-católicos, ex-evangélicos, ex-judeus e ex-maometanos. Nos últimos 30 anos, milhões de católicos deixaram o catolicismo e foram adorar a Deus numa outra igreja, que acharam melhor ou de maiores resultados que a nossa. Conheci alguns deles. Entre eles há alguns amigos e familiares meus.
Fiz o que minha igreja ensina: falei e respeitei. Segui o que está escrito em João, capítulo 6, verso 67. Sempre achei que tínhamos Jesus, mas eles parecem não tê-lo encontrado entre nós e agora dizem que o encontraram entre os outros. Eu só poderia ter feito aquilo o que minha igreja ensina que se deve fazer. Acolhi e orei. Continuo amigo, em nada diminuí o meu afeto e a minha amizade e desejei e desejo que sejam felizes no seu novo ângulo de vivencia da fé. Discordar é uma coisa, destratar é outra.
Recentemente, um grupo de metodistas tomou uma decisão controvertida para toda a sua igreja, que é bastante ecumênica: decidiram sair do conselho das igrejas. Não aceitam participar do ecumenismo como está sendo vivido.
Não é que todos os metodistas sejam contra a vivência do diálogo ecumênico. É que o grupo que decidiu foi mais forte do que os outros. Também em outras igrejas há uma tendência muito forte de volta ao fundamentalismo. E mesmo dentro da igreja católica, alguns grupos também não se sentem confortáveis no diálogo ecumênico. Preferem não participar.
Isso quer dizer que, muitos cristãos têm dificuldade de aceitar o jeito do outro adorar, ler, concluir e crer. E, se procuram outro jeito, é porque acham que lá existe mais verdade do que aqui. E eu fico, por achar que aqui existe mais verdade do que lá, ou melhor dizendo, verdade suficiente para me fazer feliz. Não vou negar nunca que o mesmo sol que entra pela minha casa também entra pela deles. Nem vou discutir sobre quem de nós aproveita melhor a luz do sol. Direi somente que em casa há luz suficiente para eu ver o que vejo e da forma como vejo.
Sou como o filho que não troca de lar ou de família mesmo quando as coisas não vão bem. Mas existem os outros que se sentem da família de Deus e trocam de lar e de casa por não estarem bem na casa dos pais ou na de algum irmão. Preferem ir para outra casa e ali fazer novos irmãos.
Como é Deus quem julga, abstenho-me de julgamentos. Mas a nossa é uma era de muitos ex. Isso quer dizer que muita gente não é mais o que era. Alguns mudaram para melhor. Outros, pelo que dizem e fazem ainda não se acharam.


Pe. Zezinho, scj



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sábado, 7 de novembro de 2009

Artigos - 06 Novembro

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TEOLOGIA DE GUERRA


Um dos maiores contemplativos-ativos do século XX, o monge Thomas Merton que mergulhou de corpo e alma na promoção da paz e do diálogo político, se viu proibido de publicar um livro sobre o tema: Paz na Era Pós-cristã. Autor de Montanha dos Sete Patamares, Sementes de contemplação, Homem Algum é uma Ilha, três clássicos da literatura católica no século passado, o monge contemplativo conseguia levar ao diálogo boa parte da intelectualidade norte-americana do seu tempo. Morei lá e lembro-me da força de sua obra e do seu legado naqueles anos 60-80. Continuo bebendo de seus livros póstumos. Thomas Merton morreu num acidente doméstico, eletrocutado.

Seu livro sobre a paz demorou décadas para ser publicado. Foi proibido. Alguém que propunha diálogo soava como comunista no período mais intenso da Guerra Fria entre Rússia e Estados Unidos, quando os mísseis em Cuba apontavam, para a América e esta cercou a ilha de Fidel, com todas as consequências que conhecemos até hoje.

O livro feria o princípio norte-americano de, se preciso, atacar para defender-se. Outros, como o arcebispo Fulton Sheen, também tratavam da questão de pregar a paz em tempo de guerra. Mas o monge filósofo Thomas Merton vinha com perguntas embaraçosas para as igrejas e para o Estado. A dança da morte. Podemos escolher a paz?. O cristão como pacificador. O legado e Maquiavel, Justiça na guerra moderna. Teólogos e defesa, passividade moral e ativismo demoníaco. Consciência cristã e defesa nacional. A paz como responsabilidade religiosa. Seu livro ia ao âmago da questão.

Escrito em l962 nunca foi publicado. Nem mesmo com o evento do Concílio Vaticano II que, na “Gaudium et Spes” adotou a mesma linguagem mudou a disposição de quem o proibira de escrever sobre um tema tão questionador para um país em guerra fria. Foi censurado pela Ordem que deve ter tido suas razões, para nós desconhecidas. O fato é que o livro só veio à tona muitos anos depois. O monge morreu em l968.

Por que escrevo isto? Para mostrar que escrever sobre Teologia Social é sempre um risco. Muitos que entraram no tema foram silenciados. Dom Romero foi morto. Sacerdote que pediram justiça foram assassinados por governos de direita e de esquerda.

Quando a Teologia mexe com a economia e com hegemonias, as esquerdas e as direitas do mundo reagem. Teologia que apoia o poder é bem vinda. Aquela que o questiona é declarada diabólica. Pedir diálogo é uma grave ofensa em países armados até os dentes. Mudou o quadro? Não. Não mudou!


JESUS E JUDAS


Duramente criticado por ter dito que, no Brasil, para conseguir governabilidade, Jesus teria que fazer aliança até com Judas, o presidente Lula disse muitas verdades, algumas delas desagradáveis até mesmo a respeito de si próprio. Ele faz, mas não disse que Jesus faria. Disse que teria que fazer.

Na verdade, Jesus deu chance para todos, inclusive para Judas, Levi Mateus e Natanael. Judas o traiu e se suicidou, Pedro o negou e depois se arrependeu, Mateus, que lidava com dinheiro injusto se converteu, Zaqueu o homem dos impostos, devolveu, Madalena mudou de vida, Natanael provavelmente abandonou o sarcasmo. Com Nicodemos, um sujeito que parecia ser alguém em Israel, Jesus teve excelente diálogo. Não quis conversa com o dissoluto e venal Herodes, e enfrentou Pilatos cara a cara. Com os fariseus o diálogo foi mais difícil. Não tinham boa intenção. Foram eles os mentores da sua morte.

Como se vê, Jesus dialogou com gente que estava longe de ser como ele. Políticos, religiosos, pecadores públicos e prostitutas... Mas dialogar não é compactuar. A pessoa tinha que mostrar boas intenções. No mais aceso da sua pregação grande enumero de seguidores foi embora por não aguentar sua doutrina. Ele se voltou para os que ficaram, perguntando se não queriam aproveitar a chance de abandoná-lo. Argumentos havia! ( Jo 6,67). Mais direto, impossível!

Não, Jesus não faria aliança com os que tiveram sua chance e não mostraram disposição de mudança. Tudo indica que o mestre os olharia com misericórdia, sabendo que fim teriam. Judas, não pensou no projeto do Reino; pensou em si e aceitou dinheiro para aderir ao poder, coisa de mensalão que muitos juram que nunca existiu, mesmo com fotocópias dos cheques.

O que está em jogo é o projeto Brasil. O que atrapalha o jogo têm sido os projetos pessoais ou partidários que muitas vezes estão longe de serem solidários com a causa dos mais pobres. Basta lembrar o aluvião de dinheiro desviado de nossos cofres e das obras em execução. Aí, sim, o presidente Lula diz uma verdade. Jesus teria que escolher. E certamente escolheria fazer o que fez em João 6,67. Ficaria com ele quem aceitasse o projeto. Lula escolheu os votos para a governabilidade. Aceitou a volta daqueles contra quem brigou a vida inteira por conta do projeto Brasil. Seria nosso popularíssimo presidente mais misericordioso do que Jesus? É de devotos ou é de votos que estamos falando?



PENSADORES E PREGADORES


Há pensadores que pregam e pregadores que pensam muito antes de falar. Mas há os outros...Um estudioso apaixonado por filosofia, disse-me que, para entendê-los melhor e mesmo assim ainda não os entendia, lera Nietzsche três vezes, Sócrates, duas e Sartre cinco vezes. Respondi que sentia o mesmo com relação aos evangelhos e a alguns teólogos como Rahner, Barth, Hans Ur Von Balthazar.
De conversa em conversa, ele bem mais culto do que eu, chegamos à conclusão de que alguns pensadores são como garimpeiros que acham mais pedras preciosas do que os outros e sabem nomeá-las e classificá-las. Sobre outras pedras não se pronunciam sem antes terem mandado examinar.
Há os que pensam pouco, mas falam muito; sabem menos, mas garantem mais. É por isso que, em quase todas as igrejas, pregadores garantem mais do que teólogos. Os estudiosos da Bíblia são bem mais humildes do que os leitores-pregadores. Enquanto os teólogos e exegetas reportam o que muitos outros estudam, há pregadores garantindo que Deus lhes conta segredos. O teólogo diz que estudiosos dizem, mas tais pregadores dizem que Deus lhes disse! Se lessem mais, talvez se tornassem menos peremptórios e mais humildes. Desconfie de quem diz que Deus lhes diz coisas durante a semana!


A DIFICIL VOCAÇÃO DOS TEÓLOGOS


Foram inúmeros os teólogos santos e fiéis. Inúmeros, também, os que romperam com as suas respectivas igrejas ou ordens e, ou fundaram outra igreja, ou tornaram-se ateus, ou aderiram a outro grupo. Um dos mais conhecidos estudiosos da Bíblia declarou recentemente num livro que perdeu a fé. Tanto quanto nós eles sofrem dúvidas e erram. Sabem mais, mas não estão isentos de crise, às vezes porque sabem mais. Quando um pregador expulsa do Brasil o demônio da dengue com seus mosquitos não demonstra crise, mas excesso de fé. Fala com certeza, exatamente porque não sabe! A dúvida honesta machuca mais do que a falsa certeza.

Um teólogo em geral busca mais do que o cidadão comum. Alguns entram em conflito com suas igrejas , outros em conflito pessoal , mas fazer teologia dói. Quando leio a história dos cismas, das heresias, das punições, dos exílios, das retaliações, dos assassinatos por causa da fé e da teologia vejo que era perigoso e continua a ser arriscado o mergulho no profundo da fé!

Erra-se muito ao fazer teologia. Acerta-se outro tanto. Nem sempre a pastoral ou a ideia vitoriosa num canto ou num tempo da História é a certa. Não é porque uma ideia saiu vitoriosa que era a ideia certa. Algumas não eram. Alguns movimentos teológicos como o arianismo duraram séculos e envolveram 220 a 500 bispos, mas perderam sua força. O marketing de um grupo e da sua teologia pode envolver milhões de almas em, ainda assim, ir contra a fé comum.

Teólogos e profetas podem ser extremamente vaidosos ou muito santos. Eu ouço, leio seus livros mas não os sigo., Sigo a Igreja. Ainda acho mais seguro ficar coma Igreja embora seja grato aos pensadores de teologia por seus mergulhos dolorosos e pelas cruzes que carregam. Mas entre eles , os que pensam a fé e os pregadores ousados e afoitos que afirmam que Deus lhes mandou dizer o que dizem , é com os teólogos que eu fico. Entre a unção e o conteúdo fico com este. Mas é claro que se encontrar um cristão com unção e conteúdo darei preferência aos livros dele!


Pe. Zezinho, scj


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