sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Atigos - 11 de Novembro

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DE VOLTA ÀS CATACUMBAS


Não podendo exercer em público sua fé, os primeiros cristãos, por largos períodos recorreram aos cemitérios daquele tempo. Iam orar perto dos mortos em catacumbas, até hoje preservadas. Os imperadores baniram a nova fé em defesa dos seus deuses.

Uma decisão da corte européia na primeira semana de novembro de 2009 baniu os símbolos religiosos entre eles o crucifixo, das salas de aula. Por trás da decisão está a laicização e a radicalização de algumas sociedades ditas modernas. Baseadas nos direitos de todos proíbem símbolos de apenas uma religião em lugares públicos. Ou se permite todos ou não se permite nenhum, mesmo que aquele país seja, na sua imensa maioria cristão. É evidente que os países muçulmanos não farão o mesmo. Então, é atitude de países que já foram cristãos e agora não lutam mais pelo seu direito de ostentar sua fé em público. Os muçulmanos não estão nem aí nos países onde são maioria. Lutam pelo seu direito.

Levada a sério, amanhã serão banidas as Bíblias nas lojas, os monumentos à Bíblia, os crucifixos, as vestes das freiras católicas e das muçulmanas, véus e chadores, porque são símbolos públicos de uma fé. E quem ostentar crucifixos no peito poderá estar sujeito à multa. Levado ainda a extremos, só se permitirá símbolos religiosos dentro dos templos e dos lares. Nem mesmo na fachada dos edifícios, dos templos e nas torres será permitido ostentar sinais. Quem os quiser terá que entrar no templo. Nomes nas fachadas, então nem se fala! Não se permitia nos estádios, nos tribunais e em qualquer lugar público que alguém faça propaganda de sua fé.

Se a moda iconoclasta pegar, a religião terá sido levada de volta às catacumbas. Os não religiosos terão vencido, mesmo sendo eles a minoria que sempre serão. Da intolerância dos religiosos de ontem passamos à intolerância dos não religiosos de hoje. Não querem ter que ver os sinais dos outros. Mas os outros terão que ver os seus sinais, posto que algumas imagens pagãs classificadas como esculturas registram cenas de ateísmo ou se paganismo. Estas também teriam que ser banidas das universidades, das praças e dos frontispícios. E de quebra teriam também que ser retirados das escolas desenhos, estátuas, gravuras ou pinturas que façam propaganda do ateísmo. Inclusive os símbolos da maçonaria e da rosa-cruz. A Venus de Milo, as estátuas de Hércules, as de alguma deusa da antiguidade teriam também que ser banidas. Afinal, lembram outra fé. Se um não pode, também o outro não deve. De radicalização em radicalização teremos quebras de crucifixos, de estátuas, de monumentos, de pinturas e esculturas que lembram qualquer religião de ontem ou de hoje.

Já prevejo o quadro: virão os jurisconsultos a dizer: “isto pode, isto não pode!” E de “pode-não-pode” acabaremos onde estamos: o cidadão que paga imposto, tem o direito de exibir em público os seus símbolos. A minoria também terá direito de trazer o seu, As escolas e tribunais terão, então cada qual um panteón onde caberão todos os símbolos e todos ficarão felizes. Maioria e minoria. Tudo democraticamente muito legal! Mas assim mesmo, eles terão vencido. Países de maioria católica poderão levar cruzes no peito, evangélicos poderão ter seus sinais, mas terão que aceitar os símbolos de três alunos muçulmanos e dois budistas. As meninas muçulmanas poderão usar suas vestes, mas terão que se abster de pregar a sua fé e orar do jeito delas nas escolas.

Quem viver verá aonde nos levará a nova iconoclastia. Ah! Ficarão também proibidas imagens de ursos, águias, foices e martelos, cruzes nazistas e outros sinais que possam significar uma volta a tais doutrinas. E os casais não poderão usar alianças, porque talvez digam alguma coisa em público!... É, pois é! Há direitos que parecem Direito, mas já nascem tortos. Discriminam e incriminam!


COMO SER FELIZ POR 20 REAIS


A livraria estava repleta de livros de auto-ajuda. Contei 48 títulos, todos trazendo a solução mágica para negócios, amores, relacionamentos, fé, saúde, sorte e loterias.

Quase todos traziam o pomposo título: “Como fazer”, “Como chegar”, “Como conseguir”, “Como alcançar”. Mundo mágico e tudo ao alcance do leitor por R$ 20 ou R$ 30.

Tomei nas mãos um deles, cujo título sugeria uma vida para sempre feliz. Prefiro não declinar o título. Custava apenas R$ 20. Comprei, não porque o precisasse, mas por curiosidade. Alguém estava garantindo felicidade eterna por 20,00.

Li, pacientemente, até o fim. Cento e vinte páginas. O autor citava a Bíblia, o Alcorão, o RigVeda e os principais livros sagrados. Também os principais filósofos. Pelo número de citações bastante acuradas, o livro valeu o seu preço. Fiquei sabendo dos vários caminhos de felicidade propostos pelas mais diversas religiões, filosofias e culturas.

O livro não enganava. O autor, honestamente, apresentava aqueles caminhos como alternativas e em nenhum momento garantiu que a leitura do livro faria alguém feliz. Então, saltou-me a pergunta: se dentro do livro ele deixou claro que não queria enganar ninguém e apenas mostrava propostas de como ser feliz, por que na capa aquele título enganoso que garantia felicidade para sempre?

Caímos no marketing e nas suas falácias. Nem sempre o que está na vitrina é o que depois é vendido no balcão; nem sempre o que está na capa é o que está no livro. Nem sempre encontramos as ofertas a preços baixíssimos, porque, assim que chegamos, dizem que já foram vendidas. Mas, como fizemos uma visita – e era isso o que queriam – talvez compremos outra coisa. Nem sempre a moça de sorriso maravilhoso é quem tem as melhores maçãs para vender. Às vezes as aparências enganam e o marketing também.

Aquele livro valeu pelo miolo, mas a casca mentia. As editoras fazem conosco o que a mãe faz com a criança que não gosta de se alimentar: inventa um aviãozinho!

Aqui e acolá alguns livros são realmente bons, embora o título seja mentiroso, mas há os outros de título maravilhoso e miolo intragável.

Escrever anda fácil; ler é que está cada dia mais difícil!


CATÓLICOS NA CIDADE GRANDE


As milhões de vidas que aqui partilham o mesmo espaço, dividem os mesmos sonhos e sofrem as mesmas pressões, buscam auxílio umas nas outras e a grande maioria o busca em Deus.



Motivados por seus líderes e pregadores, milhões de corações que aqui labutam e aqui habitam, vivem as suas convicções debaixo de mansardas e porões, em favelas e em coberturas de altíssimos prédios. Alguns são riquíssimos, outros ricos, outros remediados, outros paupérrimos e cada um se refere a Deus do seu jeito, quase sempre de maneira utilitária: “meu Deus”.



Seguem uma religião que lhes serve. Por isso também não hesitam em mudar de religião, se a mudança lhes parecer solução melhor. Não é questão de convicção; é questão de utilidade. Um grande número vai para quem grita mais, dá mais e promete mais.



No meio dessa algaravia de vozes e desse pulular de púlpitos e altares estamos nós, católicos, que já fomos maioria e de certa maneira ainda o somos. Mas somos todos os dias desafiados por outras vozes, outros púlpitos e outros altares.



Precisamos ter a humildade de admitir que não temos todas as respostas, como eles também não têm, embora às vezes gritem em alta voz que a possuem. As grandes tentações de alguns religiosos são achar que a sua igreja responde a todos os problemas e de se colocarem como os únicos capazes de oferecer solução para o coração humano.



A felicidade nesta cidade está oculta e é preciso garimpá-la. Não vem de graça, não vem fácil e não está em todos os púlpitos e altares. Requisito número um de convivência numa cidade gigantesca como a nossa é gostar de gente, compreender que os problemas que afligem os outros também nos afligem.



Sem ter cabeça e coração de bom samaritano, crente algum poderá se proclamar seguidor de Jesus Cristo. Vale para nós católicos e para os outros que seguem Jesus. Então, o jeito é dialogar.



Os católicos na cidade grande são chamados a dialogar até à exaustão, inclusive com quem nos combate, nos condena e tenta calar a nossa voz. Esses podem se dar esse luxo, nós não.



“Cat holou” significa “para todos”. Sem abertura não há catolicismo. Sem abertura para a cidade grande não há testemunho. Precisa-se de católicos abertos numa cidade aberta, católicos que vão para o alto e para o lado, numa cidade que vai para cima e para o lado, católicos que aprendem e ensinam a viver numa cidade que vive de aprender e ensinar a viver.



É impossível morar numa cidade gigantesca como São Paulo e não sentir-se pequeno, mas é exatamente esse o começo de toda boa Igreja. A pequenez é uma das maiores virtudes de um grande ser humano. Miremo-nos no exemplo da mãe de Jesus. Sabia que a enalteceriam, mas proclamou-se a serva do Senhor. Nunca esqueceu que era pequena. Serve de modelo a nós que nos sentimos pequenos diante da cidade grande. Não há mal nenhum em ser pequeno. O problema é um pequeno proclamar-se maior do que realmente é.


Pe. Zezinho, scj



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