domingo, 29 de novembro de 2009

Artigos - 28 Novembro

-




FOLHETOS E CARTAZES

Se você em intenção de publicar algum folheto ou cartaz, reveja e aceite críticas antes, para não ter que engoli-las depois. Falo de algumas orações distribuídas entre o povo e de algumas frases bonitas, mas imprecisas que, com o tempo, se transformam em verdadeiras heresias. Contabilizei muitas, mas lembro-me de cinco delas.

Um cartaz chamava Nossa Senhora de “Mãe da SSma. Trindade”. Anos depois, vi outro que a chamava de “Filha da Santíssima Trindade”. A ser verdade, ela acabaria sendo mãe do Pai e do Espírito Santo e filha de Jesus Cristo... Quem criou aquelas frases não estudou teologia.

Outro cartaz de Natal dizia: “ Venha orar conosco com aquela por quem Deus se apaixonou”. Verbo perigoso que não diz o que o autor queria ter dito... Entre nós “apaixonar-se” demonstra um sentimento sobre o qual não temos muito controle! Deus teria se descontrolado ante a beleza de Maria?...

E há frases tiradas de canções que são verdadeiras heresias. Quem canta que quer “amar somente a Deus” canta errado e ora errado. Está claro nos evangelhos (Jo 13,34 ) e nas epístolas ( Rm 12,10) que não faz sentido amar somente a Deus. E o próximo, onde fica? Em Mateus Jesus diz que a razão pela qual alguns não ganharão o céu será pela falta de amor ao próximo! ( Mt 25,31-46)

Um folheto de oração distribuído para milhares de fiéis começava a prece “Em nome do Deus Pai, do Deus Filho e do Deus Espírito Santo”... Três pessoas e um só Deus ou três deuses? Seria, os cristãos daquela comunidade ao invés de crentes trinitários, crentes triteistas?

É sempre oportuno buscar correção prévia das nossas publicações. Se mesmo com elas ainda sobram erros, sem elas pode ser catastrófico, como foi o caso da letra da canção a Nossa Senhora Aparecida que, cantada sem o devido acento, já soa estranha. Imagine-se então o que houve quando o rapaz da gráfica tirou a letra de ouvido. Na hora de cantar estava lá, grafada a frase: “ Salve o virgem maculada, ó Senhora Parecida ”. O pároco se descuidou! Não reviu o texto antes da impressão!



O TOTALMENTE OUTRO

Scotus Erigena dizia que Deus é o super ser, o super existente. Afirmava que Deus é mais do que um “ser”. O substantivo “ser” ainda não o exemplifica. Da mesma forma que o ser do homem não pode ser comparado ao ser do animal e o ser do animal não se compara ao ser da pedra, porque está muito acima do ser da pedra, assim, o conceito do ser de Deus está infinitamente acima de qualquer ser.

Por isso, Javé, aquele que é quem é, é um termo filosófico que pretende lembrar que Deus é o único que é. Nós derivamos. Nosso ser é limitado. Viemos depois. O verbo ser no presente: “é” aplica-se com toda a propriedade a Deus: Revela seu infinito. No nosso caso, “é” revela o nosso limite. Somos porque viemos daquele que é. Ele sempre “é”. Nós, um dia começamos a ser. Viemos infinitamente depois. Quando Deus diz “eu sou”, não tem que explicar-se. Quando eu digo “eu sou” tenho que explicar-me. É que não sou exatamente quem digo que sou.

Karl Barth, teólogo evangélico era entusiasta de Santo Anselmo. A teologia de Santo Anselmo de “Credo ut intelligam” é um profundo chamado à fé que supera, mas não despreza a razão. Primeiro, aceito, dou a minha adesão para, passo a passo, tentar entender o colo que aceitei, confiando em Deus.

São Tomé fez o caminho inverso. Primeiro, quis tocar e ver; tentou confirmar para, só depois, aceitar e aderir. Ele vinha da decepção e sua fé precisou do reforço dos sentidos. Para Santo Anselmo e inúmeros teólogos católicos, evangélicos e ortodoxos o crer e aceitar, transcende o tocar, o sentir, o ver e o entender. Deus é provável, mas pode-se prová-lo, sem ter antes degustado. A fé pode vir num repente, embora a compreensão desta fé venha aos poucos. Pode-se discutir o tema à exaustão. Mas a verdade é que a compreensão realmente nos vem aos poucos.



OLHAR PARA MARIA

Olho para as imagens de Maria mas não falo com elas.
Maria não está lá.
Vou ao templo a ela dedicado, mas não falo olhando para a sua imagem.
Maria não está lá.

Tenho imagens dela no meu escritório e no quarto,
mas não falo com suas imagens.
Maria não está lá.

Canto sobre Maria e para Maria, sem olhar para sua imagem.
Maria não está lá.

Em geral, olho a escultura, depois perco os olhos no infinito,
às vezes os fecho e imagino Maria, lá onde ela está,
no colo infinito de Deus, ao lado de seu divino Filho.

Então eu lhe digo coisas. E peço que interceda por mim,
porque, de Jesus e de orar e interceder, Maria entende mais.

Não sou um cristão mariano, sou um cristão Cristocêntrico,
mas exatamente por colocar o Cristo Jesus o tempo todo no centro da minha fé
tornei-me também mariano.

Percebo Maria, porque, quem está perto de Jesus nunca está longe de Maria, assim como quem está perto de Maria nunca está longe de Jesus.

A um amigo de outra religião que me perguntou por que sou cristão falei de Jesus. Sou cristão por causa dele, não por causa dos seus santos. Mas sou-lhe grato pelos santos que ele nos deu.

A outro amigo que me perguntou por que fiz tantas canções para Maria, respondi que nunca ouvi dizer que um filho não gostasse de ver sua mãe elogiada.

Maria não é deusa, mas nunca ninguém neste mundo esteve tão perto de Deus quanto ela. Afinal, o Filho de Deus morou no seu ventre por nove meses e esteve lado a lado com ele por mais de trinta anos. Maria é cristocêntrica. Ela aponta o tempo todo para o centro que é Jesus e este, para a Santíssima Trindade.



PROFECIA DE BASTIDORES

Diga-se, para começo de conversa, que é muito difícil criar e manter uma editora, uma gráfica, uma emissora de TV ou de rádio. Trata-se de uma forma de profecia: criar veículos e possibilitar a divulgação da profecia dos outros. Quem pensa nos colegas pregadores e catequistas ao criar uma mídia está sendo mais profeta do que aqueles que falam diante de câmeras e microfones, da mesma forma que quem cria um hospital, faz mais do que o médico que vai lá e opera. Se alguém criasse uma mídia pensando em si mesmo, e apenas nos seus colegas de comunidade teria feito escolha errada, porque sectária. Cria-se para toda a Igreja e ensina-se ali o que é doutrina de toda a Igreja, não apenas do grupo que mantém aquela mídia. É por isso que nos intitulamos “católicos”: “para todos”!

É trabalho hercúleo manter uma editora, uma gravadora ou qualquer veículo de comunicação. Merece aplauso, elogio e respeito quem teve ou tem a coragem de assumir tamanho empreendimento que possibilita aos católicos tocar adiante a sua mensagem. É pastoral e profecia de bastidores.

Merecem aplausos e respeito, os grupos católicos que há 40, 60 e 70 anos mantêm algum veículo de comunicação. Posso imaginar o quanto de sacrifício e incompreensão custou e custa aquela obra. Se durou tanto tempo é sinal de que seus mantenedores trabalharam duro e souberam trabalhar.

Por isso mesmo, todo elogio possível deve ser feito e toda critica, se necessária, deve ser respeitosa. No lugar deles, provavelmente faríamos pior. Para quem milita há décadas no campo da comunicação, como é o meu caso, e o de muitos companheiros meus, sacerdotes, religiosas e leigos só nos resta ser gratos a estes profetas. Podemos até discordar neste ou naquele ponto, mas trata-se de um altíssimo grau de espiritualidade. Estes irmãos editores, diretores, criadores de faculdades, de espaço e veículo para a catequese católica sabem onde dói a sua profecia. Na hora de pagar as contas no fim do mês, o escritor ou o pregador que solta o verbo e colhe os aplausos não estava lá! Quem as pagou foi o criador de espaços para a comunicação do verbo!

Por um lado é triste ver como alguns comunicadores despreparados brincam narcisísticamente de fazer mídia. Percebe-se que não se preparam. Vão lá se exibir. Descobriram um brinquedinho agradável. Não estudam. Vão com a cara e a coragem mostrar-se diante das câmeras ou falar ao microfone. Não sobra quase nada do que dizem. Por outro lado, é uma alegria ver um cantor e um pregador preparado que, desde o primeiro minuto de conversa, mostra que pediu luzes para aquele momento. Dele ou dela flui conteúdo e sabedoria. Causa alegria imensa ver e ouvir bons comunicadores no rádio e na televisão. O mérito é deles que estudaram e estudam a fé, mas é também dos veículos de comunicação onde trabalham. São duas profecias, das quais retenho que a maior é a do que abriu espaço para a comunicação do outro. Há uma profecia de bastidores que deveria ser mais valorizada do que é. Reflitamos sobre ela!



PRONTO PARA O CÉU

Acompanhei a morte de vários amigos e amigas, anciãos, adultos, jovens, sacerdotes, religiosos, minha mãe e minha irmã. Pude conversar com todos, antes do seu grande momento, direi “do seu gran finale”. Na quase totalidade, percebi que estavam preparados para abrir a cortina da eternidade. Não havia medo neles. Aceitaram submissamente os tratamentos que os médicos ofereciam, mais para amenizar do que para curar. Entenderam que, num determinado momento da vida, que não haveria recuperação. E começaram a entregar-se ao seu Criador.

Eram crianças, adolescentes, jovens, adultos e anciãos, religiosos, homens e mulheres. Cristina, portadora de gravíssima disfunção renal ao saber que não resistiria sugeriu-me o que eu deveria dizer na missa de sepultamento. Escolheu as canções e ditou as palavras que eu deveria dizer à mãe e ao pai, separados. Ela saiu daqui com classe. Entrou no céu como quem já sabia de onde vivera. Foi um dos muitos anjos que vi partir, sem medo.


O último a cuja morte assisti, um dia antes me olhou nos olhos e se despediu. Era sacerdote. Disse que estava indo tranqüilo e que, no céu, oraria muito pela igreja e pelos que ficaram porque, da parte dele, a batalha estava concluída. Só lhe restava, como São Paulo, esperar a coroa, porque havia combatido o bom combate. (2 Tm 4,7 ) Brincamos. Sorriu no meio das dores e disse: -“Achei que seria mais difícil, mas meu corpo se adaptou ao sofrimento. Para mim vai ser uma libertação”. Pedi que falasse de mim lá no céu. Ele garantiu que o faria. –“Acredito na intercessão dos santos”. “Não estou acabando; estou apenas me mudando”,- disse ele.

Conversei com pessoas de outras religiões, no momento do morrer. Dei-lhes a benção final. Eram pessoas de vida santa sobre as quais eu não tinha a menor dúvida que estavam a caminho do céu. Meu conceito do céu mudou muito a partir das mortes que vi às quais assisti. Era a catequese do morrer, concluindo a catequese do viver. Uma das coisas mais bonitas na vida de um médico ou de um sacerdote é assistir a estas mortes serenas. Há um recado em cada uma dessas mortes. “Deus existe e eu estou indo para Ele!” “Isto aqui foi passagem.”

Foi assistindo a essas mortes que eu concluí que há uma só vida, vida que começa aqui e continua depois, mas passa pelo túnel. O túnel porem é iluminado pelas luzes da fé. Nenhuma estrada começa ou termina no túnel, mas toda estrada, se tem que atravessar mares, vales e montanhas, às vezes passa por algum túnel.

O grande túnel, porém é a morte. Precisamos nos conscientizar que isto aqui é passagem. Mais dia, menos dia, vai chegar a nossa vez. E quem não tiver recebido essa catequese, talvez tenha maior dificuldade de se despedir. Quando a gente sabe que está indo e vai estar bem na outra terra, a despedida dói muito menos. Quando não se sabe aonde se vai e porque se vai, dói muito mais uma despedida.



Pe. Zezinho, scj


---------------------------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário