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TEOLOGIA DE GUERRA
Um dos maiores contemplativos-ativos do século XX, o monge Thomas Merton que mergulhou de corpo e alma na promoção da paz e do diálogo político, se viu proibido de publicar um livro sobre o tema: Paz na Era Pós-cristã. Autor de Montanha dos Sete Patamares, Sementes de contemplação, Homem Algum é uma Ilha, três clássicos da literatura católica no século passado, o monge contemplativo conseguia levar ao diálogo boa parte da intelectualidade norte-americana do seu tempo. Morei lá e lembro-me da força de sua obra e do seu legado naqueles anos 60-80. Continuo bebendo de seus livros póstumos. Thomas Merton morreu num acidente doméstico, eletrocutado.
Seu livro sobre a paz demorou décadas para ser publicado. Foi proibido. Alguém que propunha diálogo soava como comunista no período mais intenso da Guerra Fria entre Rússia e Estados Unidos, quando os mísseis em Cuba apontavam, para a América e esta cercou a ilha de Fidel, com todas as consequências que conhecemos até hoje.
O livro feria o princípio norte-americano de, se preciso, atacar para defender-se. Outros, como o arcebispo Fulton Sheen, também tratavam da questão de pregar a paz em tempo de guerra. Mas o monge filósofo Thomas Merton vinha com perguntas embaraçosas para as igrejas e para o Estado. A dança da morte. Podemos escolher a paz?. O cristão como pacificador. O legado e Maquiavel, Justiça na guerra moderna. Teólogos e defesa, passividade moral e ativismo demoníaco. Consciência cristã e defesa nacional. A paz como responsabilidade religiosa. Seu livro ia ao âmago da questão.
Escrito em l962 nunca foi publicado. Nem mesmo com o evento do Concílio Vaticano II que, na “Gaudium et Spes” adotou a mesma linguagem mudou a disposição de quem o proibira de escrever sobre um tema tão questionador para um país em guerra fria. Foi censurado pela Ordem que deve ter tido suas razões, para nós desconhecidas. O fato é que o livro só veio à tona muitos anos depois. O monge morreu em l968.
Por que escrevo isto? Para mostrar que escrever sobre Teologia Social é sempre um risco. Muitos que entraram no tema foram silenciados. Dom Romero foi morto. Sacerdote que pediram justiça foram assassinados por governos de direita e de esquerda.
Quando a Teologia mexe com a economia e com hegemonias, as esquerdas e as direitas do mundo reagem. Teologia que apoia o poder é bem vinda. Aquela que o questiona é declarada diabólica. Pedir diálogo é uma grave ofensa em países armados até os dentes. Mudou o quadro? Não. Não mudou!
JESUS E JUDAS
Duramente criticado por ter dito que, no Brasil, para conseguir governabilidade, Jesus teria que fazer aliança até com Judas, o presidente Lula disse muitas verdades, algumas delas desagradáveis até mesmo a respeito de si próprio. Ele faz, mas não disse que Jesus faria. Disse que teria que fazer.
Na verdade, Jesus deu chance para todos, inclusive para Judas, Levi Mateus e Natanael. Judas o traiu e se suicidou, Pedro o negou e depois se arrependeu, Mateus, que lidava com dinheiro injusto se converteu, Zaqueu o homem dos impostos, devolveu, Madalena mudou de vida, Natanael provavelmente abandonou o sarcasmo. Com Nicodemos, um sujeito que parecia ser alguém em Israel, Jesus teve excelente diálogo. Não quis conversa com o dissoluto e venal Herodes, e enfrentou Pilatos cara a cara. Com os fariseus o diálogo foi mais difícil. Não tinham boa intenção. Foram eles os mentores da sua morte.
Como se vê, Jesus dialogou com gente que estava longe de ser como ele. Políticos, religiosos, pecadores públicos e prostitutas... Mas dialogar não é compactuar. A pessoa tinha que mostrar boas intenções. No mais aceso da sua pregação grande enumero de seguidores foi embora por não aguentar sua doutrina. Ele se voltou para os que ficaram, perguntando se não queriam aproveitar a chance de abandoná-lo. Argumentos havia! ( Jo 6,67). Mais direto, impossível!
Não, Jesus não faria aliança com os que tiveram sua chance e não mostraram disposição de mudança. Tudo indica que o mestre os olharia com misericórdia, sabendo que fim teriam. Judas, não pensou no projeto do Reino; pensou em si e aceitou dinheiro para aderir ao poder, coisa de mensalão que muitos juram que nunca existiu, mesmo com fotocópias dos cheques.
O que está em jogo é o projeto Brasil. O que atrapalha o jogo têm sido os projetos pessoais ou partidários que muitas vezes estão longe de serem solidários com a causa dos mais pobres. Basta lembrar o aluvião de dinheiro desviado de nossos cofres e das obras em execução. Aí, sim, o presidente Lula diz uma verdade. Jesus teria que escolher. E certamente escolheria fazer o que fez em João 6,67. Ficaria com ele quem aceitasse o projeto. Lula escolheu os votos para a governabilidade. Aceitou a volta daqueles contra quem brigou a vida inteira por conta do projeto Brasil. Seria nosso popularíssimo presidente mais misericordioso do que Jesus? É de devotos ou é de votos que estamos falando?
PENSADORES E PREGADORES
Há pensadores que pregam e pregadores que pensam muito antes de falar. Mas há os outros...Um estudioso apaixonado por filosofia, disse-me que, para entendê-los melhor e mesmo assim ainda não os entendia, lera Nietzsche três vezes, Sócrates, duas e Sartre cinco vezes. Respondi que sentia o mesmo com relação aos evangelhos e a alguns teólogos como Rahner, Barth, Hans Ur Von Balthazar.
De conversa em conversa, ele bem mais culto do que eu, chegamos à conclusão de que alguns pensadores são como garimpeiros que acham mais pedras preciosas do que os outros e sabem nomeá-las e classificá-las. Sobre outras pedras não se pronunciam sem antes terem mandado examinar.
Há os que pensam pouco, mas falam muito; sabem menos, mas garantem mais. É por isso que, em quase todas as igrejas, pregadores garantem mais do que teólogos. Os estudiosos da Bíblia são bem mais humildes do que os leitores-pregadores. Enquanto os teólogos e exegetas reportam o que muitos outros estudam, há pregadores garantindo que Deus lhes conta segredos. O teólogo diz que estudiosos dizem, mas tais pregadores dizem que Deus lhes disse! Se lessem mais, talvez se tornassem menos peremptórios e mais humildes. Desconfie de quem diz que Deus lhes diz coisas durante a semana!
A DIFICIL VOCAÇÃO DOS TEÓLOGOS
Foram inúmeros os teólogos santos e fiéis. Inúmeros, também, os que romperam com as suas respectivas igrejas ou ordens e, ou fundaram outra igreja, ou tornaram-se ateus, ou aderiram a outro grupo. Um dos mais conhecidos estudiosos da Bíblia declarou recentemente num livro que perdeu a fé. Tanto quanto nós eles sofrem dúvidas e erram. Sabem mais, mas não estão isentos de crise, às vezes porque sabem mais. Quando um pregador expulsa do Brasil o demônio da dengue com seus mosquitos não demonstra crise, mas excesso de fé. Fala com certeza, exatamente porque não sabe! A dúvida honesta machuca mais do que a falsa certeza.
Um teólogo em geral busca mais do que o cidadão comum. Alguns entram em conflito com suas igrejas , outros em conflito pessoal , mas fazer teologia dói. Quando leio a história dos cismas, das heresias, das punições, dos exílios, das retaliações, dos assassinatos por causa da fé e da teologia vejo que era perigoso e continua a ser arriscado o mergulho no profundo da fé!
Erra-se muito ao fazer teologia. Acerta-se outro tanto. Nem sempre a pastoral ou a ideia vitoriosa num canto ou num tempo da História é a certa. Não é porque uma ideia saiu vitoriosa que era a ideia certa. Algumas não eram. Alguns movimentos teológicos como o arianismo duraram séculos e envolveram 220 a 500 bispos, mas perderam sua força. O marketing de um grupo e da sua teologia pode envolver milhões de almas em, ainda assim, ir contra a fé comum.
Teólogos e profetas podem ser extremamente vaidosos ou muito santos. Eu ouço, leio seus livros mas não os sigo., Sigo a Igreja. Ainda acho mais seguro ficar coma Igreja embora seja grato aos pensadores de teologia por seus mergulhos dolorosos e pelas cruzes que carregam. Mas entre eles , os que pensam a fé e os pregadores ousados e afoitos que afirmam que Deus lhes mandou dizer o que dizem , é com os teólogos que eu fico. Entre a unção e o conteúdo fico com este. Mas é claro que se encontrar um cristão com unção e conteúdo darei preferência aos livros dele!
Pe. Zezinho, scj
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