sábado, 24 de outubro de 2009

ZÉ MARTINS MORREU

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A quem não ficou sabendo, comunico a triste notícia: Zé Martins nos deixou sem ter tempo de se despedir. Quem o conheceu com sua proverbial calma e gentileza sabe que ele o faria. Mas uma febre crescente o levou em dois dias. Desde o dia 16 de outubro estamos sem a sua canção libertadora e sem a sua voz que ecoava nas CEBs e nas casas dos mais pobres e de quem os ama. Foi isso que ele escolheu cantar.

Músico, compositor, cantor de bela voz, formado em escola dos cultos e competentes jesuítas, catequista, coração missionário, desprendido, bom pai, bom marido, bom amigo, bom de todo jeito, Zé Martins era marcante. Seu bom humor, suas tiradas, seu jeito quase silencioso de ser, seu quê de filósofo e de matuto, tudo nele revelava o gosto pela terra, pela natureza, pelas coisas simples e seu amor pelos que Jesus chamava de "pequeninos". Era bom conviver com o Zé. Desapegado e despretensioso, ele viveu a vida que lhe veio e a transformou numa obra de arte. Era mármore da melhor qualidade: suficientemente duro para agüentar os golpes do formão e macio o suficiente para os detalhes do cinzel. Tinha as exigências do profeta e missionário e a leveza do amigo perdoador.

Vai fazer falta para a forte e suave Ângela e filhas, para os amigos de todos os dias e para quem bebeu das suas canções que, se não estouraram na mídia, deixaram marcas lá onde eram conhecidas. Ir lá e sujeitar-se aos esquemas do marketing não fazia o seu gênero. Ele era de ir chegando e semeando. Alma de semeador incansável, mesmo enfermo, jamais parou de trabalhar. Sua ultima presença forte foi no Encontro Intereclesial de Porto Velho. Vi-o na casa do Gilson há menos de dois meses. Respirava serenidade.

Meu tributo a um evangelizador de grande envergadura. Na construção do reino ele foi uma das vigas de sustentação. Não apareceu muito, mas segurou muitos que nele confiavam. Oremos pelo Zé. Ele agora sabe mais do que já sabia. E sabia mais do que muitos de nós. Nem pediremos a Deus que o tenha. Sua vida foi uma certeza! Deus o tem! Católico acredita em céu agora já. Dormir e esperar não era coisa do Zé.

Pe. Zezinho, scj


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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Artigos - 20 de outubro

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CANTORES REUNIDOS


Falo de canção e de unidade. Há alguns anos atrás, por sugestão de alguns jovens cantores, tentamos formar uma associação de cantores católicos que englobasse os mais antigos, os novos, os mais diversos enfoques e as mais variadas tendências. Éramos mais de 50, vindos de todo o país e queríamos chegar a 100 representantes de movimentos, editoras, e grupos de fé. No futuro, chamaríamos os cantores de outros países latinos. Queríamos a unidade sem a uniformidade. A idéia parecia boa.
Pediram que eu presidisse. A primeira coisa que fiz foi chamar para o grupo de liderança, leigos de diversos movimentos e passar a direção para um sacerdote jovem. Eu seria apenas o mediador, já que, naquele tempo, já cantava há mais de 30 anos e a Igreja precisava de sangue novo. Eu realmente acreditava e ainda acredito nos novos cantores da fé. Bem evangelizados e unidos, com canções que traduzissem a liturgia e a catequese da Igreja, eles poderiam fazer a diferença. Eu ingenuamente acreditava em abertura e unidade. Ainda acredito, só que menos ingenuamente...
Não deu certo. Deus sabe quem foi contra, quando e porque a iniciativa foi abortada. Deus tem os nomes com Ele. Alguém não quis porque aquele diálogo não interessava. Admito a hipótese de que não estávamos maduros ou, talvez, não fosse o tempo. Pode ser que Deus não nos tivesse reservada esta graça. Quem sabe, outro, ou vários outros a realizarão algum dia. Continuo sonhando que, um dia, mesmo depois que Deus me levar, se eu estiver no céu, o que espero que aconteça, verei 100 a 1.000 cantores da fé, não apenas de um movimento, mas de todos os segmentos da Igreja, reunidos pelo menos uma vez por ano, para trocarem experiências e aprenderem juntos o que houve de mais profundo e mais catequético naquele ano. Seria um tipo de congresso ou concílio de cantores. Seria sonhar demais?


SEMEADORES DE CANTOSSANTO


Em algum lugar do mundo estão querendo fundar uma associação de “semeadores de cantossanto”, mas está muito difícil conseguir consenso. Milhares deles ainda não entenderam o que significa semear cantossanto e recusam-se a aprender com os outros. Agem como se eles tivessem descoberto a semente ou chegado primeiro.

É muito bonita a árvore do cantossanto. Dizem que o seu fruto alimenta a alma. Tem diversos tamanhos, cores e sabores. Mas, bem cuidada, produz frutos que acalmam e motivam a pessoa. Na Itália chama-se Albero di Santocanto, na Alemanha, Heiligliedbaum, na França la Saintchanson, na Inglaterra e nos Estados Unidos: Holysong tree e no Brasil alguns a chamam de Cantossanto.

Não se sabe quem foi o primeiro a semeá-la, mas ela existe há séculos em todos os paises do mundo e sempre alimenta a alma do povo na hora da alegria, o louvor, da dor e da esperança.

No Brasil muitos semeadores a trouxeram dos mais diversos paises e cada qual semeou do seu jeito criando novas espécies. Hoje, porém, a quinta e a sexta geração de semeadores nem sequer sabe quem trouxe, de onde trouxe e porque adaptou o seu plantio. Os pioneiros foram esquecidos. Um dia apresentaram a alguns jovens semeadores da quinta geração, um desses semeadores do passado, tido como pioneiro de uma das formas de semear o cantossanto no Brasil.

Um adolescente de um grupo recém formado, desses que não estão nem aí para o passado, disse-lhe a queima roupa:
- Puxa! O senhor ainda existe? Minha vó e minha mãe falam de você, mas eu achei que você já tinha morrido. Lá em casa ainda tem alguns frutos do cantossanto que você semeou.

O velho semeador sorriu, esfregou o topete do adolescente topetudo e disse:
- Viu só como alguns semeadores duram? Tomara que um dia alguém diga isso para você e os frutos do seu cantossanto durem uns cinqüenta anos.

A conversa se prolongou e aqueles adolescentes ficaram sabendo
a- que é meio arriscado considerar-se pioneiro de algo que existe há milhões de anos.
b- que o mundo tem milhões de semeadores de cantossanto e o modo de plantar, regar, enxertar e cultivar pode fazer a diferença entre um fruto e outro
c- que não é fácil cuidar do cantossanto.
d- que às vezes o semeador morre antes da árvore e outras vezes a arvore morre antes do semeador e nem chega a dar frutos.
e- que há semeadores garantindo que o fruto dele sé mais suculento, mais doce e mais duradouro porque é mais do céu e fica mais tempo iluminado pelo sol da fé.
f- que há semeadores desprendidos que não fazem questão de título ou de diploma nem de reconhecimento. Para eles basta saber que o fruto deu certo e que hoje milhões os semeiam, milhões os saboreiam, milhões se encantam com eles e que por mais defeitos que tenham são frutos a ser semeados e distribuídos.

Há, hoje, no mundo muitas indústrias de cantossanto que de certa forma virou produto de exportação e de competição. E isso tem causado conflitos, porque às vezes excelentes frutos não chegam a determinados lares pelo fato de algumas distribuidoras só oferecerem o produto nascido no seu quintal...Por mais qualidade que tenha o cantossanto do outro elas não o divulgam.



A MUSICA SACRA ESTÁ DE VOLTA


Para alegria dos puristas em alguns lugares os bons músicos estão de volta. Vozes bonitas, jeito suave de tocar, eles conduzem a liturgia de maneira serena. Aparecem pouco. Não se sobrepõem ao povo que canta. Estão lá não para se exibir e dar show de virtuosidade, mas cultivam a virtude do serviço fraterno ao povo que canta. É uma alegria ver como tocam suave e serenamente. Mas isso é porque conhecem liturgia e entendem de música. Não se pode esperar o mesmo de quem não treina, não lê os documentos e não entende o que é ser ministro da canção religiosa, ainda que não haja tal ministério oficial na Igreja. Ponha alguém que não é enfermeiro ou dentista para fazer um curativo e ele terá dificuldade. Tem mão pesada. Assim, alguns músicos despreparados que, ou berram ao microfone ou tocam tão forte que parecem em guerra contra o celebrante e a assembléia. Pior ainda: acham bonito!

O ministério da música está voltando, timidamente ainda, com muitos amadores que não conhecem bem a sua tarefa e nem sequer conhecem o catecismo católico. Mas já se vê sinais de seriedade em muitas paróquias. Ás vezes não atuam direito, posto que tocam mais alto do que cantam. Ou utilizam errado o microfone com volume insuportável para os presentes. Já falamos disso. Falta leveza. Suas guitarras ainda são barulhentas demais e atrapalham a oração. Do baterista, nem se fale. Parece estar num concerto de rock ao ar livre. O saxofonista em algumas igrejas toca como se estivesse numa boate. Faz enfeites que em nada lembram um chamado à oração.

Mas já existe aquele que toca com suavidade, ou festivamente se for o caso, mas sabe quando é um canto de júbilo, quando é leve, quando faz pensar e quando a voz do cantor é que tem que aparecer e, também, quando o cantor deve se calar e deixar que o povo cante. Contrariamente ao enchedores de lingüiça que não deixam nenhum espaço livre na celebração enfiando uma música depois da outra pelos ouvidos do povo, eles fazem silêncio na ação de graças para que o povo converse como Cristo que acabou de receber. Naquela hora, respeitosamente o bom músico católico silencia. O outro pensa que o povo foi lá para ouvir mais uma das suas exibições. E ai do padre se reclamar. No domingo seguinte eles não aparecem...

Numa liturgia séria os músicos não brigam para um aparecer mais do que o outro. Conseguem tocar sem dar um show de despreparo. Sua canção é para levar palavras e ressaltá-las. Os instrumentos acompanham e não abafam os cantores. Os guitarristas e tecladistas não tocam gingando...

Está voltando a música executada por gente que entende de música nas Igrejas. Está voltando o verdadeiro ministério da música. Há paróquias pagando seus músicos com uma boa ajuda de custo para que sejam profissionais competentes. Tem sido assim em paises da Europa. No Brasil, algumas dioceses timidamente ensaiam este caminho. Querem os cantos da missa e do casamento bem executados. Enfim, a música religiosa bem tocada e bem cantada está voltando em algumas comunidades. Sobre isto fiz uma canção chamada “Cantor religioso” Falo sobre ela numa próxima conversa, porque, de música religiosa ainda há muito que falar. Tem que ser levada mais a sério do que foi nas ultimas décadas.



HERDEIROS DE SANTO EFRÉM


Na idade média e pelos séculos seguintes, até o século 19, os compositores eram chamados a compor missas, peças clássicas para deleite dos áulicos e dos hospedes do rei. Sua missão era, também, ensinar música para aqueles talentos que aparecessem. Foi assim com Mozart, Bach e compositores famosos. Entre eles houve sacerdotes como Vivaldi e Palestrina na Itália. No Brasil houve um sacerdote negro chamado José Maurício que também compôs peças sacras de elevado valor artístico.

A missão de muitos músicos famosos também era compor “réquiems”, liturgias especiais para os atos solenes das igrejas e catedrais. Eram muito valorizados, muito requisitados e muito admirados. Alguns deles foram um tanto quanto irreverentes, mas outros levavam seu papel a sério. Fizeram disso seu caminho na Igreja, e até caminho na vida de santidade.

Mas o ministério ficou esquecido por um tempo e o velho organista das catedrais, as cantoras dos corais foram substituídos por amadores que não tinham a música como profissão e vida. Dali por diante, na maioria das Igrejas, não só aqui, mas em muitos outros países, alguém que não sabia cantar nem tocar direito, mas que tinha enorme boa vontade fez este papel, porque as Igrejas e os governos já não pagavam o artista. Já não reservavam dinheiro para o cantor do coro, e com isso, a música ficou nas mãos de amadores e voluntários. Num certo sentido, democratizou-se, mas acabou com a profissão de cantor religioso.

Em algumas igrejas estão voltando, aos poucos, os músicos profissionais, cristãos, católicos e evangélicos que assumem esta tarefa como sua profecia. Há padres, reverendos, religiosas e leigos que assumem a arte como tarefa de evangelização. Muitos grupos jovens fazem desse o seu serviço na Igreja, dando shows para multidões, cantando e abrilhantando liturgias.


Pe. Zezinho, scj



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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Artigos - 15 de Outubro

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A EUCARISTIA - BANQUETE PARA MISSIONÁRIOS


Se nunca lhe disseram isso deste jeito, permita-me ser o primeiro. Toda missa é um momento missionário Por isso a eucaristia chama-se também missa. Vem da palavra latina mittere, enviar. Daí vêm as palavras missão e missa. Missa quer, pois, dizer, o ato de enviar. Quando você celebra a partilha da palavra e do pão recebe e oferece um “eu-xaris” a Deus. O ato de oferecer este “eu-xaris” é a eucaristia. Eu-xaris é junção de duas palavras gregas que se pode traduzir como o maior de todos os dons: Eu: bom, xaris, graça, charme, dom, presente.

Quem vai à igreja celebrar a partilha do pão do céu e da palavra do céu, recebe e oferece o maior dom que se possa imaginar: Deus entre nós, Jesus Cristo. O Filho, comunhão pessoal e física com Deus, comunhão de fé com os irmãos. Terminada a celebração, o padre, em nome da Igreja, repete a ordem de Jesus: Ide pelo mundo, evangelizai. É como se a Igreja dissesse a quem comungou. Este banquete é para quem tem coração missionário. Vocês acabaram de receber Jesus. Agora, eis a missão de vocês. Levem a boa notícia do que houve neste altar a quem ainda não a conhece. Deus alimenta seu povo. Existe um novo maná acontecendo todos os dias para quem crê em Jesus. Ninguém precisa morrer de fome espiritual.

Portanto toda missa é banquete missionário. Você não sai de lá sem uma tarefa: anunciar aos outros o que Deus faz na nossa Igreja. Contar ao povo as maravilhas daquela mesa da palavra e do pão. Se não fazemos isso, é outra coisa, mas é isso o que a missa é. Um banquete missionário que dá o que falar!



CARISMÁTICO E LIBERTADOR


Não sei se sou libertador, nem se sou carismático. Tento ser querigmático, porque a catequese me é fundamental. Há carismáticos nada querigmáticos. Sentir a fé é uma coisa, levá-la é outra. Mas gostaria de ser os dois, por que tenho uma libertação a buscar e um carisma a exercitar.

Sei que em algumas situações deverei exercitar o meu papel de libertador, em outras, deverei deixar fluir alguns dos muitos carismas que Deus me deu. Mas preciso aprender a disciplinar, tanto as minhas inspirações e rompantes carismáticos como minhas inspirações e rompantes de libertação.

Eu não tenho tudo que meu povo necessita para ser libertado, portanto, minha palavra não pode vir apenas de mim e do que estou sentindo naquela hora. O sentimento não poucas vezes nos engana. Também a razão.

Também não tenho tudo que meu povo necessita para a união mais profunda com Deus, por isso mesmo preciso da palavra da Igreja para lhes dar mais espiritualidade. Como lembra Antonio Vieira, não me adiantaria pregar palavras de Deus se não pregar A Palavra de Deus.

Não me adianta decorar um discurso de um movimento ou de um grupo de igreja, seja ele, de ênfase espiritualista ou de ênfase política. Discursos não libertam; conteúdo, sim. Falar bonito é fácil. Ser coerente é que é difícil. As pessoas deveriam descobrir por si mesmas, se tenho ou se não tenho uma atitude libertadora e se ela é legítima e fundamentada nos dogmas e ensinamentos da Igreja. Pelos frutos se conhece a árvore. Alguém pode não gostar de figo, mas terá que admitir que está diante de figo legítimo. Alguém pode não gostar de um profeta, mas terá que reconhecer que está diante de alguém que não adapta o discurso para agradar ou para fazer adeptos.

Os que me ouvem terão também que descobrir se tenho unção e espiritualidade, ou se o que digo é apenas discurso. Essas coisas se provam com uma vida e não com palavras. Por isso, pedirei a Deus todos os dias, a graça de ser sempre renovado, sempre carismático e sempre libertador, dentro da ordem da congregação religiosa onde eu escolhi viver o meu chamado.

Quando meus defeitos se acentuarem -e eles se acentuam-, hei de pedir misericórdia e a graça de Deus para saber superá-los, sejam eles causados pela enfermidade, por erros de perspectiva e por atitudes que não somam e não ajudam meu povo a crescer.

Não sei se sou libertador, mas para o ser, preciso estudar com afinco a doutrina social da igreja que me ordenou sacerdote. Não sei se sou carismático, dentro da minha congregação e perante meus irmãos, mas sei que preciso aprofundar muito a espiritualidade católica, se pretendo levá-la ao meu povo. Terei que saber que uma coisa não se opõe à outra. Pode-se ser um libertador carismático e um carismático libertador. Mas isso não é coisa de papel e sim da pessoa. Já vi sacerdotes modernos de batina, como era o caso de Dom Helder. E já vi gente pregadores em manga de camisa, que pareciam modernos, mas não ouviam a comunidade. Eram ditadores. Tenho visto roupas do século 15 em pessoas avançadas e roupas do Século 16 em pessoas que rejeitavam até mesmo o Concílio Vaticano II.

Serei julgado por Deus, mas também pela minha Igreja, pelo que eu disse, fiz e vivi. Farei história se tiver caminhado com toda Igreja e não apenas com um grupo de igreja, se tiver tido o coração aberto para todos e capacidade de falar e dialogar com todos.

Farei apenas um pedacinho da história, se tiver me deixado prender apenas por um grupo, falado apenas a linguagem desse grupo. Terei marcado passo se não tiver conseguido falar a linguagem da Igreja Católica Apostólica Romana para o nosso povo e para o nosso tempo. Deus me ajude a ser diastólico. Meu coração não pode vier de sístole. Não me fecharei. A idéia de ser católico é bem essa: “para todos”. Católico fechado é contradição!


Pe. Zezinho, scj


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Artigos - 11 de Outubro

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CANÇÃO DESCOMPASSADA


Sou compositor de música religiosa há mais de 45 anos e aprendi com mais de 20 maestros que fizeram arranjos para as minhas canções. Eles me ensinaram que a musica transformada em canção é um discurso: tem começo, meio e fim; tem harmonia e tem compasso. Fizeram-me ver que a música precisa obedecer às leis da matemática. Não posso partir para um tom que fuja de forma discrepante da harmonia. Não posso encerrar uma canção com um tom que não a encerra e não posso segurar uma nota por mais tempo que o ritmo da canção exige.

É esta a linguagem de começo, meio e fim, ritmo, duração das notas, letras com rimas, poesia e conteúdo que faz uma canção bonita. Tenho percebido que falta a alguns compositores de músicas religiosas a noção básica da composição. Ou não foram à escola ou não tiveram maestros com paciência para ensinar. O fato é que tenho ouvido nas Igrejas, canções que pecam por quebra de ritmo, quebra de compasso, por notas demasiadamente prolongadas e fora de propósito e por falta de harmonia.

Muitos dos maestros que conheço se negariam a fazer os arranjos de tais canções, pela mesma razão de que alguns engenheiros se negariam a assinar a planta de algumas construções. O resultado são canções pobres, cantadas durante a liturgia na nossa Igreja, por que os compositores são amadores demais. Não estudaram, não estudam e não querem estudar, acham que já sabem.

Acrescento, para quem não sabe, que não tenho muito ritmo e que freqüentemente preciso de ajuda dos meus cantores para entrar na hora certa. Tenho o dom das letras e das melodias, mas preciso da sabedoria dos outros para não cantar errado. Por isso, aceito ajuda e jamais canto sozinho as canções sobre as quais tenho alguma dúvida. Ser autor não é o mesmo que ser cantor.

Esses dias, um maestro evangélico comentava que a musica evangélica evoluiu muito a partir do momento em que os compositores foram estudar harmonia e ritmo e à medida que também os maestros se negaram a fazer arranjos para musicas sem pé nem cabeça.

Hoje, de fato, a musica evangélica evoluiu bastante, a partir da reação dos reverendos, dos músicos e maestros daquelas Igrejas. Sugiro o mesmo para nós católicos e para as gravadoras. Já tive duas músicas minhas recusadas por um maestro italiano, quando morei na Itália, e uma recusada aqui no Brasil por dois maestros brasileiros por que achavam que elas pecavam pelo ritmo e pela harmonia.

Nem questionei. Engavetei as canções e decidi que não as gravaria jamais, pois maestro sabe mais música que eu. Acho que os maestros têm, sim, o direito de questionar os compositores, da mesma forma que estes podem questionar os maestros, mas maestro sempre sabe mais.

Faço uma sugestão aos compositores: aceitem que os maestros lhes corrijam algumas canções, da mesma forma que, se alguma professora especializada na nova ortografia quiser corrigir meus textos, eu permitirei. Continuarei permitindo a maestros que desejem interferir nas minhas composições, desde que não mudem o conceito delas. Eles sabem o que podem e o que não podem. Digo o mesmo aos cantores. Interpretem, mas não mudem nem a letra nem, a melodia, nem o ritmo. Cantores têm o dom de fazer uma canção ficar mais bonita sem ter que mudar nada nela. Deus deu a eles algo que não deu ao compositor. Sem mudar absolutamente nada, um bom intérprete dá ênfase e vida nova a qualquer canção já conhecida. Quando ele ou ela canta fica diferente. A isto se chama interpretar. Avise-ser aos cantores que interpretar não é modificar.

Sou daqueles que pensam que a música católica empobreceu a partir do momento em que os compositores e as bandas não aceitaram serem corrigidos. A música dos católicos pode e deve melhorar e precisa começar com os compositores. Algumas melodias pecam tanto pela falta de estética que é difícil acreditar que seu inspirador seja o Espírito Santo. Seria o mesmo que dizer que foi ele que inspirou a construção de uma ponte sem firmeza.


DESCONTROLE


Quando você fica nervoso porque o carro da frente não saiu depressa na mudança de farol; fica nervoso porque, na estrada, o carro da frente está em velocidade proposta pelas placas; fica nervoso quando alguém o ultrapassa; fica nervoso quando o sinal demora a mudar; fica nervoso quando uma pessoa idosa demora a atravessar a pista; fica nervoso porque não encontra estacionamento; fica nervoso porque alguém buzinou atrás do seu carro; porque a fila de espera é muito longa; porque choveu e todo mundo está devagar... Vá ver o seu médico, você está estressado!



OS PROFETAS DE ONTEM


Habitue-se a ler, na sua Bíblia, os livros dos profetas, como trechos de sermões e discursos de homens que falavam nas ruas ou em pórticos, a respeito do seu tempo e sobre coisas que aconteceriam ainda no seu tempo. Eram homens engajados na fé e na política. Seu discurso era claramente libertador. Não se limitavam apenas a orar e a curar enfermidades. Pediam mudanças políticas em Israel e enfrentavam reis e poderosos. Eram místicos, mas não fugiam dos temas sociais e políticos como tantos profetas de agora fazem. As canções de alguns deles eram de louvor e de política. Falavam da dor humana!

Veja-os como homens que previam o mundo para um pouco depois do seu tempo. Não os veja, porém, falando para a ONU, o Brasil, a China, Israel, Venezuela e Estados Unidos de agora. Não era esta a sua intenção. Podemos agora ler esses livros históricos e proféticos e aplicá-los aos nossos dias. Isto sim seria pedagógico e profético, porque eles aplicaram a fé na política do seu tempo.

Uma geração que foge da política como o diabo foge da cruz decidiu que apenas falará de conversão e salvação pessoal e que não se envolverá com discursos sociais e políticos, como se isso fosse contra a fé. São capazes esses piedosos irmãos que oram três a quatro horas num estádio, sem uma canção sequer sobre a dor humana, sobre a cruz dos pais, e a angustias do nosso tempo. Não se ouve nem sequer um trecho de alguma encíclica social, ou do mais recente Documento Aparecida. Não tem jeito. Esses novos profetas não falam de política. Alguém lhes ensinou errado. Se ontem havia os que esqueciam a fé e a oração e só falavam de políticas revolucionárias de esquerda, agora há uma geração que não falam nem de centro, nem de democracia, nem de direita, nem e esquerda. Simplesmente ora e musica a parte dos salmos que fala de louvor e ignoram as outras que falam de mudar um povo e exigir mais justiça do rei e dos seus governadores. O Papa acabou de lançar um encíclica que estabelece uma doutrina: Caritas in Veritate: que poderia muito bem ser traduzida como caridade com verdade, ou caridade sem faz de conta.

Deveríamos todos aprender como os profetas de ontem anunciavam para seu povo a palavra de Deus. Poderíamos até aplicar muita coisa do que eles disseram para os nossos dias, mas esta interpretação ousada de dizer que “carruagens de fogo” eram os tanques de hoje ou que “grandes labaredas” equivaleriam às bombas atômicas de hoje é ir muito longe. Uma leitura atenta dos profetas mostra que eles certamente não queriam profetizar para o ano 2000. A maioria deles profetizou para o povo do seu tempo. Nós, do ano 2000, podemos tirar proveito das suas profecias, porque muito pode ser aplicado a nós, mas levar ao pé da letra ou forçar o texto para poder explicar alguma catástrofe atual, ou armas atômicas, ou ainda a queda de Sadam Hussein ou garantir que Jeremias falava do advento da era Bush- Bin Laden é muita ousadia. A Bíblia não nos autoriza a ir por esse caminho e não convém ir por este caminho. Daí ao fanatismo ou à instrumentalização da Bíblia é apenas um passo. É tão instumentalizador aquele que leva tudo para a política, como aquele que leva tudo para o louvor e para a conversão pessoal. Os profetas falavam ao indivíduo e à comunidade nacional.

Leiamos os profetas como devem ser lidos homens que traduziram a palavra de Deus para seu tempo e aproveitemos um pouco do que eles disseram, porque certamente muitas coisas podem ser vividas e aprendidas hoje, mas todo cuidado é pouco. O vinho velho deve ser sorvido com moderação e a Bíblia também. Tomados de qualquer jeito e em excesso, ambos embriagam. O pregador que disse que estava embriagado de Jesus arrancou aplausos. Mas a Igreja prefere os pregadores lúcidos. Entre Oséias que se casou com uma prostituta para chocar o seu povo, que procurou uma mulher adúltera e a comprou, às vezes parecia louco e Jeremias, sempre lúcido e franco, o fiel faça a sua escolha. Temos hoje todos os tipos de profeta. Se um deles orar para que o demônio da diarréia desapareça e que o demônio da dengue leve seus mosquitos para fora do Brasil, abra sua Bíblia e procure um profeta mais sério! Aconselho Isaias!


Pe. Zezinho, scj


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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Artigos - 08 Outubro

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O ÓLEO ATRATIVO


A FM 98.1, as 15:50, do dia 03de abril, numa terça feira de 2007, anunciava a venda do óleo atrativo a preços módicos. Qual seria a função deste óleo miraculoso? A mulher solitária que desejasse encontrar um companheiro, deveria esfregar algumas gotas desse óleo no entre seio, nas virilhas, atrás da orelha ou, eventualmente, no último enxágüe das suas peças íntimas derramar algumas gotas. Homem nenhum resistiria aos seus encantos e ela certamente conseguiria o seu marido, porque o óleo atrativo tem enorme poder de sedução.

No avançar dos números do painel do rádio, mais adiante, uma senhora explicava sobre feitiços quebrados e enraizamentos que poderiam ser todos resolvidos com a recitação fiel, três vezes pela manhã, três vezes pela tarde, três vezes pela noite, da oração que ela enviaria a preço módico. O rádio anuncia, também, os cristais, a pedra da lua, as águas do rio Jordão, a cruz onde há um pouquinho da terra onde Jesus pisou, o óleo feito com a azeitona da terra santa, do lugar do monte das oliveiras.
Esses dias ofereceram-me um amuleto para a defesa, feita de uma pedra encontrada de um itabirito que caiu há 200 anos na Rússia. Segundo eles, os soldados que o usavam escaparam com vida porque a bala não os atingia. Insistam que se eu comprasse, eu nunca seria atingido por uma bala extraviada. Segurei o riso.

A senhora que me vendia o escapulário de Nossa Senhora do Carmo me garantia que quem usasse o “Agnus Dei” ou aquele escapulário, jamais cairia nas tentações do demônio e também jamais seria vítima de algum tiro. Oferecia-me também, uma cruz e um amuleto contra ataques do coração. Uma emissora de rádio anunciava, anos atrás, um kit de 13 medalhas para preservar todas as partes do corpo contra qualquer interferência do maligno. Numa outra emissora de rádio, alguém anunciava que jogo de búzios ou de tarô poderia ajudar a pessoa a evitar um mal olhado, ou a descobrir o seu futuro.

Divinações, adivinhações, proteções, através desse ou daquele objeto estão na ordem do dia. Conheço, pelo menos, vinte e cinco tipos de cruzes, três delas divulgadas como poderosas e milagrosas para quem usar. Conheço também, rosários eficazes e milagrosos que, segundo quem os vende, se a pessoa rezar durante um mês, terá a salvação da alma garantida e Nossa Senhora virá buscá-lo no dia da sua morte. Não adianta dizer para as pessoas que isso não faz parte da catequese da igreja, e que se trata de bugalhos e não de alhos, de penduricalhos da fé e não de símbolos da fé.

São sinais mal utilizados e com promessas mal feitas e com garantias impossíveis. Não obstante, de nada adianta pedir às pessoas que não acreditem, porque acreditam no que querem e não no que devem. E quem divulga isso também divulga segundo os seus interesses e não segundo a fé da Igreja que, em muitos casos, eles não conhecem por nunca terem lido nem o catecismo nem os documentos da fé.

Já vi, numa dessas minhas viagens, a venda também de um semáforo sagrado, que a pessoa penduraria no peito e, no dia em que a luzinha verde estivesse brilhando, naquele dia ele estaria apto a qualquer coisa porque estaria na graça de Deus. Se a luz verde estivesse ofuscada e aparecesse mais a luz amarela ou a vermelha, naquele dia deveria tomar cuidado. Evidentemente, na hora da compra, a luz estaria verde.

Por que as pessoas vendem? E por que compram tais objetos ou amuletos? É que não apenas querem crer; elas querem ver e, não podendo ver o mistério, agarram-se a verdadeiros e a falsos símbolos e a objetos que alguém lhes garantiu que lhes daria uma resposta. Mas quem garantiu não tinha nenhum conhecimento de teologia ou da fé para oferecer tal promessa.

Era muito esperta aquela senhora que oferecia um milheiro de orações eficacíssimas para conseguir emprego. Mas a condição seria a pessoa pagar os cinqüenta reais do pacotinho e distribuir para mil pessoas. Quando tivesse distribuído para mil pessoas, e as mil pessoas estivessem orando para conseguir emprego, ela conseguiria o seu próprio emprego. Muito esperta ela, porque, no final da oração, toda cheia de erros de português e de conteúdo teológico, estava o endereço dela para quem quisesse mais.

Dizer o quê? Já foi dito e não foi levado a sério. Jesus o disse em Mateus 7,15 a 23 e em Mateus 24,24-26. Disse para não acreditarmos em gente cheia de truques e certezas. Paulo alerta contra tais pregadores na 2 Tm 4,1-5. Não adianta. As pessoas querem ver, cheirar e sentir. Querem o toque e a garantia. E ganham! Mas nem sempre o pacote vem com a verdade! O melhor é buscar a verdade. Demora mais e exige mais, mas traz uma esperança fundamentada. Faz parte da mística da pregação. Sem isso se cai no charlatanismo.



APÓCRIFOS E PSEUDO-EPÍGRAFOS


Não é apenas coisa de ontem. Há milhares de livros apócrifos e pseudo inspirados, com nomes falsos e autores falsos rodando pelas igrejas e livrarias nos dias de hoje. Você talvez conheça o nome, mas não o conteúdo. Se minha Igreja escolheu 73 livros para os quais acredita ter havido inspiração, se nossos irmãos judeus aceitam apenas 39 e se os irmãos evangélicos apenas 66 eles fizeram sua escolha e eu a minha. Mas nenhum de nós aceita os quase 50 livros tidos como apócrifos (secretos) ou de falsa autoria (pseudo-epígrafos) que chegaram até nós.

Além da boa notícia de Jesus e sobre Jesus, que são os evangelhos, a narrativa sobre os começos da Igreja que são os atos dos apóstolos, das cartas às comunidades que nasciam, da profecia cheia de expressões misteriosas chamada de apocalipse, os primeiros cristãos deram vazão à sua imaginação escrevendo revelações e historinhas catequéticas de veracidade bastante duvidosa, e atribuindo-as a personagens bíblicos famosos. Não é que todos os livros secretos com nomes falsificados não sirvam como reflexão; Servem, mas a Igreja foi purificando um por um e optou pelos que hoje conhecemos.

Nos dias de hoje há tantos livros pretendendo levar o leitor a Deus através desta ou daquela seita, desta ou daquela igreja, destas ou aquelas revelações a que convém lembrar o que dá origem hoje a tais livros e o que, ontem, deu origem àqueles escritos. Alguém se achava iluminado, escrevia, não assinava o próprio nome e os fiéis acreditavam sem questionar, em livros com “A Assunção de Moisés, o Conto dos Patriarcas, As Declarações de José de Arimatéia, A descida de Cristo aos Infernos, o Evangelho de Madalena, o Evangelho de Nicodemos, Cartas do Senhor, O Evangelho da Verdade, o Apocalipse de Pedro”... E assim por diante.
Li a Bíblia do primeiro ao último livro pelo menos dez vezes. Li os Apócrifos duas vezes. É informação demais para uma só cabeça. Não posso dizer que entendi e que situei tudo no seu devido espaço, tempo e lugar. Ao ler a Bíblia, os Apócrifos o Corão e outros livros sagrados para outros povos, entendo que para eles servem como bússola que aponta para algum norte. Puseram fé naqueles escritos como eu pus na Bíblia. Ela não me mostra todos os caminhos, nem dá todas as respostas. Suas mensagens e histórias apontam na direção do passado, do presente e do futuro. São como o painel de um avião à procura de um aeroporto. O piloto terá que entender o mínimo daqueles mostradores para não se desviar da rota.

Com enorme facilidade e imensa ingenuidade há fiéis aceitando tudo o que seus pregadores dizem. Alguns deles não têm mais do que algumas horas de vôo. Não lêem e não leram o suficiente para dizer aquilo que andam dizendo. Deviam ser questionados quando dizem falam do demônio da unha encravada, demônio da dengue, demônio da diarréia que não para, ou quando desfilam a lista de mais 40 doenças que serão curadas naquela noite... Se há crença e fé também há credulidade e esperteza demais na mídia e hoje. Dava-se o mesmo com os apócrifos de ontem. Nem tudo era sério. Nem todos os que se diziam apóstolos eram apóstolos. Muitos se aproveitaram da onda de fé e da carência do povo para dizer que Deus falara com eles e que tinham um recado do céu para aquela gente sofrida. Lá como cá corria poder, fama e dinheiro. Muita gente vai ter que provar que não está em cima daquele púlpito e daquele palco por causa dos 10 %. Basta olhar onde moram, sua conta no banco e onde vai o dinheiro que arrecadam.



UM “T” E UM “D”


Uma vogal que equivaleria ao nosso “i” duas consoantes equivalente ao nosso “t” e ao nosso “d” mexeram por décadas e até por séculos com a doutrina cristã. De certa forma ainda mexem. Por causa de um T, por séculos se discutiu entre os cristãos se Maria era apenas educadora do filho de Deus ou era, de fato, mãe dele, “teo-dokos”, “teo-tokos”.

Por causa de um “i” também por séculos se discutiu na igreja se Jesus era de substância semelhante a Deus ou se era da mesma substância de Deus. O “i” caracterizava a diferença. Os que diziam que Jesus era filho de Deus afirmavam que ele era homo-ousios, e os que diziam que ele era apenas semelhante punham o “i” no meio, ele seria homo-i-ousios. Este simples “i” jogou grupos inteiros uns contra os outros. Equivalente ao “ele é” e ao “ele não é”.

A encíclica de João Paulo II, Ecclésia de Eucaristia nos leva pelo mesmo caminho. Quis dizer que a igreja nasce da eucaristia, depende da eucaristia, encontra o seu sentido a partir da eucaristia. Assim, os fiéis e assim também Maria. Ao usar a palavra “de eucaristia”, o papa quis dizer que nós estamos do lado de cá, como adoradores, e não do lado de lá, como parte da eucaristia.

Podemos ao receber o Cristo e nos tornarmos um com Ele. Essa unidade não é hipoestática. Vem do fato claro de que somos assumidos por Ele, mas “in”, “inata”, na eucaristia está a divindade. Por isso, no altar está Jesus. Nós estamos ao redor. No sacrário está Jesus e nós estamos ao redor. Na cruz estava Jesus, Maria, as piedosas mulheres e o discípulo estavam ao redor “juxta”...

É preciso esta distinção para entendermos o que é crer na eucaristia. Nós aqui e Jesus ali. Depois que o recebemos Jesus é em nós, mas o essencial da nossa fé na eucaristia é que ela é o próprio Cristo. Não é o Cristo “na” hóstia, nem é o Cristo “da” hóstia; é o “Cristo-hóstia”. Ele não entra nem sai da hóstia. Ele é a hóstia. Não é símbolo: é o mistério.


Seremos eucarísticos enquanto nos associarmos àquele que é a própria eucaristia. Maria é eucarística enquanto se associa ao seu filho, que é a própria eucaristia, mas Maria não está na eucaristia. Não é adorada com Jesus. É adoradora como nós. Não recebemos Maria na eucaristia.

Já vi pregadores na televisão a ensinar que se pode comungar Maria na missa. Maria não está naquela hóstia, não está naquele sacrário, não está naquele altar, como não estava naquela cruz. Estava-lhe ao pé. Não fazemos parte do mistério: somos adoradores do mistério; não somos a eucaristia: vamos à eucaristia, dependemos da eucaristia.

Como igreja podemos até dizer que nascemos para a eucaristia, vamos à eucaristia e nos situamos “juxta”, ao pé, ao lado, perto do Cristo; mas a hóstia, a vítima o crucificado, o adorado é Jesus Cristo. Sua mãe é mãe de Deus, mas não é deusa. Aí a grandeza do mistério que professamos. Firmemos esses conceitos para não corrermos o risco de misturar alhos com bugalhos.



BOMBA OU ENERGIA?


Quando o jovem erroneamente piedoso disse que asa bombas atômicas não lhe interessam, pedi licença e argumentei se não lhe interessava o fato de que paises inteiros, ou talvez dois terços da humanidade pudessem desaparecer em três dias do mapa. Religião que não se preocupa com o futuro da humanidade é arremedo de religião. Deus provavelmente não mandará um anjo do céu para proteger as instalações anti-bombas de um país se é que elas existem. Está nas nossas mãos banir a fabricação de novos artefatos nucleares para fins bélicos e de desmontar o que já existe. Querem que os paises que ainda não fabricaram assinem um tratado de não construção da bomba, e aceitem inspeção internacional, mas não se sabe de nenhum país que, tendo a bomba, aceitou assinar um documento que permita outros países vigiá-los e desmontar seu arsenal.

Aí a hipocrisia!



Pe. Zezinho, scj


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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Artigos - 04 de Outubro

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INTERPRETAR NÃO É ADAPTAR


Chega a ser preocupante o modo como alguns pregadores forçam determinadas passagens bíblicas para aplicá-las ao dia de hoje. Sem dúvida alguma todas as igrejas cristãs devem se basear nos ensinamentos bíblicos para o seu cotidiano. Podemos tirar inúmeras lições do passado e dos acontecimentos que marcaram a vida daqueles povos, mas não é certo, não é justo e não é honesto pegar passagens bíblicas e aplicar, sem mais nem menos, aos personagens de hoje.

Por isso foi longe demais aquele pregador entusiasmado que garantiu que Sadam Hussein era o Nabucodosor moderno e que aquele buraco onde ele estava escondido correspondia a determinada passagem bíblica, que a loucura de Nabucodonosor, que pastava e comia grama, equivalia a loucura de Sadam Hussein quando foi encontrado. A pregação era nitidamente pró-americana. Deveria ter dado um predecessor a George Bush.

Para quem quer adaptar a Bíblia ao seu pensamento qualquer passagem pode ser útil e qualquer fato de hoje pode ser ajustado ao fato da Bíblia. A imaginação humana não tem limites, mas daí a dizer que o profeta Isaías queria se referir a tanques, bombas atômicas, ao computador, aos moderníssimos aviões e aos raio lazer é muita ousadia. (Is 66,15) Muito provavelmente o profeta Isaías jamais pensou nessas coisas. Estava falando em linguagem figurada para os povos do seu tempo. Procuremos entender isso e compreenderemos melhor porque se deve ler a Bíblia. Ela é o passado que nos inspira, mas do presente precisamos cuidar com outros conhecimentos mais atualizados, porque as dores do nosso tempo certamente trarão outras profecias. Sem jamais esquecer a Bíblia, saibamos falar de coisas reais, mesmo que não haja passagens bíblicas para fundamentá-las. A Bíblia não disse e não diz tudo.

A maioria dos exegetas sérios de todas as igrejas desaconselha esse tipo de adaptação dos textos bíblicos. Com um pouquinho de esforço alguém poderia dizer que aqueles israelitas que comeram carne de codornizes, pássaros que, aos milhares vieram morrer no acampamento dos israelitas, por terem pedido carne a Moises, foram castigados com a gripe aviária. Já que muitos morreram da ingestão daquela carne.

Naquele tempo, dadas as precárias condições de higiene, é fácil imaginar que muitos apanharam doença por falta de cuidados e de limpeza. No deserto não havia geladeira. Quem quiser ficar com a versão da gripe aviária, provavelmente ficará. Vai parecer mais atual, mais moderno e mais sensacional, mas dificilmente bate com os fatos. Pregadores que acham para tudo uma passagem e uma frase da Bíblia lembram o radialista fanático por Shakespeare que, sempre que desejava mostrar alguma erudição citava uma frase e a atribuía a uma das peças de Shakespeare. Um dia alguém lhe pediu que indicasse o livro e a peça. O radialista saiu-se com essa: -Se não foi ele quem disse, é bem do estilo dele! Consertou, mas não resolveu.


QUANDO LHE TELEFONAREM


Habitue-se a não atender a telefones, ou telefonemas com identificação bloqueada. Se eles não querem se identificar e é um direito deles. Você também não quer falar com alguém que não se identifica e esse é um direito seu. Se eles querem ficar no anonimato, você também quer. Por isso reflita da seguinte forma:

-Se é alguém que precisa falar comigo vai dar outro telefonema. Se não está precisando ou se pode adiar, eu também espero. Mas telefone com identificação bloqueada não se atende. Vai contra os direitos humanos. Por que pode o outro esconder-se no anonimato e você tem que se expor? Não é por ai!


SOU, PORQUE ACONTEÇO


Há um tipo de mentalidade religiosa e secular que afirma “sou porque aconteço” , “ sou porque repercuto” e a outro que afirma “sou porque compreendo”. Acontece no mundo dos negócios, no mundo dos esportes e principalmente no mundo da religião. É a luta entre os “experimentei” e o “estudei”, entre o sentir e o perceber, mesmos em sentir. Os fiéis que buscam explicações procuram um tipo de sacerdotes e pregadores que lhes deem doutrina e ensinem o modo de entender, encarar as coisas e viver. Apostam fortemente na doutrina. Os que buscam sensação e querem experimentar, procuram os que pregam sobre o que acontece naquele que crê. Apostam fortemente nos sinais. Deus está operando maravilhas naquela igreja ou naquele grupo. E, se tudo aquilo está acontecendo então é sinal de eleição.
A um deles que, falando dos milagres quase diários nos seus templos, me perguntava a queima roupa onde estavam os sinais na Igreja Católica, falei de Lurdes, Fátima, e de inúmeros santuários cheios de lembranças e sinais de curas, falei dos nossos templos dos confessionários onde há curas silenciosas não publicadas na mídia, e dei o nome de dezenas de mártires católico atuais que derma a vida pelos outros. Se a vida de um mártir não vale como sinal de Deus para o povo, então a cura de um caroço vale menos!...
O convite para vir, experimentar e ver milagres e buscar a cura, porque naquele templo as coisas acontecem, é a religião do tocar. Tem o seu valor. Jesus não rejeitou Tomé porque exigiu provas. Apenas disse a ele que havia um jeito mais profundo de buscá-lo. O de crer mesmo sem ver. (Jô 20,29 )
Por mais que um pregador explique e seja culto, preparado e profundo, esse tipo de fiel que insiste em tocar e ver não vai ouvi-lo. Irá ao outro que, mesmo não tendo cultura e escolaridade e com pouca filosofia oferece o Deus que acontece. Entre acontecer e compreender há um espaço enorme que poucos conseguem transpor. A turma do pathein: tocar sentir e acontecer jamais vai se dar bem com a turma do mathein: compreender. E a turma do compreender vai estranhar a turma do acontecer. Mais felizes são os que conseguem viver as duas experiências. Compreender muito e, por menos que aconteça, entender o acontecido.
Sim, Deus opera milagres, mas nossa primeira obrigação não é buscar os atos de Deus e sim o ser de Deus. Tocar pode ser profundo, como fez aquela mulher enferma com doze anos de sofrimento. (Mt 9,20) Pensar pode ser até mais ousado, como fez Pedro ao responder sobre quem ele pensava ser o Cristo.(Mt 16,17) Ao aluno que me perguntou se não era uma santa ousadia anunciar um milagre respondi que sim. E acrescentei: há uma ousadia em querer sentir e tocar, há uma outra em anunciar ali mesmo, na hora, o milagre e outra ainda mais avançada em querer entender. Alguma ousadia pode até ser santa, mas outras são pura e simplesmente ousadias imaturas. O pregador ou o fiel não esperou amadurecer a obra de Deus. Não deu à semente o tempo de germinar. Deve ser por isso que Jesus muitas vezes pediu segredo sobre suas curas. A ninguém o digais. ( Mt 17,9; 5,43, Mc 9,9) Deve ser também por isso que, na visão de Pedro, ele foi convidado a matar e comer o conteúdo da visão; deveria tocá-la e assimilá-la a ponto de que ela fizesse parte do seu pensamento e do seu modo de ser.( At 11,5-13)
“Sou mais porque aconteço” não é atitude cristã. Nem o é também o “sou mais porque penso”. O correto é querer ser melhor por pensar no que acontece e naquilo que não aconteceu! É mais santo aquele que enganou-se ao proclamar um milagre e ao ver seu engano voltou atrás e pediu desculpas. Quantos pregadores fazem isso?


Pe Zezinho, scj


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sábado, 3 de outubro de 2009

Fotos com fãs

Se vc tiver uma foto com Padre Zezinho e quiser enviar junto com um depoimento o endereço é: rodrigo.bianchesi@hotmail.com .


Margarida Lucas


Rodrigão
Gostaria que você postasse essa foto no blog. Essa moça que saiu na foto ao lado do Padre Zezinho chama-se Margarida Lucas, que é minha tia. Essa foto foi tirada em Salvador, em um evento que ela participou em 2005. Ela é uma fã de carteirinha do Padre Zezinho e aprendi a gostar de suas músicas através dela, as quais eu ouço desde criança e até hoje eu escuto e acompanho o trabalho deste gênio da música católica.
Kinho Veloso


Janaina Matos Cruz



"Ao Pe. Zezinho,scj.com muito carinho
Depois de tantos anos após ter o ouvido pela primeira vez, eu ainda me emociono quando sua voz invade de ternura a minha casa.Suas palavras têm o dom de me trazer de volta quando as vezes, por causa das coisas do mundo, eu me perco. Eu sei que não devo fazer de você querido padre e amigo, algo maior do que o é, e eu não o faço, acredite, Mas eu reconheço que a sua fé aumenta a minha fé, e o seu amor e respeito pelo sagrado me faz ter sede de Deus a cada amanhecer.
Através de seus " sermãozinhos", como diz na canção, eu tenho compreendido o sentido de ser cristã, posso entender o que o Cristo quer de mim e embora muitas vezes eu duvide da minha força, lá está você através da canção, poema, livro ou poesia a me dizer que Deus me quer feliz e que sempre " me esperas amanhã..."
Sinta-se abraçado e amado e saíba que a força da sua paz não nos deixa esquecer " ... que um jovem foi crucificado por ter ensinado a gente a viver" e que esse Jovem está dentro de nós a cada pulsar de nosso coração.
Obrigada por dividir conosco essa luz que tão serenamente traz em si.
Te amo fraterna e carinhosamente. Deus abençõe e proteja a ti e a teus amigos, sejam sempre bem- vindos em Juazeiro do Norte-ce
Tua ouvinte fiel que o tem sempre em todas as orações."

Janaína Matos Cruz - Juazeiro do Norte- CE


Cícero Roberto Silva Santos






“Ontem 06/09/10 o Pe Zezinho com o ir ao povo, estiveram fazendo show aqui em Juazeiro do Norte. Aproveitando o ensejo, fiz esta foto com ele no camarim. Sou mais um dos grandes admiradores das obras desse missionário de deus, Pe Zezinho. Tenho muitos dos seus livros inclusive este último, de volta ao catolicismo. ele me falou que vai sair mais dois grandes volumes. Falou-me o Betinho, que também estava com ele, que dentro de um mês ou dois, o padre vai está lançando mais um CD. Que venham livros, CD's, poemas e poesias, tudo o que o Pe Zezinho faz, faz bem a todos nós, nos torna mais humanos e fraternos. Abraços!”

Cícero Roberto Silva Santos - Juazeiro do Norte



Renata Escalari Quintiliano



"Pe. Zezinho com certeza, é um dos maiores cantores que existem em relação á música católica.
Foi um grande prazer quando ele veio nos dar uma formação aqui na Pia Sociedade de São Paulo, pois ele é uma pessoa abençoada por Deus.
O Pe. Zezinho com certeza é aquele padre que levou muitas pessoas novamente para a Igreja, com seu jeito de cantar e falar de Jesus.
Parabéns pelo site, pela ideia de publicar fotos com padres importantes que fizeram e faz história no Brasil e no mundo."


Renata Escalari Quintiliano.



Luciano de Araújo Barbosa



"É uma grande satisfação conecer o Pe Zezinho pessoalmente,não é a primeira vez,por que em 2004,eu fui no aniversário dos 15 anos de Codmuc,e tive o prazer de conhece lo pessoalmente e sentar ao lado dele no credicard hall."

Luciano Araújo Barbosa - Carapicuiba SP


Edmilson Aparecido



"Para mim foi uma grande alegria ter o prazer de conhecer pessoalmente o Pe. Zezinho,scj, tive a oportunidade de estar com ele várias vezes, em Missas e formações. O que mais me surpreende nele é a sua humildade e a forma como lida com o sucesso, não deixando que este o domine, como infelizmente acontece com vários artistas, inclusive com artistas católicos.Ele é uma pessoa maravilhosa, e sua sabedoria deixa extasiado a todos os que o ouvem falar, ele tem “a palavra certa, do jeito certo e pra pessoa certa”, é impressionante.Já o admirava muito, mas depois que o conheci pessoalmente passei a o admirar muito mais."

Edmilson Aparecido


Aureliano e sua mãe, Gilma



Algumas das fotos do meu encontro com padre Zezinho, que aconteceu no dia 26 de janeiro de 2006, no Mosteiro Beneditino de Nossa Senhora da Vitória, Juazeiro do Norte - CE.

Ele tinha feito show no dia anterior. A equipe organizadora do show participou de uma eucarístia com ele, e o Trio Ir ao Povo no dia seguinte, ocasião da foto. Fui convidado a participar desta missa, o que muito me alegrou. Quem estava comigo também, era minha mãe Gilma.

Aureliano de Souza Gondim







Marcos e sua esposa Teresa


Nós, com o Pe. Zezinho, scj (Campina Grande/PB - Corpus Christi/2007)

Acho que esse sorriso do padre foi por ver a foto dele mesmo jovem, na capa do CD que levamos pra ele autografar. O CD era o "Graça e Paz" lançado como LP em 1985, originalmente.

Que emoção! O Pe. Zezinho autografando um Cd para mim...







Fotos do Germano


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Fotos do Emilio





Esta foto com Pe. Zezinho, após um emocionante show em Guarabira - PB, 30/08/2009, que gentilmente, mesmo quase meia noite, parou para atender meu pedido. Sonho realizado.

Emilio Soares



Fotos da Tiena



Foi um sonho realizado,conhecer pessoalmente a pessoa quem escreveu as canções que tanto me ajudaram desde criança,até agora a enfrentar a depressão, e a vida.Deus seja louvado por ter nos presenteado com esta pessoa maravilhosa,simples,talentoso, um verdadeiro Profeta!!!Pe.Zezinho,scj com sua Paz Inquieta me ensinou a compreender,perdoar,valorizar as pessoas, sem querer aparecer...''Envelhecer não é o fim...''

Tiena Mara Demetrio Lima



*** Um sonho em comum...Pe.Zezinho,scj : uma benção em nossas vidas !''Teus caminhos conheci desde pequeno,Tua Graça me acompanha sem cessar.Meu coração vai ao compasso do amor,a minha vida Te pertence Meu Senhor...''

Ana Cláudia, Tiena Mara.


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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Artigos - 02 de Novembro

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QUEBRA DE MALDIÇÕES


Faço parte dos sacerdotes católicos que questionam as celebrações e os ritos hoje conhecidos como quebra de maldição. Somos milhões os católicos que não vemos tal catequese como proposta positiva de vida e de fé. Canoniza o medo, dá a entender que Deus se vinga até à quarta geração, e acentua demasiadamente o papel de alguns sacerdotes ou dos intercessores em detrimento dos sinais e dos sacramentos que já temos na Igreja. Além do mais, empobrece a doutrina da graça, da redenção, da presença de Deus na família, da misericórdia e do poder salvífico do sangue de Cristo. Colocam o ritual de quebra e de purificação acima da certeza do perdão. E dão a entender que só aquele grupo ou aqueles sacerdotes podem derrotar o que eles chamam de estratégia do inimigo! No fundo eles também têm uma estratégia de combate ao inimigo e chama-na de quebra de maldição. A Igreja com seus sacramentos e sua proposta de confiança no perdão está acima desses esquemas. Vai-se aos templos para interceder, pedir perdão, louvar, agradecer, ouvir a palavra e partilhar da riqueza espiritual que temos. Oficialmente a Igreja não tem nenhum ritual de quebra de maldição. Apenas alguns grupos a praticam. E se alguém o fizesse teria que ser autorizado pelo bispo porque exorcistas não podem se improvisar. Entre nós não é qualquer pregador que lida com o mal e com o demônio. Em casos mais graves as autoridades precisam intervir. Mas o acento dos católicos é na coragem e na confiança no Deus que perdoa e que não se vinga de nossos erros passados, nem dos erros de nossos antepassados.
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Ao ouvir um pregador católico numa emissora convidando os fiéis para uma missa de quebra de maldições, e ao vê rna televisão o convite de uma igreja pentecostal para mais uma sessão de descarrego, tentei lembrar algum papa, bispo ou documento que nos últimos cem anos tivesse abordado tal prática de exorcismo contra o mal ou contra o demônio. Não me lembrei de nenhum. Também não sei de nenhum teólogo católico que acentue esta luta contra as maldições na família. O que sei é das encíclicas Miserentissimus Redemptor, Redemptor Hominis, Dives in Misericórdia, Redemptoris Mater. Apontam para o Deus que perdoa e que liberta.

Se releio o os documentos do Vaticano II, o CIC (Catecismo da Igreja Católica), se procuro, no Novo Testamento, os temas redenção, resgate, salvação, mediação, compaixão, perdão e misericórdia, o que encontro é Jesus e seus apóstolos a me dizerem para não ter medo e a confiar nele porque ele venceu o mundo.

Fica mais claro a cada passagem que Deus não vai punir ninguém pelos desvios ou erros dos antepassados e que um cristão, sobretudo se for católico e crer nos sacramentos, não carrega maldição alguma. O que somos é portadores da misericórdia do mesmo Jesus (Rm 9,23, 2 Cor 4,7). Se há vasos para a desonra, estes não somos nós. O que sei é Jesus que curou um paralítico, sem que o enfermo o pedisse, (Jo 5,1-12) e depois propôs que ele mudasse de vida para não lhe acontecer algo pior. Não era maldição. Era advertência. Sei que ele ressuscitou o filho de uma viúva,(Lc 7-12-15) sem que ela tivesse solicitado.

O que sei é que em Jesus fomos libertados do antigo jugo e que seu jugo não fere e seu fardo é leve. ( Mt 11,30; Gl 5,1) e ninguém de nós tem que passar pelo ritual de quebra de encanto ou de maldição, qualquer que seja o padre que o faz. Já temos os sacramentos. Marreta alguma de padre nenhum quebrará as maldições que levamos, porque não somos malditos e, sim,agraciados e benditos, predestinados e justificados, gratuitamente. (Rm 8,29-30) (Rm 3,22-24)

Fomos batizados, crismados, consagrados ou em ministérios ou em matrimônio e o rio de bênçãos que passa por nossa igreja e por nossas famílias é maior do que eventuais problemas e descompassos que possa haver lá, onde atuamos.

Leio em Efésios: “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a este "glória" na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém.
(Efésios 3, 20-21)

Mas isto só se aprende quando aprendemos a catequese de todas as dimensões do Cristo:

“do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. (Ef 3,15-19)

O demônio não tem poder sobre nós. Já fomos resgatados pelo Cristo (1 Pd 1,18)

Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; (Gálatas 3, 13)

Deus que é rico de misericórdia, ( Ef 2,4) muito nos ama e amou. Seu filho Jesus disse para não termos medo,(Mt 10,31) porque valemos mais do que muitos passarinhos. Se eles são resgatados nós também somos. Foi Jesus quem nos garantiu que somos ramos da videira que é ele, (Jo 15, 1-56) Ele mesmo nos classificou como luz do mundo e sal da terra (Mt 15,14, Mt 5,13) e garantiu que se o buscarmos e se tivermos fé o mal não prevalecerá contra nós ( Mt 9,22).

A insistência no mal que nos cerca e na necessidade de quebrá-lo, insistência que se pratica nas igrejas pentecostais é problema a ser resolvido por aquelas igrejas. Para nós, católicos, que somos igrejas cristãs e não pentecostais, o Cristo crucificado e ressuscitado e presente entre nós e na eucaristia é força suficiente para sabermos que, para aquele que confia em Deus tudo concorre juntamente para o bem. (Rm 8,28) Se somos espirituais sabermos discernir o mal do bem (1 Cor 2,15) Paulo lembra que Jesus já nos libertou e propõe firmeza contra quem tenta nos colocar debaixo do jugo da servidão( Gl 5,1) .


Para quem é de Cristo os tais ritos de quebra de maldição não têm o que quebrar, porque Deus não põe na nossa conta o débito dos nossos a antepassados. A Igreja ora e pede perdão em suas missas: Por minha culpa, minha culpa tão somente minha culpa! Se débito há ele é exclusivamente nosso.Então ela pede a intercessão de Maria e dos santos para que orem, lá no céu, por nós. Não estamos pagando por nenhum DNA ou por nenhuma árvore genealógica. Não somos seus frutos enfermos. O pecado eles era deles e foi resolvido entre eles e Deus que é rico em misericórdia. O nosso também o será, porque Cristo fez o que foi preciso para nos regenerar.( At 2,28) O resgate já foi pago com antecedência.

Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; (Gl 3, 13)

Não temos porque temer. Ele pagou por nós um alto preço. Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, (Ef 1, 7) Prendeu o que nos mantinha presos (Ef 4,8). Havendo por Cristo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliou consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. (Cl 1, 20)

Quebra de quê se a maldição já foi quebrada? Se o que prevalece é a bênção? Medo de que se até a morte já foi vencida? Onde está a tal vitória do inimigo? (1Cor 15,54-57)

O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. (Romanos 6,14)

Quem quiser ficar apenas com o Antigo Testamento vaia achar trechos que sustentam a tal quebra de maldição como forma de expiação. Mas naquele tempo não havia acontecido a redenção. Agora temos um Redentor e um Sumo Sacerdote que se compadeceu da dor do povo ( Hb 4,15; 8,1; 9,11). A doutrina é de Paulo.( Hb 5,1)

Todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados (Hebreus 5,1)

Mas Jesus foi mais longe. Pagou por nós. Seu sangue foi derramado por nós. Assumiu nossas cruzes e dores e expiou nossas culpas e as de nossos antepassados. Já pagou por todos. (1 Pd 1,18-22) E Pedro orienta:

Se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação, ( 1 Pd 1,17)

Se Deus nos julga segundo a obra de cada um, então não há maldição de antepassados a pagar, porque a obra deles é deles e a nossa é nossa. Seremos julgados pelo que fizemos ou não fizemos e não por nossa árvore genealógica. Quem prega isso na mídia tem todo o direito de pregar, mas quem discorda tem o mesmo direito de discordar. Afinal lemos a mesma Bíblia e somos chamados a seguir os mesmos documentos oficiais da Igreja! Ora, os bispos e os papas destes últimos cem anos nunca entraram oficialmente nesse assunto; Não sei de nenhuma cerimônia de quebra de maldição conduzida pelos bispos ou pelos papas. Se cremos em Jesus, não há porque repetir estes rituais de quebra do que quer que seja. Já temos rituais de reforço das bênçãos.

Se eu fosse pároco e soubesse que um sacerdote está quebrando maldições em algum lugar convidaria os fiéis que forma a ele para que viessem a mim numa cerimônia de confirmação da bênção batismal. Não falaria em maldição. Gastaria o tempo mostrando os textos de compaixão e de misericórdia e deixando claro aos fiéis assustados com alguma culpa, que Deus não se vinga nos netos do que os avós fizeram. Ensinaria mais. Diria que aqueles mesmos avós ou bisavós já acharam misericórdia no Deus que tem compaixão de quem Ele quer ter compaixão ( Ex 33,19) e Ele quer ter misericórdia de todos os seus filhos sem exceção.


O acento na presença ou no poder do anticristo no mundo cheio de maldades, às vezes prejudica a fé no poder do Cristo na sua igreja e nos homens e mulheres de boa vontade. Fica-se com a impressão de que Jesus não está dando conta da sua missão e que o demônio está vencendo porque não foi suficientemente exorcizado. Alguns grupos pentecostais chegaram até mesmo a por o microfone na boca de algum suposto possesso para que o demônio falasse e fosse derrotado diante das câmeras. A este ponto chegou o cristianismo de resultado, de poder e de milagres! Precisam de provas e produzem provas!

Jesus começou sua pregação pedindo penitência e conversão (Mt 4,17), sugeriu oração e esmolas em segredo e jejuns sem alardes. (Mt 6,4-6) De fato expulsou muitos demônios, mas nunca instituiu um ritual de quebra de maldição, porque elas se tornaram desnecessárias com o seu sacrifício redentor. Ele já pagou antecipadamente. Se vivemos e morremos em Cristo e se somos dele e somos o seu bom perfume ( 2 Cor 2,15 não precisamos deste ritual.

***
À senhora que me pediu uma benção de quebra de maldição na sua família perguntei se ela comungava e se pedia perdão a Deus. Disse que sim. Perguntei se ela acreditava que Jesus morreu por todos, inclusive pela família dela. Disse que sim. Então não havia maldição a quebrar. O que ela chamava de maldição ela ouviu de algum pregador de rádio. Quem tinha tanto amor pelos filhos e pelo esposo e enfrentava sérios problemas em família tinha em si mesma e na Igreja as forças para fazer face a eles.

Eu reforçaria a sua confiança no poder de suas orações de mãe, nas suas mãos de mãe e no seu coração de mãe. Fiz a prece de confiança na misericórdia, rezei com ela a Salve Rainha, rezei o Salmo 46, do salmista que sabe do colo de Deus, o 51 do salmista arrependido dos seus pecados pessoais, o 55 do salmista que se sente encurralado e perseguido mas não amaldiçoado, o 69 do salmista que sente a água até o pescoço, e o trecho de João 14,15-30 de Jesus que promete enviar seu Espírito Santo a quem o ama e encher de paz quem o procura.

Acentuei os versículo 27 e 30: nada de aflição, nada de depressão, nada de medo. Deixo a paz com vocês, O que dou é a minha paz e não a dou do jeito que o mundo a dá. O que manda neste mundo está mostrando as garras, mas ele não tem poder sobre Jesus e quem ama Jesus, porque Jesus é a videira e nós somos os seus ramos. ( Jo 15, 1-26) Propus que ela lesse em voz alta todo o capítulo 15 de João. Após a leitura disse ela: - Nunca tinha pensado nestas verdades!

Perguntei se ainda queria uma cerimônia de quebra de maldição. Sorriu e disse que era discípula de Jesus e que não havia maldição a ser quebrada. Lembrei-lhe que não sei de nenhum papa ou bispo que nos últimos 100 anos se preocupasse com isso. Eles acentuam a compaixão e a misericórdia. Seus familiares estão no colo de Deus e ela também já está. Eu gostaria que ela tivesse lido alguma das três encíclicas de João Paulo II sobre a misericórdia e a de Bento XVI sobre o Deus que é amor. Nunca mais teria medo! Bastar-lhe-iam a confissão e a eucaristia!


COMUNICAÇÃO EXIGENTE


Ficaram no passado os dias em que era punido com banimento e até com a morte quem desse opinião contrária aos detentores do poder na Igreja. Embora, por questão de unidade e disciplina, ainda se exige fidelidade e cuidado no que se diz, a Igreja católica é muito mais democrática do que muitos regimes que assim se intitulam. Começa com o fato de que o papa é eleito sem campanha. Este, sim, acaba obediente à Igreja pro decisão do coletivo dos cardeais. Cremos que Deus age nesta escolha. Pelo que sei ninguém há séculos fez campanha para ser eleito. Se fez, foi ignorado.

O nome “católico” subentende inclusão, abrangência, para todos. Por isso, na mesma igreja e no mesmo país, podem pregar, publicar, escrever e manter programas de rádio e de televisão, católicos das mais diversas correntes e posturas pastorais. Se não negarem os nossos dogmas, que, diga-se de passagem, -disfarçado com outros nomes, todo partido, todo sistema econômico e político tem – os católicos podem opinar e até mesmo divergir. Mas há uma unidade que não pode ser quebrada, temas com os quais não se brinca. Ou se aceita e se ensina como está nos documentos oficiais, ou o pregador e o grupo acabam fora do catolicismo.


Por isso, comungo com irmãos e irmãs que acham que se deve exigir dos catequistas que falam para milhões de pessoas na mídia, sobretudo rádio e televisão, preparo melhor do que possuem muitos de agora. Na fala de alguns é gritante o despreparo em termos de catecismo, teologia moral, liturgia, teologia dogmática, história da Igreja e documentos oficiais. Simplesmente não lêem. Não faz muito tempo, um pregador garantia que o anticristo está agindo na Igreja e que já estamos molhados da sua chuva. Certamente não se referia ao seu grupo que, segundo ele, fora chamado a combatê-lo e silenciá-lo. O tom era moralista e excludente.

Soubesse ele e soubessem os católicos um pouco mais sobre milenarismo e quiliasmo, Joaquim de Flora, penitentes, fraticelli, flagelantes, Pedro de Masserata, Pedro de Fossombrone e de como esta pregação urgente e imediatista sacudiu os começos do século 13, tomariam mais cuidado. Tal pregação, por ser urgentíssima e radical demais, por apontar o dedo contra os outros católicos mais moderados matou muita gente e feriu muitas dioceses. Literalmente, cindiu a Igreja. Começou com ares de santidade radical e terminou em intolerância de ambos os lados.

Pregadores mais prudentes e mais informados talvez evitassem tais exageros estilo Montano ou Pedro de Masserata. Sou dos que sugerem que a nenhum católico seja permitido falar a milhões de outros católicos sem um curso de, no mínimo, dois anos catequese que inclua história das heresias e, no caso dos sacerdotes, filosofia, teologia e história da Igreja, e umas dez ou doze matérias, com aproveitamento comprovado. Que se examine sua abertura e capacidade de abrangência, já que falarão a milhões de almas e não podem pensar que todo mundo tem que pensar, cantar e celebrar do jeito deles.

Você aceitaria ser orientado por um psicólogo que não estudou psicologia e ser tratado e operado por um medico que fez apenas alguns cursos de primeiros socorros? Há um mínimo de conhecimento que todos os países sérios exigem dos seus especialistas e porta-vozes. A Igreja deveria fazer o mesmo. Um curso de comunicação deveria desafiá-los, por melhores que sejam diante de um microfone ou de duas câmeras. Desempenho cênico não é o mesmo que preparo cultural! Não teriam que ser doutores. Bastaria que fossem bons e assíduos leitores e não apenas de publicações do seu grupo de fé! A Igreja é mais do que um grupo ou uma linha! E toda a catequese deveria começar por esta abertura!


FÉ EFICAZ


Nos dias inteligentes de hoje há poucos socialistas radicais e poucos capitalistas selvagens. Mas alguns insistem. Não é fácil para esta pessoa educada na visão capitalista, pragmática e eufórica do possuir, lucrar muito, ter mais e fazer mais admitir que é possível lucrar menos e ser mais altruísta. A grande maioria dos empresários já descobriu que partilhar e melhorar a situação dos trabalhadores que com ele mantêm aquela firma lhe trará, se não maiores, melhores dividendos.
Para alguns esse credo não faz sentido. É difícil entender quem não se apossa quando tem chance e quem não mostra resultados. Há até igrejas que ensinam isso. “Ser” não é um verbo suficiente para o capitalismo ou para os pregadores pragmáticos. Render virou um verbo político e religioso. Moderadamente até que é bom. Quando se torna obsessivo acaba em desequilíbrio. A Bíblia insiste em denunciar da ganância. Centenas de passagens mostram quanto os juros e o abuso do poder financeiro ofendem a Deus.

Para algumas pessoas, ter mais, conquistar, vencer, avançar e mostrar eficácia é sinal de benção. Existem até igrejas a justificar o capitalismo norte-americano. Acentuam o Deus que dá e o fiel que vence, porque conseguiu mais e cresceu na posse de bens. Não por acaso usa-se a expressão “tomar posse”, “apossar-se”, porque orar e conseguir uma loja, um carro, uma empresa é sinal de bênção, Deus dá bem para quem ora bem!
Omitem o porquê seguido de interrogação e passam ao porquê exclamativo. Os fiéis correm para os pregadores que concluem mais depressa e rejeitam os que lhes propõem mais escolha, mais estudo, mais perguntas antes de concluir.
As igrejas eficazes e cheias de fatos novos e sinais venceram as igrejas que propõem o pensamento e a descoberta de Deus em longo prazo.

RELIGIÕES EVOLUÍDAS


Bem antigamente as pessoas andavam a pé. Depois, começaram a andar em bigas e carroças puxadas por cavalos. Mais tarde inventaram a carruagem puxada à cavalo. A seguir, há menos de quinze décadas inventaram o trole, ligado à rede elétrica. Há menos de dez décadas criaram o carro ou o trole impulsionado a motor. Henry Ford o industrializou. Venderam-se milhões de pequenos carros que, por carregar um motor dentro de si e não estarem ligados a nada, chamavam-se auto-móveis. A evolução foi fantástica. Não falemos nem de navios e submarinos e nem de aviões e naves espaciais, outras maravilhas do engenho humano. Fiquemos no automóvel.

Um dia seus bisnetos terão aeromóveis que serão pequenos aviões. Sairão do quintal de sua casa e voarão a determinada altura. Não precisarão de querosene. Haverá outros combustíveis. A depender do veículo, haverá no céu estradas virtuais que os aparelhos captarão como fazem hoje os aviões. GPS avançados as mostrarão. Os pequenos aeromóveis descerão aonde quiserem, porque serão veículos levíssimos e não dependerão nem de hélice. Usarão jatos de ar para subir e descer.
Nós que achamos que vivíamos no progresso, em carros apertados, ruas apertadas, casas apertadas sem espaço para mais ninguém, estaremos no túmulo e ele, vivos cruzando os ares para qualquer lugar. As cidades parecerão invadidas por pássaros de um ou dois metros carregando pessoas.
***
Acontece o mesmo com as religiões. Primeiro vieram as religiões politeístas, depois as monoteístas, embora haja quem prove o contrário. Segundo eles , primeiro viveu-se o monoteismo que acabou em politeísmo. Seja como for, vieram as novas versões. E apareceram as que achavam as certas, as melhores, as eleitas, as únicas. Depois veio o ecumenismo que é uma forma inteligente de crer e discordar sem ofender. Nenhuma se achou igual à outra. Todas aprenderam a conviver e, finalmente, descobriram que a melhor religião é aquela que ensina os fiéis a dialogarem.
Entre as melhores está aquela que mais defende a vida, mais cuida dos sofredores, mais ensina a compreender, mais dialoga e mais aberta está para com o mundo e com todos. Nenhuma delas é moderna o suficiente, mas as que mais dialogarem serão evidentemente as mais avançadas e modernas. As religiões ditatoriais, impositivas, mágicas, cheias de garantias, curas, promessas e milagres ainda existirão, mas serão como as máquinas antigas sem peças de reposição, porque terá acontecido uma forma moderna de crer: o diálogo com Deus e com todas as vidas que nos cercam.
Você pode antecipar isso na sua casa, basta que um aprenda a ouvir o outro e a deixar o outro falar. Terão dado o primeiro passo na direção da fraternidade sem a qual nenhuma religião pode se considerar madura e séria.



Pe. Zezinho, scj

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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Artigos - 27 Setembro

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QUANDO VIER O CANSAÇO


Quando vier o cansaço no pacote da idade que avança; quando uma parte do meu corpo já não cooperar na execução dos meus projetos; quando alguma dor teimosa ou uma disfunção rebelde se alinhar em alguma parte do meu corpo; quando eu depender de colherinhas e de pílulas diárias para corrigir alguma disfunção; quando precisar tomar cuidado ao andar, ao pisar, ao subir e descer escadas; quando uma tontura teimosa tomar conta do meu corpo; quando a respiração ofegante depois de algum esforço me avisar que eu não sou mais o jovem que eu era;
quando a vista cansada se atrapalhar nas leituras e não enxergar mais do que dois metros; enfim, quando meu corpo cansado disser: -“Descansa um pouco mais”,- tentarei responder de outra maneira, mas minha fala há de ser uma resposta.

Jesus não desceu da cruz nem eu pretendo descer. Se Jesus não tivesse morrido naquela cruz e tivesse vivido para além dos 60 ou 70 anos, ele certamente nos ensinaria a carregar outros tipos de cruzes, mas cruz haveria. Se Jesus tivesse escapado da cruz, ao invés de adorarmos um Cristo crucificado, talvez adoraríamos um Cristo mutilado, curvado ou com as limitações da idade, mas seria o mesmo Jesus libertador e modelo de vida.


Por isso, quero me preparar para os achaques, as cruzes e os limites da idade que vem, mas quero saber vivê-la com serenidade, como a vivem milhões de anciãos marcados pela cruz, mas também marcados pela sabedoria.

Quando chegar o cansaço, quero poder mostrar o meu testemunho de vida, e deixar claro que apenas o corpo se cansou; a mente continua se preparando para a eternidade. Assim Deus me ajude. Assim Deus me prepare!


PROTEJA SUA PRIVACIDADE.


De tal maneira invadiram a nossa privacidade que precisamos tomar cuidado com nossos cartões de crédito, nossos RGs, nossos celulares, nossos computadores e tudo aquilo que possa nos identificar contra vontade.

Habitue-se a não dar nenhum dado pessoal seu, nem mesmo nas lojas. Se não quiserem vender aquele rádio à vista sem os seus dados pessoais, procure um outro lugar. Você não está contraindo dívida. Está pagando à vista. Se os dois, você e ele quiserem registrar a compra, cada qual por suas razões ache um modo de dar apenas os dados que não lhe tirem a privacidade. Não dê o seu número de telefone, nem sua conta de banco com senha. A senha é seu segredo.

S possível, não dê seu nome a não ser que seja absolutamente necessário. Procure verificar quando é absolutamente necessário; caso contrário, seu nome entrará para uma lista indesejada, manipulada por pessoas indesejáveis que, contudo, desejam o seu dinheiro e de um jeito ou de outro vão invadir você.

Seja esperto, só dê seu nome quando absolutamente necessário, e pense dez vezes antes de usá-lo. Não assine seu nome em qualquer lugar, qualquer papel e não o dê a qualquer pessoa. Se possível não dê seu nome inteiro onde o vendedor não tem esse direito. Milhares de pessoas estão hoje pagando um altíssimo preço por ingenuamente terem dado seu CPF, seu RG, seu nome e endereço e o número de telefone.

Desconfie até das grandes corporações e das empresas que querem o seu cadastro. Infelizmente acabou a privacidade. O que você puder fazer para preservar a sua, faça. Esse é um mundo onde todo mundo bisbilhota todo mundo e onde até as brincadeira inocentes que você diz ao telefone são gravadas. Amanhã podem servir de arma contra você.

Use o telefone com sisudez e seriedade de maneira estritamente necessária. Reserve as brincadeiras ou conversas de amigos para quando não estiver ao telefone e, ainda assim, tome cuidado com a salas aonde vai e com lugares onde pode haver microfones implantados. Pode parecer histérico, mas é muito mais inteligente num mundo onde você pode comprar em qualquer loja um aparelho de espionagem. Infelizmente a individualidade corre sérios riscos. Preserve a sua. Um amigo meu teve sua residência assaltada a partir de um número que deu numa loja de ferragens. Falou alto e alguém ouviu. Daí a descobrir o endereço de quem tinha dinheiro para toda aquela compra foi questão de dois dias. Falou alto para mais de 30 pessoas! Não o deveria ter feito!



O FREQUENTADOR DE TEMPLOS


A cidade tinha 350 templos de mais de 40 religiões. Ele frequentou-os todos, sem aderir a nenhuma comunidade o igreja. Era fiel de templos, mas não de comunidade nem de igreja. Ia e assistia, mas não congregava nem se reunia. Fazia como quem vai ao espetáculo, mas não aceita nenhum papel. Paga para assistir e até paga para não ter que subir ao palco.

Morreu e, no céu, apresentou-se como frequentador de templos e ouvinte de pregações. Isso mesmo: ele era um ouvinte da Palavra. Perguntado sobre qual a razão pela qual não se fizera fazedor da Palavra disse que escolhera ouvir.

Havia escolhido a parte mais fácil. Porque a difícil é ouvir e fazer. Por isso a mãe de Jesus foi elogiada. Diz a estorinha que o frequentador de liturgias que adorava cantar e erguer os braços, derramando lágrimas de emoção foi listado como fiel emotivo, mas pouco ativo.

Lá fora ele não fazia nada pelos outros. Muita emoção e muita devoção, mas pouca ação não fizeram dele um bom cristão.

Cristão sai da poltrona e do sofá, age e vai lá e, se não pode ir, ajuda. Ele canta e dança a Palavra, mas também a faz acontecer. O outro, que é mais frequentador de templos do que participante da igreja, molha-se com a chuva de primavera e irriga seus cães e sua grama, mas, ao vizinho que lhe pede um balde de água é capaz de dizer que sua caixa amanheceu vazia!


PARA ENTENDER OS PROFETAS


Habitue-se na sua bíblia a ler os livros dos profetas como de homens que falavam ao povo do seu tempo, sobre coisas que aconteceriam ainda no seu tempo, ou um pouco depois do seu tempo. Não os veja como homens falando para o Brasil de agora, a China de agora, a Israel de agora e os Estados Unidos de agora. Falavam do futuro do seu povo e da humanidade, mas não eram detalhistas nem futuristas. Não era esta a sua intenção.

Podemos ler, agora, esses livros históricos e proféticos para aprender como os profetas anunciavam para seu povo, naquele tempo, a palavra de Deus. Falavam muito mais do futuro do seu povo do que de nós que viemos cerca de 3.500 anos depois. Podemos até aplicar muita coisa do que eles disseram para os nossos dias, mas esta interpretação ousada de dizer que as carruagens de fogo, por eles descritas, eram os tanques de hoje, ou que grandes labaredas equivaleriam às bombas atômicas de hoje, é ir muito longe.

Uma leitura atenta dos profetas mostra que eles certamente não queriam profetizar para o século 21. Profetizaram para o povo do seu tempo. Nós de agora podemos tirar proveito das suas profecias porque muito pode ser aplicado ao nosso tempo, mas levar ao pé da letra, ou forçar o texto para poder explicar alguma catástrofe atual, ou as armas atômicas americanas e chinesas, ou, ainda, a queda de Sadan Hussein, o advento Bush é muita ousadia.

A Bíblia não nos autoriza a ir por esse caminho e não convém ir por este caminho. Daí ao fanatismo ou à deturpação da Bíblia é apenas um passo. Por esse caminho alguém dirá que o Papa é a besta do apocalipse ou que Edir Macedo é que é. Dependerá do grau de agressividade e de fanatismo do intérprete daquelas passagens.

Leiamos os profetas como devem ser lidos. Homens que traduziram a palavra de Deus para seu tempo. Aproveitemos um pouco do que eles disseram, porque certamente muitas coisas podem ser vividas e aprendidas hoje, mas todo cuidado é pouco. O vinho deve ser tomado com moderação. A Bíblia também. Tomados de qualquer jeito, os dois embriagam.

Pe. Zezinho, scj

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