quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Artigos - 08 Outubro

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O ÓLEO ATRATIVO


A FM 98.1, as 15:50, do dia 03de abril, numa terça feira de 2007, anunciava a venda do óleo atrativo a preços módicos. Qual seria a função deste óleo miraculoso? A mulher solitária que desejasse encontrar um companheiro, deveria esfregar algumas gotas desse óleo no entre seio, nas virilhas, atrás da orelha ou, eventualmente, no último enxágüe das suas peças íntimas derramar algumas gotas. Homem nenhum resistiria aos seus encantos e ela certamente conseguiria o seu marido, porque o óleo atrativo tem enorme poder de sedução.

No avançar dos números do painel do rádio, mais adiante, uma senhora explicava sobre feitiços quebrados e enraizamentos que poderiam ser todos resolvidos com a recitação fiel, três vezes pela manhã, três vezes pela tarde, três vezes pela noite, da oração que ela enviaria a preço módico. O rádio anuncia, também, os cristais, a pedra da lua, as águas do rio Jordão, a cruz onde há um pouquinho da terra onde Jesus pisou, o óleo feito com a azeitona da terra santa, do lugar do monte das oliveiras.
Esses dias ofereceram-me um amuleto para a defesa, feita de uma pedra encontrada de um itabirito que caiu há 200 anos na Rússia. Segundo eles, os soldados que o usavam escaparam com vida porque a bala não os atingia. Insistam que se eu comprasse, eu nunca seria atingido por uma bala extraviada. Segurei o riso.

A senhora que me vendia o escapulário de Nossa Senhora do Carmo me garantia que quem usasse o “Agnus Dei” ou aquele escapulário, jamais cairia nas tentações do demônio e também jamais seria vítima de algum tiro. Oferecia-me também, uma cruz e um amuleto contra ataques do coração. Uma emissora de rádio anunciava, anos atrás, um kit de 13 medalhas para preservar todas as partes do corpo contra qualquer interferência do maligno. Numa outra emissora de rádio, alguém anunciava que jogo de búzios ou de tarô poderia ajudar a pessoa a evitar um mal olhado, ou a descobrir o seu futuro.

Divinações, adivinhações, proteções, através desse ou daquele objeto estão na ordem do dia. Conheço, pelo menos, vinte e cinco tipos de cruzes, três delas divulgadas como poderosas e milagrosas para quem usar. Conheço também, rosários eficazes e milagrosos que, segundo quem os vende, se a pessoa rezar durante um mês, terá a salvação da alma garantida e Nossa Senhora virá buscá-lo no dia da sua morte. Não adianta dizer para as pessoas que isso não faz parte da catequese da igreja, e que se trata de bugalhos e não de alhos, de penduricalhos da fé e não de símbolos da fé.

São sinais mal utilizados e com promessas mal feitas e com garantias impossíveis. Não obstante, de nada adianta pedir às pessoas que não acreditem, porque acreditam no que querem e não no que devem. E quem divulga isso também divulga segundo os seus interesses e não segundo a fé da Igreja que, em muitos casos, eles não conhecem por nunca terem lido nem o catecismo nem os documentos da fé.

Já vi, numa dessas minhas viagens, a venda também de um semáforo sagrado, que a pessoa penduraria no peito e, no dia em que a luzinha verde estivesse brilhando, naquele dia ele estaria apto a qualquer coisa porque estaria na graça de Deus. Se a luz verde estivesse ofuscada e aparecesse mais a luz amarela ou a vermelha, naquele dia deveria tomar cuidado. Evidentemente, na hora da compra, a luz estaria verde.

Por que as pessoas vendem? E por que compram tais objetos ou amuletos? É que não apenas querem crer; elas querem ver e, não podendo ver o mistério, agarram-se a verdadeiros e a falsos símbolos e a objetos que alguém lhes garantiu que lhes daria uma resposta. Mas quem garantiu não tinha nenhum conhecimento de teologia ou da fé para oferecer tal promessa.

Era muito esperta aquela senhora que oferecia um milheiro de orações eficacíssimas para conseguir emprego. Mas a condição seria a pessoa pagar os cinqüenta reais do pacotinho e distribuir para mil pessoas. Quando tivesse distribuído para mil pessoas, e as mil pessoas estivessem orando para conseguir emprego, ela conseguiria o seu próprio emprego. Muito esperta ela, porque, no final da oração, toda cheia de erros de português e de conteúdo teológico, estava o endereço dela para quem quisesse mais.

Dizer o quê? Já foi dito e não foi levado a sério. Jesus o disse em Mateus 7,15 a 23 e em Mateus 24,24-26. Disse para não acreditarmos em gente cheia de truques e certezas. Paulo alerta contra tais pregadores na 2 Tm 4,1-5. Não adianta. As pessoas querem ver, cheirar e sentir. Querem o toque e a garantia. E ganham! Mas nem sempre o pacote vem com a verdade! O melhor é buscar a verdade. Demora mais e exige mais, mas traz uma esperança fundamentada. Faz parte da mística da pregação. Sem isso se cai no charlatanismo.



APÓCRIFOS E PSEUDO-EPÍGRAFOS


Não é apenas coisa de ontem. Há milhares de livros apócrifos e pseudo inspirados, com nomes falsos e autores falsos rodando pelas igrejas e livrarias nos dias de hoje. Você talvez conheça o nome, mas não o conteúdo. Se minha Igreja escolheu 73 livros para os quais acredita ter havido inspiração, se nossos irmãos judeus aceitam apenas 39 e se os irmãos evangélicos apenas 66 eles fizeram sua escolha e eu a minha. Mas nenhum de nós aceita os quase 50 livros tidos como apócrifos (secretos) ou de falsa autoria (pseudo-epígrafos) que chegaram até nós.

Além da boa notícia de Jesus e sobre Jesus, que são os evangelhos, a narrativa sobre os começos da Igreja que são os atos dos apóstolos, das cartas às comunidades que nasciam, da profecia cheia de expressões misteriosas chamada de apocalipse, os primeiros cristãos deram vazão à sua imaginação escrevendo revelações e historinhas catequéticas de veracidade bastante duvidosa, e atribuindo-as a personagens bíblicos famosos. Não é que todos os livros secretos com nomes falsificados não sirvam como reflexão; Servem, mas a Igreja foi purificando um por um e optou pelos que hoje conhecemos.

Nos dias de hoje há tantos livros pretendendo levar o leitor a Deus através desta ou daquela seita, desta ou daquela igreja, destas ou aquelas revelações a que convém lembrar o que dá origem hoje a tais livros e o que, ontem, deu origem àqueles escritos. Alguém se achava iluminado, escrevia, não assinava o próprio nome e os fiéis acreditavam sem questionar, em livros com “A Assunção de Moisés, o Conto dos Patriarcas, As Declarações de José de Arimatéia, A descida de Cristo aos Infernos, o Evangelho de Madalena, o Evangelho de Nicodemos, Cartas do Senhor, O Evangelho da Verdade, o Apocalipse de Pedro”... E assim por diante.
Li a Bíblia do primeiro ao último livro pelo menos dez vezes. Li os Apócrifos duas vezes. É informação demais para uma só cabeça. Não posso dizer que entendi e que situei tudo no seu devido espaço, tempo e lugar. Ao ler a Bíblia, os Apócrifos o Corão e outros livros sagrados para outros povos, entendo que para eles servem como bússola que aponta para algum norte. Puseram fé naqueles escritos como eu pus na Bíblia. Ela não me mostra todos os caminhos, nem dá todas as respostas. Suas mensagens e histórias apontam na direção do passado, do presente e do futuro. São como o painel de um avião à procura de um aeroporto. O piloto terá que entender o mínimo daqueles mostradores para não se desviar da rota.

Com enorme facilidade e imensa ingenuidade há fiéis aceitando tudo o que seus pregadores dizem. Alguns deles não têm mais do que algumas horas de vôo. Não lêem e não leram o suficiente para dizer aquilo que andam dizendo. Deviam ser questionados quando dizem falam do demônio da unha encravada, demônio da dengue, demônio da diarréia que não para, ou quando desfilam a lista de mais 40 doenças que serão curadas naquela noite... Se há crença e fé também há credulidade e esperteza demais na mídia e hoje. Dava-se o mesmo com os apócrifos de ontem. Nem tudo era sério. Nem todos os que se diziam apóstolos eram apóstolos. Muitos se aproveitaram da onda de fé e da carência do povo para dizer que Deus falara com eles e que tinham um recado do céu para aquela gente sofrida. Lá como cá corria poder, fama e dinheiro. Muita gente vai ter que provar que não está em cima daquele púlpito e daquele palco por causa dos 10 %. Basta olhar onde moram, sua conta no banco e onde vai o dinheiro que arrecadam.



UM “T” E UM “D”


Uma vogal que equivaleria ao nosso “i” duas consoantes equivalente ao nosso “t” e ao nosso “d” mexeram por décadas e até por séculos com a doutrina cristã. De certa forma ainda mexem. Por causa de um T, por séculos se discutiu entre os cristãos se Maria era apenas educadora do filho de Deus ou era, de fato, mãe dele, “teo-dokos”, “teo-tokos”.

Por causa de um “i” também por séculos se discutiu na igreja se Jesus era de substância semelhante a Deus ou se era da mesma substância de Deus. O “i” caracterizava a diferença. Os que diziam que Jesus era filho de Deus afirmavam que ele era homo-ousios, e os que diziam que ele era apenas semelhante punham o “i” no meio, ele seria homo-i-ousios. Este simples “i” jogou grupos inteiros uns contra os outros. Equivalente ao “ele é” e ao “ele não é”.

A encíclica de João Paulo II, Ecclésia de Eucaristia nos leva pelo mesmo caminho. Quis dizer que a igreja nasce da eucaristia, depende da eucaristia, encontra o seu sentido a partir da eucaristia. Assim, os fiéis e assim também Maria. Ao usar a palavra “de eucaristia”, o papa quis dizer que nós estamos do lado de cá, como adoradores, e não do lado de lá, como parte da eucaristia.

Podemos ao receber o Cristo e nos tornarmos um com Ele. Essa unidade não é hipoestática. Vem do fato claro de que somos assumidos por Ele, mas “in”, “inata”, na eucaristia está a divindade. Por isso, no altar está Jesus. Nós estamos ao redor. No sacrário está Jesus e nós estamos ao redor. Na cruz estava Jesus, Maria, as piedosas mulheres e o discípulo estavam ao redor “juxta”...

É preciso esta distinção para entendermos o que é crer na eucaristia. Nós aqui e Jesus ali. Depois que o recebemos Jesus é em nós, mas o essencial da nossa fé na eucaristia é que ela é o próprio Cristo. Não é o Cristo “na” hóstia, nem é o Cristo “da” hóstia; é o “Cristo-hóstia”. Ele não entra nem sai da hóstia. Ele é a hóstia. Não é símbolo: é o mistério.


Seremos eucarísticos enquanto nos associarmos àquele que é a própria eucaristia. Maria é eucarística enquanto se associa ao seu filho, que é a própria eucaristia, mas Maria não está na eucaristia. Não é adorada com Jesus. É adoradora como nós. Não recebemos Maria na eucaristia.

Já vi pregadores na televisão a ensinar que se pode comungar Maria na missa. Maria não está naquela hóstia, não está naquele sacrário, não está naquele altar, como não estava naquela cruz. Estava-lhe ao pé. Não fazemos parte do mistério: somos adoradores do mistério; não somos a eucaristia: vamos à eucaristia, dependemos da eucaristia.

Como igreja podemos até dizer que nascemos para a eucaristia, vamos à eucaristia e nos situamos “juxta”, ao pé, ao lado, perto do Cristo; mas a hóstia, a vítima o crucificado, o adorado é Jesus Cristo. Sua mãe é mãe de Deus, mas não é deusa. Aí a grandeza do mistério que professamos. Firmemos esses conceitos para não corrermos o risco de misturar alhos com bugalhos.



BOMBA OU ENERGIA?


Quando o jovem erroneamente piedoso disse que asa bombas atômicas não lhe interessam, pedi licença e argumentei se não lhe interessava o fato de que paises inteiros, ou talvez dois terços da humanidade pudessem desaparecer em três dias do mapa. Religião que não se preocupa com o futuro da humanidade é arremedo de religião. Deus provavelmente não mandará um anjo do céu para proteger as instalações anti-bombas de um país se é que elas existem. Está nas nossas mãos banir a fabricação de novos artefatos nucleares para fins bélicos e de desmontar o que já existe. Querem que os paises que ainda não fabricaram assinem um tratado de não construção da bomba, e aceitem inspeção internacional, mas não se sabe de nenhum país que, tendo a bomba, aceitou assinar um documento que permita outros países vigiá-los e desmontar seu arsenal.

Aí a hipocrisia!



Pe. Zezinho, scj


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