terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Entrevista dada em Natal dia 30 de dezembro de 2009

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Ser pobre para não esquecer as raízes


Pe. Zezinho fala dos caminhos trilhados por padres cantores e afirma: "Religião rima com opção."

O multifacetismo de padre Zezinho impressiona a carreira de qualquer artista. Na década de 60, introduziu a música na maneira de evangelizar. Logo ganhou notoriedade mundial. Conheceu 55 países. No Brasil, trouxe ritmos até então desconhecidos como o country e o reggae, para além da sacristia. Mas, sem desrespeitar as normas da liturgia, lá estavam guitarras elétricas na missa, para espanto e admiração de fiéis e da mídia. Suas canções se tornaram verdadeiros hinos da igreja católica: Amar como Jesus amou, Estou pensando em Deus, Maria de Nazaré, Maria da minha infância, Vocação, Um Certo Galileu, Utopia, Oração pela Família e centenas de outros hits. Poucos autores no mundo tiveram tantas canções de sucesso quanto ele.

São 45 anos de pregação. Afora uma discografia monumental - talvez a maior da música brasileira -, padre Zezinho escreveu mais de 80 livros, montou grupos teatrais e em 2010 filmará um média-metragem de 45 minutos “Meu Cristo Jovem” e talvez um longa filmado por ele mesmo. O título “Meu irmão Crê Diferente” é um dos livros que ele conclui após o lançamento de um de 600 páginas: “De volta ao Catolicismo”. Seu ecumenismo vem de longe, pois fez cursos numa Universidade Católica onde havia professores de várias religiões e também decorre das amizades de amigos e parentes em outras religiões. Granjeou respeito por sua postura de católico convicto, mas respeitoso durante décadas de sacerdócio. Outros religiosos vão aos seus shows sabendo que ouvirão um padre católico que faça claro, mas os trata como irmãos. "O mundo não aprendeu a discordar: parte para a briga em vez do diálogo. Nessa era de crasso individualismo e lideranças excessivamente centralizadoras, perdemos a noção do outro e do diálogo com o outro”-diz.

Aos 68 anos de idade e reconhecimento mundial, padre Zezinho se mostra ainda hoje uma pessoa despojada, humilde e moderna. Foge de holofotes e aparatos. Vê o marketing como um valor, mas condena seus exageros.

Desde os tempos em que formou grupos de reflexão durante o período da ditadura até a época de hoje, do culto às celebridades, o padre mantém a mesma linha mestra do evangelho, adaptado à época. O cachê cobrado gira em torno de R$ 8 mil a R$ 15 mil por show. Na última apresentação na capital potiguar, nas comemorações dos 100 anos da Diocese de Natal, cobrou R$ 25 mil. E trouxe oito músicos. Preço barato para uma celebridade.

"Quem aprendeu comigo não precisa ser religioso, tem que ser bom; tem de gostar de gente. Ainda colho os frutos hoje. Cantores populares, celebridades de hoje em dia ainda me ligam para agradecer a influência que pude dar. Poderia ser um deles: convites nunca faltaram. Mas prefiro andar sem aparatos de segurança, andar livremente e continuar sendo quem sou", afirma.

Aos 68 anos, padre Zezinho se mostra uma pessoa humilde e desprendida e atualizada




O senhor foi pioneiro na evangelização pela música no mundo. Depois de mais de 40 anos, o que mudou?

Digamos que fui um dos pioneiros. Naqueles trens de 140 vagões, fui umas das cinco locomotivas. Apareci mais porque não havia ninguém que fizesse esse tipo de comunicação em minha época. Comecei algo novo. Foi um risco; um acidente que deu certo.

Acredita que nada foi desvirtuado?

Deixa-me usar de uma expressão que todos entendam: a comunicação é como uma bússola: todas apontam para o Norte, mas cada qual faz os eu caminho. Então, o indivíduo revela quem ele é pela comunicação que faz. A igreja não ordena tijolos. Ela ordena pessoas. Cada comunicador é diferente. As linhas mestras eu ensino no meu curso, que se chama “Prática e Crítica da Comunicação”.

As diferenças são até salutares, mas o desvirtuamento das diretrizes, não. Então, repito: nada foi desvirtuado?

Há jornalistas ousados que trabalham com seriedade, e há os apressados, que publicam qualquer notícia inverídica. Então, é preciso ter critérios: quem usa a notícia como serviço e quem a usa como interesse. A mesma coisa se dá com a religião. É preciso ver quem pratica a comunicação religiosa e quem a pratica com outros interesses. Isso acontece em todas as religiões. Já havia no tempo de Jesus. E é o indivíduo quem decide o rumo que quer tomar. São Paulo fala isso de uma maneira muito linda: "Temos um tesouro armazenado em vasos de barro". Nós somos frágeis perante a verdade. A verdade é maior que nós. Você, jornalista, sabe disso. Às vezes só conseguimos carregar uma parte da verdade e a oferecemos como se fosse tudo. É aí que está o perigo.

São Paulo é cheio de metáforas. O senhor parece gostar desse método, também...

São Paulo foi uma pessoa culta, inteligente; um comunicador fantástico.

A religião que mais cresce hoje seja talvez os "sem religião": aqueles que crêem em Deus, mas não segue preceitos religiosos. A que o senhor atribui isso?

Não acho que a frase corresponda aos fatos. Quem mais cresce são os muçulmanos e os crentes pentecostais não pelas mesmas razões. Mas as religiões sem nenhuma dúvida, afirmativas e garantidoras fazem mais adeptos. A maioria dos fiéis quer provas e se alguém as dá em forma de testemunhos ele adere, nem que o testemunho seja falso ou arranjado como é o caso de muitos. As novas religiões usam e abusam das estatísticas que não conferem. De repente 200 mil vira dois milhões... Ninguém vai lá contar ou conferir...Ninguém também vai lá conferir o milagre. Exige-se pouco dos videntes de agora. Falam o que querem e ninguém os questiona! Isso, em todas as igrejas. Os fiéis estão cada dia mais crédulos quando deveriam estar cada dia mais crentes! Crente tem fé, mas checa e verifica. Não compra pasteis de vento como se fossem de queijo! ...

É a era do INDIVUALISMO?

Sim. A individualidade cedeu lugar ao individualismo. É indivíduo demais. É este é um dos maiores inimigos da religião e da política. É excesso de “eu” que dá origem a um Chaves, a um Morales e a qualquer outro que se perpetua no poder. Eles acham que sem eles não haverá progresso. O pregador absolutista acha que só ele sabe evangelizar. Se tiver que romper com alguém ele rompe para fazer o que acha que deve ser feito. Não há fidelidade a quem lhe deu as chances de ser quem é.

Vai mudar?

O mundo atravessa um surto de individualismo absurdo. Perdeu-se o gosto pelo coletivo. O “eu” está triunfando sobre o Nós. Isto leva ao aprisionamento dos outros em função da vitória pessoal. Aplicado na religião ou na arte, você tem o mito. Quando o mito vira ídolo, não se tem mais religião nem arte. As pessoas só ouvem ou apreciam aquele mito absoluto. Ai de quem questionar seu semideus! Fica proibido ser inteligente e fazer perguntas embaraçosas ao novo profeta, ao novo apóstolo ou ao novo semideus. A torcida não abre mão de seu atleta e diminui todos os outros. "Onde há Eu demais, há Deus de menos" vida de menos, comunidade de menos, país e nação de menos. É isto que acontece no mundo. Nos anos 40, um sujeito chamado Hitler virou ídolo e triunfou como semideus na Alemanha. E nós vimos no que deu!

Qual a necessidade da religião nos tempos de hoje? Por que o intermédio da religião para se chegar a Deus?

Joseph Campbell escreveu um clássico chamado “O Poder do Mito”. Karen Armstrong, escreveu “Uma História de Deus” - outro clássico. E eles põem o dedo na ferida. Dizem que eu não posso decidir sobre a minha felicidade sem ser relacional. O ser humano precisa da relação com a família, amizades, trabalho e de fé. Por isso, os dois ethos: consumo e divertimento, e produção e trabalho, nos tornam pessoas coletivas. Isso explica porque, na hora de crer, não dá para crer sozinho. Mais cedo ou mais tarde vai se precisar da experiência do outro: daquele que tem 80 anos, daquele que tem 28 anos, mas já viveu muito e daquele que foi lá no deserto orar, daquele que criou uma ONG motivado pela fé. A experiência de fé dos outros melhora a sua. A religião é essa experiência comunitária que enriquece a experiência pessoal. Não basta a comunidade, mas também não basta a fé sozinha. Minha cura e minha fé são partilhadas. Por isso escrevo, canto e aceito o ensinamento de outros. E nisso estão muitos que construíram grandes obras motivados pela fé: Irmã Dorothy, Dom Paulo Evaristo Arns, Papa Bento, João Paulo II, Francisco de Assis... A experiência deles é riquíssima.

Qualquer pessoa não poderia aceitar e admirar a vida que São Francisco levou sem precisar dos rituais religiosos para se chegar a Deus?

A religião começa pela admiração. Você admira Deus, admira a fé de outros e um dia você chega à encruzilhada: sigo o meu caminho ou sigo com eles? Não se pode ser religioso à força. Você é convidado a crer junto. O corão também não permite imposição. Muçulmanos que mata pela fé deve ser questionado. Cristão que mata pela Bíblia deve ser corrigido e punido. Religião rima com opção, mas também com compaixão.

As composições e livros escritos partem de quais visões e inspirações?

Sou multifacético. Conheço 55 países. Estudei fora. Falo seis línguas. E são 45 anos de pregação. Leio muito. Guardo tudo no computador da memória. Faço como Maria que guardava tudo no coração. Então, são muitos subsídios. Mas sou contemplativo. A pessoa pode ser contemplativa no mosteiro ou na cidade grande. Eu medito mais do que as pessoas percebem. Sou pensativo e pensador. Mas aprendo muito quando passo por entre as pessoas. Cada uma delas é um livro.

O senhor citou Maria. Porque ela é tão ausente da Bíblia?

Não é! A Bíblia tem um objetivo: contar a história de Jesus. Em Israel, as coisas eram contadas a partir de uma sociedade masculinizada. Mas, como da mãe judia, Maria é citada como autoridade sobre Jesus e às vezes, parceira dele. Maria esteve com ele do berço ao túmulo. Falou pouco mas estava presente o tempo todo.

O senhor deve ter tomado conhecimento da polêmica criada com o Padre Fábio a partir do valor do cachê cobrado. Qual sua opinião a respeito?

Sou suspeito para falar porque fui professor dele. Há 18 bispos e mais de 500 padres que passaram pelos meus cursos de Comunicação. E nós temos um trato: depois do curso não digo a eles o que devem fazer. Se quiserem conversar, conversamos, como qualquer professor universitário faz com seu aluno ou ex-aluno. .

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São 220 mil reais de cachê. Pelo que li, o senhor costuma cobrar menos de 10 mil, mesmo com mais de 40 anos de serviços prestados, um trabalho pioneiro e reconhecido no mundo. O senhor disse que respeita as opções e o caminho de cada um. Mas o senhor não acha que há uma linha racional a separar a celebridade do padre?

Outra vez prefiro dizer o que penso pessoalmente. E sempre o faço! Ponha por escrito esta frase para não corrermos o risco de sermos deturpados: “Há 45 anos tento não esquecer que sou filho de pai e mãe paralíticos. Se eu perder a noção de limite, desapego, moderação e pobreza, perderei a noção de mim mesmo.” Mas é práxis que vale para mim. Não posso querer que todos pensem como eu penso!


Fonte:
http://www.padrezezinhoscj.com/interna.php?arquivo=ok&flag_area=palavra&id_palavra=104



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Artigos - 25 de Janeiro

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FIZESTE A TUA PARTE

Fizeste sempre a tua parte.
Fui eu que não fiz a minha!
Deste-me a luz e a graça para eu ser pessoa plena.
Fui eu que não abri a cortina!
Deste-me, o tempo todo, a chance de escolher.
Fui eu que não te escolhi e muitas vezes optei por mim mesmo, porque era mais fácil, mais agradável e parecia mais vantajoso!

Por isso, Senhor, admito que pequei.
Foi minha culpa, tão somente a minha culpa.
Não tenho como acusar os outros nem os que me levaram ao erro e a ciladas. Eu quis. Mas, se tive liberdade para querer pecar, quero ter a liberdade de querer me arrepender, não por medo, mas por amor.

Quero ser teu porque me amas e não porque poderias castigar-me. Quero ser teu porque me queres no céu e não por medo de passar a eternidade longe de ti.

Quero amar-te por amor e não por dever ou por medo. Quero amar-te encantado com o ser que és. Concede-me esta graça!




NÃO SOU QUEM DEVERIA SER

És quem és. Eu deveria ser quem sou, mas nem sempre o sou. Não sou quem deveria ser. Não vivo plenamente a minha identidade. Deve ter sido isso que teu filho Jesus quis ensinar quando nos propões que fôssemos perfeitos como tu és! (Mt 5,48) Não tanto quanto, mas, dentro do limite humano, em plenitude humana; como o copo de água fica pleno, embora nele caiba menos água do que no barril.

Muitas vezes traí a mim mesmo, busquei ressaltar demais o meu eu, traí o teu projeto. Projetei-me demais. Aceitei ser tratado como um santo que não sou. Aceitei aplausos imerecidos, sem ao menos lembrar que outros mereceriam mais. Poderia ser melhor do que fui, ter feito melhor do que fiz e sido mais completo do que fui.

Poderia ter ouvido e não ouvi; ter amado e não amei; ter perdoado e não perdoei; ter doado e não doei. Poderia ter partilhado e não partilhei; Poderia ter compreendido e não compreendi. Nessas horas não fui quem deveria ter sido. Continuo não sendo quem deveria ser. Concede-me a graça de um dia poder dizer que sou quem sou, porque, por enquanto, ainda ajo como quem é menos ou mais do que é.




LEVA-ME A CONVIVER

Ainda não aprendi a conviver com irmãos e irmãs que não pensam como eu penso, não pregam como eu prego e não oram como eu oro. Ainda não sou suficientemente cristão, por isso mesmo, suficientemente ecumênico. Cristãos de verdade são fraternos e ecumênicos e, embora discordem do modo de crer e afirmar a fé, percebem Tua luz nas outras igrejas. Não se acham os únicos eleitos. Ainda sofro da tentação de achar que sou mais cristão do que eles; que eles precisam mudar e eu não! Preciso aprender urgentemente a praticar este exercício de humildade.

Há santos fora da minha casa, santos em outros grupos da minha igreja, santos em outras religiões, santos que tu fizeste porque são teus santos e não nossos. Não fomos nós que os fizemos santos, nem nosso maravilhoso movimento ou nossa querida comunidade. Foste Tu, Senhor, com a anuência e a concordância deles.

Concede-me, pois, a graça de tentar, nos anos de vida que me restam, ser um santo a teu modo; não ao meu; um santo que não entra em competição. Direi sempre o que penso, mas quero dizê-lo sem perder o respeito pelos irmãos de quem eventualmente eu discordo. Que meus irmãos sejam santos e consagrados do jeito deles. Eu tentarei ser santo do teu e do meu jeito. Se discordar deles, quero discordar com amor e sinceridade, de tal maneira que eles percebam que eu os amo.

Para que serve um santo, se ele não se pauta pela verdade? Para que um santo se não admira o que é bom da parte dos outros? Para que um santo que não discorda com sinceridade? Ajuda-me a não brigar pelo teu colo e a não achar que estou mais nele do que os outros. Que eu me contente com o pedacinho que tenho, que já é grande e que basta para as minhas pretensões de, um dia, encontrar-te e viver ao teu lado por toda a eternidade. Merecer, eu não mereço, mas espero estar em Ti para sempre, porque sei que da tua misericórdia.



QUE EU ENTENDA OS TEUS SINAIS

Que falas comigo, eu sei! Que me mandas sinais, eu sei. Eu só não sei ouvir a tua voz, nem ter certeza de que é ela a me falar. Tua voz ainda não soa aos meus ouvidos e eu não sou muito bom em distinguir vozes interiores nem saber se vem do Senhor ou da minha própria imaginação. A imaginação já enganou a muitos crentes que apostaram que era tua voz e não era.

Mas, que me dás sinais, eu sei que dás. Sou eu que, às vezes, não sei decifrá-los. Que te comunicas é certo. O problema sou eu, que nem sempre capto. Se posso pedir, - e sei que posso-, a graça que eu peço é que me ensines a ler os teus sinais e a ouvir as tuas vozes, as verdadeiras. Quero saber distinguir as vozes falsas que, na verdade são desejos meus, disfarçados em revelação.

Ensina-me a distinguir as vozes que me falam ao coração. Eu ainda não sei o que é teu e o que não é; o que é meu e o que não é. Eu ainda gostaria que me respondesses do jeito que eu imagino que responderias. Mas a realidade é outra: és livre. Ensina-me a ouvir o que tens a me falar e não a imaginar que disseste o que eu gostaria que me tivesses dito.



SERENO E PENITENTE

Passarei a minha vida como penitente, a pedir perdão pelos meus pecados, de manhã, de tarde e à noite, mas passarei o resto da minha vida tentando não viver de remorso, porque confio na tua misericórdia.

Quero viver de pedir e de dar perdão e de confiar que serei perdoado. Quero viver como quem sabe que a tua compaixão é infinita porque és rico em misericórdia. (Ef 2,4) Não me quero sentir mais culpado do que sou, nem menos culpado do que tenho sido. Quero assumir com realismo a minha culpa, mas também as virtudes e os valores que são dons que me deste e pelos quais sou e devo ser grato.


Pe. Zezinho, scj

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domingo, 17 de janeiro de 2010

A doutora e suas mães

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A DOUTORA E SUAS MÃES

Um livro de mil páginas não seria suficiente para falar de Zilda Arns. Também não o seria para falar de seu irmão mais velho Dom Paulo Arns. A Igreja e o Brasil lhes devem muito. Em tempos difíceis eles assumiram a catequese de atitudes. Repercutiram o evangelho, porque é disso que trata o “catechéin”. Creram e agiram.

Dom Paulo ainda está conosco. Neste começo de ano o terremoto do Haiti levou a Doutora Zilda. Morreu entre os mais pobres da América Latina. Se lhe fosse oferecida uma escolha de onde e como morrer, imagino que é a escolha que teria feito: morrer entre os pobres e ensinando a sair da pobreza. Era mulher de orar, de falar e de fazer.

Todos perdem com sua partida. Milhões de mães do Brasil e milhares de outras mães do mundo perdem a cúmplice, que, a conselho e incentivo do irmão cardeal e com o apoio de bispos católicos e de outras igrejas criou e desenvolveu a Pastoral da Criança. Presidentes e governos estaduais e municipais do Brasil perdem uma aliada sorridente, exigente e competente. Extensos programas de rádio e de televisão, revistas e jornais já falaram dela e certamente ainda falarão.

Quem pensava que a era de Tereza de Calcutá e de Irmã Dulce terminara, não sabia da Doutora Zilda e não sabe de centenas de outras que vivem pelos pobres, agem para libertar e para promover os outros. A fé, com elas, se traduz em gestos concretos. Doutora Zilda mirou as mães e suas crianças.






Felizmente, ouço dizer, a doutora deixou raízes, multiplicou-se por mais de 160 mil corações solidários que entenderam sua mensagem: “Com pouco se faz muito, desde que haja união, espírito e equipe e senso de comunidade”. Outra vez a história dos cinco pães e dos dois peixes deu certo. Começou e os governos e grupos de serviço perceberam que, nas mãos dessas mulheres cúmplices em favor da vida, as coisas aconteciam e custavam bem menos do que a burocracia do poder. Era o poder das mães em ação.

Nós, católicos, quando vemos um herói da solidariedade e da justiça, o proclamamos pessoa santificada, sancionada, escolhida. Dizemos que viveram em Cristo por Cristo e com Cristo, nos outros, com os outros e pelos outros. Os santos erram, mas se corrigem, perdoam, pedem perdão e apesar de seus pecados e limites, ajudam como podem e como sabem. Milhares de cristãos fazem pelos sofredores coisas que o mundo só fica sabendo quando morrem. Felizmente, de Dra. Zilda já sabíamos pelos resultados da sua Pastoral da Criança. Fez, fazia e fará falta!


Pe.Zezinho, scj

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Artigos - 11 de Janeiro

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IMAGENS NÃO ME CONFUNDEM

Vejo a celeuma que o culto às imagens provoca em algumas igrejas e movimentos. Lembram os quatro meninos que discutiam sobre uma estatueta do superman. Um dizia que aquela imagem era poderosa e fazia coisas incríveis, o outro ria dele dizendo que imagens do superman não voam nem podem nada porque o superman não existe, o outro dizia que o superman existe, mas as imagens deles não eram ele. O quarto deu a sentença final:- É só um boneco de plástico. Se querem brincar brinquem, mas não briguem por causa dele. Meu pai já explicou todos os bonecos e brinquedos que eu tenho e como eu posso usar e imaginar cada um deles. Não são de verdade. De verdade é que quem cuida de nós é Deus, nossos pais e quem ajuda as crianças...

A mãe, que da cozinha ouviu a conversa, contava-me que depois disso ficou fácil ensinar aos dois filhos o que é ter imagens em casa.

Desde pequeno me explicaram que as imagens são imaginação de gesso, barro ou madeira. Elas apenas representam a idéia que temos de Deus, de Maria, dos anjos e dos santos. Se for idéia errada estará lá naquelas imagens. Se for idéia correta também estará lá.

Cabe aos fiéis aceitar a imagens que ajudam e rejeitar ou corrigir as que atrapalham sua fé. Uma imagem de Maria com espada ou um fuzil nas mãos não seria boa. Uma imagem de Maria sendo levada por anjos para o céu, se bem explicada pode ajudar. Não explicada deixará o fiel confuso.

Chamar os fiéis de fuzileiros e bacamarteiros do Cristo, mosqueteiros de Jesus, guerreiros da luz, pilotos da guerra nuclear contra o pecado, ninjas da fé, cruzados da eucaristia pode até ser linguagem diferente, mas terá que se explicado, porque revela perigosos retornos, crassas idiossincrasias e atrasos catequéticos imensos. Linguagens de guerra de ontem ou de hoje nem sempre ajudam.

Imagens do demônio em forma de dragão sendo esmagado pro espadas luminosas tinham sentido na Idade Média. Hoje ninguém mais tem medo de dragões, nem de demônios do ar, da terra, do mar, da unha encravada e da diarréia. Se tem preciso urgentemente de ajuda cultural, mais do que de exorcismo.

Recentemente entrei numa casa que na parede da sala estampava um quadro de Deus Pai velhinho de barbas brancas, do Filho também ele cabeludo e barbudo, uma pomba no seu peito, Maria ao lado.

Fui abençoar a vovó que não passava bem. Enquanto tomava o cafezinho a dona da casa perguntou se eu já tinha um quadro daqueles. Disse-lhe que não. Mas pedi a ela que me explicasse como o entendia. O que era aquele quadro para ela.

Não se fez de rogada. Disse que Deus Pai que era eterno e muito antigo, mandou o Filho dele que era mais novo ao mundo. Jesus trouxe com ele o Espírito Santo que toca no coração das pessoas. Maria, segundo ela fora gerada pelo Espírito Santo e estava ao lado do Filho para nos dar os recados do Pai e nos ajudar a dar o Espírito Santo quando precisamos dele.

Sentei-me na cadeira, pedi um tempo e entre perguntas e respostas levei quase duas horas para desfazer aquela concepção errada de Deus, de Maria e da ação de Deus em nós. A imagem não fora entendida porque nunca ninguém a explicara. Uma dona de barraca a vendeu, ela comprou, ninguém explicou e a catequese cambaleou.

Imagens não devem nos confundir. Foi difícil explicar aquele quadro antropomórfico que fazia do pai um velhinho de oitenta anos, vigoroso e dominador e punha Maria na mesma altura que Jesus com o Espírito Santo em forma de pomba saindo do seu coração. Coisa de pintor que não foi questionado e além de não ser questionado foi divulgado somos e sua pintura fosse uma catequese católica. Ora, a catequese católica é o oposto daquele quadro.

Mas o quadro é vendido, está lá e ninguém o contesta. Não admira que Dona Zefa tenha inventado sua própria doutrina sobre a Trindade. Naquela casa entrara uma imagem sem antes ter entrado um catecismo.

Podemos ter imagens, mas não se Bíblia e sem catecismo, devidamente lidos. Evangélicos aguerridos ignoram as passagens que as permitem, católicos sem leitura nem estudo as usam sem aprender o que significam e para que servem.

Duas leituras erradas de algo que poderia ser bom! A Bíblia as permite e as condena. O cristão deve saber a diferença.



JESUS CRISTO ONTEM E HOJE

Sou sacerdote e pregador católico. O fato de ser professor de Comunicação há quase 30 anos me levou a procurar as expressões mais corretas quando falo ao povo de Deus. De alguma bênção ou frase dúbia pode nascer uma fé dúbia. Expressar-nos com a máxima clareza, mais do que conselho, é nosso dever quando lideramos o povo.

É a razão pela qual no Natal não mais oro pelas “mais ricas bênçãos do Menino Jesus.” É que Jesus não é mais menino. Cresceu e morreu na cruz, ressuscitou, elevou-se, está no pai e virá adulto no segundo advento. Assim cremos, não há nem haverá mais Menino Jesus. Então eu oro e acentuo: “Ó Jesus que um foste menino”... Meu Natal fica bem mais claro. É memória.

Não falo com imagens. Nem dou a bênção trinitária com a imagem de Maria. Apenas elevo-a. Ela não az parte da Trindade. Uso, porém, o crucifixo, sempre como símbolo e sabendo que aquela cruz não é Jesus. Falo perto das imagens, de olhos fechados ou dirigidos para algum lugar vago, porque sei que, nem Cristo nem santo algum está naquelas imagens. Gosto delas, mas são lembranças do passado que nos ajudam a pensar no presente. Lembram a serpente de bronze que ajudava os hebreus mordidos por serpentes do deserto a pensar em Deus. Deus não era aquela cobra e nem estava nela. (Num 21,7-8) Mas quando no reino de Ezequias ela foi adorada como deus sob o nome de Neustan, Exequias a destruiu. (2 Rs 18,4) Perdera a sua finalidade. Fora transformada em ídolo. Uso imagens, mas não lhes atribuo maior poder que realmente possuem. São simbólicas. Trato da mesma forma as relíquias de um santo. Respeito-as porque estiveram perto de alguém que Jesus santificou e hoje está no céu. Trato-as como ao manto de Jesus. (Lc 7,50) Aquela mulher que tocou com fé foi curada, outros não. Jesus mesmo disse isso. Soube de pessoas que se curaram tocando alguma relíquia. Disse a elas o que Jesus disse àquela mulher: Tua fé te salvou. Não foi a relíquia. Mas elas têm sua finalidade.

Na Eucaristia, sim, creio que ele se faz presente. Ali eu contemplo pão e vinho transubstanciados e falo olhando para eles por crer que não se trata apenas de símbolo. É o próprio mistério da fé. Não faz muito tempo num grande átrio, nave da Igreja lotada, fui até à imagem de Maria, toquei-a e disse: Maria não está aqui. Esta imagem não é Maria. Fui para o outro lado perto da imagem de São Miguel e disse: São Miguel não está aqui. Creio em anjos. Miguel está no céu. Fui, então para o sacrário, apontei para ele e disse: Jesus está aqui. Esta, é a diferença. Aqueles são símbolos que apontam para pessoas santas. Este é sinal de presença real. As palmas do povo mostraram que eles também pensavam dessa forma.

Na oro ao “Cristo crucificado e a morrer” e sim ao Cristo “que morreu crucificado, mas ressuscitou”. As imagens de dor me lembram o passado dele e o presente do mundo. Quis e sofre! Mas distingo muito bem entre o Cristo ontem, hoje e sempre. O povo diz que fica bem mais claro!



JUNTOS E SOLIDÁRIOS

Na Campanha da Fraternidade os católicos foram à rua e prestaram serviços a todas as pessoas carentes, independentemente de que religiões fossem. Não as obrigaram a orar com eles.

Numa outra semana, os evangélicos foram à rua e prestaram serviços a todas as pessoas carentes, independentemente de que religiões fossem. Não as obrigaram a orar com eles.

Na sua páscoa foram os judeus e no ramadã os muçulmanos que foram à rua e prestaram serviços a todas as pessoas carentes, independentemente de que religiões fossem. Não as obrigaram a orar com eles.

Numa outra semana os kardecistas foram à rua e prestaram serviços a todas as pessoas carentes, independentemente de que religiões fossem. Não as obrigaram a orar com eles.


Foi muito solidário e muito bonito. Todos eles ultrapassaram o discurso. Agiram. E eu espero pela semana em que, todos juntos, na mesma praça, nos mesmos viadutos e nos mesmos estádios prestem serviços juntos para mostrarem que de fato conseguem ser irmãos entre si e não apenas com os pobres. Aí, sim, o mundo t era uma chance!...



NÃO ME DEIXES BRINCAR DE PROFETA

Não permitas que eu brinque de ser teu porta-voz. Não me deixes brincar de profeta. Todo pregador, a seu modo é um profeta, mas nem todos são tão profetas quanto pensam ser. Muitos extrapolam das suas funções. Às vezes dizem que disseste o que nunca lhes foi dito. (Jr 14,14) Sonham e acham que o sonho deles é o teu. (Jr, 23,25-26)
Inventam uma obra e gritam de cima dos telhados que tu a queres, quando são eles que a querem.

Não quero gritar ousadamente atrás de um microfone ou diante de uma câmera, que disseste o que não disseste, ou que pediste o que não pediste. Não usarei teu santo nome em vão. Quem fez isso acabou em crise. É terrível brincar de ser teu porta-voz quando não se é, ou inventar recados que certamente não lhe deste.

Quanto aos profetas que dizem falar em teu nome, espero que estejam dizendo a verdade. Deve ser terrível um impotente posar de porta-voz do Onipotente e, ainda por cima, garantir que não está mentindo. É melhor que não esteja!



FÉ FÁCIL

Crer em Deus custou caro para Moisés, para Jacó, para Jeremias, para Paulo, para Pedro e os demais apóstolos, para Estevão, Agostinho, Gregório Magno, Maomé e para milhares de pregadores da sua existência. Todos eles sofreram profundamente enquanto buscavam um sentido para sua fé me Deus.

É do místico e papa Gregório Magno (540-604) a afirmação de que Deus é uma experiência angustiante e que é difícil alcançá-lo, porque ele permanece oculto numa escuridão impenetrável. Nada sabemos sobre Ele. Procurá-lo com sinceridade dói.

Moisés, Jeremias e Paulo tiveram vislumbres. Milhares morreram por afirmarem sua existência. A leitura da vida dos patriarcas e dos grandes santos e místicos mostra que ninguém chega a Deus sem atravessar a barreira do seu ego e a ciladas dos sentidos. Ambos nos puxam para trás. Libertar-se do egoísmo, do conforto e do orgulho dói. Sai-se esfolado da refrega, descrita simbolicamente na luta hercúlea de toda uma noite que Jacó travou com o anjo do Senhor. (Gn 32,35)

Fé fácil teve Salomão que mentiu para sua mãe e começou por matar seu irmão Adonias para não perder o trono. (1 Rs 2,24-28) Matou também quem servira seu pai. Construiu para Deus um templo majestoso e, logo depois, um ainda maior e mais rico palácio para si mesmo. Disse ter visto Deus duas vezes. Foi riquíssimo e teve tudo o que queria, começando pelas suas 300 mulheres e 700 concubinas que, segundo 1 Rs 11,3 lhe perverteram o coração. O rei que viu Deus duas vezes terminou por adorar Astarote deusa dos sidônios.

Com enorme aparato e com eficiente marketing Salomão se fez passar por vidente, todo poderoso, infalível, sábio e justo. A leitura de sua vida mostra um crente que foi deixando de ser bom. A fama, a riqueza e sua falsa noção de Deus o levaram a uma vida de luxo, de ira, de manipulação da fé e das pessoas ao seu redor. Morreu adorando Quemós, Moloque e outros deuses.

Ao que tudo indica não sofreu pela fé. Mudava de Deus a seu bel prazer. Este, o grande perigo da fé fácil e confortável que traz riquezas, fama e sucesso ao pregador. Ele nunca sabe se terminará seus dias no colo do verdadeiro Deus ou do Deus confortável e recompensador que ele criou.

Em tempos de igrejas de resultado e de pregadores que enriquecem a olhos vistos, convém lembrar homens como Gideão, Salomão, Jeremias, Paulo, e Simão o Mago. São histórias sobre quem serviu à verdade e quem a manipulou por riquezas e poderes.


Padre Zezinho, scj

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sábado, 9 de janeiro de 2010

Vídeo - Oração Pela Família

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O música ORAÇÃO PELA FAMÍLIA, além de ser considerada o maior sucesso do Padre Zezinho e tbm responsável pela vendagem de mais de um milhão de cópias do LP Sol Nascente Sol Poente em 1990, foi também cantada por Padre Zezinho na terceira e última vinda do Papa João Paulo II ao Brasil em 1997.

Padre Zezinho, Roberto Carlos e Padre Antonio Maria, estavam presentes na última cerimônia do dia 05 de outubro no Rio de Janeiro, que contou com mais de 2 milhões de pessoas numa tarde de sol intenso, e cantaram nesse dia para o PAPA.



Em dezembro do mesmo ano, Roberto convidou Padre Zezinho para cantar sua música ORAÇÃO PELA FAMÍLIA, juntamente com Pe. Antonio Maria, no Especial exibido todo fim de ano pela TV Globo.

O vídeo desse encontro histórico você vê agora aqui:









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Artigos - 05 de Janeiro

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NETOS QUE TAMBÉM SÃO FILHOS

Como outros tantos dramas, em poucas semanas, também este será esquecido pela mídia. O drama do menino Sean Goldman. A Folha de São Paulo noticiava no dia 24 de dezembro, véspera de Natal, que a avó materna de Sean, com ela desde os dois anos, teria dito que a devolução do menino ao pai era um crime hediondo. Dores de avó á parte, que sempre devem ser respeitadas, fixemo-nos no direito de pai e de avô. A filha morreu e o fruto dela filha estava com eles. Diga-se de passagem, sem o consentimento do pai. Ela viera em férias e não mais voltou.

Se os avós tivessem lutado pelo direito do neto de conviver com o pai, se tivessem instado com a filha para que deixasse o menino ir ver o pai, se o pai desde o começo tivesse vindo ver o menino, se o novo marido dela tivesse, culto que é, lutado para que as coisas se resolvessem no diálogo e se, tão logo a filha morreu, tivesse havido ainda mais diálogo, o trauma seria bem menor. Dizem os dois lados que tudo isso foi feito. Então por que o conflito internacional?

Visto apenas por um ângulo tudo parece correto. Mas toda questão tem muitos ângulos. E é porque o coração humano nem sempre busca a justiça, e muitas vezes não consegue dialogar que há juízes. Estes levam em conta a dor dos pais, a dos avós a dos filhos, as leis das duas nações e também o sentimento popular. Alguém radicalizou. Os juízes podem até errar, mas erram bem menos do que uma família abalada pela possível perda de um ente querido. É pois, hipérbole chamar de crime hediondo, a obediência ás leis internacionais.

Nesse terreno de afeto e direitos resvala-se facilmente para o sentimento pessoal. É assim que somos. “Estou ferido, logo esta lei não presta! Não me favoreceu! Tem que ser mudada”. É o que se ouve de partidos, ideologias, religiões e indivíduos. Tomamos quase sempre o lado que nos favorece. Imparcialidade não é o nosso forte. “Nosso candidato é o bom. O outro tem seus valores, mas não chega aos pés do nosso. Nossa Igreja tem as respostas; as outras, ou têm ou não têm o suficiente. Nossa família tem mais direitos. Conosco ele ficaria melhor!” Precisamos de juízes quando nosso juízo fica toldado pelos nossos sentimentos.

Não tendo coração de avô e avó, podemos imaginar quem falou mais forte no caso do menino Sean. Queriam manter consigo o fruto da filha falecida. O pai, ao que tudo indica, desde o começo o queria de volta. Tivesse havido mais diálogo a criança estaria hoje habituada a viajar entre os dois países. Sacharemos o culpado? E isso ajuda em quê? Não tendo havido essa abertura, o garoto que, o tempo todo precisou da ajuda dos juízes, certamente precisará por mais algum tempo da ajuda de psicólogos. O caso do menino abduzido em Goiás e de sua mãe abdutora sirva-nos de exemplo. À dura custa venceram os pais. Esperamos que o moço esteja bem. Mas o judiciário precisou agir.

O sentimento nem sempre permite julgar com isenção. Por isso precisamos de juízes. A lei às vezes é bem mais serena!




MALEDICÊNCIAS

É fácil falar contra nossos desafetos.
Se sua fama ou posição nos incomoda,
diminuí-los ajuda a derrubá-los e o espaço passa a ser nosso...

É fácil omitir-nos quando deveríamos falar.
Passamos por legais e o erro continua, graças à nossa covardia.
É fácil falar quando deveríamos ter calado.
É fácil lançar suspeitas, fácil falar sem provas.
É fácil tornar-se cúmplice de uma calunia
e acreditar sem exigir provas.

É fácil esquecer o quanto devemos à pessoa
de quem acabamos ou acabaram de falar mal.
Basta que um pouco a mais de mesquinhez.

Por causa de fofocas e maledicências
muitos grupos se desfizeram,
amigos se calaram e sumiram,
benfeitores se cansaram de ajudar,
vizinhos não mais se visitaram,
relacionamentos se desfizeram
até mortes aconteceram.

Por maledicências
famílias se desintegraram,
igrejas se estranharam,
e quem ajudava perdeu a motivação.
Retirou-se na sua dor.

Estava certo São Tiago quando falou sobre a língua:
é um pequeno órgão que se gloria de grandes coisas,
pequeno fósforo que põe fogo numa floresta.(Tiago 3,5)
Se alguém pretende ser religioso refreie sua língua.
É pavio aceso pelo inferno! (Tiago 3,6)
Aquele que controla a língua tem as rédeas da sua alma.



A ERA DO CLIC

Há cinqüenta anos atrás era muito mais difícil adquirir uma casa ou alguns bens pessoais. Não se sonhava com muita coisa. O capitalismo nos vendeu sonhos a prestações e a maioria das pessoas comprou a felicidade agora, pagável em longo prazo.

A vida foi sendo facilitada. Modernizou-se tanto que hoje a maioria das coisas dependem de um botão. O tais botões e seus respectivos clics abrem e fecham portas e portões, comandam carros, ligam e desligam a televisão, fazem funcionar enormes máquinas, abrem comportas, controlam aviões no ar, encostam embarcações no cais e nos colocam em questão de segundos em diálogo com alguém do outro lado do mundo. Entramos na era do clic. Uma geração inteira não sabe mais viver sem clicar.

Se o clic facilitou nossa vida a ponto de até cozinharmos de longe, operarmos de longe uma vesícula, comandarmos tudo sentados no sofá. As crianças brincam com carrinhos e aviões acionado botões. Tudo ficou mais caro e mais desafiador. Muitos acabam por pensar que a vida também não passa de uma sucessão de clics. Mundo mágico! Basta estalar os dedos e apertar o botão, repetir algumas frases, cheirar um pó ou injetar uma agulha que acontecem o amor, o dinheiro, o emprego, a viagem mental, a graça de Deus e o sucesso. Como quase tudo o que depende de um clic custa mais caro, a vida não sai por menos. Isso inclui igrejas que lhe garantem que se você orar deste ou daquele jeito vai com seguir a sua graça, desde que esteja me dia com o seu dízimo. A coisa é dita sem rebuços nem meandros no rádio e na televisão. -Dê que Deus dá ou dê ao Deus que lhe deu... Se quer mais milagres ajude-nos a erguer mais um templo ou a pagar as dívidas de nossa comunicação digital.

Ainda não percebemos que é possível cultivar flores sem sujar as mãos no barro, mas que há uma enorme diferença entre quem abre o sulco, poda, cultiva e colhe e o que manda a máquina fazer isso por ele. Há coisas que só fazem sentido quando nascem de nosso esforço.

Milhões de pessoas, em milhares de firmas e igrejas estão hoje criando o nosso clic de cada dia. Mas teremos que pagar pelo botão que aciona aquele clic. Se é isso o que queremos, talvez um dia tenhamos gente paga para por a comida na nossa boca e até, à moda o cauim, mastigar por nós. Mas acabaremos atrofiados. Milhões já estão. Pagam para que alguém pense por eles e lhes diga todas as manhãs o que devem ou não devem fazer naquele dia. Pagam o pregador para lhe garantir que Deus perdoou e abençoará o novo empreendimento, porque há pregadores que não fazem nada de graça. O clic da fé também tem o seu preço!

Não são poucos os que nos ensinam o que devemos dizer a Deus, ou o quanto devemos pagar para ter o céu garantido...Há livros com mais de 300 orações, algumas delas com anotação de que são infalíveis e Deus as atende garantidamente... As pessoas querem respostas prontas e as recebem, como quem quer vestido pronto e o encomenda. Se mais tarde serve ou não serve já é outro departamento... Paulo afirmou na 2 Timóteo capitulo 4, que haveria, no futuro, pregadores dispostos a dizer-nos o que gostaríamos de ouvir. Como muitas pessoas não querem a verdade e, sim, palavras bonitas e gostosas de ouvir, por uma modesta contribuição elas recebem palavras bonitas e gostosas de ouvir:

Você é único. Não deixe ninguém prejudicar a sua individualidade que é o dom mais precioso que você tem. Resgate o seu eu. O demônio e o mundo o seqüestraram. Você foi escolhido, você foi eleito, Deus o ama, Deus tem uma mensagem para você, hoje, agora, porque você é especial. Entre para o nosso grupo que verá coisas especiais acontecendo para gente especial. Não abra mão de seguir o seu coração e os seus sonhos. Converta-se agora, já, mas do nosso jeito, porque do outro jeito não seria conversão. Escolha entre ficar aí onde está e vir conosco. Não sofra mais ai onde você está. Aqui Deus opera. Quem veio para cá não sofre mais. Aí, na sua igreja de agora, ou vai demorar muito ou nada vai acontecer, porque fora de nosso grupo há muito pecado. Venha conosco porque aqui o demônio é derrotado! E quem nos questionar está questionando a verdade.

Eles nem percebem que passaram dos limites. O modo como nos falam dá a entender que a graça nos dias de hoje passa apenas pelo grupo deles. Também a Igreja católica só será católica de verdade se passar pela mística deles. Não dizem, mas excluem a salvação por outras místicas. Em alguns casos dizem abertamente. Você pode comprar os DVDs deles pelo correio ou em suas lojas. Está lá, sem disfarce a mensagem do clic aqui. Eles foram chamados para clic , clic, clic, e clic salvarem a nossa Igreja. Fulano entrou, clicou e está salvo. Só não falam do Sicrano que entrou clicou, aderiu e depois saiu e hoje está em tratamento psiquiátrico por conta do excesso de exposição a uma doutrina excludente, que vê pecado nos outros e detecta o anticristo e o inimigo em tudo, menos no grupo deles. Voltamos à Idade Média onde tudo que não era explicável era demônio do ar , do pântano ou até do repolho. Hoje dizem que ele comanda os mosquitos da dengue. E o dizem durante a missa, na televisão para milhões de expectadores simples. Nenhuma censura!

A Igreja antes deles era uma coisa. Agora é outra. Devem até responder diferente à pergunta: -És cristão? Está lá nos livros e CD´s desses irmãos. Agora, com eles, as respostas são outras. Até o catecismo deve mudar! Dirão que interpretamos mal, mas está lá em português claro, legível e audível. Tenho mais de quarenta fitas com tais mensagens, ditas em estádios cheios de gente. Um dia toda a Igreja será do jeito deles! Eles serão a Igreja... Eu estive lá no dia desta pregação! Vi a mesma pregação num outro estádio feito por uma aguerrida pastora de igreja pentecostal. O discurso é o mesmo.

Não se ouve nenhum elogio para outros grupos de igreja e outras pessoas que não falam nem oram como eles, mas a quem Deus também ilumina. Como estão lá para divulgar sua pregação, seus livros, suas canções, é claro que não vão elogiar os outros. Os outros, que façam como eles! Montem seu púlpito e preguem de lá. Em outras palavras : achem o seu clic.

Criamos um mundo de produtos que dependem de apenas um ou dois clics . E já chegamos ás igrejas do clic.

Faça isso e conseguirá isso. Ore desse jeito e conseguirá tais e tais graças. Venha conosco e verá milagres nas quartas feiras ás três da tarde! Quem tem um caroço no seio ou um problema no joelho levante a mão que vamos orar por você. Pronto! Você . Pronto! Você está curado.Aplaudam mais forte porque acabei de cantar ou falar sobre Jesus. Não é para mim, e para ele!...

Ai de quem os contestar. Entra para a lista do endemoninhados. Ousou duvidar da santidade deles! Bispos e papas podem até estar errados, mas eles não! Só não contam quantos não foram curados nem naquele dia, nem depois. Isso porém, não interessa ás igrejas do clic, da mesma forma que não interessa aos fabricantes de controle remoto falar que eles ás vezes não funcionam. O clic tem que ser vendido e tem que funcionar. Os insatisfeitos que os devolvam. Ganharão outro clic. E se também este clic não funcionar, então o problema está no usuário...

Entramos no mundo da magia. Eleja seu deputado com dois clics. Ligue a televisão com apenas um clic. Ganhe uma graça com dez clics. São orações infalíveis. Não estão deixando nem a Deus o direito de agir ou não agir. Dão até data, horário e lugar do milagre. Se Deus não atender àquele clic das três da tarde, pior para Deus, porque vai haver clic do mesmo jeito...

Um dia descobriremos que a vida é mais do que botões e clics; e que somos como plantas que precisam crescer antes de dar frutos; e que o fruto vem devagar e tem que ser cultivado. Erraríamos, se quiséssemos dinheiro fácil, igreja fácil e milagres com horário e data marcada. O viciado conta com o clic daquele comprimido ou daquela cheiradinha. Faz efeito na hora. Depois a dependência continua e piora. Os traficantes contam com esse clic para vender mais. Mas ele traz a morte. Religiões imediatistas também garantem um clic de resultados imediatos. Fulano clicou quinze vezes e hoje tem três lojas. Adeus crise e desemprego. Mas tem que clicar do jeito certo! Colecione estas fitas e grave estes programas e verá o caminho seguido por quase todos os marketeiros do clic. Venha, ouça, compre, faça, pegue, pague, siga nossas suaves prestações, mas adquira já, agora e pague só em junho! Cora, venha, não perca! Deus aqui,a gora já! Na fique aí! Nós temos a luz que você anda procurando! Não seria maravilhoso se tudo corresse do jeito que eles anunciam? Pena que não contem, pela mesma emissora, o que houve com muitos que aderiram venceram foram curados e voltaram ao pecado, mudaram outra vez de igreja, separaram-se outra vez, ou não estão bem de novo. Mas não tinham aderido a Jesus naquela igreja e naquele grupo e não estavam salvos e batizados no Espírito? Porque não podem agora testemunhar que não foi tudo como haviam prometido?

A escolha é sua. Os catorze anos de Paulo até merecer o respeito de apóstolo, (Gl 2,1-12) ou a pressa do mago Simão que achou que podia comprar a graça e o milagre. (At 9,18-22) Se tem pressa, compre um desses clics espirituais. Se acha que o tempo de Deus não é o tempo dos homens, continue orando. Deus o conduzirá á maturidade, na mesma igreja onde você foi batizado, mesmo que pareça estar demorando, Ele se importa com você. Sua hora vai chegar. E não tem que ser lá fora, nem tem que ser agora. Deixe o Cristo levar você! Ele sabe o endereço do Pai! Significativamente, Jesus não ofereceu nenhum clic. Nunca prometeu sucesso financeiro para quem o seguisse! Ao paralítico da piscina curou o corpo e mais tarde a alma. Jesus o tocou em duas etapas. Não o fez em 30 segundos. (Jo 5, 1-15)



CATEQUESE IMPORTANTE

Expliquei ao jornalista o que entendo por catequese cristã. É a certeza de que Deus se importa conosco e de que devemos nos importar com a sua obra.

Um cristão só se torna importante quando se importa e quando abre a porta que dá para o mundo. Não se fecha, abre-se. Não se isola: participa. Não se deixa encurralar e sitiar e também não sitia nem encurrala. Dialoga e importa-se. Não crucifica, descrucifica!

Uma Igreja que se importa com o casal, com as crianças, com os jovens, com os adolescentes, com os anciãos, com os pobres e com o futuro do seu povo torna-se uma igreja importante: importante porque se importa!

Igrejas tornam-se interessantes quando se interessam e se mostram interessadas na sorte dos mais sofridos. Só pode falar de eternidade uma Igreja que tem tempo para quem precisa de seu tempo.

O repórter disse que gostava dos meus trocadilhos. Sorri e disse-lhe que brinquei com as palavras, mas não com a catequese. O cerne da questão é exatamente esse: interessar-se, importar-se, tentar entender e compreender, saber ler os sinais dos tempos. Isto, só se consegue quando se tem um coração atento e atencioso.

Ele agradeceu pela entrevista. Eu agradeci pela oportunidade que me dava de falar a milhares de pessoas. Emprestou-me a sua cultura de repórter, homem que busca a notícia e emprestei-lhe a minha cultura de sacerdote, homem que a analisa. Ele se importa e eu também. De certa forma, somos pessoas importantes. Importamo-nos!



ESPIRITUALIDADE CONCILIADORA

Apaziguar é um dom que vem do céu. Do Concílio Ecumênico Vaticano II a maioria já ouviu falar. Nem todos, porém, entendem que se trata do ato de pessoas sentarem juntas para decidirem juntas. Isto quer dizer conciliar. Há, pois, uma atitude e até mesmo uma espiritualidade conciliar que vive as propostas de algum concílio. E há também a espiritualidade conciliadora que é virtude dos que, ou se aproximam dos outros, ou vivem de aproximar as pessoas, para que resolvam seus problemas e façam as pazes.

Os pacificadores, os que vivem a serviço do diálogo, os que fazem de tudo para achar valores nos outros e descobrir as razões de cada pessoa, os que tentam relevar, perdoar, usar de misericórdia e, no ato de aplicar a justiça esmeram-se na moderação, todos eles vivem uma espiritualidade conciliadora. São mediadores, aproximadores, suavizadores, apaziguadores. Nem por isso deixam de tomar suas posições firmes, se o caso exigir tal atitude.

Uma senhora serena e forte, mãe de seis filhos fez exatamente isso. Tentadas todas as outras possibilidades para levar um filho rebelde e cruel que se alegrava em ferir os irmãos, recorreu ao silêncio. Calou-se diante dele. Não tinha mais palavras. Quando ele chegava, limitava-se a olhá-lo, tocar-lhe no rosto e depois ia cuidar de seus afazeres. Era diferente o tom com que falava a este filho. Tinha deixado claro que um dia tomaria aquela atitude, caso ele prosseguisse na sua brutalidade diante dos irmãos. Foram meses até que ele, um dia, veio sozinho até ela e pediu uma chance. Ele tinha melhorado. Ela o fez prometer que nunca mais feriria os seus irmãos com aquelas palavras e atitudes cruéis. Assim aconteceu.

Às vezes a espiritualidade conciliadora propõe atitudes de justiça e de severidade, sem ódio e sem crueldade. Mas a pessoa que abusa do espírito conciliador acaba sabendo por que a outra silenciou. Não é permissividade, nem fraqueza, nem um “tudo bem, tudo legal”. É um aproximar-se de quem educa. Trato bem, mas não cedo. Nisso, não! Daqui você não passa!

Que os pais a busquem. Façam como os semáforos que permitem, alertam e proíbem! Agora, passa este, agora o outro e agora você! Administrar conflitos é dom de Deus. Caso não consiga, corra para um mosteiro, um santuário, um lugar de preces e ore ou peça orações e entregue a Deus a pessoa ou as pessoas em conflito. Há casos que só Deus consegue suavizar.

Pe. Zezinho, scj



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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

De Volta Ao Catolicismo - Novo Livro

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Padre Zezinho, para quem quer experimentar, (re)experimentar Deus


"Se não conseguimos nem sequer tomar juntos um café no bar da esquina e conversar serenamente sobre o nosso amor por Jesus, como esperamos "converter" o mundo para Cristo?"





Como ele mesmo se declara, Padre Zezinho, scj, é aquele que vai à fonte, enche o balde com o conteúdo já armazenado e devidamente purificado pelos papas, bispos, doutores e mestres e o distribui ao povo em linguagem simplificada, que qualquer um pode entender. "Eu transcrevo a teologia para ouvidos não acostumados à profundidade dos mestres", diz.

Seu novo livro, De volta ao catolicismo, é mais uma prova disso, um trabalho de fôlego, denso, mas de apelo popular e fácil leitura. Fundamentado nos documentos da Igreja, aqui, ele escreve aos católicos que assim se denominam, mas que não assumiram o compromisso de viver sua religião; àqueles que experimentaram outras confissões religiosas e agora pensam em voltar ao catolicismo; e, finalmente, aos irmãos de outras Igrejas que se interessam em conhecer o pensamento e a doutrina católica.

O texto analisa e motiva o comportamento de um católico a partir das doutrinas e das ênfases que este fiel assume - o que o autor chama de "catequese comportamental" ou de "catequese de atitudes. Parte do princípio de que os crentes agem a partir do que ouvem, de quem ouvem, com quem comungam e dos livros que leem.

Padre Zezinho analisa demoradamente o jeito de uma pessoa que parou de procurar porque, satisfeita, segue todos os dias pelos mesmos trilhos, confundindo eventuais mudanças com desvios e abandonos do rumo. Sempre mantendo a ortodoxia, oferece, então, novidades em termos de conteúdo, autores, enfoque, pastoral, ecumenismo e catequese.

De volta ao catolicismo é uma obra provocadora. Segue as proposições do Documento de Aparecida, que sugere a retomada da apologética sem que se perca o respeito pelo outro, e a linha do "crer em Cristo hoje, buscar o Cristo de sempre e anunciá-lo em linguagem de agora". Traz muitas interrogações e exclamações, insistindo numa Igreja menos intuitiva e instintiva e mais pensativa e reflexiva. Sugere que os "piedosos" e "estudiosos" caminhem juntos, um enriquecendo o outro com sua experiência de fé.


Título: De volta ao catolicismo - Subsídios para uma catequese de atitudes
Autor: Padre Zezinho, scj
Coleção: Catequista e Aprendiz
Editora: Paulinas
Edição: 1ª (primeira)
Formato: 15,0 x 23,0
608 págs.
Preço: R$ 35,60
Código: 515710
ISBN: 9788535625141




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