domingo, 30 de maio de 2010

Discografia dos Anos 2010

Artigo que reunirá todos os lançamentos do Padre Zezinho nessa nova década. Aqui serão postados Cd's narrados, coletâneas e discos de estúdio.

Meu Cristo Jovem
Paulinas 12446-0
Ano 2010
Categoria:
Narração

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Apresentação

O texto (CD) é uma reedição revista e re-interpretada diferente do LP MEU CRISTO JOVEM lançado no ano de 1972, época em que muitos jovens foram torturados e pagaram um alto preço por quererem mudanças no país. O personagem em questão é adepto da não violência. O texto, como o primeiro, na voz do autor, projeta em todos os cristãos, jovens ou adultos o questionamento e a busca por uma cristologia mais atual e atuante. Para retiros, aulas e cursos de catequese.

Sinopse

Um rapaz, estudante de direito, por impulso entra numa igreja e começa a conversar com o Jesus de quem ele ouviu falar, mas que admite conhecer pouco. Lembra sua família, a namorada, os amigos, a faculdade, a crise de fé entre seus colegas, sua infância, seus sonhos de ser alguém neste país em mudanças e, de conversa em conversa, acaba rezando ao Cristo advogado e defensor dos oprimidos a quem ele sinceramente deseja conhecer melhor.

Faixas do CD:

Ainda não sei quem Tu és (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)Neste mundo, nesta era, nesta hora (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)
É difícil imaginar-te (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)Tua cruz e o seu legado
(texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)Num mundo sem diálogo... (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)



Quem é esse Jesus?
Paulinas 12448-6
Ano 2010
Categoria:
Coletânea


"E seu nome era Jesus de Nazaré
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor."

 
Em 45 anos de dedicação à música católica, foram pelo menos 200 canções que tinham o nazareno como tema central. Padre Zezinho, scj, decidiu, então, comemorar também os 50 anos da gravadora parceira Paulinas-Comep, selecionando dentre essas as 12 que melhor traduzem um pouco do aprendizado com e sobre o mestre Jesus. E reconhece: mesmo com essa bagagem de peso, nada de respostas definitivas, afinal, “sobre Ele é muito mais o que ainda precisamos saber do que aquilo que já sabemos...”
 

Faixas e seus respectivos álbuns:
 

Quem é esse Jesus? (Ao país dos meus sonhos)Sem eira nem beira (Qualquer coisa de novo)E eu penso em Jesus (Manhãs iluminadas)O filho do carpinteiro (O Filho do Carpinteiro)
Canção para o sol maior
(Canções para o sol maior)O Rabi (Qualquer coisa de novo)
Foi em nome de Jesus (Canções em Fé maior)
Jesus é luz
(Canções que a fé escreveu)Ieshuá (Um certo galileu 2)
Eu gritei teu nome santo
(Oremos pela terra)Sempre sol nascente (Canções para o sol maior)
Um certo galileu (versão ampliada)



Mil Canções Para Maria
PROCADE
Ano 2010
Categoria: Musical









CD gravado no final do ano de 2009, são 13 cantigas marianas, todas canções inéditas e compostas por Pe. Zezinho.
O CD tem a participação dos Cantores de Deus, Ricardo Moreno e o Beto do Ir ao Povo. Mil Canções Para Maria está a venda com exclusividade pela gravadora cristã PROCADE.
É mais um belíssimo disco do Padre Zezinho em homenagem a Nossa Senhora.

As faixas do álbum são:

Mãe serena do sereno Jesus
Humilde serva
Adeus, Aparecida
Duzentas Rosas
Poucas Palavras
Alguém me apresentou á Maria
A primeira a comungar
Meu ensino
Ora, pois por mim Maria
Mãe Venerada
Uma Só Maria
Leva-me ao teu Jesus
Levaram Maria pro Céu




Quando Deus Se Calou
Paulinas
Ano 2011
Categoria: Musical




"Como sempre o fiz nos meus mais de 100 álbuns, busco melodias e temas catequéticos, impregnados de psicologia e de teologia. É, também, o objetivo deste Cd com o título tereziano: "Quando Deus se calou". O ouvinte habituado a ler os antigos e modernos contemplativos perceberá, nas canções deste álbum, as sugestões de um padre catequista que há mais de 45 anos decidiu que ressaltaria a vocação de pensar, repensar e atualizar a fé que sentimos: Pensar como Jesus pensou para amar como Jesus amou... Tenho cantado isso desde os anos 70 e já cantava desde 1964. Às vezes emociono, mas não canto para emocionar; canto para fazer pensar. Os títulos e os textos, bem como as melodias, seguem a linha mestra da fé constantemente "revisitada", como cidade de onde se sai e se reentra como peregrino. Os verbos são "ir" e "conviver", duas conseqüências e dois caminhos para o verbo 'amar'. "

Pe. Zezinho, scj

Quando Deus se calou
Ninguém fez mais do que Jesus
Jesus, Jesus, Jesus
Uma luz nos teus olhos

Se não fosse Jesus
No trem da vida
Casinha de ribeirão
Lares desfeitos
Dor de casal
Duas velas amorosas
Sementes desperdiçadas
Odogitria Pan-Haghia
Há um rio dentro de mim
Viver na tua luz



Melhores filhos, melhores pais
Paulinas
Ano 2011
Categoria: Coletânea



Este CD foi solicitado pela Pastoral Familiar para ser trabalhado no Congresso das Famílias que acontecerá em Maio/11, em Aparecida, onde o Pe. Zezinho, scj, fará a Palestra Central do Congresso. As músicas já são todas conhecidas com exceção das faixas 2. "Melhores filhos, melhores pais"(do CD Canções Que a Família Escreveu) e 3. "Adeus, Aparecida"(do CD Mil Canções Para Maria), gravadas pelo Pe. Zezinho, scj, em projetos pela Editora Procade.

Faixas Musicais

Oração pela família
Melhores filhos, melhores pais
Adeus, Aparecida
Canção ao pé de um matrimônio
Oração por nossos filhos
Medley do lar feliz
Ilumina, ilumina
Famílias do Brasil
Já não se amam
Gravidez
Feliz o lar
Dia de bodas


Série Ouro - Paulinas 50 anos
Paulinas
Ano 2011
Categoria: Coletânea




















Para comemorar esta História Musical, a Paulinas-COMEP lança a Série OURO apresentando a trajetória de alguns destes artistas. José Fernandes de Oliveira, mais conhecido como Padre Zezinho, scj é um dos pioneiros na composição de música mensagem e o iniciador na realização de shows católicos no Brasil. Cantor, compositor, pregador e descobridor de talentos. Chamado de "o Padre Catequista" ele diz: -"Nem padre cantor eu sou. Sou apenas um padre que às vezes canta, mas o que mais faço é ser catequista, escrever e ensinar". "Não sou padre porque canto. Canto porque sou padre!" Nesta coletânea resgatamos alguns de seus sucessos que certamente marcaram a história de muitas pessoas no Brasil e em outros países.

Faixas do CD:

Um certo Galileu (Versão ampliada)(2010)
Cidadão do infinito (Versão de 1973)
Cantor religioso (1997)
Tua palavra é assim (1989)
Dizem que é saudade (Versão de 1978)
Quando a gente encontra Deus (1995)
Oração da manhã (1971)
Nova geração (Versão de 1973)
Lá no altar de Aparecida (1995)
Oração pela família (1990)



45 Anos de Canção
Sony Music
Ano 2011
Categoria: Ao vivo





Este projeto, é riquíssimo, reúne imagens e fotos históricas de 80 shows do Padre Zezinho pelo Brasil.

Um DVD que emociona, com preciosos ingredientes que nos colocam diante dos alicerces, valores e atitudes, tocando a nossa alma e cultivando-os em nossos corações.

01 - Abertura
02 - Quis a tua paz
03 - Fala (para os casais)
04 - Oração por nossos filhos
05 - Fala (ao país dos meus sonhos)
06 - Ao país dos meus sonhos
07 - Fala (de lá do interior)
08 - De lá do interior
09 - Canção de reagir
10 - Fala (se a dor me visitar)
11 - Se a dor me visitar
12 - Fala (quando um filho vai embora)
13 - Quando um filho vai embora
14 - Nossa prece (the prayer)
15 - Canção em fé maior
16 - Um certo galileu
17 - Utopia
18 - Fala (utopia)
19 - Aconchego
20 - Maria de nazaré
21 - Oração pela família


Feita de dois riscos é a minha fé
Paulinas
Ano 2013
Categoria: Coletânea




















Paulinas lança CD "Feita de dois riscos é a minha Fé", com objetivo de promover e incentivar na comunidade a vivência do Ano da Fé e a preparação para a Jornada Mundial da Juventude 2013, que será no Rio de Janeiro.

“Nossa fé é feita de riscos e estas canções ajudam a interiorizar fortalecendo a nossa fé diante dos riscos” diz.
O álbum reúne 14 canções conhecidas pelo público católico, todas com a temática da Fé, da Cruz e da Ressurreição, interpretadas por pe. Zezinho, precursor da canção mensagem no país.

Entre as músicas do CD mais populares estão “Canção com fé maior”, “Dois Riscos”, “Oração por nossos filhos”, “Trindade Santa”, “Deus nunca falou comigo”, “Este povo”, entre outras composições de pe. Zezinho, que também fez a direção artística do álbum, gravado e masterizado nos estúdios Paulinas-Comep.


Músicas:

Canção em fé maior (do CD Canções em fé maior)
Do jeito dos doze (Do CD Ao país dos meus sonhos)
Orar com Jesus (do CD Canções que a fé escreveu)
Trindade santa (do CD Oremos pela terra)
Que bonita religião (Cd canções em Fé maior)
Vem crer comigo (Do CD Ao país dos meus sonhos)
Foi minha fé (CD Quando me chamaste)
Dois riscos (do CD Canções para o sol maior)
Fé (do CD Em verso e canção)
Deus nunca falou comigo (do CD Alpendre, varandas e lareiras)
Meu catecismo  (do CD Canções para o sol maior)
Oração por nossos filhos (do CD Canções em fé maior)
Este povo (do CD Fortes na fé)
Fortes na fé (do CD Fortes na fé)



Atualizado dia 23 deFevereiro de 2013

Artigos - 25 de Maio

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DESEJAR A FAMA E A NOTORIEDADE

Numa lúcida entrevista na revista Veja de 20.01.2010 o famoso ator negro Morgan Freeman disse: “Sei que sou bom ator porque desde o início ouvi isso das pessoas. Aceito ser um ator importante. Ser tido como importante em outras esferas da vida- isso não.” Tocou no assunto central da fama e da mídia.

Há pessoas mundialmente famosas porque perseguiram a fama e conseguiram. Outras fizeram bem o que faziam e tornaram-se famosas porque sua atuação, sua obra e sua liderança se destacaram. Não buscaram ser famosos. Foram colhidos pela fama enquanto agiam. Há os nacionalmente famosos, os localmente famosos e os famosos dentro do seu círculo. Famosos, porque conhecidos e reconhecidos por muitas pessoas. Destacam-se mais do que os demais indivíduos da sua cidade, da sua igreja, do seu partido, da sua área de atuação. Não são mais pessoas comuns, embora muitas consigam agir como tal. Nunca perder am a simplicidade. É coisa para quem tem sabedoria!

Há uma fama que veio aos poucos, naturalmente, e há uma fama arquitetada, construída, perseguida e conseguida. O famoso em questão apareceu como pode e onde pode porque desejava ser visto, conhecido e reconhecido para vender seu filme, sua canção, seu livro e suas idéias. Foi busca pessoal por notoriedade. Queriam ser aplaudidos, reconhecidos, e em alguns casos, ricos, muito ricos.

Alguns tornaram-se apenas notórios. Nunca chegaram a ser famosos. Apareceram muito, mas não repercutiram. Não conseguiram causar impacto. Faltou ou conteúdo ou carisma. Sabe-se que eles existem porque são muito vistos, mas não têm seguidores, nem adeptos. Não deixaram marcas.

Um jovem seminarista me perguntou como era ser famoso e deixou claro que ele também gostaria de o ser. Brincando, sugeri que procurasse uma pessoa famosa e repetisse a pergunta, porque nunca me considerei famoso, então não teria como responder. Mas aproveitei para oferecer-lhe uma catequese sobre a fama. Sugeri que não a buscasse. Não se entra em qualquer água, não se adentra qualquer floresta, não se monta qualquer cavalo. A fama é sempre maior do que o sujeito que a busca. Ele pode não conseguir carregá-la ou ferir-se na procura. Talvez se torne notório, mas nunca notável. E mesmo que seja notável, talvez jamais se torne famoso. Além disso, poderá ser notório, notável ou famoso apenas regionalmente, talvez nacionalmente, mundialmente, talvez nunca.

Falei de profecia. Fama é uma coisa e profecia é outra. Pregar a fé é uma coisa e ter fé é outra. Há crentes que têm fé e não sabem pregar e há pregadores que falam bonito, mas mentem para conseguir seus objetivos. Há profetas não famosos que, contudo são profetas. Há famosos muito famosos que, contudo, não são profetas. E há profetas que são, ao mesmo tempo profetas e famosos.

Citei nomes mundialmente conhecidos: Moisés, Buda, Jesus, Paulo, Pedro, Shakespeare, Voltaire, Sartre, Camus, Pelé, Ronaldo, Brigite Bardot, Roberto Carlos, Gisele Bündchen, Marilyn Monroe, Angeline Jolie, Chico Buarque, Thomas Morus, Caetano Veloso, John Kennedy, Nelson Mandela, João XXIII, João Paulo II, Dom Helder, Dom Paulo Arns, Doutora Zilda Arns, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Al Capone, Os Beatles, John Lennon, Raul Seixas, Arnoldo Schwarzenegger, Padre Marcelo, Pe Fábio de Melo, Paulo Coelho, Morgan Freeman, Paulo Autran, Cacilda Becker, Karen Armstrong, Joseph Campbell, Leonardo Boff, Karl Barth, Karl Rahner, Charles Chaplin.

Ele conhecia a maioria. Admitiu que nunca ouvira falar de outros. Lembrei-lhe que poderia indicar mil outros nomes de gente famosa no Brasil e no mundo. Alguns se promoveram porque freqüentaram todas as mídias possíveis. Queriam a notoriedade por algum propósito pessoal. Outros e outras chamaram a atenção pela beleza, pelo que fizeram bem feito, ou pelo que escreveram. Nem todos eram cultos, nem todos competentes no que faziam. Havia muitos melhores do que alguns eles, mas eles foram os promovidos. Queriam aquela notoriedade e, preparados ou não, aceitaram a exposição. Lembram o violinista que ficou famoso por saber tocar dez melodias e não necessariamente por dominar o violino. Perdeu o trono quando os admiradores descobriram que ele não sabia mais do que aquilo. Não ensaiava, não aprendia e repetira demais.

Quem não queria ser profeta maior, mas foi e por isso também se tornou famoso, teve que aprender a fazer uso das duas experiências: a da notoriedade mundial e a da profecia: Madre Tereza, João Paulo II, Helder Câmara não procuraram auditórios nem platéias, mas diante delas não se calaram. A mídia se curvou aos fatos. Eles repercutiam, com ou sem ela. Então os noticiaristas, ou os deturparam ou enalteceram, a depender do ponto de vista daqueles periódicos. Mas eles seguiram fazendo o que sempre faziam. Quiseram diminuir a caridade de Tereza de Calcutá, mas Tereza e a sua caridade foram maiores do que seus críticos com ideologia, mas sem gestos.

O grande risco de quem deseja a fama é o de adaptar-se para caber! Se a câmera e o veículo exige deles determinada postura eles se curvam e se dobram porque precisam do veículo. É diferente o caso de quem não procura e não deseja nem notoriedade nem fama. Segue sendo quem é. O veículo, ou o abandona, ou o respeita. Às vezes tenta diminuí-lo ou destruí-lo, às vezes se rende ao fato de que ele não é ajustável nem abalável. É peão que o cavalo deixa quieto.

Aquele que procura desesperadamente a fama, ajusta-se. Faz o jogo do veículo e da indústria e, se cresce, porque sua fama interessa ao veículo, também corre o risco de cair se este se cansar dele. Age como o produto da hora. Será trocado por outro produto da hora. Sucede no mundo dos esportes, da moda, da canção e da religião. Mandela, Chico Buarque, John Lennon e outros ícones mundiais ou nacionais são poucos. A maioria dos famosos depende da mídia para continuarem lembrados. E há os religiosos, que tendo deixado sua marca na sua igreja, serão lembrados, com ou sem as outras mídias.

Disse ainda mais ao seminarista. Uma coisa é alguém ser famoso porque representou uma instituição e outra ser famoso porque buscou pessoalmente a notoriedade para vender livros, discos e idéias. Paulo VI, João Paulo II, Helder Câmara, Tereza de Calcutá não buscaram a fama. Representaram instituições. Seu trabalho e sua posição exigiam que falassem não como indivíduos e sim como instituição. Não se expuseram. Foram expostos e administraram o que aconteceu.

Sacerdotes ou teólogos que foram à mídia levar suas idéias e defendê-las ganharam notoriedade porque, sendo diferentes, sendo ou parecendo intelectuais opinaram. Às vezes de tão pessoais que eram conflitaram com sua igreja. Receberam da mídia um tipo de tratamento. Estavam diante de um pregador que provocava. Outros sacerdotes que não pareceram nem eram intelectuais e não opinaram, foram tratados de outra forma. Estavam diante de um pregador interessante.

É a história da lagoa, do cavalo, da floresta e da onda. Assim é a fama, assim a mídia. Quem se arrisca esteja preparado para eventuais quedas e arranhões. Por mais que se proteja, se entrar vai ter que se haver com o inusitado. Há quem queira e procure a fama, custe o preço que custar. O resultado lhes parece compensatório. Há quem não queira, mas administre. E há quem fuja. Não quer tudo aquilo!

O que o seminarista entendeu, eu não sei. Mas não acho boa idéia começar o sacerdócio com o projeto de um dia ser famoso! Sacerdócio e fama podem até andar juntos, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.




DIANTE DO PRECONCEITO

Distingo entre conceito prévio e preconceito. Aos que me perguntam se tenho algum preconceito, digo a verdade. Sim, tenho alguns. Mas, se me perguntam sobre meus conceitos prévios, digo que tenho muitíssimos. Tenho opinião formada sobre muitos temas. E as emito porque sou pessoa que opina. Não é porque algo é novo que vou aceitar. Tem que ter sentido. Não sou único. Quem caminhou, estudou aprendeu e amadureceu certamente tem mais conceitos prévios do que preconceitos.

Diz o Grande Dicionário Brasileiro Melhoramentos que preconceito é “conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão”. Há preconceito de classe, religioso, ou racial.

Aqui, a nossa reflexão sobre o tema. Não se pode falar em preconceito toda vez que alguém omite uma opinião contrária á nossa sobre religião, sexualidade, política, ou sobre temas do viver cotidiano. Ele pode ter um conceito prévio, fruto de observação e estudos, com informação adequada e com argumentos serenos e racionais. Não posso julgar um casal de homossexuais, nem um tóxico-dependente, nem um religioso de outra denominação porque não sei o que lhes foi ou vai no íntimo, mas posso, sim, emitir opinião formada sobre a homossexualidade, a tóxico-dependência, o tráfico de entorpecentes e sobre religiões e igrejas. Posso ter um conceito prévio e fundamentado a favor ou contra algum movimento político, sem que isso seja preconceito.

A tendência das pessoas é acusar de preconceito quem discorda delas, mas um grande número delas também discorda com veemência de quem ousa contrariá-las. Não faz muito tempo um petista me acusava de ter preconceito contra o PT por eu questionar alguns fatos ligados ao partido. Mas sabia ele que votei em alguns candidatos do partido. Se tivesse preconceito não teria votado. Mas isso não significa que concordo em tudo com o que fazem os seus correligionários. Um membro de determinada igreja pentecostal me acusou de preconceito por um programa no qual discordei dos métodos de sua igreja. Lembrei-lhe que seu fundador falava abertamente contra nós. Se eles podem ter opinião formada sobre a minha igreja eu também posso ter opinião formada sobre a deles. A um casal de homossexuais que atacava as igrejas por intolerância e preconceito perguntei se os adjetivos que usavam contra os padres e pastores e as acusações que nos faziam, não eram preconceituosas.

De um lado e de outro ficou proibido opinar contra. Uma coisa é opinar fundamentando nossa opinião e outra é emocionalmente atacar quem vive ou pensa diferente de nós, como se estivéssemos 100% certos e eles 100% errados. Podemos perfeitamente ser contra algum comportamento, algum partido ou alguma proposta sem necessariamente ser preconceituosos. Discordo dessa forma de viver, mas não acho que os homossexuais são pessoas más, mas acho que terroristas, assaltantes e traficantes o são. Escolheram matar . Discordo de algumas doutrinas de outros crentes, mas não acho que são maus ou vão para o inferno. Tanto entre eles como entre nós há os bons e os maus.

Resumindo: há caminhos errados trilhados de maneira errada por pessoas que sabem o mal que fazem. Tenho sobre eles um conceito prévio. Há caminhos dos quais discordo, mas não posso colocar tais pessoas na mesma condição dos que roubam, matam e ferem por dinheiro ou por fome de poder. Sim, tenho alguns preconceitos. Talvez tenha que purificá-los. Mas tenho muitos conceitos prévios sobre os ditadores, os que mentem com desfaçatez, os violentos, os corruptos e os que matam por dinheiro ou por ódio. Não pretendo mudar minha opinião sobre tais pessoas. Não estão certas!


EXAME PARA PREGADORES

Só faltaram me apedrejar quando propus, numa reunião, que houvesse a cada dois anos, um exame de conhecimentos religiosos para todos os pregadores que falam no rádio e na televisão. De cinco em cinco anos, nós padres, com 500 perguntas mais pesadas e exigentes e, de dois em dois anos, os leigos com 100 perguntas do catecismo e dos mais recentes documentos da Igreja, deveriam ser examinados. Todas as dioceses deveriam fazê-lo e quem não tirasse nota acima de 8 deveria fazer um curso de um ano para se atualizar.

Falei o que pensava e escutei o que não queria. Quem eu achava que era? Só por dar aulas de comunicação e ser um dos pioneiros, por que questionar a cultura e a boa intenção dos colegas? Por acaso eu era doutor? Por acaso eu tinha autoridade para dizer aquilo? Quem eu queria humilhar e eliminar com aquela proposta? Havia rancor em alguns...

De volta ao microfone, lembrei que médicos, engenheiros, advogados e professores passam pela mesma situação e acrescentei que o mesmo deveria acontecer aos políticos, administradores, motoristas e policiais, para que ninguém ficasse desatualizado. Que cada qual saiba o mínimo necessário sobre as novas situações que sua profissão vai enfrentar. Quem é competente não deve se magoar com a idéia de ser examinado. Afinal, se conhece o assunto, certamente se sairá bem. Se não conhece, será como o farmacêutico que passa receitas sem conhecer o teor dos remédios que sugere.

Minha proposta nasceu do que vejo e ouço na televisão e no rádio. Há muitos pregadores que demonstram não ler absolutamente nada de catequese. Recentemente um deles disse que São Miguel era o centurião do céu no tempo de Adão e Eva. Um outro disse que Jesus era o próprio Espírito Santo do Pai. Outro disse que se pode comungar Maria, porque o sangue dela tem o mesmo DNA de Jesus. Outro, ainda, dizia que Jesus era o Pai Eterno encarnado como Filho em Maria. E um outro abençoou o povo em nome do Deus Pai, do Deus Filho e do Deus Espírito Santo: trinitarismo flagrante!

Penso que estes exames forçariam alguns que falam em nome da Igreja a estudar mais. Estar no balcão não é o mesmo que entender de remédios. Falar num programa religioso não é o mesmo que conhecer o assunto. Exija-se de todos que saibam o mínimo necessário. Haveria bem menos desvios doutrinários...


ESSENCIALIZAR

As diferenças entre os santos nem por isso tornam uns e outros menos católicos e menos santos. Mas pode haver e há ênfases que passam pelo viés e pela tangente. Bento XVI, usando uma expressão de Romano Guardini responde, no livro Dio e IL Mondo, Editora San Paolo, a Peter Seewald que, na Igreja, deve se buscar a “essencialização”. Temos que descobrir a viga mestra da nossa doutrina, e acentuar o que é valor perene. Se o acidental receber destaque excessivo, seja questionado. Não havendo o transversal pode-se cair no viés. Cai-se no que João Paulo II chamou de Igreja light em 4 de junho de 2000, ao falar sobre a Ética nos Meios de Comunicação.

Infelizmente há inúmeros pregadores católicos evangélicos e pentecostais que, por mais esforço que façam, não conseguem sair do viés e da tangente. Seu conhecimento é pequeno. Não sabem essencializar. E não o fazem, não porque não querem, mas porque não conseguem. Falta-lhes o gosto pela leitura, por livros não apenas do seu grupo, mas de toda a Igreja. Falta o conhecimento dos teólogos e filósofos de ontem. Por isso, caem na mesmice. Podem ter até uma certa unção, mas não há profundidade. Nem pode haver porque não mergulham no saber. Dizem todos os dias a mesma coisa, pedem dos fiéis que os ouvem ou vêem os mesmos gestos e nunca chegam ao cerne da questão. São repetitivos por falta de maior conteúdo. Faltou a eles a graça do estudo, que, tanto quanto a oração é uma virtude que se cultiva.

Aprenderam a orar, mas não aprenderam a estudar. Deveriam saber que querer saber mais sobre Deus, sobre a sua obra e sobre o ser humano é uma alta forma de espiritualidade. Não fosse isso, a Igreja não teria canonizado tantos santos pensadores e estudiosos. Enganam-se os que pensam que se contempla apenas orando. Contempla-se também lendo e aprendendo mais sobre tudo o que nos cerca.

Falta essa catequese a inúmeros sacerdotes e leigos de hoje. Pararam na contemplação de quem ora e fecha os olhos. Deveriam prosseguir na contemplação de quem os deixam bem abertos... A falta de livros nos tem dado muitos pregadores superficiais. Pregador precisa rimar com leitor e pregação tem que rimar com essencialização e transversalidade. Falta Antonio Vieira naquelas cabeças!


DOUTORES EM TEOLOGIA

Eles certamente sabem mais do que nós sobre a busca de Deus. Leram e estudaram mais. Alguma Universidade os denominou doutores ou mestres em Bíblia ou Teologia, ou Antropologia, ou História da Religião. Fizeram por merecê-lo. Alguns deles estudaram mais de 40 anos o relacionamento dos povos com Deus ou das religiões umas com as outras e, elas mesmas, internamente. No que acredita o ser humano? Porque acredita? Quais a implicações espirituais, morais e políticas de crerem diferente ou do mesmo jeito?

Sobre isso eles escrevem grossos tratados, livros profundos e de difícil leitura, criam palavras para melhor expressar o que pensam e inundam as livrarias de obras a dizerem: “talvez seja por aqui”, “é por aqui”, “não é por aqui”... São irmãos e irmãs privilegiados com mais estudo e maior cultura. Merecem respeito porque o que eles fazem não é brinquedo de criança. É muito mais fácil pregar a fé e dar garantias de salvação, milagres e êxtases a fiéis que inundam nossos templos do que ensinar a pensar a fé. O martírio de quem pensa e ajuda a pensar a vida, os outros e a fé é bem maior.

Nem por isso somos obrigados a crer neles e aceitar tudo o que dizem, da mesma forma que não somos obrigados a crer nos videntes e fundadores de grupos religiosos em nome de Deus ou Alá, de Cristo ou Maomé. Nem os teólogos nem os pregadores acertam sempre. Mas entre um e outro, os teólogos vão muito mais a fundo e mais longe. Pensar a fé é como prospectar petróleo e trazê-lo à superfície sem grandes danos. Pregar a fé em muitos casos não exige nem primeiro ou o segundo grau. Infelizmente... O sujeito agarra um microfone e diz que Deus lhe disse algo, depois que leu determinado trecho da Bíblia. Já, o teólogo precisa de teses, aprovação por banca examinadora, e está sempre sujeito a fogo cruzado e questionamento. É muito mais difícil ser teólogo, mestre, antropólogo e historiador da fé do que apenas pregador. Não fazem adeptos nem enchem templos, mas questionam, agitam, purificam e, às vezes, salvam uma Igreja da mesmice.

Igrejas que não os ouvem e dependem apenas de videntes, pregadores improvisados que dizem que ouviram e viram algo de sobrenatural correm maior risco de extinção do que as igrejas que ouvem os teólogos. São irmãos que aprofundam o leito, às vezes rasos e superficiais, das igrejas onde mais se sente com Jesus do que se pensa com Ele. Utilidade por utilidade, seria maravilhoso que as igrejas tivessem um teólogo para cada 50 pregadores da fé. Não têm. É que pensar é mais difícil... Sou grato aos teólogos. Não sou nem mestre nem doutor em teologia, mas não teria chegado pregador e professor de comunicação, pregador, catequista e compositor que ainda repercute, sem os livros que eles escreveram. Deus continue a iluminá-los. Eu sei que eles sofrem!


Pe. Zezinho, scj


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sábado, 22 de maio de 2010

De Volta Ao Catolicismo

DE VOLTA AO CATOLICISMO


Nunca vi Deus, mas escrevo sobre Ele e sobre quem o procura. Viso o leitor que lê pouco sobre assuntos de religião. Comento o que se diz sobre Ele e o que dizem que Ele disse. Falo dos que garantem ter tido uma experiência pessoal da presença dele. Falo sobre nossa igreja e outras igrejas, pregadores e fiéis. Escrevo sobre cátedras púlpitos, romeiros, telespectadores e ouvintes. Percebo com que sofreguidão milhões de pessoas procuram Deus. E vão buscá-lo no sermão do seu padre ou pastor preferido. Muitos o procuram em livros. Acabo de publicar mais um pelas Edições Paulinas. Tem 600 páginas e chama-se “De Volta ao Catolicismo; Subsídios para uma Catequese de Atitudes.”.



Permitam-me que fale dele! Para minha alegria, a primeira edição esgotou em um mês. Alguém comprou, alguém viu na Internet, um contou para o outro, houve quem comprasse trinta para os catequistas da paróquia, uma emissora de rádio deu um a cada funcionário, uma dona de loja o deu de presente os católicos. De um colega sacerdote ouvi que ele via no livro o esforço de um colega que persegue há anos “a palavra certa, do jeito certo, na hora certa e para a pessoa certa”. Fazia menção a uma canção que compus há vinte anos atrás. Desta vez foram dezesseis anos acumulando dados e dois para escrevê-lo. Podem crer que houve muitas noites em claro! Os livros que li eram empolgantes. Eu queria que o meu fosse assim. Comecei-o em l994.

Não é um livro excepcional. Há melhores e mais profundos na mesma editora. E os há em profusão nas livrarias do mundo. Na verdade, os livros que consultei eram todos melhores do que as páginas que acabo de publicar. Então, porque gastei tanto tempo para escrever uma obra que não é a melhor do gênero?



Digo-o em três adjetivos: “Informativo”, “acessível”, “questionador”. Notei que os livros que li até o fim tinham esta característica. Tenho por hábito ao folhear um livro novo, olhar o índice, as primeiras introduções, as páginas centrais e os últimos capítulos. Sei de muitos leitores que fazem o mesmo. Então decidi escrever com títulos e subtítulos, letras grandes, manchetes jornalísticas, textos pequenos de 20 linhas, a respeito do que andam dizendo sobre e contra nós, católicos.



Segui o número 229 do Documento de Aparecida. Ele propõe que, sem perder as boas maneiras, nós católicos não deixemos nada sem resposta. Propõe uma volta á apologética. Sabemos no quê, em quem e por que acreditamos. Se os outros sabem e proclamam, nós também sabemos e proclamamos, na maioria dos casos, há muito mais tempo. Queremos ser católicos situados, e não católicos sitiados. Sabemos o que queremos.

Faz bem ao escritor ao sair da missa e no metrô, ver seu livro na mão de pessoas que o procuraram por recomendação de amigos e agora o recomendam a outros. Valeram os cansaços. Deus seja louvado! Quero católicos que, questionados, saibam explicar e sem gaguejar, porque e no que acreditam. Meu livro tem esta intenção. Não é nem pretende ser perfeito. Aceito críticas e correções.


Pe. ZEZINHO, scj

Artigos - 17 de Maio

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A NOSSA SENHORA DE VOCÊS...

Há católicos e evangélicos gentis e fraternos. Estes se entendem. E há os outros... Uma vizinha pentecostal, crente que só ela é crente, disse a uma outra crente católica: -“ A Nossa Senhora de vocês não tem nenhum poder”...E lascou o verbo, acusando a vizinha de idolatria, posto que fala com quem nada pode e ignora quem tudo pode. Falou para ofender.

Mas errou de endereço, porque ao lado da vizinha estava uma professora de teologia, prima da agredida. Ela deixou que a agressora falasse e pediu para responder. E não falou muito. Começou por elogiar os bons evangélicos e pentecostais, com quem se encontrava com freqüência. Deixou claro que sabia a diferença entre um católico bem educado e outro mal educado e um pentecostal sereno e outro exaltado.

Prosseguiu dizendo que vinha de uma família na qual a mãe é importante. Ela pode não ter todo o poder, mas muito do poder passa por ela. Concordou com a doutrina de que todo o poder foi dado a Jesus Cristo que é Deus e que aqui neste mundo ele era e é o único intercessor que um cristão admite. Não há nome maior do que este nome. Aí, então, falou de intercessões e intercessores. Como a agressora tinha, minutos antes, afirmado que iria orar por uma criança internada no hospital, a mestra católica perguntou se ela intercedia e perante quem ela intercedia. E a mulher teve que admitir que intercedia e que falava com Jesus.

A resposta veio contundente. -“Se a senhora pode falar direto com Jesus, a mãe dele que não está dormindo e que há tempos mora com ele no céu, também pode e o faz melhor do que a senhora. Não sei de quem a senhora é senhora, mas sei que Maria é Nossa Senhora porque foi e é a mãe de Nosso Senhor. É uma pena que ela seja vista como apenas senhora dos católicos, porque sendo mãe do Cristo que vocês adoram, ela também é senhora de vocês. A senhora chama tantas mulheres de “senhora”, mesmo não sendo elas suas senhoras, e eu mesmo a estou chamando de “senhora”... Então por que esse desprezo? Pode escrever aí que eu a proclamo Nossa Senhora, não por causa dela mesma, mas por causa do Filho que ela gerou!”

Mais não disse. A mulher pediu desculpas! Se você já passou por isso e não soube responder, caso passe de novo pela mesma situação, responda, com classe e com gentileza. E não se esqueça que a maioria dos irmãos de outras igrejas são pessoas de coração sincero e bonito. Nós e eles precisamos formar crentes serenos! É o único jeito de apressar o Reino de Deus neste mundo!


CANTAR O AMOR ROMÂNTICO

Esperançoso de que outros me seguissem, a pedido da editora publiquei, anos atrás, um CD romântico para músicas de casamento. Ainda hoje se ouve cantar aquelas canções em missas de casais e celebrações de matrimônio. Imagino que meu leitor as tenha ouvido. Comigo, Antonio Cardoso e, creio que não mais de três outros compositores, cantaram o amor romântico-religioso, às vezes litúrgico, às vezes não, mas sempre sagrado.

Percebo que faltam canções de matrimônio nos templos. Isso inclui a Igreja católica, as evangélicas e as pentecostais. Os autores cantam 99% das vezes o amor de Deus e o amor a Deus e ao próximo, mas quase ninguém canta o amor conjugal nos templos, mesmo sabendo que São Paulo o chama de mistério grande em Cristo e na Igreja. (Ef 5,32)

Por que não se compõe e não se canta este amor que é sagrado e até mereceu um livro inteiro na Bíblia com o sugestivo nome de O Cantar dos Cantares? São hinos de amor entre um homem e uma mulher. A Igreja considera aquele livro sagrado! Nada mais justo que judeus, cristãos e ortodoxos cantassem este amor nos seus templos. O mundo tem belíssimas e comoventes canções de amor, mas os compositores religiosos parecem ter sido formados na escola do amor celibatário que só tem olhos para Deus.

Influenciados por padres, monges, freiras e outros cristãos não casados, com quem está a liderança das paróquias, escolas e movimentos, os cantores e autores, mesmo os bem casados, preferem cantar apenas o amor a Deus e o amor de Deus. Uma das canções que se ouve por todos os templos tem até a audácia de dizer a Deus: quero amar somente a Ti. João ensinou o oposto...(1 Jo 4,20) Não devemos ter olhos somente para Deus. Seria o fim da família! Como cristãos somos chamados a prezar o amor fraterno e o amor conjugal. Mas não se canta este amor nos templos embora nossas liturgias o aceitem e até recomendem. Basta que as letras sejam, também elas, litúrgicas.

Tenho pedido aos compositores que admiram Oração pela Família, Utopia e algumas canções litúrgicas ou não litúrgicas que escrevi para os casais, que leiam os documentos da Igreja e estudem a teologia do matrimônio. Acabarão compondo canções até melhores do que as minhas. Será que serei ouvido? Ou ouvirei, de novo, o argumento de que nos templos não se canta nada profano?E quem disse que o amor conjugal é não é sagrado?


ANUNCIAR E RENUNCIAR

Sou católico e, para quem recebeu dessa doutrina, se não ficou, precisa ficar mais do que claro que nosso “eu” precisa caber folgadamente no grande “nós” da História. Viemos depois e sempre seremos segundo ou milésimo, se não formos milionésimos. A História, a família, o país e a Igreja é que não podem encolher para caberem nas nossas pretensões.

Quem vai embora de um povo, de uma família, de uma igreja, de uma comunidade ou de amigos porque eles não correspondem ao seu projeto pessoal deveria ter a lisura de dizer que está indo ou foi embora por inadaptação ao projeto coletivo que um dia jurou viver. Ponha o limite em si e não nos outros!

Uma coisa é exercer a nossa individualidade. É dever e é direito. Para um católico é virtude. Outra é ceder ao crasso individualismo de quem vai embora de tudo o que não lhe satisfaz. Escolher o próprio “eu” o tempo todo e fugir de qualquer renúncia é ir na direção contrária à da fé. Quem não sabe renunciar dificilmente saberá anunciar! As pessoas perceberão!


ÂNGULO E CORAÇÃO ABERTO

Jesus de Nazaré tinha um coração aberto! Quem quisesse ficar, não ficasse nem por medo nem por coação, nem vencido pelos truques de um marketing bem feito. Antes que o escolhessem ele os havia escolhido para irem e produzirem frutos (Jo 15,16) Mas eram livres. Esta liberdade na verdade os libertaria (Jo 8,32) Não prometia sucesso financeiro. Sugeria que nem sequer levassem bolsa a tiracolo (Lc 10,4) nem buscassem o primeiro lugar. (Mt 23,6; Mt 20,21-25). Quem quisesse ser o primeiro que fosse então o que mais se mostrasse capaz de servir.(Mt 20,26)

Ia à direção contrária à de grupos que se proclamam igreja dele, mas ensinam seus fiéis a procurarem sucesso financeiro, o primeiro lugar nas firmas e na sociedade e a proclamar-se vencedores na carreira pelo fato de terem aderido a Ele. Dois discípulos passaram pela tentação de sentar-se um à direita e outro à esquerda dele. Os outros ficaram zangados, talvez porque quisessem o mesmo... Foi preciso Jesus sacudi-los e dizer o que disse. Mateus 20,21-28 é muito significativo e deveria ser repetido o tempo todo nos dias de hoje em que a luta por adeptos, por mais contribuição, pelo incenso, pelos elogios e pela fama e primeiros lugares volta a tentar fortemente as igrejas.

O novo trono chama-se mídia...E pode seduzir muitos pregadores. Manter a paz e continuar pobre com tudo o que a mídia oferece é um chamado que exige ascese e fé. O tudo isso te darei da tentação no deserto se repete cada vez que falamos ou cantamos diante de milhões de pessoas. Saberemos fazê-lo sem nos tornarmos pequenos deuses?


ACRESCENTAR AMIGOS

Há os que substituem. Para eles amigos antigos são descartáveis. No seu lugar, entram os novos e mais interessantes. Amiga rica e famosa cede lugar a outra mais rica mais influente e mais famosa. Sabem o que fazem, mas fazem. Vale a carreira e o pragmatismo de quem deseja subir na vida. Não conseguem conservar os amigos de cinco, dez ou quinze anos atrás, porque sua carreira e sua busca de projeção exige novos amigos. Quem não for junto nem acrescentar, já era! Acontece muito nos meios artísticos ou com pessoas em ascensão na sociedade. A fama a carreira e o dinheiro já mataram muitas amizades.

E há os que não abrem mão, não substituem, nem descartam. Conservam e acrescentam amigos. São ricos de amizades porque os amigos de ontem os consideram amigos de sempre e os novos juntam-se, de bom grado, aos outros amigos no novo amigo. Dizem com alegria: -Eu também sou seu amigo. Sou uma de suas amigas. Nesse “também” está o elogio a quem conseguiu acrescentar sem descartar. Veio a fama e o dinheiro, mas os amigos não se foram. Nenhum foi descartado ou passado para trás. A fila cresceu colateral. Lado a lado. O amigo de todos, bem no meio.

Revela um traço falho de caráter aquele que vai substituindo amigo após amigo. Ideal seria que, mesmo depois de anos sem se verem, percebessem a mesma amizade, o mesmo acolhimento. É verdade que alguns amigos silenciam, distanciam-se, perdem-se no emaranhado do viver e raramente se visitam.

Amizades, ás vezes, silenciam e se distanciam. Mas basta um reencontro para reavivar memórias e os dois perceberem que nada mudou – Cara, como você está bem! Quanto tempo! Menina, como você está fabulosa! Me perdoe, mas acho que a culpa foi minha! Dessa vez a gente não fica mais tanto tempo longe! Podem ser frases falsas ou verdadeiras. Os olhos dirão!

“Amigos para sempre” pode ser um belo poema e uma bela canção, mas tem muito de verdade. Muitos conseguem ser isso: amigos de verdade e para sempre. Haja o que houver, aquela amizade foi eterna. Vida bem vivida talvez seja isso: fazer bons amigos e acrescentar amizades. Parece fácil, mas exige desprendimento e humildade. É por isso que quem pensa demais em si tem poucos amigos. Não sabe conservá-los! Talvez não os mereça!


CATEQUESE DA ESPERANÇA

Uma simpática história, que quase todo mundo já ouviu ou narrou, embora pouco científica fala de duas rãs que caíram numa barrica de leite. Uma delas não tinha esperança. Não vendo saída imaginou seu fim trágico e o abreviou. Prendeu a respiração e morreu minutos depois. A que tinha esperança bateu-se até que acabou pisando em algo duro. De tanto espernear para não morrer, o leite havia se transformado em manteiga. Vale como ilustração para milhões de seres humanos. Sua esperança transforma as coisas. Vencem porque acreditam que, mesmo sem saída, encontrarão alguma solução. Não confundem solução com saída. Se o mundo não lhes deixa nenhuma saída, eles encontram uma outra solução.O rio sempre acha o seu caminho, mesmo quando uma barreira desliza sobre ele.

Paulo lembra que a falsa certeza decepciona, mas a serena esperança não. Há esperanças verdadeiras e falsas. A catequese cristã da esperança está narrada nas histórias de Abraão, Sara, Tobias, José do Egito, Moisés, Susana, Daniel, e centenas de outros personagens para quem aparentemente não havia perspectiva de salvação, ou de realização, mas ela veio. O Eclesiastes diz que quem está vivo tem esperança, pois até um cão vivo é melhor do que um leão morto.(Ecl 9,4) Jesus costumava perguntar aos beneficiados se eles acreditavam que sua vida poderia mudar e se queriam sua ajuda (Mt 9,28; Mt 21,22). Para Jesus o verbo crer passa pelo verbo esperar. Paulo diz que Abraão acreditou contra toda a esperança e conseguiu (Rm 4,8) exatamente porque sua fé foi esperançosa. Pela fé nós esperamos com garra que o Espírito nos conceda o que pedimos (Gl 5,5), diz Paulo . A garra é a esperança. Poderíamos dizer que a esperança e a fé continuada. Nossa cidadania, está no céu (Flp 3,20), diz ainda o mesmo Paulo, e o que nos caracteriza é a esperança no Salvador que vem de lá. Em Gálatas 2,20 ele afirma que já não é ele que vive, mas Cristo vive nele, porque sua vida no corpo é sustentada pela vida na fé. Aos Efésios ele afirma que ora para que eles conheçam a esperança para a qual Deus os chamou (Ef 1,18), e lembra que quando Deus chama para a fé está chamando para a esperança (Ef 4,4).


É próprio do apressado mergulhar no marketing de resultados. Garante o que não pode garantir. Promete que não pode prometer. Há milhares de púlpitos de agora pregando certezas. Muitas delas, falsas. Faz melhor o pregador que prega a esperança. Mais experiente, decepcionará menos. ( Rm 5,4-5)


Padre Zezinho

sábado, 15 de maio de 2010

Artigos - 10 de Maio

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NÃO O MEU CRISTO

Se quero que conheçam o Cristo da fé cristã e da fé católica é melhor que não seja o meu Cristo, mas o da Igreja. Cuja visa é maior do que a minha.

Sou limitado demais para querer que meus ouvintes fiquem com a minha pintura do Cristo, quando há tantas outras bem mais aproximadas do que ele foi e é. Mas sei que muita gente, ao me ouvir, vai querer ter a visão que eu tenho. Então, que, no mínimo, ela não destoe da visão da a Igreja que, a cada dia se aperfeiçoa, á medida que crescem as pesquisas bíblicas e o aprofundamento teológico.

Do jeito de Paulo. Foi S.Paulo quem disse que esperava que os seus ouvintes e leitores de Éfeso fossem capazes de tocar, com todos os santos, parte desse mistério do amor de Cristo, na sua profundidade, largura, comprimento e altura. ( Ef 3,18) . Enfim que chegassem a conhecer um amor que ultrapassa todo e qualquer conhecimento humano. Deus pode nos dar um amor e um conhecimento maior do que imaginamos ser possível alcançar. Não está nos livros, mas ele ajuda!



DEUS E O TERREMOTO

Outra vez me perguntaram e outra vez eu disse que não sei o porquê. Uma mensagem pelo celular me questionava querendo saber porque Deus fez aquilo com o Haiti e porque escolheu logo o país mais pobre das Américas... Telefonei de volta lembrando á pessoa angustiada e irada que sua pergunta sugeria que Deus deveria punir com terremoto apenas os paises ricos...

Depois, por quase meia hora, pacientemente tentei explicitar como funciona o planeta Terra e como vulcões, chuvas, deslocamentos e ajustes de terra sempre existiram. Falei dos terremotos que sempre houve e que já mataram até mais gente do que em Haiti. Falei do Vesúvio, do Santa Helena e de outras catástrofes, algumas das quais perceptíveis e outras não! A Terra se mexe!

Onde entra Deus em tudo isso? Quem não crê nele fala em fatalidade. Quem consegue crer apesar da cruz, da dor e das contrariedades, tenta assimilar, mesmo sem compreender. O Deus que não responde e que parece que se esconde é um desafio para quem crê e para quem não crê. Temos algumas respostas, mas o mistério da vida, da dor e da morte continuam. O universo continua queimando e explodindo e a Terra, no seu ventre pega fogo e explode, em cima às vezes se afoga em tsunamis ou chuvas intermináveis. Moramos num planeta que se movimenta.

Religiosos que se satisfazem com frases tiradas do seu livro santo encontram respostas na sua fé. Mas não servem para todos. Há pessoas que desejam saber mais e às vezes nos interpelam. A resposta mais humilde de qualquer crente é a de quem não sabe tudo, e por isso pergunta junto. Nós que cremos e vivemos errando e nos corrigindo, precisamos entender as perguntas de quem acha que Deus poderia, mas não quis salvar aquelas vidas. Pouco sabemos sobre a misericórdia, o poder e as ações de Deus. Somos seletivos. Citamos o que vai a favor dos bons e contra os maus, mas quando morre uma criança, um pobre, um povo inteiro, crentes esmagados pelo telhado da igreja onde oravam, gritamos angustiados querendo saber o porquê. Nós faríamos diferente!

A cruz pode, sim, ter sentido, mas precisa ser a resposta de cada um que a carrega, bem como resposta de quem deseja ajudar a carregá-la. Ela só redime quando é assumida. Amor, perdão, alegria, afetos, dores e angústias acontecem com os outros e podem acontecer conosco a qualquer momento. A resposta que dermos nos ajudará, ou a morrer ou a viver em paz, apesar das turbulências. Há os porquês exclamativos e os interrogativos. Vivemos mais dos últimos do que dos primeiros!


O CRISTO QUE SE CURVA

Para mim Jesus é Deus que se curvou e nos visitou. Creio que ele é o Filho eterno de Deus e que Deus é um ser em três pessoas. Ele é a segunda pessoa desse ser único. Não saberia explicar minha fé, mas creio que Deus é uma trindade de pessoas num só ser. Bilhões de católicos acreditaram nisso e eu também acredito.

Ao falar do encontro de Jesus com a mulher surpreendida em adultério (Jo 8,1-11) o evangelista João nos dá um detalhe que a mim impressiona: a pecadora ficou em pé e Jesus agachou-se escrevendo na areia. Não seria mais natural que ela se ajoelhasse ou se curvasse e Ele, o puro e o santo, em pé, lhe desse uma ajuda e uma lição? Não é assim que fazemos quando o pobre, sentado à nossa porta, pede comida e lhe damos de cima para baixo a marmita, ou a lata com o alimento?

Também na última ceia (Jo 13,14), quem se curvou foi ele e não os discípulos, apesar do protesto de Pedro (Jo 13,9) Jesus insistiu em lavar-lhes os pés. Por aí tenho vou configurado a imagem do Jesus que desejo que meus ouvintes conheçam. Alguém que não veio para ser servido, mas para servir; que não veio explorar nem dominar, nem era seu intuito tirar a vida ou a liberdade de quem quer que fosse. Veio, e deu a sua própria vida. Sabia que seria morto. Amou a este ponto. (Mt 20,28).


SE JESUS VOLTASSE UM DIA

Se Jesus voltasse um dia, e um dia ele vai voltar, como é que vai achar a terra? Um mundo evangelizado? Dinheiro domesticado? O pão, enfim, repartido?
Se Jesus voltasse um dia e um dia ele vai voltar! Vai achar um só rebanho? Ou rebanhos separados e pastores se agredindo, pra ver quem tem mais ovelhas e o pedaço mais tranqüilo do que era o Reino de Deus?
Se Jesus voltasse um dia, de que lado eu estaria? Achando que estou com ele por estar mais à direita ou por lutar pela esquerda? Ou por ser “equilibrado”?
Se Jesus voltasse um dia e um dia ele voltará, de que lado eu estaria?
De que lado estou agora? A que ídolos me agarro ? O que digo de minha igreja e o que digo das outras ? Sou mais do que eles no quê ? Acho que achei e eles não acharam ou acho que eu posso ter achado meu veio ele o dele e nós dois estamos achando nosso tesouro na mesma mina ? Ou no reino de Deus não há lugar para nós e eles ?
Se Jesus chegasse agora e convocasse todos os seus seguidores, você certamente iria e eu também . Mas como veríamos ao nosso lado certas pessoas que não consideramos do meio ?
Qual é mesmo a sua parte no Reino de Deus ? E qual a minha ? Poderíamos juntá-las ou você acha que isso é impossível porque um dos dois sairia perdendo ?
Se Jesus voltasse agora e nos visse com esse medo de partir o pão juntos, de subir o morro ou ir à periferia juntos, de manter hospitais juntos , de orar juntos será que ele nos reconheceria ?


CASINHAS DE PERIFERIA

Passo e presto atenção nas casinhas de periferia. São pobres, pequenas e precárias não porque seus donos assim as querem; é que não ganham suficiente para uma casa maior. Se tivessem mais dinheiro, mudariam para lugar mais confortável ou as melhorariam. Muitos nem mudariam. Não vale o lugar. Vale a vizinhança. Não são poucos os que escolhem ficar na periferia, mesmo quando ganham mais dinheiro. Neste caso, dão um jeito de comprar vários barracos e fazer ali mesmo uma casinha maior, porque sentem-se bem nas suas raízes. Conheço muitos líderes de Igreja que assim agem e assim pensam.


E há os que moram contra a vontade. Mesmo se moram onde querem, não moram como querem. Se pudessem ter banheiro maior, quarto de casal maior, um quartinho para cada filho, é isso que fariam. Em muitos casos, algum dinheirinho a mais, ajudaria a fazer um quarto especial para o avô ou para a avó que estão enfermos. Se não fazem não é porque não querem, é porque não podem. E há o casal que vai embora com tristeza, porque um traficante está de olho na sua menina de quinze anos.


Olho aquelas casinhas apertadas, quase uma em cima da outra, onde não há lugar para carro, nem calçadas. Penso na água que desce do morro em dias de chuva intensa e nem me pergunto por que moram daquele jeito. Eu sei o porquê: falta dinheiro! Os sucessivos governos não aplicaram o suficiente na urbanização e na segurança dessas famílias. Dizem que o Brasil está ficando rico. Se alguns grandes não desviassem essa imensa verba que desviam, seria possível reorganizar essas casinhas. Mas isto, se o dinheiro não fosse desperdiçado em projetos faraônicos que acabam beneficiando quem já está bem de vida. O descuido vem de longe. Não é este governo que vai mudar as coisas.

É o país em que vivemos: trata os humanos da periferia como seres periféricos e aplica ali também um dinheiro periférico. Mas o jornal está anunciando um prédio a três milhões de reais a unidade. E diz Dona Dolores, a líder comunitária, que os 150 milhões de reais que custaram a obra, dariam para re-urbanizar o morro e reassentar as 600 famílias em quatro conjuntos residenciais, sobrando espaço enorme para plantar árvores e devolver o verde ao seu pequeno bairro. Mas diz ela que construtora não faz caridade; nem o governo. Então, quem tem dinheiro compra apartamento de três milhões e quem não tem, mora em casinha de cinco mil, com aluguel de trezentos por mês. Coisas de um país periférico!


DEUS DEMAIS NAQUELE GRUPO

A controvertida ópera rock “Jesus Christ Superstar”, de Adnrew Lloyd Weber e Tim Rice, numa canção afirma em determinado momento: “Eles têm Deus demais na sua cabeça”. Controvérsias à parte, fiquemos com os religiosos que também afirmam o mesmo. Pode-se falar demais de Deus e pouco demais da sua obra chamada Mundo. Não foram poucas as doutrinas e teorias que propunham um distanciamento da realidade para mergulhar e, Deus e viver apenas dele, com ele e para Ele. Segundo Jesus isso não é possível, porque o segundo mandamento, o do amor ao próximo é semelhante ao primeiro (Mc 12,31), E é o mesmo Jesus quem afirma em Mateus que tudo o que fizermos aos pequenos é a Ele que teremos feito (Mt 18,5; 25,40). É ainda Jesus quem em Mt, 25, 31-46 avisa quem entrará no céu e quem ficará de fora. Em Mt 7, 15-23 outra vez é atribuída a Jesus a afirmação de que apenas gritar o nome dele não levará ninguém parta o céu. É precioso mais do que isso para um contato com Deus.

Quando no meu sermão eu disse que há Deus de menos e Deus demais no mundo de hoje, inconformados com minha observação, os três rapazes e as duas moças que receberam catequese diferente da minha partiram para conclusões apressadas. Acharam que eu não tinha fé e que não amava a Deus de verdade. Se o amasse, nunca diria que alguém pode ter Deus demais na sua vida. Ouvi, pedi que mostrassem os textos bíblicos e os documentos da Igreja que suportassem seu ponto de vista, porque eu os tinha. Disse lá e torno a dizer com todas as letras: -“Alguns grupos de Igreja têm Deus demais na boca e no coração”.

Falam a Deus e de Deus 24 horas por dia, mas passam por cima de fatos que certamente são caros a Deus e sobre os quais, segundo o mostra a Bíblia, ele quer a nossa reflexão e espera que façamos alguma coisa. Criam vocábulos e canções só do seu grupo e esperam que os outros descubram Deus do jeito que eles descobriram e o louvem como eles o louvam. Quando alguém aparece com outra proposta e outra descoberta, reagem negando que tal pessoa possa ter o que eles têm, já que fala, pensa e age de outro jeito!

O termo é “misologia”: não aceitação do discurso do outro. Por isso convém que nossa missiologia não termine em misologia. É próprio dos grupos fechados exagerar no diálogo com Deus e ter difícil trato com irmãos de fé que não rezam nem cantam pela sua cartilha. É fé mais sistólica do que diastólica, por isso pouco católica, já que a palavra “católico” supõe abrangência e não fechamento. O assunto merece um debate!


Pe ZEZINHO, scj

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Artigos - 03 de Maio

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JESUS E SUA MÃE

Objeto de controvérsias em outras religiões e mesmo dentro do cristianismo é o papel de Maria na vida de Jesus e de Jesus na vida de sua mãe. Os marianos demais e os marianos de menos facilmente entram em conflito com a Maria pequena dos evangelhos. Ou apequenam-na demais ou a engrandecem mais do que ela própria teria desejado. Não são muitos os textos que a ela se referem. A reflexão dos cristãos sobre Maria nasce de algumas deduções, a partir da cultura e do papel da mulher em Israel e, mais tarde, da cultura e do papel da mulher mãe entre os primeiros cristãos.

Maria influenciou ou não influenciou Jesus: Foi Téo-dokos ou foi Téo-tokos. Foi apenas tutora que o educou (dokein) ou foi a mãe (tokos) que o gerou? Por causa desse d e desse t, que trazia no seu bojo muito mais do que uma distinção sutil, comunidades inteiras se degladiaram. Maria foi mãe de um corpo humano no qual morava Deus ou foi mãe de Deus que entre nós morou? E como pode uma mãe humana ser mãe de Deus? Não é ir longe demais? Cuidou de Jesus que crescia entre nós ou gerou Deus filho aqui encarnado no seu ventre?

O tema nunca será resolvido nem aceito. E não haverá consenso. Ou nasce e se perpetua na fé ou morre já na primeira afirmação. Se é absolutamente impossível Deus entrar num ventre de mulher humana, então não foi possível. Se para Deus tudo é possível, então foi possível. A única coisa que Deus não pode é odiar, deixar de ser Deus e deixar de amar. Se pode amansar o mar, se pode fazer sair água da rocha e transformar água em vinho, se pode devolver a vida, então pode se tornar humano sem deixar de ser divino e pode, sim, entrar num ventre de mulher.

Maria foi a primeira a não entender. Perguntou. Não ficando claro, guiou-se pela fé e guardava aqueles mistérios no seu coração. (Lc 2,19) Não saiu dando testemunho da graça recebida porque não era tola nem fanatizada. Sabia que, a começar de José, ninguém aceitaria tal explicação. Usou da inteligência. Calou-se. Deus quis, Deus daria um jeito de explicar o que não se explica. Previu louvores e dores. Sabia como são as pessoas. Era mais pensadora do que imaginamos que foi!

Viu o filho crescer, agiu como qualquer mãe judia, interferiu quando pode e nunca se afastou do mistério que se aninhou em seu ventre, depois, na sua casa e na sua vida e, finalmente, nas ruas de Israel. Estava lá na assunção, no conceber, no crescer e no morrer. E estava também na ressurreição e na ascensão. Assim cremos.

Por isso, falar de Jesus ignorando e diminuindo sua mãe é erro colossal para qualquer cristão que às vezes quase deifica seus pregadores. Mas falar de Maria, quase que deificando-a e igualando-a ao Filho, também é erro colossal. Ela não foi e nunca será deusa ou semideusa. Foi humana tocada pela graça. Mas não pode tudo. Tem que pedir. Não tem o trono nem o cetro. No reino de Deus ela é rainha-mãe por causa do filho mas o poder é do filho. Ele é que o rei. Ele não é o filho da rainha, mas ela é a mãe do rei. Charles na Inglaterra é o filho da rainha, porque sua mãe tem o poder. Jesus, rei do Reino dos Céus não é o filho da rainha porque ela não governa. Mas ela é mãe do rei... Usemos bem desses simbolismos!

Super-exaltar Maria é errado, diminuí-la também. Não é igual a Jesus, mas depois dele ninguém esteve tão dentro do mistério da presença de Deus neste mundo. Por isso dizemos que o filho tem o poder e ela tem o pedir.

Outras igrejas terão que acertar suas contas com Maria. Também nós, católicos. Achar o lugar de nossa devoção por Maria dentro da catequese católica é urgente e fundamental. Por isso, só por questão de coerência, na próxima vez que você entrar num templo, vá primeiro ao sacrário e depois procure a imagem de Maria. Não fale com a imagem, porque imagens não ouvem. Jesus está no sacrário, mas Maria não está naquela imagem. A imagem é símbolo, a eucaristia é real.

Diante daquela lembrança dela feche os olhos e então, peça ajuda. De Jesus Maria entende. De orar ela entende. Para nós católicos, ela está viva e no céu ao lado do Filho. Se Jesus, que é tão poderoso, ainda não levou sua mãe para o céu, então vai levar quem? Ela sabe orar por nós e conosco. Invoque não sua presença, mas sua prece. Lá onde ela está, certamente intercederá por você. Se nós que somos tão pecadores intercedemos a Jesus uns pelos outros até pelo rádio e pela televisão, por que Maria não conseguiria?

Perto de Maria, perto de Jesus! Perto de Jesus, perto de Maria! Onde ele estiver seus santos estarão. Maria, que foi a primeira cristã, lá estará na linha de frente. É nosso jeito de pensar em Jesus. Depois dele vem Maria e, logo a seguir, os seus santos. Só depois, os candidatos a santo que nos falam do altar, do microfone e diante das câmeras... O poder deles é pequeno e sua prece é bem menor, ainda que andem curando de AIDS ou de câncer com seu toque, ainda que o povo queira até o seu suor, ainda que anunciem ressurreições e falem a milhões de pessoas todos os dias. Maria é mais! Os salvos no céu são mais! Santo por santo, aceite os daqui, mas prefira os do céu. Não é por nada não, mas são muito mais confiáveis.



O HOMEM JESUS

Se houve no mundo um homem que sabia tudo sobre Deus, este homem foi Jesus. Se algum homem chegou à intimidade absoluta com Deus, este homem foi Jesus. Foi ele mesmo quem o disse. E era plenamente homem.

Se um homem é capaz de tamanha intimidade, ele não é um sujeito qualquer. É especial. Especialíssimo. Foi ele quem o disse.

Se Deus é este ser que pensamos que é, o homem que afirma ter intimidade absoluta com ele corre o risco de ser o doido mais varrido, o maior dos mentirosos, o maior dos megalomaníacos.

Mas, se for verdade, então ele é o mais especial, o mais homem entre os homens. E Jesus disse que sabia quem era e quem o havia mandado, ninguém menos que Deus, a quem ele chamava de Papai (Abbá, em aramaico).

Homem algum será capaz de conhecer Deus. Mas, Jesus disse que o conhecia. E somente ele. Ninguém antes, nem depois dele foi capaz disso. Se Deus existe, se criou o mundo e se criou o homem, somos todos filhos de Deus. Mas Jesus garante que é o Filho único.

Há uma coisa nesse homem Jesus que homem nenhum relativamente inteligente é capaz de decifrar: fala como alguém igual, absolutamente identificado com Deus.

Ou sua mentira é mentira demais para nós, ou sua verdade é verdadeira demais. O fato é que nenhum homem jamais falou como Jesus falava.

Os homens que escreveram a seu respeito não teriam capacidade de criar um personagem assim tão forte, capaz de desafiar a mente de tantos pensadores e cientistas durante 20 séculos. Se Jesus foi invenção, então os quatro evangelistas que como insistem alguns teriam construído o personagem Jesus seriam mais espertos que ele.

Para crer em Jesus, precisamos acreditar nos seus biógrafos: Mateus, Marcos, Lucas e João. O que deu neles? O que foi que viram e ouviram, para falar dele como falaram, e morrer por ele do jeito que morreram?

E os apóstolos? Que experiências tiveram para dar a vida por ele. Morreram por um personagem de novela ou por uma pessoa real? Como foi? O que é que viram em Jesus para viver por ele e morrer do jeito que morreram? Era Jesus, filho de Maria, filho de José, filho especialíssimo de Deus ou era uma invenção da cabeça deles? Jesus os fanatizou? Mas como, se Jesus nunca impôs nada em nenhuma cabeça? Não foi ele que os deixou livres para irem embora ,se quisessem?

Nunca usou de armas nem de violência. Falou claro que quem o seguisse teria felicidade, mas teria muito sofrimento. Nunca fez marketing mentiroso do caminho que propunha. Não era desesperado para fazer discípulos.

Que palavra forte tinha esse Jesus que ultrapassa e sobrevive aos homens, às ideologias, às seitas, e até mesmo aos erros colossais dos que transmitiram sua mensagem através dos séculos? Que foi que ele disse para ter se tornado a personalidade mais carregada de humanidade que se conhece?

A soma de todos os grandes homens, com as suas mensagens, não chega nem perto do mistério que é Jesus. Nenhum dos doze que o conheceram e viveram com ele tinha a mesma idéia sobre ele. Cada qual o viu de seu ângulo e da sua experiência. Mas, da sua pregação emerge um homem totalmente identificado com Deus, totalmente filho - Filho especialíssimo de Deus. E se era tão filho, por que não Deus?

Era difícil crer. E ainda é difícil. O mistério de Jesus leva ao mistério de Deus e desafia tudo aquilo que se conhece de ciência e de religião. Porque esse homem Jesus é, antes de tudo, filho. Sem essa palavra é impossível continuar crendo nele.

O criador do homem tem um filho, que é Jesus. E é através desse filho especial que o Criador nos adota também como filhos seus, como disse o apóstolo Paulo.

Será nossa fé suficientemente forte para nos fazer sentir que, através de Jesus, somos filhos e herdeiros do Pai maior (Abbá), que nos ama e nos ampara nesta vida e na eternidade? Ou nossa casa é hermética demais para que nela entre ao menos uma réstia da luz do sol?

Pe. Zezinho, scj

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