sábado, 15 de maio de 2010

Artigos - 10 de Maio

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NÃO O MEU CRISTO

Se quero que conheçam o Cristo da fé cristã e da fé católica é melhor que não seja o meu Cristo, mas o da Igreja. Cuja visa é maior do que a minha.

Sou limitado demais para querer que meus ouvintes fiquem com a minha pintura do Cristo, quando há tantas outras bem mais aproximadas do que ele foi e é. Mas sei que muita gente, ao me ouvir, vai querer ter a visão que eu tenho. Então, que, no mínimo, ela não destoe da visão da a Igreja que, a cada dia se aperfeiçoa, á medida que crescem as pesquisas bíblicas e o aprofundamento teológico.

Do jeito de Paulo. Foi S.Paulo quem disse que esperava que os seus ouvintes e leitores de Éfeso fossem capazes de tocar, com todos os santos, parte desse mistério do amor de Cristo, na sua profundidade, largura, comprimento e altura. ( Ef 3,18) . Enfim que chegassem a conhecer um amor que ultrapassa todo e qualquer conhecimento humano. Deus pode nos dar um amor e um conhecimento maior do que imaginamos ser possível alcançar. Não está nos livros, mas ele ajuda!



DEUS E O TERREMOTO

Outra vez me perguntaram e outra vez eu disse que não sei o porquê. Uma mensagem pelo celular me questionava querendo saber porque Deus fez aquilo com o Haiti e porque escolheu logo o país mais pobre das Américas... Telefonei de volta lembrando á pessoa angustiada e irada que sua pergunta sugeria que Deus deveria punir com terremoto apenas os paises ricos...

Depois, por quase meia hora, pacientemente tentei explicitar como funciona o planeta Terra e como vulcões, chuvas, deslocamentos e ajustes de terra sempre existiram. Falei dos terremotos que sempre houve e que já mataram até mais gente do que em Haiti. Falei do Vesúvio, do Santa Helena e de outras catástrofes, algumas das quais perceptíveis e outras não! A Terra se mexe!

Onde entra Deus em tudo isso? Quem não crê nele fala em fatalidade. Quem consegue crer apesar da cruz, da dor e das contrariedades, tenta assimilar, mesmo sem compreender. O Deus que não responde e que parece que se esconde é um desafio para quem crê e para quem não crê. Temos algumas respostas, mas o mistério da vida, da dor e da morte continuam. O universo continua queimando e explodindo e a Terra, no seu ventre pega fogo e explode, em cima às vezes se afoga em tsunamis ou chuvas intermináveis. Moramos num planeta que se movimenta.

Religiosos que se satisfazem com frases tiradas do seu livro santo encontram respostas na sua fé. Mas não servem para todos. Há pessoas que desejam saber mais e às vezes nos interpelam. A resposta mais humilde de qualquer crente é a de quem não sabe tudo, e por isso pergunta junto. Nós que cremos e vivemos errando e nos corrigindo, precisamos entender as perguntas de quem acha que Deus poderia, mas não quis salvar aquelas vidas. Pouco sabemos sobre a misericórdia, o poder e as ações de Deus. Somos seletivos. Citamos o que vai a favor dos bons e contra os maus, mas quando morre uma criança, um pobre, um povo inteiro, crentes esmagados pelo telhado da igreja onde oravam, gritamos angustiados querendo saber o porquê. Nós faríamos diferente!

A cruz pode, sim, ter sentido, mas precisa ser a resposta de cada um que a carrega, bem como resposta de quem deseja ajudar a carregá-la. Ela só redime quando é assumida. Amor, perdão, alegria, afetos, dores e angústias acontecem com os outros e podem acontecer conosco a qualquer momento. A resposta que dermos nos ajudará, ou a morrer ou a viver em paz, apesar das turbulências. Há os porquês exclamativos e os interrogativos. Vivemos mais dos últimos do que dos primeiros!


O CRISTO QUE SE CURVA

Para mim Jesus é Deus que se curvou e nos visitou. Creio que ele é o Filho eterno de Deus e que Deus é um ser em três pessoas. Ele é a segunda pessoa desse ser único. Não saberia explicar minha fé, mas creio que Deus é uma trindade de pessoas num só ser. Bilhões de católicos acreditaram nisso e eu também acredito.

Ao falar do encontro de Jesus com a mulher surpreendida em adultério (Jo 8,1-11) o evangelista João nos dá um detalhe que a mim impressiona: a pecadora ficou em pé e Jesus agachou-se escrevendo na areia. Não seria mais natural que ela se ajoelhasse ou se curvasse e Ele, o puro e o santo, em pé, lhe desse uma ajuda e uma lição? Não é assim que fazemos quando o pobre, sentado à nossa porta, pede comida e lhe damos de cima para baixo a marmita, ou a lata com o alimento?

Também na última ceia (Jo 13,14), quem se curvou foi ele e não os discípulos, apesar do protesto de Pedro (Jo 13,9) Jesus insistiu em lavar-lhes os pés. Por aí tenho vou configurado a imagem do Jesus que desejo que meus ouvintes conheçam. Alguém que não veio para ser servido, mas para servir; que não veio explorar nem dominar, nem era seu intuito tirar a vida ou a liberdade de quem quer que fosse. Veio, e deu a sua própria vida. Sabia que seria morto. Amou a este ponto. (Mt 20,28).


SE JESUS VOLTASSE UM DIA

Se Jesus voltasse um dia, e um dia ele vai voltar, como é que vai achar a terra? Um mundo evangelizado? Dinheiro domesticado? O pão, enfim, repartido?
Se Jesus voltasse um dia e um dia ele vai voltar! Vai achar um só rebanho? Ou rebanhos separados e pastores se agredindo, pra ver quem tem mais ovelhas e o pedaço mais tranqüilo do que era o Reino de Deus?
Se Jesus voltasse um dia, de que lado eu estaria? Achando que estou com ele por estar mais à direita ou por lutar pela esquerda? Ou por ser “equilibrado”?
Se Jesus voltasse um dia e um dia ele voltará, de que lado eu estaria?
De que lado estou agora? A que ídolos me agarro ? O que digo de minha igreja e o que digo das outras ? Sou mais do que eles no quê ? Acho que achei e eles não acharam ou acho que eu posso ter achado meu veio ele o dele e nós dois estamos achando nosso tesouro na mesma mina ? Ou no reino de Deus não há lugar para nós e eles ?
Se Jesus chegasse agora e convocasse todos os seus seguidores, você certamente iria e eu também . Mas como veríamos ao nosso lado certas pessoas que não consideramos do meio ?
Qual é mesmo a sua parte no Reino de Deus ? E qual a minha ? Poderíamos juntá-las ou você acha que isso é impossível porque um dos dois sairia perdendo ?
Se Jesus voltasse agora e nos visse com esse medo de partir o pão juntos, de subir o morro ou ir à periferia juntos, de manter hospitais juntos , de orar juntos será que ele nos reconheceria ?


CASINHAS DE PERIFERIA

Passo e presto atenção nas casinhas de periferia. São pobres, pequenas e precárias não porque seus donos assim as querem; é que não ganham suficiente para uma casa maior. Se tivessem mais dinheiro, mudariam para lugar mais confortável ou as melhorariam. Muitos nem mudariam. Não vale o lugar. Vale a vizinhança. Não são poucos os que escolhem ficar na periferia, mesmo quando ganham mais dinheiro. Neste caso, dão um jeito de comprar vários barracos e fazer ali mesmo uma casinha maior, porque sentem-se bem nas suas raízes. Conheço muitos líderes de Igreja que assim agem e assim pensam.


E há os que moram contra a vontade. Mesmo se moram onde querem, não moram como querem. Se pudessem ter banheiro maior, quarto de casal maior, um quartinho para cada filho, é isso que fariam. Em muitos casos, algum dinheirinho a mais, ajudaria a fazer um quarto especial para o avô ou para a avó que estão enfermos. Se não fazem não é porque não querem, é porque não podem. E há o casal que vai embora com tristeza, porque um traficante está de olho na sua menina de quinze anos.


Olho aquelas casinhas apertadas, quase uma em cima da outra, onde não há lugar para carro, nem calçadas. Penso na água que desce do morro em dias de chuva intensa e nem me pergunto por que moram daquele jeito. Eu sei o porquê: falta dinheiro! Os sucessivos governos não aplicaram o suficiente na urbanização e na segurança dessas famílias. Dizem que o Brasil está ficando rico. Se alguns grandes não desviassem essa imensa verba que desviam, seria possível reorganizar essas casinhas. Mas isto, se o dinheiro não fosse desperdiçado em projetos faraônicos que acabam beneficiando quem já está bem de vida. O descuido vem de longe. Não é este governo que vai mudar as coisas.

É o país em que vivemos: trata os humanos da periferia como seres periféricos e aplica ali também um dinheiro periférico. Mas o jornal está anunciando um prédio a três milhões de reais a unidade. E diz Dona Dolores, a líder comunitária, que os 150 milhões de reais que custaram a obra, dariam para re-urbanizar o morro e reassentar as 600 famílias em quatro conjuntos residenciais, sobrando espaço enorme para plantar árvores e devolver o verde ao seu pequeno bairro. Mas diz ela que construtora não faz caridade; nem o governo. Então, quem tem dinheiro compra apartamento de três milhões e quem não tem, mora em casinha de cinco mil, com aluguel de trezentos por mês. Coisas de um país periférico!


DEUS DEMAIS NAQUELE GRUPO

A controvertida ópera rock “Jesus Christ Superstar”, de Adnrew Lloyd Weber e Tim Rice, numa canção afirma em determinado momento: “Eles têm Deus demais na sua cabeça”. Controvérsias à parte, fiquemos com os religiosos que também afirmam o mesmo. Pode-se falar demais de Deus e pouco demais da sua obra chamada Mundo. Não foram poucas as doutrinas e teorias que propunham um distanciamento da realidade para mergulhar e, Deus e viver apenas dele, com ele e para Ele. Segundo Jesus isso não é possível, porque o segundo mandamento, o do amor ao próximo é semelhante ao primeiro (Mc 12,31), E é o mesmo Jesus quem afirma em Mateus que tudo o que fizermos aos pequenos é a Ele que teremos feito (Mt 18,5; 25,40). É ainda Jesus quem em Mt, 25, 31-46 avisa quem entrará no céu e quem ficará de fora. Em Mt 7, 15-23 outra vez é atribuída a Jesus a afirmação de que apenas gritar o nome dele não levará ninguém parta o céu. É precioso mais do que isso para um contato com Deus.

Quando no meu sermão eu disse que há Deus de menos e Deus demais no mundo de hoje, inconformados com minha observação, os três rapazes e as duas moças que receberam catequese diferente da minha partiram para conclusões apressadas. Acharam que eu não tinha fé e que não amava a Deus de verdade. Se o amasse, nunca diria que alguém pode ter Deus demais na sua vida. Ouvi, pedi que mostrassem os textos bíblicos e os documentos da Igreja que suportassem seu ponto de vista, porque eu os tinha. Disse lá e torno a dizer com todas as letras: -“Alguns grupos de Igreja têm Deus demais na boca e no coração”.

Falam a Deus e de Deus 24 horas por dia, mas passam por cima de fatos que certamente são caros a Deus e sobre os quais, segundo o mostra a Bíblia, ele quer a nossa reflexão e espera que façamos alguma coisa. Criam vocábulos e canções só do seu grupo e esperam que os outros descubram Deus do jeito que eles descobriram e o louvem como eles o louvam. Quando alguém aparece com outra proposta e outra descoberta, reagem negando que tal pessoa possa ter o que eles têm, já que fala, pensa e age de outro jeito!

O termo é “misologia”: não aceitação do discurso do outro. Por isso convém que nossa missiologia não termine em misologia. É próprio dos grupos fechados exagerar no diálogo com Deus e ter difícil trato com irmãos de fé que não rezam nem cantam pela sua cartilha. É fé mais sistólica do que diastólica, por isso pouco católica, já que a palavra “católico” supõe abrangência e não fechamento. O assunto merece um debate!


Pe ZEZINHO, scj

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