terça-feira, 24 de julho de 2012

História da Música Popular Religiosa e Católica no Brasil

Foi nos anos 60 que a música popular religiosa começava a ganhar forma no Brasil. Anterior a esta década, não há nenhum registro de quaisquer outras gravações.

Muito antes do filme "Mudança de Hábito" nos anos 90, em que um grupo de freiras transformavam o convento em um grande coral, uma irmandade do interior de São Paulo as "Missionárias de Jesus Crucificado" lançavam em 1963 o seu primeiro LP, intitulado "Missionárias em LP" com selo da própria irmandade, com músicas compostas pelas próprias irmãs e feito sob encomenda pela Cia Industrial de Discos no RJ.






















As irmãs foram pioneiras em uma época em que freiras gravarem um disco era um ato altamente criticado, inaceitável. E o mercado para a música religiosa era muito restrito.
O primeiro disco foi tão bem aceito, que em 1964 veio o LP "Quando canta o coração" que seguia o ritmo da MPB e a movimento da Jovem Guarda da época. Uma canção em especial neste disco composta pelas irmãs, virou um hino de bondade até hoje: "Um pouco de perfume":

"Fica sempre, um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas,
nas mãos que sabem ser generosas..."



Nesta mesma época o ministro David Wayne Smith da Igreja Presbiteriana do Estados Unidos, vem ao Brasil como missionário e tendo se instalado no convento das MJC, conhece o trabalho musical das irmãs e as convencem a gravar um LP com versões em inglês de suas canções com a participação do ministro americano: é lançado o LP "When the heart sings" (Quando canta o coração), no Brasil e nos Estados Unidos, também em 64.


Capa brasileira


Capa americana

Em 1965 veio o disco "Felicidade Chegou"; e quase 13 anos depois o último LP "Alegrai-vos no Senhor" pela Sono-Viso, em comemoração aos 50 anos da irmandade no Brasil.



As mensagens de paz, caridade e otimismo foram a marca registrada pelas MJCs em suas canções, tudo isso com uma pitada de muita alegria e animação.

Para ouvir ou baixar as canções no site das irmãs entre no site aqui.


Só então, em 1965, que as Edições Paulinas alugam estúdio em São Paulo e gravam compactos comemorativos para o dia das mães e dia dos pais etc... Wilma Camargo era a compositora, cantora e fazia os arranjos dos compactos.


Compactos de Wilma Camargo


Marion e Wilma Camargo em "Canção do Amor"






















Em 1967, Pe. Zezinho, depois de ter sido ordenado em 1966 nos EUA, vem para o Brasil e muda completamente a forma de se conduzir uma missa, compondo e introduzindo instrumentos elétricos, atraindo multidões... principalmente os jovens, pois falava a linguagem que os jovens da época entendiam. Alguma coisa muito boa acontecia na Paróquia São Judas Tadeu na capital São Paulo.
Grava pela "Congregação do Sagrado Coração de Jesus", que é sua congregação, os seus primeiros discos, sob encomenda da RCA Victor.


Capa de "O Cristo Inconstante" 1969 pela RCA.

Em 1968, o paraguaio Padre Irala, grava o seu primeiro LP pelas Edições Paulinas "Juventude e Alegria" e seu primeiro compacto "Irala Canta" que eternizou a "Oração de São Francisco".





À partir de 1970, eram compostas e gravadas em compactos, canções feitas especialmente para as Campanhas da Fraternidade, pela CNBB.


Em 1970, Padre Zezinho grava seu primeiro compacto "Canção da Amizade" pelas Edições Paulinas. Antes desse lançamento, P. Zezinho já tinha composto um compacto duplo para o Irala: "Transpondo Fronteiras".



Daí em diante Pe. Zezinho se torna o artista de maior visibilidade da editora e da Música Católica, lançando muitos compactos, discos de mensagens para jovens e livros às dezenas. Só em 1972 lança o primeiro LP com 12 canções "Estou pensando em Deus" cuja capa não possuía o nome do autor e nem mesmo o título; apenas a imagem de um jovem padre emitindo ondas de sua mente para o mundo. E foi exatamente isto que aconteceu... o mundo conheceu suas canções.



São quase duas centenas de discos catalogados, quase 100 livros e projetos de bandas a quem formou, compôs e produziu. Influênciou e influencia todos os cantores que surgiram depois dele: católicos ou evangélicos.
Padre Zezinho grava seus CDs até hoje com as Edições Paulinas; mas nesses quase 50 anos, houve exceções em que o autor gravou em outras editoras ou gravadoras; quando seu trabalho não é aceito na Paulinas, ele tem a liberdade de publicar em outros meios: Nos anos 70 gravou alguns discos pela Sono-Viso no RJ (que fechou nos anos 90), e nos anos 2000 pela Procade no sul do Brasil. Já publicou livros pelas editoras Paulus, Santuário e Loyola.

Também no início dos anos 70, a Irmã Miria Therezinha Kolling ICM, mais precisamente em 1971, grava o compacto "Missa da Amizade" nas Edições Paulinas. A curiosidade é que a irmã não canta em seus discos, apesar de compor letras e músicas.
A irmã Míria compôs dezenas de compactos para os missários de "O Domingo". Gravou discos pela Sono-Viso, e sua gravadora atual é a Editora Paulus.




Em 1972, Pe. Zezinho revela Silvio Brito que lança o primeiro compacto: "Muito prazer, Jesus Cristo"... na contracapa uma mensagem do P. Zezinho: “Achei que um jovem que domina 10 instrumentos, compõe, e procura viver o que anda cantando devia receber um púlpito. Trouxe-o para vocês”, apadrinha o religioso.




1973 - Silvio Brito e os Apaches em compacto de Neimar de Barros, "Deus Negro" inspirado no livro de mesmo nome.






















1973 - Por Um Amor Maior





















Em 1975, o já apresentador de telejornal Cid Moreira, grava o seu primeiro compacto "Desiderata", pela Som Livre (Sigla). Em 1977, grava seu primeiro LP pelas Edições Paulinas "Oração da Minha Vida", com textos do Pe. Orlando Gambi.
Conhecido por ter uma voz bela e potente, o apresentador gravou muitos discos no segmento religioso: versões do Antigo e do Novo Testamento, Salmos etc.









Em 1976, surge Pe. Jonas Abib com suas primeiras canções para os grupos da Renovação Católica Carismática e o primeiro LP: "Canções Latino Americanas para orar no Espírito". Em 1977, veio o primeiro disco solo "O amor vencerá", ambos gravados nas Edições Paulinas. Mais tarde ele dedicaria seu tempo ao projeto "Canção Nova", que hoje é uma grande rede de rádio e TV.

1976 - Pe. Jonas Abib e Conj. vocal EDYPAUL
























 1976 - "Canções Para Orar no Espírito volume 1" - Com Titulares do Ritmo e Grupo EDYPAUL
 





















 1976 - "Canções Para Orar no Espírito volume 2" - Com Pe. Jonas Abib, Titulares do Ritmo e Grupo EDYPAUL






















1976 - Verso de "O amor Vencerá" com texto de apresentação escrito por Padre Zezinho.





















Com cada vez mais força no mercado, as Edições Paulinas lançam muitos LPs celebrativos entre 76 e 1990, com diversos nomes, que mais tarde se tornariam importantes para a MPB.
Em quase todos estes discos celebrativos lá estavam eles: Astúlio Nunes, Reynaldo, Jessé (que mais tarde, em 80, ganharia o Festival MPB Shell de melhor intérprete), Regina Carvalho, Antonio Cardoso, Nairzinha... pessoas que não estavam na mídia, mas que tinham talento e vozes espetaculares, e o coral Canarinhos Liceanos.

Capa de 1976 - Reynaldo Cominato "Bom dia, meu amigo": Segundo informações da internet, cantor teria morrido por câncer, na década de 90.





Astúlio Nunes

Capa de 1980 - "Caminheiro": disco fantástico com muitas composições do Frei Luiz Turra, nas vozes de Reynaldo, Astúlio, Regina e Tuca
Em 1981 é gravada a música "A barca", composição de Cesario Gabarain nas vozes de Astúlio Nunes e Cidinha Olivetti, em um compacto duplo de mesmo nome.





Em 1983, Astúlio Nunes grava a primeira versão do clássico "Senhor Fazei de Mim Um Instrumento de Vossa Paz", canção essa que já teve dezenas de versões.





















Entre 1982 e 1983, o Padre Antonio Maria grava seus dois primeiros LPs: "A Esperança tem voz" e "Tempo de Paz". Após estes trabalhos pelas Edições Paulinas, ele passa a gravar em outras editoras os seus discos solos.


Em 1984 é lançado pela Emaús Discos o primeiro LP "Louvemos o Senhor", projeto idealizado por Kater, embalado pela RCC. Os vários volumes que se seguiram, tiveram a participação e a revelação de muitos cantores como: Maria do Rosário, Pe. Joãozinho, scj, e alguns Lps tiveram a participação do Pe. Antonio Maria. O sucesso foi tanto que virou programa de TV e um livro de músicas usadas em celebrações. Louvemos o Senhor é exibido até hoje na TV Século 21.



 Louvemos O Senhor Volume 8






















Em 1985 a banda Agnus Dei, lança o seu primeiro LP.

1990 - Sem mídia e sem marketing, mas com talento, a canção "Oração pela Família" no lado B do disco "Sol Nascente, Sol Poente" do Pe. Zezinho vende mais de um milhão de cópias, e é disco de diamante. Um feito inédito na música religiosa no Brasil. Durante anos ele negou o direito de gravação desta música para outros cantores, inclusive Roberto Carlos.



Nos anos 90 há uma prolongada escassez de novos talentos na música católica. Mas ainda assim, surgem algumas boas bandas e bons cantores.

O cantor brasiliense Jonny, grava seu primeiro disco em 1994.



Em 1995, a banda Rosa de Saron lança o seu primeiro LP "Diante da Cruz" com selo independente.
A banda formou-se em 1988, com o movimento da Renovação Carismática Católica, no interior de São Paulo. Segue o ritmo do rock. Tiveram muitas formações; a formação atual os tornaram conhecidos em todo o país, e rendeu vários prêmios ao grupo.



Pe. Zezinho cria o grupo Cantores de Deus em 1995, grupo que o acompanhava em seus shows pelo Brasil e os colocava para cantar em quase todos seus CDs seguintes.
Só em 1998, os Cantores de Deus lançaram o primeiro CD: "Em verso e em canção" totalmente produzido pelo Pe. Zezinho - letras e músicas - o sucesso foi tanto que o grupo gravou uma versão em espanhol do CD "En verso y en canción" viajando mundo afora. A primeira formação do grupo agradou a todos; os dois primeiros CDs foram disco de ouro. Infelizmente membros foram deixando o grupo, e da formação original, apenas duas cantoras permanecem até hoje.



1997 - Ex-aluno de P. Zezinho no seminário, Fábio de Melo grava seu primeiro CD nas Edições Paulinas.



No fim dos anos 90, uma paróquia na capital paulista chama a atenção da grande mídia pela quantidade de pessoas que se apertavam para tentar assistir a "missa show" do padre que era um verdadeiro animador: Marcelo Rossi. Ele utilizava danças, coreografias, e sua banda fazia um apanhado geral de músicas antigas dos movimentos da RCC e até músicas evangélicas entravam no repertório. Marcelo Rossi não canta nem compõe.
A mídia o fez superestar da noite para o dia. Em pouco tempo já estava em todos os programas de televisão e rádio, suas canções tocavam até mesmo em boates e danceterias; os templos ficavam pequenos demais pela quantidade de pessoas que vinham de todos os lugares para vê-lo. A superexposição do Padre foi altamente criticada por alguns setores da própria Igreja Católica e pequenos grupos de outras religiões, sentiam-se ofendidos por ver um padre católico utilizando algumas de suas canções. O que o fez dar um tempo da grande mídia.
Mesmo com tanta polêmica sobre dançar ou não numa celebração, cantar ou não músicas de outras igrejas, o primeiro CD "Músicas para louvar o Senhor" de 1998, vendeu mais de 3 milhões de cópias: o resultado disso foram 3 discos de diamante.



Por aqui eu termino essa história. Sei que muita coisa surgiu depois de 1998, e muita coisa mudou, e meu conhecimento não é tanto de lá para cá. Meu objetivo foi mostar que houve muita gente boa e talentosa que lutou pela música religiosa católica, antes da mídia criar superastros, como se esse movimento tivesse começado ontem.
Se me esqueci de alguém, peço desculpas. Sugestões são benvindas nos comentários.

Veja também: Outros discos importantes para a música católica.