domingo, 28 de fevereiro de 2010

Padre Zezinho reedita MEU CRISTO JOVEM

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Apresentação

O texto (CD) é uma reedição revista e re-interpretada diferente do LP MEU CRISTO JOVEM lançado no ano de 1972, época em que muitos jovens foram torturados e pagaram um alto preço por quererem mudanças no país. O personagem em questão é adepto da não violência. O texto, como o primeiro, na voz do autor, projeta em todos os cristãos, jovens ou adultos o questionamento e a busca por uma cristologia mais atual e atuante. Para retiros, aulas e cursos de catequese.



Capa CD Meu Cristo Jovem 2010


Capa LP Meu Cristo Jovem 1972


Sinopse

Um rapaz, estudante de direito, por impulso entra numa igreja e começa a conversar com o Jesus de quem ele ouviu falar, mas que admite conhecer pouco. Lembra sua família, a namorada, os amigos, a faculdade, a crise de fé entre seus colegas, sua infância, seus sonhos de ser alguém neste país em mudanças e, de conversa em conversa, acaba rezando ao Cristo advogado e defensor dos oprimidos a quem ele sinceramente deseja conhecer melhor.


Faixas do novo CD:

Ainda não sei quem Tu és (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)
Neste mundo, nesta era, nesta hora (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)
É difícil imaginar-te (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)
Tua cruz e o seu legado (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)
Num mundo sem diálogo... (texto e interpretação Pe. Zezinho, scj)



Pra quem esperava que os LP's originais fossem totalmente remasterizados, esse foi um banho de água fria.

Para conferir o produto no site da Paulinas clique aqui.

Para baixar a versão do LP de 1972 clique aqui.

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Meio século a falar do céu

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Meio século a falar do céu




Sou um pregador da fé. Por profissão e por vocação. É meu trabalho e é o meu chamado. Vivo a propor um novo céu e uma nova terra. (2 Pd 3,13) Houve um dia na minha vida de jovem de pouco mais de 20 anos que achei que poderia passar resto dos meus dias como aproximador: aproximaria as pessoas de Deus, ligaria umas às outras, ajudaria meu povo a pensar o antes, o durante e o depois de cada vida.

Em dois cursos, um de Filosofia e outro de Teologia estudei 35 matérias, mais 15 ou 20 cursos sem os quais seria difícil exercer minha missão. Desde então, creio ter folheado e lido mais de 3 mil livros que me ajudaram a entender um pouco melhor o mundo e, nele, o ser humano. Li autores católicos, evangélicos, judeu, muçulmanos, ateus e agnósticos. Quando o bispo impôs as mãos sobre mim, dizendo que eu estava apto para anunciar Jesus, orientar os católicos e dialogar com outras religiões e igrejas eu tinha uma razoável idéia do que disseram os filósofos, os teólogos, os pensadores, os historiadores, os sociólogos, os psicólogos, os pedagogos, os cientistas, os antropólogos e os místicos sobre o universo, o planeta, os povos, a felicidade, as pessoas, as religiões, os acertos e os desvios dos pensadores e religiosos que me precederam.

Sou sacerdote. Cuido do sagrado. Num mundo que dessacraliza, tomo cuidado para não sacralizar demais, mas luto para que não se perca a noção do sagrado. Defendo a sacralidade do óvulo, do espermatozóide, do sexo, do homem, da mulher, do feto, da criança, do ancião, do matrimônio, da família, da fé, da política, da pessoa humana, da vida!

Outros também fazem isso, mas o fazem dentro da sua profissão e vocação que às vezes não inclui um criador de quem viemos e para quem iremos. Eu o incluo. Falo com um dedo da mão direita apontando, enquanto os outros se curvam reverentes para o céu e todos os outros dedos da mão esquerda em gesto de quem perpassa todas as coisas. Eu anuncio que Deus se importa com tudo e com todos.

Se me acho relevante? Acho! Não fabrico carros, nem casas, não lido com dinheiro, não produzo nem mesmo um alfinete, não crio bens materiais. Não sou psicólogo, nem psiquiatra, nem médico, nem sociólogo, nem político, nem assistente social. Numa reunião onde todos se apresentassem dizendo o que fazem eu teria que simplesmente dizer que sou sacerdote e aproximo, motivo, esclareço e serenizo pessoas! Se isso não for trabalho relevante então as outras profissões também não são.

Se todos na mesma reunião tivéssemos cinco minutos para dizer do que falamos quando estamos com uma pessoa, eu dispensaria os meus cinco minutos. Diria apenas que falo da busca de si mesmo, da busca do outro e da busca de Deus. Falo do grande antes e do grande depois da cada vida. Crio laços e ajudo ao máximo a desfazer nós. Tento descrucificar os crucificados, reparo pessoas estilhaçadas com oferecendo-lhes os ligamentos da esperança da fé e da caridade. Tento firmar os que perderam a firmeza. Ensino partilha solidariedade. E se isso não é algo relevante, então o que faço não é relevante!

Esses dias, completei 50 anos de vida religiosa. Eu e meus colegas não fizemos festa. Reunimo-nos e falamos sobre nossa opção. Ninguém contou vantagem. Mas todos achamos que valeu a pena gastar 50 anos falando de um Novo Céu e uma Nova Terra. Na maioria dos casos, alguém cresceu com nossa presença, nossa fala, nossa bênção e nossa prece! Pelos erros, perdão! Pelos acertos, gratidão!


Pe. ZEZINHO scj

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Artigos - 25 de Fevereiro

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MINHAS TRÊS MÃES

Se tenho mãe? Tenho várias! A da terra, que já está no céu e chamava-se Dona Valdivina Messias, foi lavradora e costureira e morou em machado e Taubaté Tenho a do céu, que se chamava Maria, cuidava do lar e era de Nazaré da Galiléia e foi a mãe do Messias. E tenho a Igreja que ainda está na terra e a caminho do céu. Quando falo em mãe, penso nas três, das quais Maria, evidentemente, é a mais santa. Não nasci do ventre de Maria, mas gosto de seu profundo colo espiritual. Nasci no ventre de Valdivina e cresci no colo da Igreja Católica.

Tenho enorme carinho por essas três mães. Das três, só Maria não pecou. Minha mãe da terra era maravilhosa, mas tinha seus pequenos defeitos que não atrapalhavam em nada o seu amor por nós e nosso amor por ela. Nunca achamos que ela era a única mãe maravilhosa do bairro. Havia outras boas mães, que também amavam muito a seus filhos e os educavam muito bem.

Se eu trocaria de mãe? Não! Achava minha mãe maravilhosa, tinha muito orgulho dela e sabia dos seus valores que, de resto, toda a vizinhança elogiava e até hoje elogia. Tive mãe santa na terra e tenho mãe santa no céu. A mãe de Jesus, que era toda pura e esteve muito mais mergulhada no mistério do Cristo era melhor do que a minha mãe da terra. Minha mãe da terra sabia disso e falava com ela o tempo todo naquele terço já gasto de tanto que as duas conversavam.

Agora, porque tenho fé católica, creio que as duas estão juntas no céu, adorando a Deus. A diferença é que minha mãe pede pelo seu filho ao Filho dela e Maria pede ao Filho dela pelo filho da Dona Divina. O Filho de Maria é Filho com F maiúsculo e eu sou filho com f minúsculo. Jesus é mais Filho em tudo. A começar pelo Pai do céu de quem ele veio e se encarnou no ventre de Maria. Digo que também sou Filho de Deus por causa dele. Ele é um com o Pai e eu mal consigo ser um comigo mesmo! Já me dividi não sei quantas vezes, não sabendo que direção tomar. Não fosse Jesus e estas três mães, erraria bem mais do que já errei.

Se trocaria de Igreja? Não. Não acho minha igreja igual às outras, como não achava minha mãe igual às outras. Ela era especial além de ser minha mãe. Havia algo a mais nela. Por isso a fui escolhendo, cada dia com mais intensidade. Fui compreendendo seus limites, deixei de idealizá-la e tomá-la por quem era: mulher feliz e boa mãe. Como só Deus é perfeito, parei de exigir perfeição dela. Já era suficientemente boa, sendo quem era. Foi boa mãe para mim e para meus irmãos.

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O fato de jamais me imaginar rompendo com ela e jamais trocando de mãe não me dava o direito de dizer que as outras não eram mães, nem eram boas. Eu nasci da minha mãe, criei-me no colo dela e à medida que amadurecia, escolhi ser cada dia mais filho dela. Mas as outras mães também fizeram muito pelos seus filhos e eu os via felizes com ela. Aprendi, pela boa educação que minha mãe me dera, a admirar e respeitar as mães dos outros, mesmo não aderindo a elas nem querendo o seu colo. Eu já tinha mãe. Se não a amasse talvez caísse na tentação de buscar outra mãe. Não foi o meu caso. Sempre me dei bem com minha mãe.

Continuo católico, tenho meus limites de pessoa humana, não cheguei à perfeição e à santidade que se espera de alguém na minha idade, mas acho que posso dizer que creio em Deus e o amo, que creio em seu Filho Jesus Cristo, que creio que há um Espírito Santo, que de ambos vem e que, apesar dos meus pecados me ilumina. Creio nos santos que Deus fez e os admiro por terem conseguido o que até agora não consegui. Ser totalmente disponível para Deus e para os outros.

Tenho três mães, duas no céu e uma na terra. Uma delas é Dona Divina que foi minha mãe aqui na terra, outra Maria que sendo mãe de Jesus a quem considero meu irmão maior, eu adotei por mãe. Finalmente há a Igreja aqui na terra, que é uma instituição que respeito e amo. Nem tudo na Igreja é como eu imagino que deveria ser, mas eu também não sou o católico que a Igreja gostaria que eu fosse, porque estou longe de ser o filho missionário que poderia e deveria ser.

Que fique claro quando alguém me perguntar sobre o meu ecumenismo. Sim, não pretendo e nunca diminui minha Igreja e achar que é uma igreja como outra qualquer. É mãe especial. Mas hão de me encontrar tratando bem e respeitando as pessoas de outras igrejas que ser consideram filhos de outra mãe. Um dia aprenderemos a dialogar melhor sobre tudo isso. Naquele dia nenhum cristão se proclamará mais cristão do que o outro. Amaremos e deixarmos que Deus decida isso. Essa história de competir para ver quem arranja mais adeptos e de quem é ou será o maior no Reino dos Céus já foi respondida por Jesus aos fariseus do seu tempo e a dois dos seus discípulos e a todo grupo que o seguia. Quem ainda discute sobre isso, não leu a resposta dele. Deveria voltar ler os evangelhos com mais atenção... É o que fazem os corações verdadeiramente ecumênicos e fraternos... Todos eles têm três mães!



PATRIOTA OU IDIOTA?

Um amigo meu, desses que pegam pesado, mas que têm o mérito de serem cultos e inteligentes, perguntou-me se sou patriota realista ou idiota. Idiotas seriam o que só vêem acertos no país e no governo e, ainda, os que não vêem nada de bom no país em que nasceram. Classifiquei-me como patriota realista, às vezes meio idiota! Há coisas que ainda me confundem.

Entre risos e provocações chegamos a um acordo. O país não vai tão bem quando se alardeia, mas não vai tão mal quanto se propala. Digamos que é relógio que funciona com alguns minutos de atraso por hora. Sem ajustes freqüentes a gente perde o compromisso!

Ainda não somos a democracia que poderemos ser, mas fomos longe: colocamos um ex-metalúrgico-sindicalista na presidência e um empresário na vice-presidência. Tivemos presidentes católicos, evangélicos e ateus. Temos senadores e deputados experientes, alguns deles acusados com provas assustadoras de graves deslizes, temos alguns ex-políticos presos, um ex-governador preso e solto, um governador preso no exercício do poder, alguns juizes e advogados presos por prevaricação, uma justiça lenta mas ainda capaz de reagir, corrupção por todos os setores, mas também gente séria por toda parte.

Indústria forte, comércio ativo, o campo bem organizado, escolas que, mesmo não indo bem, prometem, universidades dignas de respeito, CNBB, CONIC, OAB, ABI, ABR, imprensa ativa, liberdade de expressão com, aqui e ali, alguma censura, igrejas que discordam, mas não se agridem e que muitas vezes trabalham juntas, prefeitos jovens com novas idéias e grande aprovação, uma nova geração de políticos a caminho, economistas que parecem saber onde pisam, e vários bons candidatos postulando a presidência.

Se sou realista? Acho que sim. Sou capaz de elogiar um presidente em quem não votei e de quem discordo em muitas coisas, mas cuja liderança é democrática. Ele certamente fez mais do que eu esperava dele. Dou a mão á palmatória. O sindicalista estava preparado, sim! Também o empresário que ocupa o segundo posto do país. E, o que é bonito, ninguém achou estranho que um patrão aceitasse ser o vice de um operário.

Se o país vai mal? Não. Há bolsões difíceis de controlar e situações que podem nos levar a perigosos confrontos, mas somos um país que dialoga. Bem ou mal, a polícia ainda prende, os promotores descobrem as tramóias, o Congresso ainda funciona e, se soubermos escolher bem, funcionará ainda melhor. Se quero um outro país? Não. Quero este, melhorado. Está melhorando? Está! Com a palavra, os eleitores!



APERTADORES DE PARAFUSOS

No dia 6 de fevereiro, perante mil convidados, 45 jovens católicos, numa paróquia de Taubaté fizeram um pesado juramento de fidelidade a Jesus Cristo, à Igreja e à sua Congregação, os sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, conhecidos também como dehonianos. Nenhum deles é ingênuo. Eles sabem o que isto significa. Não poderão dizer que não sabiam o que estavam dizendo.

O texto do juramento é forte. Prometeram desprendimento e pobreza, castidade e obediência, e prometeram viver em Cristo, por Cristo e em Cristo, lembrados da misericórdia do seu coração; pelos outros, no meio dos outros e para os outros. Segundo a mística dessa congregação de padres e irmãos, serão pobres, não amontoarão bens, nada terão em seu próprio nome, partilharão o que possuem.

Por amor à Igreja não terão esposa nem filhos, viverão a serviço das famílias, e farão de tudo para não amar “somente a Deus”, como reza uma das canções muito em voga nos templos de hoje. Obedecerão e se colocarão á disposição da Congregação para, se necessário, ir para a África, Europa, a China, para algum lugar pobre ou para qualquer posto onde a Igreja precisar deles. Nada os prenderá a um lugar nem a determinadas pessoas. Cultivarão amizades, amarão seus parentes, mas seu coração será desprendido. Nada terão de seu!

Você já deve ter ouvido a expressão: apertar os parafusos. É que parafusos, com o tempo, afrouxam... É assim a nossa vida. A tendência é desapertar e afrouxar. Os dehonianos seriam reparadores e agiriam como nas grandes companhias, que mantêm uma equipe preocupada com os parafusos. Estes às vezes são milhões. Cuidam para que nada se solte do conjunto e para que parte alguma da enorme fábrica cause dano aos trabalhadores. Apertadores de parafusos previnem acidentes: apertam antes o parafuso se solte.

Firmar o que está afrouxando entres os católicos, impedir que o vaso se quebre, mas, se quebrar saber o que fazer com ele para que volte a ser inteiro, eis a idéia da Congregação dos Dehonianos. A reparação é um processo holístico: une, repara, restaura. Não cuida de apenas um detalhe. É mística abrangente. Dehoniano não se prende a apenas um movimento de Igreja. Serve a todos dentro desse espírito de ajudar a reparar e restaurar. São restauradores, ao menos por vocação.

Seu modelo é o coração de Jesus que veio direcionar, prevenir contra rupturas e, caso aconteçam, curar as feridas e reunir outra vez os pedaços do que um dia foi inteiro. Para isso estudam cerca de 40 matérias no demorado currículo de sua formação. Um dehoniano não ama somente o Cristo e não serve somente o Cristo. Serve-o nos irmãos. Não segue a máxima “Eu e meu Jesus”. Sua máxima é “Ir ao Povo” para que todos possam viver o “Jesus em nós”. “O “meu Jesus” torna-se para ele” nosso Jesus”.

Num mundo dominado pelo crasso individualismo que tomou conta até mesmo das igrejas, é um alivio ouvir de 45 jovens em votos perpétuos que eles entenderam isso: carregarão a própria cruz e as de outros, serão pobres, castos, obedientes, desprendidos, irão ao povo e trabalharão até à velhice sem reclamar do peso da cruz. E se as coisas ficarem pesadas e difíceis não abandonarão o barco em busca de embarcações e portos mais atraentes. Conseguirão? A graça de Deus ajuda! Foi esta graça que eles pediram naquela noite!



PASTORAL DO COPO DE ÁGUA

Rebeca foi escolhida ao dar de beber aos camelos do servo de Isaque. ( Gn 24,14-24 )A samaritana foi convertida por causa de um gole de água. (Jo 4,7) Jesus provavelmente tinha sede quando pediu àquela mulher de outro povo, de outra religião e de outros costumes que lhe desse um pouco de água. Ela não negou, mas achou estranho que um homem judeu falasse com ela, que era samaritana. Ele e não ela estava transgredindo um costume.

E daí? O mesmo homem que lhe pediu água e conversou longamente com ela, também colheu ( Mt 12,1-8) e curou em dia de sábado( Mt 12, 10-13) e quebrou diversas tradições que não faziam mais sentido, enquanto conservou as que ainda tinham sua razão de ser. Por isso disse que se ela soubesse quem ele era, sedenta como era de afeto, iria pedir da água que ele tinha. A mulher já tivera cinco homens e estava no seu sexto companheiro De conversa em conversa ele a convenceu, sem humilhá-la, sem ofender, sem diminuir, sem perder a gentileza. Ela podia ter seus pecados, mas era sincera. Falava a verdade e era boa de conversa. Mostrava franqueza, não mentiu e mostrou que sabia ouvir Fanática ela não era!. Sabia ver valor nos outros. Por isso, foi possível dialogar. Fanáticos, mentirosos e manipuladores que nunca sustentam suas promessas e que se acham os donos da situação, tornam difícil qualquer diálogo. Com Herodes Jesus ficou calado. Não havia verdade no rei. Com Pilatos, falou claro, com os fariseus teve debates intensos, mas com a samaritana foi amistoso, sincero e franco. Ela o fez por merecer. Abriu-lhe o coração.

A conversa foi longa e boa. Tão boa que ela deixou o cântaro lá no poço. e foi buscar gente para conhecer Jesus. Aquilo, sim é que era conversar! Devia ser uma mulher bonita e com alguma liderança. Afinal, encantara seis homens e ali, no ato, trouxe muita gente até Jesus. É de se supor que tenha mudado de vida. Jesus não fazia o trabalho pela metade. Se alguém o acolhia, ele convertia. Forçar, nunca! Ela mostrou-se receptiva e Jesus a recebeu no Reino...

E pensar que tudo começou com um pouco de água á beira de um poço.A água e a conversa mudaram aquela mulher influente. Jesus diria mais tarde que um copo de água dado em seu nome não ficaria sem recompensa. No caso dela, não ficou!

Aprendamos com Jesus a lidar com pessoas de comportamento diferente do nosso,.e com gente que crê e pensa de maneira diferente da nossa. Ternura, franqueza, diálogo, gentileza! Um bom lembrete aos que desejam participar da pastoral da acolhida e da visitação. Jesus começou pedindo ajuda; só depois ofereceu a dele! Teríamos a mesma humildade ?...



O DIREITO QUE NÃO TEMOS

A pessoa humana tem muitíssimos direitos. Praticamente, mais direitos do que deveres. O primeiro dos direitos é o direito à vida. Podemos e devemos lutar por todos os nossos direitos, mais inda, quando se trata do direito de viver. Adendos e anexos a ele estão os direitos de viver em paz, com relativo conforto, num lar e numa casa digna, com liberdade responsável e com o mínimo necessário para uma vida digna. Isso pode nos levar a lutar por mais escolas, mais asfalto, mais água, mais luz e esgoto, terra para plantar, preços mais acessíveis, menos juros, mais segurança, direito de associação, direito de ir e vir, direito de crer, direito de falar, direito de discordar.

Mas há, segundo a Igreja, direitos que não temos, por causa dos direitos que o outro tem. Por isso mesmo, não existe o direito de matar. O motivo é mais do que óbvio. Se todos têm o direito de viver, então ninguém tem o direito de matar, nem o Estado. Pode isolar o cidadão numa prisão, por causa do mal que fez ou pretende fazer. Não pode prende-lo, só porque discorda. Mas, matar, nunca! Somos contra a pena de morte. E somos contra esta pena, não somente para os adultos; ela também se estende ao embrião e ao feto humano. Não temos nem mesmo o direito de matar um embrião, que não parece humano, mas é um futuro adulto.

Quando as mulheres descobrem que estão grávidas vão ao médico, não porque têm uma excrescência indesejável, ou um tumor dentro do seu útero e, sim, porque uma vida se manifestou dentro delas. Pararam de menstruar e foram ter certeza. Diferente da vida delas esta nova vida começou a dar sinais. Mais do que algo, alguém diferente aconteceu no seu corpo. O pequeno intruso pode ter ou não ter sido planejado, mas, a partir daquele momento, a mulher tem deveres que não tinha antes. Toda mulher tem o direito de ser ou não ser mãe, desde que não mate nenhuma vida por este seu direito. Vale dizer que a mulher tem o direito de não conceber ou de conceber, mas, uma vez concebida uma vida, acabou o seu direito de não ser mãe, porque esse direito vai significar a morte da vida que dentro dela começou.

Há direitos que não temos. O piloto, em geral, não é dono nem do avião que pilota, e certamente não o é dos passageiros que entraram no avião que ele comanda. Não viu os rostos, nem sabe os nomes de quem ele vai levar ao destino por eles escolhido. Seu direito de ser piloto a partir da entrada dos passageiros no avião, se transforma em dever. Levá-los, sãos e salvos, ao seu destino. Mulher é como piloto. A vida que se formou nela, não importa como tenha entrado, não lhe pertence. Goste ou não goste, deve levá-la ao nascimento, porque aquela vida não tem culpa do que aconteceu no útero dela.

A Igreja Católica que ultimamente virou saco de pancadaria em certo tipo de mídia e é duramente criticada por sua posição inflexível contra o aborto, faz o que faz porque acha que matar é um direito que não temos. É contra o aborto, pela mesma razão que a faz ser contra a pena de morte. Gostaríamos de nos livrar, de uma vez por todas, de certas pessoas incômodas, mas não podemos. Mesmo assassinas, elas possuem o direito de viver. Se matarmos um assassino, a não ser na hora da agressão e em legitima defesa, faremos o que ele fez com outros e nos tornaremos como ele. Se matarmos um feto, este sim, sempre indefeso, faremos a mesma coisa que fez o assassino: decidiu eliminar alguém porque achava seu objetivo maior do que esta vida humana. Demos o nome que dermos ao nosso ato, o fato é um só: matamos uma vida que se formava dentro de uma mulher. Não era um tumor. Era um futuro ser humano! Simplesmente, não temos tal direito!



OBEDECER CEGAMENTE

Aqueles monges que não obedeceram ao seu líder na neve e usaram da inteligência, salvaram-se, exatamente porque o desobedeceram e porque raciocinaram. Tinham saído com seus cães em socorro de seis viajantes presos numa borrasca. Conheciam o terreno e sempre faziam isso. Mas foram surpreendidos, também eles, por outra tempestade. Seu líder, alterado, garantiu que tinha tido um sonho e que o Senhor durante a noite lhe mostrara um novo caminho. Se todos o obedecessem, todos se salvariam. Teriam que confiar nele! Não confiaram. Profetas, às vezes falam estranho, mas dá para ver quando é profecia e quando é histeria. Ele partiu sozinho e nunca mais foi visto. Eles seguiram o caminho que conheciam e salvaram-se, e aos outros, a quem tinham ido resgatar.

O Papa João Paulo II na sua Encíclica Fides et Ratio fala dessa necessidade de crer e confiar, mas sem perder a lucidez. Fé tem que ser refletida. Obediência obsequiosa de quem sabe dos riscos e das chances é sinal de fé inteligente. Obediência cega, de quem não raciocina e apenas cumpre ordens é burrice. Não é porque o profeta acertou algumas vezes, que acertará sempre. Há uma enorme diferença entre jogar as redes ao comando de Jesus e jogá-las ao comando de alguém que disse que Jesus falou com ele. As igrejas cristãs estão cheias de lideres e fundadores, pregadores e profetas que acertaram algumas vezes e erraram muitas outras. E já teve muitos líderes histéricos que pareciam sábios, mas não eram. Conseguiram tamanha fidelidade dos seus seguidores, que esses abdicaram do uso da razão e esqueceram que só Deus é infalível e confiável. Nenhum homem é redentor a esse ponto! (Sl 49,7) Montano e Donaciano foram dois exemplos.

Profetas, muitas vezes erram. Obediência cega a eles nem sempre é o mesmo que obediência a Deus. Já começa pelo erro do profeta em exigir tal obediência em nome de Deus. É seu primeiro sinal de histeria. Eles vendem o peixe como se fosse a mesma coisa, mas não é. Maria questionou e o anjo teve que explicar. (Lc 1,29) O que ele está querendo dizer? Que tipo de saudação era aquela? (Lc 1,34) Tudo muito bonito, mas eu sou virgem! Finalmente, ela disse ao anjo: “- Que seja como você está falando!” (Cf Lc 1,38) Pareceu razoável. Mais tarde se diz que ela (Lc 2,19) guardava aqueles acontecimentos no coração. Isto é: raciocinava! Raciocinou nas bodas de Caná (Jo 2,1-6) e, mesmo Jesus tendo dito que não era assunto dele e dela, foi em frente. Não foi profecia que o Pai soprou nos seus ouvidos. Ela usou a cabeça e os conhecimentos que tinha sobre o Filho. Não precisou que um anjo lhe aparecesse nem fez uso disso. Se fizesse parte de algumas igrejas pentecostais ou grupos católicos de hoje talvez viesse com a frase:- Deus está me dizendo que vocês devem ir ao meu Filho e fazer o que ele mandar! De repente tudo vira visão, revelação e Deus sopra tudo. Maria sabia a hora da inspiração do céu e a hora do uso puro e simples da sua linda cabeça de mulher. Deus não lhe soprava tudo! Não era uma vida tipo Deus me diz. Deus não diz tudo nem sopra tudo, e Maria sabia disso. Tinha mesmo é que raciocinar e isso ela fazia muito bem.

E foi a sua reflexão que a fez agir. Jesus a atendeu. O mesmo Jesus também aplaudiu a fé reflexiva da mulher de Canaã, (Mt 15,21) e a reflexão do centurião. (Mt 8,5) Eles contradisseram Jesus. Não aceitaram cegamente o que Jesus dissera, exatamente porque tinham fé e suas conclusões lhes permitiam questioná-lo. Ao invés de censurá-los por não terem demonstrado confiança cega, Jesus os aplaudiu! Freqüentemente ele mandava os discípulos raciocinarem e questionar os acontecimentos Chegou a perguntar uma vez se não tinham cabeça para pensar! (Mt 16,9) Porque não entenderam? Não eram inteligentes para perceber que Ele estava falando de pão, mas da malicia que crescia no coração dos fariseus? Obedientes cegos acabam com a mente obtusa porque deixam ao seu líder a tarefa de pensar. Foi isso que os mais de 800 seguidores do pastor Jim Jones fizeram nas Guianas há mais de 30 anos atrás. Não perceberam que ele estava histérico. Confiaram cegamente. Ele os matou a todos.

Está em curso um tipo de comportamento em algumas igrejas pentecostais e dento da Igreja Católica, que aponta como virtude, a obediência cega aos líderes. Até casamento o líder arranja a ponto de decidir quem casa com quem e em que lugar do mundo. Acreditam que Deus diz a ele onde está a sua alma gêmea. Casam ao comando do santo deles sem nunca ter visto a pessoa. Para que namorar se nosso santo diz que vai dar certo?

Consideram-no profeta ou consagrado e imune de erro. Se ele diz que Deus lhes pediu determinada coisa, não questionam. Vão e fazem. E ai de quem discordar do profeta deles. Passam a vê-lo com maus olhos. O menor adjetivo que acham para ele é o de invejoso. E o cristão só estava querendo que pensassem. Aprenderam que discordar é pecar contra a unidade. Não aprenderam que seguir ou dar ordens estapafúrdias também é pecar contra a unidade. O líder que acerta em muitas coisas pode estar errado em algumas. Moisés disse que Deus mandou matar 3.000 idólatras (Ex 33,27-28). Estranhamente seu irmão Arão foi poupado quando foi ele quem construiu o bezerro de ouro. (Ex 32,2-5) Deus certamente não dá esse tipo de ordem. Quem a cumpriu tornou-se cúmplice do erro do profeta. Elias, após haver humilhado e derrotado os sacerdotes de Baal (1 Rs 18,40 ) deu a estranha ordem de matá-los. Seus adeptos mataram 450 deles. Deus não fazia, nem faz tal coisa! Se aqueles adeptos tivessem questionado o momento infeliz daquele profeta, teriam ajudado os profetas a reconsiderar sua ordem e poupado muitas vidas. Mas eram adeptos da obediência cega. Erraram com o profeta.

Que os obedientes cegos de agora aprendam a questionar os seus profetas. Eles nem sempre acertam, nem é Jesus que está pedindo aquilo que eles dizem que deve ser feito. Se querem errar em nome de Deus, que errem sozinhos. Os evangelhos e a Igreja são maiores do que ele! Jesus( Mt 24,24) manda tomar cuidado com profetas que sabem tudo. Tais profetas não existem. Merecem respeito, mas devem ser questionados quando suas ordens certamente vão prejudicar outras pessoas e outros irmãos e grupos da mesma Igreja! Mais fé com mais razão. Lamentavelmente a última tem faltado em algumas comunidades! Tem incenso demais naqueles encontros. E não estão indo só para Deus!

Pe. ZEZINHO scj

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Artigos - 17 de Fevereiro

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PALAVRAS IRRESPONSÁVEIS

Ser preciso e cuidadoso nas palavras é uma obrigação de quem prega, escreve ou conduz o povo. Por mais cuidadosos que sejamos, podemos errar e erramos. Pior ainda, quando a pessoa não se importa de preparar o que diz e, então, fala ao sabor do momento. E alguns ainda caluniam o Espírito Santo, dizendo que foi ele quem mandou dizer aquilo...

Foi o que aconteceu com aquela jornalista de algum lugar interior que, escrevendo uma matéria sobre os santos venerados pelos católicos, descartou tudo o que o teólogo dissera sobre veneração e adoração e saiu-se com duas gafes comprometedoras: - O teólogo disse que a questão dos santos é uma questão venérea, e que o culto de idolatria se refere a Deus.

Outro jornalista de revista grande e conceituada, entrevistando um padre, conhecido como bom e criterioso catequista, sobre o porquê dos novos santos canonizados pelo papa, ouviu do padre a frase: - A Igreja precisa de heróis e modelos da fé, tanto quanto um país precisa de modelos e de heróis da pátria, para motivar a cidadania. O jornalista assim se expressou: - O padre afirma que a Igreja precisa de ídolos para motivar o povo, por isso cultiva a adoração dos santos. O estrago foi avassalador. O padre foi chamado pelo bispo. Felizmente, havia gravado a entrevista. A revista não se retratou. Foi preciso a diocese explicar, na rádio e no jornal diocesano, o que realmente fora dito. Naquela cidade agora se sabe que a tal revista famosa deturpa gravemente os entrevistados. Acabou a admiração pela revista. Diminuiu o número de assinantes.

Pior fez o padre que, um pouco antes do Pai Nosso, disse que Jesus estava lhe dizendo que satanás estava, naquela missa, tentando gravemente uma pessoa da assembléia. Ninguém se manifestou. Ele, então invocou a presença de São Miguel Arcanjo para que, com a sua espada luminosa, que expulsou Lúcifer do Paraíso Celeste, expulsasse aquele demônio.

Palavras imaturas, a) primeiro, porque não é permitido interromper uma missa para trazer revelações particulares de quem quer que seja. b) falou de maneira vaga, sem provar que realmente alguém ali estava possesso. Abusou da boa fé do povo c) falou, sem provar, que Jesus realmente lhe falara d) chamou São Miguel, um arcanjo para salvar alguém, que supostamente estava sendo tentado por um suposto demônio, quando, segundo a nossa fé, Jesus já estava ali no altar. Por acaso Jesus tem menos poder do que Miguel Arcanjo? Tendo Jesus ao lado, será preciso chamar um anjo com sua espada luminosa?

Outro, radialista, após entrevistar um psiquiatra, que com uma equipe da Universidade estudava o drama da pedofilia na internet e tratava pessoas na sua clínica, disse: - Acabamos de entrevistar o psiquiatra e pedófilo Doutor Soares. O psiquiatra pediu meia hora para explicar o que significavam as palavras pediatra, pedófilo, pedagogo. Mas o mal estava feito. O dono da emissora despediu o apresentador pedindo desculpas pelo acontecido. Palavras fáceis e bonitas nem sempre são corretamente usadas.

Convém que pregadores, jornalistas e pessoas que falam ao povo tenham um dicionário por perto. Uma palavra mal usada pode prejudicar meses de trabalho e até a reputação das pessoas. Quem acha que Deus sopra todas as palavras, enganou-se. Ele também abençoou quem escreveu os dicionários e as gramáticas. É questão de consultá-los e anotar o que se vai dizer e o que o outro disse. Dizem que improviso rima com falta de juízo. Na maioria das vezes, rima!





O SÉCULO PASSSADO

Formigas vivem dentro da montanha sem saber nem o tamanho dela, nem onde se situam.
Pássaros a sobrevoam, conhecem seus detalhes e situam-se nela.
Vivi 59 anos dentro do século XX, sobrevoei-o com todas as asas que pude conseguir e não gostei do que vi. Foi um século marcado por grandes conquistas e grandes descobertas, mas o que fez com uma das mãos derrubou com a outra.
Poderia ter sido mais igual, mas não quis. Se quis, não conseguiu!
O homem nunca se mostrou tão inteligente, interventor e transformador e nunca também tão paradoxal, tão estúpido e tão demolidor. Quando daqui a dois ou dez séculos contarem a história do século XX provavelmente o chamarão de século egoísta e sombrio. A cada luz que alguém acendeu, alguém criou uma sombra!




GRAÇA ARMAZENADA

Duas chuvas prolongadas trouxeram um aguaceiro no sertão. Na fazenda Galo Preto aquelas águas se perderam, porque não havia sistema de captação. Na Fazenda Uricoró foram inteiramente aproveitadas. Sobrou água para o ano inteiro. Souberam armazenar.

É assim a graça de Deus. Uma parte, Deus manda. Depois, pode acontecer de não caírem tantas graças. A outra parte depende de nós. Se soubermos armazenar a graça recebida hoje teremos com o que nos abastecer amanhã. Não devemos esperar que chova no sertão toda a vez que alguém precisar de água. Não devemos esperar que Deus derrame suas graças toda a vez que precisarmos delas. Um dia ouviremos a voz de Deus a nos dizer: - “O que você fez com as graças copiosas que eu já lhe dei? Porque as desperdiçou?

É disso que falava São Paulo na sua carta aos Romanos,5,20 a Timóteo ( 1 Tm 1,14) Ela é abundante. Que a graça de Deus não caia em vão sobre nós. Temos que aproveitá-la( 2 Cor 6,1) Façamos com que ela renda, consoante a parábola dos talentos narrada por Jesus ( Mt 25,14-30) Aprendamos a armazená-la. Maria fez isso. Armazenava tudo no coração. Não desperdiçou nenhuma experiência ao lado de seu filho. Não deixou passar e ensinou a não deixar passar. ( Lc 12,19 )

Quem capta água de chuva, porque fez a sua parte, terá frutos, flores e pastagens. Quem deixa perder, fica pedindo que Deus mande outra chuva. Pede o milagre da hora, quando o milagre já veio há meses, mas não foi aproveitado! Façamos como o dono da Fazenda Uricoró. Ter chuva duas vezes por ano depende da estação e do céu. Ter água o ano inteiro depende da sabedoria de quem soube armazenar! Não é muito diferente com a graça de Deus. Armazenemo-la, porque virão dias de canícula!...




INCLUSIVE AS CRIANÇAS

Os bandidos de ontem, que não alegavam defender nenhum país, nenhuma ideologia ou nenhuma religião, às vezes torturavam crianças. Mas sempre houve no mundo inteiro, entre os malfeitores uma lei tácita: crianças, não! A palavra “assassino” veio do Século X, originária dos seguidores de um pregador Assaz, na Arábia. Em dado momento seu ódio político religioso se fez tanto que decidiram que era certo matar qualquer um que impedisse seus projetos, pelas costas, a facadas, a pauladas, família toda, tudo era válido. A Bíblia diz que Herodes fez a mesma coisa. Os hebreus também fizeram.

O ódio enlouquece. O ódio político, mais ainda. O ódio político religioso vai mil vezes mais longe. É capaz de pedir a bênção de Deus para rasgar uma criança no meio. Alguém com três grandes motivos mata qualquer um: em nome de seu ódio, em nome de seu país e em nome de sua fé. O que fizeram recentemente aqueles guerrilheiros tchetchenos foi e tem sido feito com enorme freqüência contra o Líbano de ontem, contra a Armênia nos inícios do século 20, contra os Kolkoses na Rússia, contra os judeus na Alemanha, entre os Tutsi e Watusis na África, em Israel e na Palestina. Não se olhava nem a idade nem o tamanho. A ordem era exterminar, como se extermina os ratos adultos e seus filhotes. Basta que seja rato. Filhote ou não, tem que morrer!

Aí o desatino. Agem como animais furiosos e declaram que todo e qualquer grupo que e eles se oponha é rato, serpente, demônio. Deve ser derrotado e deve morrer. O próximo passo depois de declarar que alguém não tem a luz é situá-lo nas trevas e no inferno. Logo: são auxiliares do demônio. No seu cérebro que já não raciocina, senão em função da sua vitória, para o terrorista motivado pela política e pela religião errada, tudo é demônio, tudo é maligno, tudo o que não reza pela sua cartilha, precisa ser derrotado. Os fariseus que eram fanáticos decidiram que Jesus tinha o demônio. Viram seus milagres e decidiram que vinham do demônio pronto! Tinham o pretexto e a uma justificativa para matá-lo.

Os terroristas de agora seguem o mesmo raciocínio e fazem o mesmo. Acham licito matar, torturar crianças e velhinhos e explodir os outros, porque os outros são maus e eles são bons. Não que necessariamente os outros sejam anjos, mas, de repente, a covardia os ajuda. Não conseguindo vencer o inimigo que tem vasto arsenal, usam da traição, imitam Assaz e tornam-se conscientemente assassinos. Acham que Deus quer que matem. Tomam como reféns as crianças e as mulheres para atingir os outros. Alegam que os outros fizeram o mesmo.

Essa pregação de vencedores em Cristo é extremamente dúbia, como a dos vencedores por Alá ou por Javé. Poder ser muito bonita se aplicada à caridade. Mas na cabeça de muitos crentes ou políticos, vencer muitas vezes não significa vencer-se e sim derrotar os outros. Ouçamos atentamente o que tais pregadores dizem, dia após dia. Leiamos as manchetes de suas publicações. Quando não conseguem dar nenhum elogio à outra igreja, ou a quem não é do seu grupo; quando escondem ou diminuem o sucesso dos outros; quando mostram sempre o seu lado bom e jamais o lado bom de outros povos, outros regimes ou outros grupos podemos esperar futuros terroristas no Ocidente e no Oriente. Alguns deles, motivados por sua religião exclusivista e excludente. Todos os jardins têm flores e ervas daninhas. Às vezes, as ervas daninhas vencem... Já viu o tamanho de algumas urtigas? O mundo tem caminhado para isso. Infelizmente!



VINDE, VEDE, IDE

Jesus era um pedagogo. O melhor! Usou de sinais, mas deu primazia ao conteúdo das palavras no anúncio do Reino. Quando começou este anúncio e se aproximou dos primeiros discípulos conquistou-os, não por milagres ou marketing á base de sinais e frases de efeito ou afirmações bombásticas. Encantou-os o seu diálogo, o tempo que passou com eles, suas explicações e sua catequese de presença inteligente e amiga. A Natanael, conquistou com seu humor e até com sua fina ironia. Seu jeito de explicar as coisas encantou a André, a Pedro e a João, à samaritana, ao político Nicodemos e ao povo, que dizia “Esse aí fala com autoridade”... Para a maioria, bastava sua pregação. Era suficiente para crerem.

Fica, pois, bem mais claro o seu uso das palavras eu vim, eu vou, ide! Poderíamos resumir a missão de Jesus nessas palavras “Vim, vou, vai” Explicou centenas de vezes de quem ele veio e para quem iria. Deixou claro centenas de vezes que estava preparando os discípulos para irem ao povo, ao mundo e, mais tarde, ao Pai. “Ir” é um verbo fortíssimo na pregação de Jesus. E ele fez isso. Ia de aldeia em aldeia, às vezes já de madrugada, anunciar o Reino. Estava sempre em movimento e imprimiu isso nos doze. Ide, dois a dois... Ide a aldeia. Ide preparar. Seu ultimo “ide” foi : “Ide ao mundo inteiro...” Missionário é aquele que vai, nem que seja como Santa Terezinha, padroeira das missões, que não foi lá fisicamente, mas estava lá em espírito e em preces. Sua cabeça pensava nos outros.

O que teria acontecido se Madre Tereza e Dom Helder ou João Paulo II não tivessem ido? Como teria sido a sorte dos enfermos no tempo de São Camilo se ele não tivesse ido? Se ninguém vai lá chamar , como esperamos que eles venham? Por isso diz a Bíblia que são bonitos pés de quem vai anunciar a boa nova. Não caiamos na tentação de achar que falar na mídia, que é uma forma de ir, já é o suficiente. O reino de Deus não pode viver só do virtual. É preciso presença física. O Filho de Deus fez isso. “E-manu-el” Deus conosco fez “shekinah” montou sua tenda entre nós !

No mês das missões vale a pena pensar nessa verdade. Crer sem ir ao outro é crer pela metade. Experimente irrigar sua horta pela metade e verá o que vai acontecer...


Pe. ZEZINHO scj


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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Entrevista - Pe. Zezinho analisa a televisão no Brasil

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PE. ZEZINHO ANALISA A TELEVISÃO NO BRASIL


A palavra de Deus não pode ser aprisionada ( 2 Tm 2,9)
Prega a palavra , insiste , quer agrade, quer desagrade. ( 2 Tm 4,3)



RZ : Em 2002 a revista, Carta Capital de 06.03.02 fez uma reportagem de peso sobre a Televisão, dizendo que ela ia de mal a pior no Brasil. Como o Sr. Avalia, hoje, o nível da televisão no Brasil?

Pe. Zezinho- Acho que a televisão brasileira é criativa, tem um bom desempenho tecnológico, é altamente intuitiva, faz muito depressa as adaptações necessárias nesse veículo tão ágil. Como um todo, ela é muito inteligente. Eu jamais poderia ser contra a televisão, porque ela é uma das maravilhas do mundo moderno. A minha objeção vai na linha do texto de Carta Capital, assinado por Mauricio Stycer, se não me engano. Eu também li e mostrei aos meus alunos. É a certos tipos de programas e de programadores. Eu jamais combateria a televisão como se fosse algo do demônio. Não é. É algo de Deus. Mas lá dentro há programas e pessoas que transformaram a televisão num caça- níqueis a qualquer preço moral, psicológico e social. Então deturparam o verdadeiro objetivo da televisão.


R.Z : Gosta do veículo, mas não de todos os seus condutores...

Pe Zezinho : Minha crítica é aos programadores e a alguns dos programas, não todos. Há programas de altíssimo nível na televisão brasileira e eu tiro o chapéu para esses repórteres e programadores. A gente pode se sentir orgulhoso desses programas, mas também podemos sentir vergonha de outros. Como um todo eu daria uma nota boa para a televisão brasileira, descontando esses programas.


R Z- Muitos religiosos acusam a televisão, dizendo que ela tornou-se vulgar...

Pe. Zezinho- Não só os religiosos. Há jornalistas, psicólogos, advogados e juízes dizendo a mesma coisa. E, o importante, pais e mães de família que sabem o que tais cenas causam nos seus filhos. De repente é chocante uma mãe te que discutir com a filha de 16 anos porque esta insiste em dançar na varanda da casa aos olhos de quem passa como Carla Peres e em usar na rua um shortinho como o da dançarina super aplaudida na mídia. As mães não querem as filhas fazendo aqueles gestos lascivos, Quem ensinou isso? A TV.


RZ: Mesmo assim, a TV é uma boa escola ?

Pe Zezinho : Há bons programas . Infelizmente temos que nos policiar, porque ela não se policia. Criticar tudo é errado, mas apoiar essas vulgaridades é abdicar do papel de pregador da fé. Por isso elogio no que devo e critico no que devo, como cidadão e como sacerdote e evito aceitar convites para programas onde se ridiculariza a pessoa humana, onde se expõe sem razão alguma a nudez humana e o erotismo e se mostra com leviandade a violência. Não tenho medo de ser chamado de conservador por isso. Prefiro ser progressista do meu jeito, no que realmente entendo como progresso. Acho que explorar a nudez, a violência ou a dor humana é retrocesso. Como cidadão, escolho aonde quero ir e que programas quero ver. Não estou julgando ninguém. Estou apenas usando meu direito de ir e vir e de ir ou não ir. Não sou obrigado a ir à televisão. Nenhum contrato me obriga a isso. Irei se quiser. Ligo, se quiser.


RZ: O que responde quando alguém como o Ratinho no ar o censura por não querer ir lá?

Pe Zezinho : Soube ele fez isso anos atrás quando outros padres iam lá. Acho que foi uma só vez. Estava no seu papel. Almoçaria tranqüilamente com o sr. Carlos Massa, mas não iria ao programa do seu personagem Ratinho. Ele sabe disso. Esses dias (13.12.04) ele pegou um pênis eletrônico e o levou às mulheres presentes no auditório para que o tocassem. O programa, como está arquitetado, não servia e ainda não serve para mim, que hoje não daria mais ibope, como naqueles dias. Ir lá seria o mesmo de dizer que concordo com aquele esquema. Poderia fazer o mesmo bem que ele diz que faz para os pobres, sem falar o que fala, do jeito que fala e com aqueles gestos absurdos que incluem atos como aquele que descrevi.

Acho que tenho o direito de escolher meu púlpito. Corro o risco de não ter ninguém para me ver, enquanto quem vai lá tem milhões de pessoas. Mas tenho 38 anos de viagens ininterruptas pelo mundo. Acabo de voltar da China e a perspectiva de falar a pouca gente não me assusta. Já fiz isso. Também já falei para milhões. O que não acho certo é ir aonde não me derem condições de dizer o que penso.


RZ: Não seria o caso de a Igreja valorizar os programas populares, mesmo com alguns exageros?

Pe Zezinho : Se fossem só alguns eu iria, mas são freqüentes e são muitos. Jogam com isso! Faço uma distinção entre divulgar, popularizar e vulgarizar. A linha que separa essas práticas é tênue. Na televisão brasileira observa-se isso com clareza. O vulgar tomou o lugar do popular em muitos programas populares. Vulgus em latim seria o povão, as pessoas anônimas. Popularizar seria tornar algo acessível aos que não tiveram acesso a certo grau de ensino e de cultura. Mas não é porque o povo não estudou, que tem que agüentar a falta de arte ou a baixaria de certos programas, que repetem o tempo todo as mesmas piadas grosseiras os mesmo chavões, os mesmos requebros, as mesmas danças e as mesmas pessoas repetindo vinte palavras iguais o tempo todo.

De tanto mostrarem e divulgarem seus corpos seminus, muitas mulheres caíram no vulgar: Vulgarizaram o que é bonito e é sempre especial. A vulgarização venceu a divulgação e a popularização. Mostra-se muita coisa sem nenhum intuito cultural. É o que muita gente está chamando de cultura do lixo. Nem sequer tomam o cuidado de reciclar.


R Z- Alguns programas de televisão exageram na vulgaridade?

Pe. Zezinho- Sem dúvida. Isso, porque ‘aparecer’ tornou-se uma palavra importante no mundo, depois que aconteceu a televisão. Estão chamando a isso de “evasão de privacidade” . Muita gente vai lá sem ter o que mostrar ou o que dizer. Vai para aparecer e ser vista, porque, ganhando visibilidade talvez cheguem aonde querem. Há cantoras e atrizes que jogam com isso. Estão sempre na mídia, porque estão sempre trocando de namorado e sendo vistas em situação de desafio. Algumas cantoras e cantores, para ganhar visibilidade, escolhem uma dança erótica ou a nudez. Não hesitam em provocar escândalo, desde que isso venda seu disco. Eu disse alguns porque há os que cantam com enorme dignidade e grande amor pela arte. Mas é próprio da vulgaridade aparecer, mesmo sem ter o que dizer ou mostrar. Isso também pode acontecer na religião. Há um jeito popular e um jeito vulgar de pregar a palavra de Deus. Infelizmente há!


R Z- O sr. é a favor de algum tipo de censura à televisão?

Pe. Zezinho- Sou a favor de que as escolas, as famílias e as igrejas promovam uma censura a partir do povo e mentalizar as pessoas para desligarem aquele botão, ou procurar outro canal. Sou a favor de criar a mentalidade de não aceitar lixo na porta da nossa casa. Eu acho que a TV não é culpada de produzir o lixo. O lixo já existe fora dela. Mas a televisão se comporta como um caminhoneiro que foi incumbido de transportar algumas coisas atravessando a cidade. O que era aproveitável e bom, deveria levar ao destino certo, os dejetos ele deveria despejar diretamente no lixão. Só que o caminhoneiro inverteu as coisas. Jogou o lixo nas portas das casas e acabou dando pouca importância às coisas boas. Eu penso que às vezes a TV age mais como lixeiro que enlouqueceu. Quando a televisão não distingue mais entre lixo e produto de primeira qualidade, já perdeu sua função de divertir e informar.


RZ: Mas não há igrejas jogando com o mesmo vale-tudo e o mesmo sensacionalismo?

Pe Zezinho : Vulgarizar a fé com milagres falsos e ameaças de diabo e inferno também é lixo. Dizer que dor de cabeça, vômito e resfriado é coisa do demônio é lixo. E quando o povo não sabe escolher entre o que é bom e o que é lixo, é sinal de que não foi preparado para fazer a opção. Não estamos, no Brasil, educando o telespectador para controlar a televisão. O telespectador precisa entender que nós é que temos o controle: não eles. Para sobreviver, eles precisam dos institutos de pesquisa tipo Vox Populi ou Ibope e, se nós deixássemos de assistir a esses programas, eles nos obedeceriam. Inverteu-se a ordem: quem deveria mandar na televisão era o povo, mas é a televisão que está mandando no povo.


R Z- E o conteúdo das novelas? É raro um sacerdote que opine em favor .

Pe. Zezinho- Nem tudo é ruim. Mas é verdade que há novelas que atentam contra a moral cristã. Começo citando uma novela que fez muito sucesso, Terra Nostra. Deveria ter se chamado ‘Troca-Troca Nostro’ (risos), porque lá todo mundo ficou com todo mundo. O que também é uma inverdade, porque, no início do século, a moral era muito rígida e essas coisas não aconteciam com tanta freqüência. Portanto, a novela pintou um quadro moral errado da época e estava impingindo às pessoas uma falsa cultura, porque não traduzia como foi, de fato, a vida dos primeiros imigrantes italianos, seja em São Paulo, seja nas colônias. Eles tinham uma moral muito rígida. E a impressão que davam, no ‘Troca-Troca Nostro’, é que a moral era totalmente devassa. Portanto está prestando um desserviço à história e aos primeiros italianos que aqui vieram. Diga-se o mesmo de A Padroeira e O Quinto dos Infernos. O povo simples acaba pensando que naquele tempo era tudo dissoluto e devasso.


RZ: Fizeram isso para ter mais audiência ou porque querem pregar uma nova moral ?

Pe Zezinho : Isso eu não saberia dizer . Teríamos que perguntar aos autores. A televisão, as novelas, de um modo geral, transmitem uma mensagem subliminar que influencia. Vimos há poucos anos todas as adolescentes dançarem como Carla Perez, ou com o “É o Tchan”, vestirem-se como suas atrizes preferidas e decidirem qual é o ator mais bonito do momento. Adolescentes de 15 anos eram expostos à dança e aos movimentos eróticos de uma atriz de mais de 20 anos como Tiazinha e Feiticeira, como prêmio por terem acertado uma pergunta. Isso está longe de tudo o que se entende por pedagogia. É a mais crassa inversão de valores que há. Eu me pergunto se há algum outro país onde isso acontece. Como prêmio por saber uma verdade o adolescente podia ver as nádegas de uma professorinha. Querem convencer a quem de que isso não influencia os adolescentes? A campanha contra a baixaria na televisão começou muito tarde. Deveria ter vindo há 20 anos atrás.


RZ: No seu entender há programas que criam costumes errados.

Pe Zezinho : Isso. Por mais que digam que não e que apenas retratam , eles criam. As escolas não fazem isso que a TV faz. Oferecer como naquele tempo uma Feiticeira e uma Tiazinha como prêmio não é retratar, muito menos ensinar. É criar comportamento errado. Cria expectativa, faz a cabeça, faz o sentimento e, às vezes, cria modismos. Essa estória de dizer que a televisão apenas reflete a realidade não é verdade. Ela cria. E é culpada sim. Voltemos à estória do lixo. Ela não faz o lixo, mas distribui. Tem tanta culpa como quem fez. Ela cria emoções falsas, cria necessidades falsas e leva ao pecado intencionalmente. Torno a dizer: nem todos os programas. A televisão tem um pouco de santo e outro de diabo.


R Z- As novelas retratam com fidelidade a figura do padre?

Pe. Zezinho- A novela traduz o ideário dos seus escritores. A maioria deles raramente teve convivência com o clero. Se teve, às vezes foi negativa. Então eles jogam para o cenário nacional o conceito que eles têm do padre. Não é o conceito que o povo tem do padre. Mas, com o tempo, acaba pegando. Acontece o mesmo com os pastores ou com os muçulmanos. Há sempre os dois elementos o bom e o mau. De repente passam a idéia de que pastor corre atrás de dinheiro e de que padre corre atrás de mulheres; ou, ainda, que é um indefinido, um sujeito confuso que não é totalmente homem e que não é totalmente pecador. A idéia que passam é que não existem valores. Passam a idéia de que o valor supremo é a mudança, é o desafio. Realmente a proposta básica da maioria das novelas é atéia e amoral, mesmo que tenha alguns personagens que falam de Deus. E é claro que não podemos aceitar isso.


RZ: Ela desafia a família ?

Pe Zezinho : A seqüência de novelas dos últimos anos mostra que sim. Ela destrói sistematicamente os valores cristãos sobre família e sobre sexualidade. Os casais desajustados são sempre em maior número do que os casais felizes. Você imagine os males que a televisão causa fazendo isso durante 40 anos. O púlpito deslocou-se da igreja para aquela câmera de televisão e os pregadores não são mais os padres; são os artistas. Os formadores de opinião não são mais os teólogos; são os escritores de novela. O evangelista de ontem é o novelista de hoje. Mas o novelista de hoje não anuncia um novo reino, nem Jesus e, sim uma nova liberdade. A Televisão está virando uma espécie de religião no Brasil. Ela decide que tipo de padre mostrar e que tipo de fé retratar. Já falamos disso!


Fonte:

http://www.padrezezinhoscj.com/interna.php?id_menu=8&id_noticia=496


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Artigos - 01 de Fevereiro

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POVO TEIMOSO

Gente teimosa aquele teu povo, hein Pai? Sujeito teimoso, tinhoso aquele Moisés. Grande povo, grande profeta! Mas eles tinham lá os seus deslizes, Senhor. E como tinham!
O Senhor veio daquele povo lindo, maravilhoso, apaixonado pela idéia do Deus único. Governado por uma fé forte, mas confusa fizeram muita coisa errada em teu nome, como hoje muitos pregadores o fazem, mentindo para fazer adeptos e prometendo o que não podem prometer.
Sofriam a tentação de procurar outros deuses. Moisés tentava liderar, e o fazia com forca, a ponto de mandar matar num só dia três mil deles... Isso, depois que o Senhor os havia perdoado. Fé forte, mas confusa, a de Moisés!
Assim mesmo, eu tento entendê-lo. Eram tempos violentos e a cabeça deles era a de guerreiros. E ele era um general. Até o nome dizia isso: Is-ra-el: o homem que brigou com Deus... Moisés errou feio, mas aceitava aprender e mudar! E mudou!
Quando eu for par ao céu, e espero que por tua misericórdia eu me converta antes de ir, o primeiro abraço espiritual que eu vou dar claro que é no Senhor, mas depois um dos meus primeiros abraços espirituais vai ser para o Moisés, outro no Paulo, outro em Pedro, outro em Francisco!
Que profetas! Que homens santos e que pecados arrependidos. É verdade que Moisés mandou matar, mas foi punido por isto e se arrependeu. Seu povo era violento como alguns povos de hoje, Senhor!
Quero paz para mim! Quero aprender com os erros e acertos dos teus profetas!
Mas, no fim, espero que eu seja mais um dos santos que preferiam dar a própria vida, do que tirar a dos outros.
Evangeliza-me Senhor!
Educa-me para a PAZ!


IMAGINEMOS MARIA

Falo a você que crê que Jesus salva e que ele já levou bolhões de pessoas para o céu. Levou também, Maria, sua santa mãe. Se alguma religião ensinasse que ele ainda não conseguiu levar nem a própria mãe, tal religião estaria negando, ou o poder intercessor de Jesus e o valor da sua vitória sobre a morte, ou a santidade e a pureza de Maria.

Nem eu nem você sabemos como era Maria. Então temos que imaginar como era em Nazaré e como é hoje no céu. E é bem aí que precisamos tomar cuidado com a nossa imaginação. Não podemos colocar Maria nem acima, nem abaixo do lugar dela no Reino de Deus. Não podemos imaginá-la nem além, nem aquém do que a nossa Igreja ensina Não podemos inventar recados que ela não deu, palavras que ela não disse nem diria, aparições que não aconteceram. Videntes erram e, não poucas vezes,. Também.os sacerdotes que os aconselham. Alguém pode amar muito a Jesus e á sua mãe e, levado pelo entusiasmo, criar visões que não aconteceram. Muita gente já fez isso, para depois admitir que estava iludida. Não era a mãe de Jesus. Igreja percebeu que era engano desse ou dessa fiel

Por isso , se você garante que a vê e que ela lhe fala e, se a ama de verdade, não dê nenhum recado que acha que ouviu dela, sem primeiro consultar mais de um sacerdote. De preferência ouça um do seu grupo e outro de fora. O fato é tão sério que convém ouvir ainda um terceiro, indicado pelo bispo da diocese. Que os três tenham uma boa bagagem teológica e uma boa experiência pastoral. Não devem ser muito jovens. Se, de quebra, puder conversar com um psicólogo católico, faça isso.

Porque dou este conselho?. Porque tenho lido, visto e ouvido muita gente dar recados em nome de Maria, sem o conhecimento dos sacerdotes e dos bispos. A grande maioria sabe pouco de bíblia, de catecismo e de História da Igreja. Talvez por isso ande repetindo o que a Igreja já condenou e questionou no passado.

Nós, católicos, temos dezenas de escritos oficiais sobre Maria e o seu papel na nossa Igreja e no cristianismo. Mas temos também, circulando entre o povo milhares de folhetos e panfletos de irmãos e irmãs que dizem que Maria mandou publicar aquilo. Se não estão brincando de videntes e parecem assim tão certos de estarem ouvindo Maria, então que se deixem analisar por gente tão ou mais séria do que eles, que também não está brincando de ser bispo, teólogo ou pároco! Imaginemos Maria , sim, mas aceitando os limites propostos pela nossa Igreja e pelo Santo Livro. Você tem ouvido ultimamente algumas pregações sobre Maria? Alguns a diminuem e outros a super-exaltam. E tudo o que ela quer é o respeito que certamente ela merece. Que tal lermos o que a Igreja disse sobre ela desde l950? Pelo menos é um discurso mais atual! Entre as palavras de um piedoso livro do século XVI e as do Vaticano II, mais as dos papas do século XX qual delas você divulgaria? Ou aquilo tudo foi pensado e escrito para depois agirmos como se nada tivesse sido dito sobre Maria nos últimos 50 anos?


SÉCULO CRUEL

Mais de cem guerras. Mais de cem milhões de mortos. Lênin, Stálin, Hitler, Enver Oxxa, Che Guevara, Tito, Fidel Castro, Franco, Pinochet, Trumann, Papa Doc, Idi Amin, Pol Pot, Mao Zedong, Mussolini, Ho Chi Min, Mobutu...
Torturas, massacres, violência, holocausto, bombas atômicas, medo, terrorismo.
Esquerda, direita, maniqueísmo, nacionalismo, nazismo, fascismo, liberalismo, consumismo, capitalismo, individualismo, egoísmo, terrorismo, imediatismo, fundamentalismo, petróleo, protecionismo.
Meu carro, minha casa, minha geladeira, meu telefone, meu computador, meu Jesus, meu país, minha Igreja, meu banco, meu dinheiro, meu lucro, minha cocaína, meus direitos, minha liberdade. Eu...
` Meu sexo, meu corpo, minha libido, minha pornografia, meu direito de abortar, meu direito de mostrar oi que quiser minha liberdade, meu Cristo, meu Deus! Tudo meu!
Minha terra, minha água, meu rio, meu poço. Desperdício, desmatamento, poluição, aprendiz de feiticeiro, lixo, sujeira, morte a longo prazo, lucro, lucro, lucro, lucro, lucro...
Fome, miséria, indiferença, opressão, empobrecimento, invasões, ricos x pobres, vale tudo da mídia, do comércio e da indústria, preços supervalorizados, idolatria da liberdade e do lucro. Crasso materialismo.
Foi um século cruel este século XX. Pôs riquezas imensas nas mãos de uns poucos e impediu que os pobres subissem ou melhorassem, a não ser que pagassem pedágio aos ricos. Outros séculos fizeram isso, mas este o fez com uma impiedade sem limite. Nunca o mundo teve anta riqueza em mãos. Nunca ela se concentrou tanto em tão poucas mãos, apesar de toda a conversa de progresso e democracia. De cada 6 habitantes do planeta só dois têm casa, conforto, água, esgoto, comida, roupa, escola e veículos para irem e voltarem. As riquezas que saíram da casa dos ricos ficaram no pátio deles. Não chegaram muito longe. É que precisavam, também na casinha do pátio o conforto que tinham no palácio. Gastaram o que sobrava consigo mesmos!


ÓTICA DE PREGADOR

Pregadores de religião traem, sermão após sermão, o mundo em que vivem. Eles! Não necessariamente os seus ouvintes. Se lêem pouco e apenas um tipo de leitura, este conhecimento unilateral vai aparecer no seu discurso. Se não lêem quase nada, Deus “vai lhes dizer” a maioria das coisas que dirão naquele momento. Chamam a Deus em socorro da sua falta de estudo e de busca pela Palavra de Deus, ou do seu desprezo pela cultura do mundo, que está lá nos livros sérios, de pensadores sérios.
Se a cabeça do pregador vive num buraco ou numa selva escura, onde a luz só entra uma ou duas horas por dia, o pregador terá um discurso de alma sôfrega, palavras repletas de assombrações, cheia de soluções rápidas, imediatas, ali, na hora, misteriosas e imediatistas. Deus quer agora, Deus está me dizendo. Eu sinto que ... Encherá os seus fiéis de respostas prontas e mágicas, típicas de quem não quer nada complicado. Seu discurso lembrará os livros e filmes de terror, onde, a cada beco pode surgir um demônio ou uma alma penada. Prega certezas e garante tudo em nome de Jesus, porque lhe falta mais leitura e as luzes da esperança. A esperança é sempre mais trabalhosa do que a certeza. A esperança faz pensar e leva a buscar soluções. A certeza já vem com respostas prontas. Deus mandou você fazer isso. Faça e não discuta! Não questione! Aceite Jesus. Só não acrescentam a frase que está subentendida : do jeito que eu estou mostrando a você...
Se lesse de verdade o Santo Livro, veria que nem tudo tem solução rápida e que não basta dizer Senhor, Senhor, erguer as mãos e usar o nome de Jesus para expulsar qualquer demônio ( ) que, às vezes nem é demônio e nem sempre ele vai embora. Uma coisa é o demônio real e outro o de televisão. Religião é muito mais do que apontar uma lanterna contra um ângulo escuro e pedir que os ouvintes nos sigam.
Se o pregador vive numa colina, onde a luz brilha doze a quinze horas por dia, vai ser um pregador de luzes. Seu discurso será o de um homem esperançoso, a semear esperança e a ensinar seu povo a caminhar. Provavelmente, mais do que apontar sua lanterna para um canto escuro, ensinará os fiéis a irem lá e abrirem aquelas janelas, também em nome de Jesus!
Algumas afirmações de pregadores de hoje mostram que formação receberam e que livros andaram lendo. Quando um pregador pentecostal diz que todos ali na enorme assembléia “estão com encosto, só que ele ainda não se manifestou”, mostra o que ele pensa da presença do demônio no mundo e nas almas. Está dizendo que, até na assembléia de batizados e convertidos, que já se entregaram a Jesus naquela igreja, as sombras continuam onipotentes e o espaço continua ocupado pelo demônio. Imagine, então, o que ele pensa dos que não são da sua igreja!
Quando o pregador católico pede a Deus que mande se arcanjo Miguel expulsar os demônios daquela assembléia, está dizendo que os demônios estão lá naquela missa. Tem o Santo Livro e a eucaristia nas mãos e, assim mesmo, pede que Miguel venha com sua espada expulsar os demônios. O texto da missa nem toca no assunto, mas ele não perde a chance de incluir anjos e demônios na celebração. Não lhe basta a liturgia do dia e o que a Igreja oferece a todos os fiéis do mundo. Tem que ter a sua pitadinha de demonologia, senão não é missa de libertação. Age como se não achasse que toda a missa é libertadora. Não foi Jesus quem disse para termos confiança que ele venceu o mundo?( ) Não estamos no Novo Testamento? ( ) Não foi São Paulo que mandou os fieis deixarem para traz as coisas de criança? ( 1 Cor 13,11; 1 Cor 3,2) Não é para isso que existe a Eucaristia? Então, de onde saiu aquele São Miguel guerreiro? De onde aqueles demônios? Não basta Jesus, se é que aquelas coisas são demônios?
Pregadores ao abrir a boca mostram o que andam ou não andam lendo. Um bom número de pregadores da mídia religiosa mostra que sabe das coisas. Mas há muitos que não sabem e acham que não precisam saber. Afinal. Deus é seu roteirista. Ele lhes diz o que devem dizer naquela hora. Mas, pelo que andam dizendo, tem gente atrás daquele ponto passando-se por Deus. Mensagem de Deus é que não é!


SÉCULO PASSADO

Formigas vivem dentro da montanha sem saber nem o tamanho dela, nem onde se situam. Pássaros a sobrevoam, conhecem seus detalhes e situam-se nela.

Vivi 59 anos dentro do século XX, sobrevoei-o com todas as asas que pude conseguir e não gostei do que vi. Foi um século marcado por grandes conquistas e grandes descobertas, mas o que fez com uma das mãos derrubou com a outra.

Poderia ter sido mais igual, mas não quis. Se quis, não conseguiu!

O homem nunca se mostrou tão inteligente, interventor e transformador e nunca também tão paradoxal, tão estúpido e tão demolidor. Quando daqui a dois ou dez séculos contarem a história do século XX provavelmente o chamarão de século egoísta e sombrio. A cada luz que alguém acendeu, alguém criou uma sombra! Nunca se matou tanta gente como neste período da História. E muitos dos assassinos foram gente que se dizia cristã, civilizada e moderna. Tinham explicação para aquelas bombas, aquelas torturas e aqueles massacres.

Mais de 300 milhões de pessoas ou morreram ou perderam seus bens e tiveram que ir embora de seu país e de sua terra. Alguns paises como Rússia e China esmagaram vinte a trinta milhões de pessoas. Justificavam isso em nome da revolução e dos novos tempos.

Tinha tudo para se comunicar melhor porque foi um século de altíssimo progresso e altíssima tecnologia. Criou a internet e o celular que tornou possível as pessoas se comunicarem em qualquer lugar com qualquer pessoa. Mas mesmo depois dessa descoberta jogaram suas bombas sobre quem não tinha os tais aparelhos e contra quem os tinha, mas não aceitaria usa-lo para esse tipo de diálogo. Os mesmo sinais que serviam para falar serviram para explodir bombas. Aviões que serviam para levar pessoas pacatas ao encontro de suas famílias foram desviados e usados como bombas incandescentes para destruir o WTC. E quem fez isso morrendo junto achou que ia para o céu. Quem deu a idéia deve ter orado agradecido a Deus que o ajudou a cometer este ato de barbárie. E já era começo do século 21. Continuam explodindo trens, navios e ônibus.

Aprendemos que uma coisa é ser mais esperto e inteligente e outra é ser mais misericordioso. O século XX e o XXI não parecem saber a diferença!


Pe. ZEZINHO, scj

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