sábado, 18 de dezembro de 2010

Novo Livro: Um Rosto Para Jesus Cristo

Um rosto para Jesus Cristo: "E vós, quem dizeis que Eu sou?"

A pressa de converter pessoas leva a um Cristo urgente e redesenhado que termina em caricatura.




Quem foi Jesus Cristo? Qual seria sua aparência? Qual o significado histórico e religioso de sua vida e ensinamentos? As imagens retratadas nas igrejas ou aquilo que ouvimos falar dele correspondem a uma figura histórica ou a um personagem imaginado? Como agiria ele hoje? Além do Jesus que imaginamos, existe outro que estava e está além da nossa imaginação? Onde encontrá-lo?

Pe. Zezinho, scj, foi à fonte do saber aprendido nos livros e com os doutores em cristologia e teologia e nos oferece Um rosto para Jesus Cristo - Subsídios para uma catequese de atitudes. Provocadora, a obra nos faz pensar sobre a doutrina que seguimos e o anúncio que fazemos como povo de Deus, e sugere uma redescoberta do rosto histórico do Cristo, que, de tanto ser pintado e retocado nos templos, nas ruas e na mídia, está cada dia mais irreconhecível.

Aqueles que se dedicam a estudos especializados sobre Jesus analisam-no sob variados pontos de vista, buscando responder a estas e outras questões, a partir do perfil que os evangelistas e as primeiras comunidades cristãs apresentaram com base na forma como pensavam a fé. O que temos a disposição, portanto, são as conclusões dos estudiosos e os relatos da Bíblia. E se é impossível voltar ao passado, também não é necessário ser um teólogo ou cristólogo para conhecer Jesus.

Grande questionador sobre o que diz e o que se faz em nome de Jesus, Padre Zezinho quer, com mais esta obra, permitir que os simples e os que não leem livros acadêmicos consigam chegar mais perto da teologia vivida por grandes pensadores. Quer despertar o interesse pelo estudo da cristologia e tentar restaurar uma imagem que foi sendo deturpada ao longo dos vinte séculos de cristianismo e por muitas pregações vazias ou afirmações que não correspondem ao que dizem os Evangelhos e as Epístolas. Em seu entender, Cristo merece ser mais conhecido e estudado para que se possa vivê-lo melhor.


Título: Um rosto para Jesus Cristo - Subsídios para uma catequese de atitudes - 2
Autor: José Fernandes de Oliveira - Pe. Zezinho, scj
Paulinas Editora
Coleção: Catequista e Aprendiz
Formato: 15,0 x 23,0
Páginas: 544
Preço: R$ 35,60
Código: 518050
ISBN: 9788535627268



Sala de Imprensa
Paulinas Editora
Joana Fátima, Taís González e Roberta Molina
www.paulinas.org.br/imprensa
imprensa@paulinas.com.br

Fonte: Site Paulinas

sábado, 30 de outubro de 2010

Artigos - 18 de Outubro




O FATO É QUE O FETO MORRE

Profecia de profeta pequeno às vezes repercute. Entre 760 a 750 a.C., o colono Amós não era nem dos grandes nem dos de maior ressonância. Nem sequer era visto como profeta. E admitiu que não era! Mas profetizou e ousou questionar o rei Jeroboão II e o reino de Israel, que ia bem e em franca ascensão política e econômica.

Economicamente ia bem, moralmente, ia mal. A violência das ruas não era devidamente combatida e subjugada. o desperdício corria solto. Mas os pobres recebiam as migalhas. Foi esta opção errada que Amós combateu por dez anos. Deve ter repercutido, porque depois dele veio Oseias e depois dos dois veio a queda fragorosa do reino em 722 a.C. Faltou ética ao reino que enriquecera! Não havia voluntários para defender a pátria. O leitor fará bem se ler aquele livro.

Entre as graves questões morais do Brasil, assoberbado por inúmeras outras questões de ética, estão as maneiras como aqui se trata o dinheiro e a vida. A Igreja católica chamou a isso de “civilização de morte”.Joga-se fora o dinheiro do povo, o verde e as águas, milhões de vidas animais e também milhões de fetos indesejados. Desmata-se, mata-se, poluem se águas e ares e poluem também o amor. Fica-se com o prazer do sexo mas não com o dever do filho.

A sociedade, na sua maioria cristã, foi dura contra os políticos ficha suja. Agora, a reação é contra os políticos e partidos pró-aborto. E não se diga que católicos, evangélicos e espíritas não têm o direito de brigar e influenciar o voto de seus fiéis sobre esta grave questão. Brigar pela vida também é cidadania. Nós achamos que o feto é um ser humano vivo em formação. Se querem uma lei que permita extraí-los com todo o direito a nós outorgado pela Constituição nós reagimos contra legisladores e governantes que pretendem permitir que o feto seja morto. Se para eles o Deus não é autor da vida e o feto não é um ser humano, para nós é. Sendo maioria reagimos com a arma do voto.

Erram o que caluniam o candidato. Acertam os que o pressionam para nem pense em assinar leis que permitam a morte do feto. Em troca não falta quem nos acuse de ultrapassados e trogloditas. Mas achamos que troglodita é quem passa leis em favor da morte de um incapaz. Desqualificar o outro lado como ultrapassado é uma das armas no jogo político do pode-não-pode, deixa-nãodeixa, crime-não-crime!

Quando um partido põe no seu programa o apoio ao aborto chamando-o eufemisticamente de assistência médica, nada mais natural que numa democracia grupos de poder reajam ante este outro grupo de poder. Argumentam em favor da saúde da mulher grávida que não deseja ser mãe. Vale dizer: apoiam a saúde da mulher mais do que a vida do feto que ela não quer. São escolhas! No seu apoio à grávida que deseja abortar, o partido está dizendo que, já que ela o fará, que o faça de maneira assistida e com assepsia! Os religiosos dizem que uma vez concebido o feto tem direito à vida, tanto quanto a mulher tem direito à saúde!

Amós estava certo. Quando um povo aceita a morte de uma vida pequena e indesejada, acabará sacramentando a morte de qualquer vida indesejada. Aquela sociedade vira civilização de morte, na qual é permitido eliminar vidas que poderão trazer algum problema! Ao defender a saúde da mulher querem aborto com qualidade de vida; mas o fato é que o feto morre!


MUDAR DE RELIGIÃO

O filho de um amigo meu, levado por sua devoção a esposa, mudou de religião. Incidentemente os dois têm nome de santo católico! Numa conversa informal que um dia tivemos, ele disse que estava mais feliz agora, mas que admirava o fato de eu também ser feliz, felicidade que atribuo a minha Igreja e que ele agora atribui a Igreja da qual faz parte. Conversa vai, conversa vem... eu lhe disse:

- “Sua mãe, que já morreu, agora tem certeza sobre Deus e sobre ela mesma. Creio que ela está no céu pertinho de Deus, no colo dele. Quando eu morrer, terei certezas muito maiores do que tenho hoje, porque estarei, espero eu, no colo de Deus. Quando você morrer também descobrirá quem esteve mais certo neste mundo: sua mãe, eu, você, sua esposa, o povo da nova religião que você adotou ou os da religião da qual você saiu para não ter conflitos com a esposa. Agora, só podemos ter fé e viver desta fé. Você resolveu vivê-la numa outra Igreja e eu continuo vivendo na minha que, para mim, é mais do que mãe e é mais do que suficiente”.

A conversa mudou para outros temas e nos despedimos civilizadamente com chá vermelho e torrada. Quando se é civilizado, é bem assim que se faz. Lá no céu saberemos quem esteve certo. Aqui vivemos de procuras. Quem acha que achou, continue! Quem acha que não achou, continue também! Em algum lugar haverá verdade suficiente para a gente ser feliz, sempre na caridade, porque sem esta, nenhuma verdade vale a pena.


Pe. Zezinho, scj

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domingo, 17 de outubro de 2010

Artigos - 11 de Outubro



ATORES NUS

A Igreja deve comentar fatos que afetam a sociedade no que tange à moral e à cidadania. Jornalistas, atores e advogados opinam. Também a Igreja o faz. A notícia de jornais do Recife, do dia 8 de setembro passado, falava de ator e atriz reprimidos pela polícia e de um tumulto que terminou por levar a atriz a um hospital. Estavam nus na rua para concluir as cenas de um filme. Diz o jornal que foram devidamente autorizados e atuavam sem biombos. Atrizes famosas também já posaram nuas e sem autorização. Não é novidade na nova moral do Brasil. Alguns podem e outros, não! Se for arte, pode!
Correto? Basta alguém em autoridade permitir para, por conseguinte um casal posar nu diante das casas, em plena rua? Se consultados, os moradores consentiriam? Têm os moradores o direito de opinar ou não? Por acaso os das artes e da mídia têm mais direito do que os demais cidadãos? E onde está escrito na Constituição que, com licença de autoridades, alguém pode ficar nu, ou expor-se em trajes menores nas avenidas? É possível delegar tal poder a uma ou duas pessoas, que decidem passando por cima das duas mil que moram naquela rua e, lá, criam filhos? Decência, que não é determinada por voto ou por multidão, pode ser determinada por uma ou duas pessoas?
Ficar nu na rua sem motivo é proibido, mas, se for para um filme, é permitido? Vale tudo pela arte? Não teriam que isolar a cena com biombos? Que liberdade é essa que permite um diretor de filmes e artistas fazer algo contra a opinião de toda uma rua? Quem tem um texto como pretexto pode?
E, por acaso, tecer estas reflexões é coisa de retrógrado? Por que não seria retrógrado quem passa por cima de uma comunidade e impõe sua moral a respeito do corpo? Andam criticando padres e pastores por imporem a moral cristã à sociedade, mas não estão eles impondo a própria, e de maneira mais acintosa?
Ou aquilo tudo foi jogo de cena para divulgar o filme e vendê-lo antes de concluí-lo? Não é o que faz um tipo de marketing? Recentemente um cidadão com sinais de alcoolismo ficou nu diante dar um templo. A policia o prendeu. Se alguém viesse alguém atrás dele com carro de filmagem e ele mostrasse um papel, o acinte seria menor? Se há limites para a repressão, não haverá para as artes e para os religiosos quando vão às ruas? Pode-se queimar os livros dos outros e chutar as imagens alheias em público? Se não pode, por que se permite que alguém desafie costumes que são caros a uma comunidade? Perguntas, perguntas, perguntas!


AS NOVAS DITOCRACIAS

Os povos nem sempre escolhem e, muitas vezes, quando escolhem acabam escolhendo errado. Existem democracias plenas, democracias insuficientes, ditaduras e ditocracias. Nas democracias plenas todo mundo pode falar, mas as instituições são suficientemente fortes para se enfrentarem e chegarem a um equilíbrio. Nas democracias frágeis, grupos de poder político ou de poder econômico, acabam impondo sua vontade e fazendo o povo crer que escolheu, quando, na verdade, dançou ante o poder imenso de marketing e de mídia dos grupos de poder.

Nas ditaduras não há nem conversa; não se vota, não se elege e o povo tem que aceitar a decisão dos poucos que se apoderaram do poder. As modernas ditocracias entendem que há que haver o mínimo de democracia para um país se sentir motivado, mas há que haver um certo controle para que, o que foi feito não seja desfeito pela próxima gestão. Então, aparece a figura do ditador democrata; permite eleições e até as manipula; permite certa liberdade, mas não o direito de o outro grupo voltar ao poder. Se o poder for trocado de mãos, que o seja para alguém de linha semelhante de pensamento.

Nesses países, duas direitas podem se suceder, duas esquerdas podem se suceder, mas se a esquerda estiver no poder, impedirá por todos os meios que a direita volte e, se a direita governar, fará de tudo para que a esquerda não vença. Isso explica porque, em umas democracias latino-americanas, optou-se pela ditocracia. Não dá para dizer que esses líderes são ditadores plenos, mas também não dá para dizer que são plenamente democratas. Resta ver o que o povo quer. O povo muito provavelmente votará com o estômago e com algum dinheirinho na conta. Se o novo governo lhe deu condições de acesso ao alimento e algum dinheiro na conta, esse governo será indefinidamente reeleito, porque o povo sempre acreditará que, depois disso, virá a casa, escola e mais oportunidade. O mínimo dos mínimos este governo lhe deu.

Na verdade a América Latina está vivendo essa experiência do mínimo dos mínimos e os governos que finalmente o patrocinaram têm mais chance do que aqueles que nem este mínimo necessário conseguiram fazer. As elites acabam se curvando ao fato de que tem para elas e tem para os pobres e até se tornam disponíveis e dispostas a colaborar. Chamemos a elas de democracias fortes ou de ditaduras suaves ou ainda ditocracias, algumas delas fundamentadas num só homem, outras numa linha de trabalho e de pensamento como parece ser a do Brasil. Com elites mais estruturadas e mais organizadas, como escola que embora falha têm dado cérebros ao país e com sindicalistas e trabalhadores que percebem a vantagem do diálogo, o Brasil consegue remar apesar dos partidos pouco sólidos.

Boa parte da população prefere que haja congresso, câmara e eleições. Estamos vacinados contra salvadores da pátria e ditadores, mas estamos, também, vacinados contra partidos pusilânimes, interesseiros e corruptos. O Brasil pode até dar certo e chegar à democracia sem cair na ditocracia, coisa que parece não ter acontecido com nossos vizinhos. Isto, a menos que algum aventureiro tente o caminho do PRI mexicano. Melhor é dialogar. Quanto ao congresso e a câmara dos deputados, existem as urnas e é melhor que os mal acostumados ao poder comecem a ter medo delas. São milhões os que não querem voltar ao ontem, mas não querem, também, embarcar em qualquer futuro. De repente, o Brasil pode até dar certo muito mais cedo do que imaginávamos. Isto, se superarmos a cultura dos conchavos!


COM CHAVEZ E CONCHAVOS

Falar de política no Brasil é falar do momento. Os ferrenhos adversários de ontem de repente podem ser os grandes aliados de hoje. Uma coisa é costurar uniões e outra, alinhavar sem profundidade e sem fidelidade conchavos que quase sempre ignoram o sentir do povo.

À pergunta sobre se o Brasil está cansado de alinhavos e conchavos se responde com um sonoro sim. O Brasil quer uma democracia mais forte, mais transparente e, já que inventou a urna eletrônica onde, num só dia, tudo é decidido, somado e computado, cabe ao Brasil criar também dispositivos rápidos e ágeis de livrar-se desses parasitas do poder que se agarram a partidos nos quais não acreditam e pregam uma democracia na qual também não acreditam.

O Brasil do “leve vantagem com você também” parece estar mudando. As eleições ainda nos assustam pelo tipo de candidatos que os partidos nos apresentam, mas aí depende do povo rejeitá-los. Viajei o suficiente para saber que o povo simples não vai votar só por causa do bolsa-família ou de cestas básicas. Isto vai contar na hora do voto, mas não é isto o que vai decidir. O que o povo quer é uma continuidade de ações que favoreçam o avô, o pai, a mãe e os filhos; vale dizer: água, luz, alimento, escola e chance de emprego. Os governos estaduais que conseguiram melhorar isso têm muito mais confiabilidade e muito mais chance de permanecer no poder. Só a cantilena de oposição parece não convencer mais o povo, da mesma forma que as promessas de mudanças também não convencem.

Ele quer saber se o governo atual fez alguma coisa; se fez está disposto a lhe dar mais uma chance; se não fez, vai certamente buscar uma nova possibilidade. Portanto, quem está no governo, trate de dar o mínimo necessário ao povo e fugir dos conchavos, porque os conchavos sugam o que seria o mínimo necessário do povo. Não há oposição que possa a vida inteira boicotar um governo. Ela acaba caindo descrédito e o seu discurso se tornara enfadonho. Quem pensa que o povo gosta de governo ou de oposição está enganado. O povo gosta é de ações concretas e ele já descobriu que conversa de oposição é conversa; promessa de futuro governo é promessa.

Hoje o povo faz as contas e vota de maneira pragmática; não vota em quem promete mais, nem em quem grita mais. Olha para a estrada que está chegando a sua cidade, para a água, a luz, o esgoto e para a escolinha dos seus filhos; olha para a geladeira, para a dispensa e sabe se alguma coisa melhorou ou piorou e, então, ele vai e vota. Ao que tudo indica a política está deixando de ser discurso. Eles dão risada dos discursos altissonantes dos eternos candidatos de ontem, auto-exaltações de políticos empoleirados no poder há séculos. Mas está cada dia mais claro que é preciso enquadrar os partidos, para que não permitam mais em suas fileiras os canastrões, os picaretas e os eternos aventureiros e aproveitadores. Afinal, votamos em quem os partidos indicam e, se eles indicam tais candidatos ruins, não esperem merecer respeito. O país continua precisado de uma verdadeira reforma partidária. Quem não a quer são as velhas raposas!


MANIPULADORES DA VERDADE

Melhor é não citar nomes, mas o leitor talvez os conheça. Na febre de provar que estavam certos não foram um nem dois nem dez cientistas que manipularam números, fatos e entrevistas. Mais tarde, cientistas sérios os desautorizaram provando que haviam deturpado alguns dados para receberem prêmios, vender livros ou disseminar suas teses. Foi vergonhoso para eles e para a ciência. História, sexualidade, genética e psicologia perderam com isso, porque os dados falsificados não foram detectados nem corrigidos em tempo. A vaidade venceu o pesquisador. Eles sabiam que estavam apressando suas conclusões. Laboratórios fizeram o mesmo com graves consequências para os pacientes. A fórmula não fora suficientemente testada. A talidomida foi apenas um dos muitos nebulosos casos de fármacos vendidos sem os devidos estudos.

Também não foram um, nem dois, nem dez religiosos que na ânsia de fazer adeptos, deturparam a Bíblia ou descreveram visões que não aconteceram e mensagens que nunca receberam do céu. Mentiam e sabiam que mentiam. Mesmo assim usaram o nome de Deus em vão. Deus nunca lhes disse o que disseram que Deus lhes havia dito. Mas arrebanharam milhões de fiéis com sua manipulação de mensagens e de milagres.

Famosa é a frase de Jeremias, 650 anos antes de Cristo. (Jr 14,14) E disse-me o SENHOR: Os profetas profetizam falsamente no meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração são o que eles vos profetizam. Jesus também alerta contra eles em Mateus 24,24-26 Surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Estou avisando de antemão. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais. Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis (Mt 24, 24)

Religião, mercado, pregação, marketing estão sujeitos a indivíduos. Os sérios dão credibilidade aos fatos e se limitam a eles. Os ávidos por sucesso, dinheiro ou vitória não hesitam em mentir e deturpar. Hesíodo, cerca de 800 a.C, Jeremias 650 a.C., o próprio Cristo, Paulo, Pedro alertam contra este perigo.

Ninguém de nós está livre da tentação de mudar os fatos para que nossas teorias vençam, ou para que vença a nossa fé e a nossa Igreja. Alguns até o fazem com sinceridade. Realmente não conheciam os detalhes. Mas há aqueles que Jesus chama de abutres (Mt 24,28) trabalham com a carcaça da verdade! Matam-na e trabalham com o cadáver da verdade assassinada.


UM POUCO MAIS DE ASCESE

Por ascese entende-se subida. Vem do verbo latino ascendere : subir, elevar-se. Daí, as palavras ascensor, ascensão. Em linguagem religiosa subentende a busca de valores mais elevados, abandono do materialismo, do individualismo, da busca desenfreada de coisas, bens, dinheiro, fama, conforto, acúmulos. O asceta vive do suficiente, às vezes até na penúria, sempre por escolha pessoal. Sua vida é cada dia menos “eu” e cada vez mais “Deus e o povo.” Por causa das pessoas, sua pessoa se torna cada vez menos saliente. Nunca se põe em primeiro, não busca a preeminência, não cultiva marketing pessoal, aparece o menos possível, é simples, não persegue bens ou riquezas, tem vida frugal, aceita o desconforto, não acumula, nada do que tem é seu e , se tem, coloca a serviço dos outros.
O contrário do asceta é o sujeito maciota, o mauricinho ou o maurição. Super bem produzido, evidente, sonha caro, cobra caro, viaja de primeira classe, vai e vem de jatinho, melhores marcas, melhores carros, melhores perfumes, melhores países, melhores restaurantes, melhores academias, melhores vinhos, melhores roupas, melhores lugares, muito...muito dinheiro e tudo de bem-bom e, se possível, o melhor do melhor. Ele acha que merece! Renúncia, partilha, ascese não são para ele. Não nasceu para poder ter e escolher não ter. Se puder ter, vai ter. Seu argumento é que, se ninguém aspirasse a ter mais e ser mais, o mundo ainda estaria na idade da pedra.
De conseqüência, Jesus, Paulo, Agostinho, Jerônimo, Thomás de Aquino, Francisco e Clara, milhões de sábios, estudiosos, monges e ascetas não valem como atores do progresso... Religiosos de ontem e de hoje que enveredam pela não ascese correm o risco do ter mais para ser mais e até conseguem, porque o mundo admira quem cresce, enriquece e aparece. Mas há sempre um depois que dinheiro não compra.
Na era da imagem, a visibilidade é fundamental. E visibilidade supõe um tipo de ascensão que inclui muito dinheiro e muito poder. Bacanas não almoçam nem jantam com marmotas... Tem que ter status para transitar em altas rodas. E, para transitar em altas rodas, o discurso tem que ser o do empreendedor-vencedor. Na era da comunicação imediata, os lentos e os devagar não contam. Monges e ascetas servem para momentos de espiritualidade, mas que sejam apenas momentos... Um piquenique espiritual de vez em quando vai bem, como férias num SPA!... Mas isso de viver partilhando, servindo, buscando o essencial, é para uns poucos. O mundo precisa de quem cria, gera empregos e movimenta a economia. Ascetas e hippies servem como peça de museu, ou como bichos de zoológico! Bons de ver; nunca de se ter em casa! Não cabem mais!
A moderna pregação da teologia da prosperidade não poucas vezes passa por esta vertente. Este é o seu discurso: ter mais para levar mais Deus. Dizem que pobre não avança! Garantem que Deus nos quer empreendedores e ricos! Se, tanto pobreza quanto riqueza, ora escravizam e ora libertam, então eles escolhem a riqueza que liberta... Garantem que são mais felizes com muito dinheiro no banco do que quando não tinham nada. Ouça-os no rádio! Não disfarçam seu gosto por luxo e dinheiro. Até fazem piada contra quem escolheu ser pobre!
Seu discurso destoa do de Jesus. Mas, pragmáticos como são, garantem que, se Jesus vivesse hoje, não diria o que disse naqueles dias de aldeias e desemprego generalizado. Jesus criaria emprego e desejo de subir na vida. Estaria mais para capitalista caridoso do que para socialista irado que exige partilha à força.... E talvez estejam certos. Jesus não seria ditador de esquerda nem de direita. Mas reduzem-no a teórico da mais valia! Em resumo, aquele Jesus ainda é, mas aquele cristianismo já era!
Mas, atenção! Este é apenas o penúltimo capítulo desse tipo de púlpito. É de se ver o que acontecerá já nos começos do capítulo final. Nele, parece que é o asceta quem deixa pegadas!... Os caríssimos sapatos dos profetas do ter mais para ser mais, por sua insustentável leveza, apesar da exclusividade da marca, em geral não deixam marcas. As sandálias franciscanas são as que mais tempo duram...


Pe. Zezinho, scj

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Show dos 50 anos da Paulinas

Serão mais de duas horas relembrando sucessos que marcaram época e mostrando os novos estilos da música religiosa no País.



Poucas são as gravadoras que conseguem se manter no mercado por meio século. Só esse fato já justifica o show que Paulinas-COMEP vem preparando para comemorar sua trajetória desde que iniciou atividades no meio musical, nos idos de 1960. Some-se a isso o elenco de grandes nomes que a gravadora arregimentou durante todo esse tempo e tem-se um show para fazer história - com gravação ao vivo de CD e DVD.

Marcado para o dia 16 de outubro (sábado), no Via Funchal, na capital paulistana, com início previsto para 19h, o mega show promete ser o ápice das comemorações, que tiveram início com celebração eucarística na Basílica de Aparecida, no último 6 de março. Serão mais de duas horas de muita música relembrando sucessos dessas cinco décadas e apresentando novos estilos e ritmos do segmento.

Mais eclética que nunca, a gravadora já tem confirmadas as presenças de compositores e intérpretes, muitos dos quais revelados por Paulinas e que fizeram e fazem a história de nossa música católica, dentro e fora do País. Primeiro artista da casa e pioneiro em música-mensagem no Brasil, padre Zezinho, scj, promete o ar da graça. Já estão confirmados ícones veteranos como Zé Vicente, Antonio Cardoso, Jonny, Ziza Fernandes, Adriana e padre Fábio de Melo. Da nova “safra” da gravadora, destaques para a jovem Mariani e Hemerson Jean.

Bandas tradicionais também prometem prestigiar o evento: Vida Reluz, Ministério Adoração e Vida, Banda Louvor e Glória, Cantores de Deus, Grupo Ir ao Povo, Typ Vox e o coral infantil Grupo Musical Ir. Tecla Merlo. Paulinas-COMEP tem investido, ainda, em opções para os adeptos da música popular instrumental. Como representante do estilo, Bruno Moritz promete encantar com o som contemporâneo do acordeom brasileiro.

Disposta a renovar o repertório de estilos e cair de vez no gosto também do público jovem, Paulinas-COMEP tem buscado bandas e nomes desconhecidos. A exigência é que apresentem propostas inovadoras no anúncio do Evangelho por meio da música. Os DJ’s do ElectroCristo foram os precursores dessa abertura, seguidos pelo pop rock da Banda Via 33 e pela batida pesada do rock do Ceremonya. Agora, todos juntos, prometem apresentar aos fãs os novos caminhos da evangelização por meio da música.


Serviço:
Paulinas-COMEP 50 anos
Local: Via Funchal
Rua Funchal, 65, Vila Olímpia, São Paulo, SP
Data: 16 de outubro (sábado)
Horário: 19h
Ingressos: Pista: R$ 30,00; Mezanino R$ 45,00; Camarote R$ 60,00
Vendas pelo site: http://www.viafunchal.com.br/viafunchal.asp
Em nossas livrarias (veja os endereços aqui: http://www.paulinas.org.br/livrarias/lojas.aspx)
Ou pelo TeleMarketing Paulinas: 0800 70 100 81 (Somente caravanas – a partir de 15 ingressos)

Informações: (11) 5081-9333
E-mail: show50anos@paulinas.com.br
Msn: show50anos@hotmail.com

Pe. Zezinho é indicado ao Grammy Latino



São Paulo-SP, 09 de setembro de 2010

No Ano Jubilar de Paulinas-COMEP Pe. Zezinho, scj é indicado ao Grammy Latino da Música Cristã

São 50 anos da gravadora Paulinas-COMEP, cuja trajetória se confunde com a própria história da música popular no Brasil e na América Latina e que tem Padre Zezinho, scj, um dos ícones da música católica e agora, indicado ao Grammy Latino , como parceiro desde o início


Incansável. Esse é o melhor adjetivo para quem nunca mediu esforços e tempo para evangelizar por meio da música e da palavra... São mais de 45 anos de missão e para afirmar toda essa história de dedicação e amor, a indicação ao Grammy Latino 2010. Pe. Zezinho, scj, concorre com o álbum Ao país dos meus sonhos na categoria Melhor Álbum de Música Cristã (Língua Portuguesa)”.




A lista dos indicados nas 49 categorias que concorrem à 11ª edição do Grammy Latino, considerado o Oscar da música latina, saiu na última quarta-feira, 8 de setembro. Esta é a terceira indicação da música católica e no ano que completa cinco décadas de existência, Paulinas-COMEP tem o que comemorar com esta segunda indicação. A primeira ocorreu em 2008 com o CD Deus sonha com você, do cantor Ítalo Villar. Lembrando que a categoria de “Melhor Álbum de Música Cristã (Língua Portuguesa)” teve sua primeira edição no ano de 2004.

Pe. Zezinho, scj canta serena e magistralmente o espiritual, o social e o político e faz em Ao país dos meus sonhos, um mergulho profundo na arte religiosa, com arranjos do Maestro Luis A. Karam e com a presença de grupos por ele formados: Cantores de Deus, Ir ao Povo. Pe. Zezinho, scj como um grande catequista que é provoca e leva a pensar na profundidade de cada letra.

A 11ª Entrega Anual do Latin GRAMMY ocorrerá em 11 de novembro no Mandalay Bay Events Center de Las Vegas, e será transmitida ao vivo pela Rede Univisión entre 8 e 11 da noite ET/PT (7 da noite Central). O Grammy tem como objetivo reconhecer a qualidade artística e técnica e “não a vendagem ou a posição nas listas dos mais tocados”, informa a organização.



Sala de Imprensa
Paulinas-COMEP
Léo Guimarães, Roberta Molina e Taís González
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divulgacao@paulinas.com.br

Artigos - 08 de Setembro




A CRISE DE LINGUAGEM

O Dicionário de Homilética da Paulus e Loyola, organizado por Soddi e Triaca, em cerca de 1.800 páginas aborda a pregação cristã através dos tempos. É trabalho que não pode faltar em nenhuma estante. No verbete “Linguagem na Igreja” o autor Ettore Simoni aborda a crise de pregação nas igrejas.

Não há pregador pensante que não tenha se demorado sobre o fenômeno. Se há os que puramente repetem o que ouviram sem maiores reflexões, há os que pensam no que pregam, porque pregam e como pregam e nos que ouvem porque ouvem e como ouvem. Aí entram as línguas e as linguagens. Antropologia, psicologia, sociologia, linguística e neurolinguística são, hoje, preocupação de todos os que estudam a pregação religiosa nos templos, nas ruas e na mídia.

Excelentes estudos sobre linguística e teoria da Comunicação que hoje fazem parte das ciências da comunicação podem ajudar a compreender a Palavra a transmiti-la. A primeira anotação que o estudante de homilética deve jogar no seu computador é esta: pregar a Palavra é coisa séria. Demanda conhecimentos e não apenas sentimentos e deslumbramentos. Todo ato comunicativo supõe um antes e um depois. Se é para ser comunicativo tem que ter um porquê e um para quê. E deve ser parte de um processo.
Ninguém presidirá corretamente um ato litúrgico se não tiver o mínimo conhecimento a situação sociolinguística em que se encontra a comunidade. Não se prega a postes, mas a pessoas que têm uma vida pregressa e sonham com uma vida futura.

Autores profundos falam da cultura clerical e sacral que encontra a cultura leiga e não há como não estabelecer uma dialética entre as duas culturas, já que terão que conviver. O fiel que vai à missa ao ir para lá e ao sair de lá dá de cara com as linguagens do mundo. Achar este diálogo e, se oposição houver, uma oposição serena e culta é a função da homilética.

Quando se fala em crise de linguagem religiosa não se descarta a crise de linguagem laica. A palavra está em crise porque para milhões de pessoas perdeu o seu significado. Não traduz conceitos. E pessoas sem conceitos ou recebem mal ou comunicam mal o sentido das palavras. A crise está no pensamento. Quando Jean Baurdillard nos últimos anos do século XX fala da era fractal e G.K. Chesterton nos inícios do mesmo século falava do suicídio do pensamento, ambos abordavam a crise da linguagem. Os pregadores e políticos, enfim, os comunicadores não andam dizendo o que querem dizer. E a crise vem do parco conhecimento da língua e das linguagens. Grande número de pregadores se expressa mal na sua língua mãe por desconhecer o sentido das palavras e erram no uso das linguagens por desconhecer as simbologias. Isso vem da pouca leitura e da cultura apequenada. Patrimônio, repertório, gramática, códigos linguísticos, gírias entram na composição de uma boa pregação.

A super simplificação da língua e das linguagens ou a academização e a sofisticação causaram grandes danos à homilética. Nem um nem outro jeito de pregar oferecem conteúdo compreensível da fé.

Por isso o ministério da Palavra deveria ser dado apenas depois de verificado se o pregador é capaz de se expressar de maneira acessível à maioria dos ouvintes. As faculdades de teologia deveriam dar tanta importância à comunicação da teologia quanto ao aprendizado da mesma.

Há mais a ser dito, mas o estudante de homilética deve tomar a peito o propósito de ter na sua estante e conhecer seus dicionários de homilética, tanto quanto deve conhecer a Bíblia e outros tomos de teologia. Se o fará é questão de projeto de vida. Vai enfrentar, por décadas, multidões de olhos e ouvidos que esperam aprender com o que ele diz e faz naquele templo ou naqueles veículos midiáticos. Se tiver aprendido a pregar com serenidade, força e conteúdo sólido fará maior bem à igreja do que com suas pregações emotivas e repetitivas que não trazem novidade porque não levam conhecimento.

O assunto é vital! É como se estivéssemos construindo enormes prédios com pedreiros despreparados e com material de segunda ou de quinta categoria! Questionemos e provoquemos! Estamos chegando ao povo com nossa linguagem? Ou a linguagem do mundo nos deixou para trás? Ligue seu rádio e sua televisão, olhe os trajes de alguns pregadores, preste atenção nos seus enfoques e conclua.

DE IGREJA EM IGREJA

De igreja em igreja ou de movimento em movimento, alguns cristãos são hoje mais peregrinos do que fiéis, mais errantes do que paroquianos, mais romeiros do que diocesanos. Não se fixam. Costumam ir atrás do mais novo astro da fé. Se o proclamado novo astro da fé entende, ele devolve seus ouvintes à comunidade ou à igreja da qual veio. Se se acha a mais nova solução para o mundo, ou o novo de Jesus, ele funda um novo movimento ou uma nova igreja marcada por sua presença, sua imagem, suas palavras e seu pensamento e chama as pessoas para segui-lo. Torna-se mais onipresente do que Deus.

Mais do que “ouçam”, para o novo astro da fé o verbo é “venham”. Mais do que “ajudem os pobres daí”, o verbo é “tragam sua oferta, quando vierem”. Há um novo monumento a ser erguido, novos templos a serem criados, novos microfones e novas emissoras a serem oferecidas ao Senhor Jesus no novo jeito de anunciá-lo. Quem era fiel a outro grupo é gentilmente convidado a ser, agora, fiel ao novo mais novo da fé! Não é proibido ser infiel aos outros. Só não se pode ser infiel a quem o tornou infiel...

Quem não viu este filme? Acontece com freqüência vertiginosa. Novas igrejas fundadas há quarenta anos já deram origem a cinco ou seis outras e os fiéis, que não eram assim tão fiéis, porque já tinham deixado sua primeira igreja para irem ouvir o, ontem, mais novo pregador da igreja verdadeira, agora vão ouvir e seguir o mais novo pregador da agora mais nova igreja verdadeira. É a era do convencimento: “vem que aqui tem mais”!

Mais o quê? Na era da oferta e da procura, a nova igreja ou o novo movimento tem mais oferta para o que o fiel mais procura: milagres, consolo, bênçãos, graças, perdão, certeza de salvação! Ligue a televisão e o rádio e preste atenção nos discursos. Lei da oferta e da procura. Você procura e nós temos!...

O novo marketing da fé oferece mais. Se não o fizesse não teria tantos novos seguidores. Jesus disse que quem o seguisse teria que renunciar a si mesmo e tomar sua cruz. Os novos pregadores oferecem o “não sofra mais!” “traga sua cruz e a deixe aqui, porque depois desse culto, você sairá sem ela, sua dor irá embora”.

A ênfase no imediato, no agora-já, no milagre e na cura serve para milhões de pessoas que precisam urgentemente de um alívio. Movimentos e igrejas que o oferecem enchem seus templos. No dizer de um dos pregadores dessa forma de cristianismo “eles são as igrejas do “aqui-agora” e não do “depois”, “sucesso aqui e sucesso depois”, “vitória aqui e vitória depois!”

Poucos resistem a essas ofertas. Se um supermercado oferece algo mais vantajoso é lá que o freguês irá. Se uma igreja oferece fé mais realizadora é lá que o ex-fiel, agora infiel, irá ser o mais novo fiel! Alternância, emotividade e mobilidade parecem ser características da nossa era. Quem tocar o sentimento ganhará o pensamento!


A CRISE DE LINGUAGEM

O Dicionário de Homilética da Palus e Loyola, organizado por Soddi e Triaca, em cerca de 1.800 páginas aborda a pregação cristã através dos tempos. É trabalho que não pode faltar em nenhuma estante. No verbete “Linguagem na Igreja” o autor Ettore Simoni aborda a crise de pregação nas igrejas.

Não há pregador pensante que não tenha se demorado sobre o fenômeno. Se há os que puramente repetem o que ouviram sem maiores reflexões, há os que pensam no que pregam, porque pregam e como pregam e nos que ouvem porque ouvem e como ouvem. Aí entram as línguas e as linguagens. Antropologia, psicologia, sociologia, linguística e neurolinguística são, hoje, preocupação de todos os que estudam a pregação religiosa nos templos, nas ruas e na mídia.

Excelentes estudos sobre linguística e teoria da Comunicação que hoje fazem parte das ciências da comunicação podem ajudar a compreender a Palavra a transmiti-la. A primeira anotação que o estudante de homilética deve jogar no seu computador é esta: pregar a Palavra é coisa séria. Demanda conhecimentos e não apenas sentimentos e deslumbramentos. Todo ato comunicativo supõe um antes e um depois. Se é para ser comunicativo tem que ter um porquê e um para quê. E deve ser parte de um processo.
Ninguém presidirá corretamente um ato litúrgico se não tiver o mínimo conhecimento a situação sociolinguística em que se encontra a comunidade. Não se prega a postes, mas a pessoas que têm uma vida pregressa e sonham com uma vida futura.

Autores profundos falam da cultura clerical e sacral que encontra a cultura leiga e não há como não estabelecer uma dialética entre as duas culturas, já que terão que conviver. O fiel que vai à missa ao ir para lá e ao sair de lá dá de cara com as linguagens do mundo. Achar este diálogo e, se oposição houver, uma oposição serena e culta é a função da homilética.

Quando se fala em crise de linguagem religiosa não se descarta a crise de linguagem laica. A palavra está em crise porque para milhões de pessoas perdeu o seu significado. Não traduz conceitos. E pessoas sem conceitos ou recebem mal ou comunicam mal o sentido das palavras. A crise está no pensamento. Quando Jean Baurdillard nos últimos anos do século XX fala da era fractal e G.K. Chesterton nos inícios do mesmo século falava do suicídio do pensamento, ambos abordavam a crise da linguagem. Os pregadores e políticos, enfim, os comunicadores não andam dizendo o que querem dizer. E a crise vem do parco conhecimento da língua e das linguagens. Grande número de pregadores se expressa mal na sua língua mãe por desconhecer o sentido das palavras e erram no uso das linguagens por desconhecer as simbologias. Isso vem da pouca leitura e da cultura apequenada. Patrimônio, repertório, gramática, códigos linguísticos, gírias entram na composição de uma boa pregação.

A super simplificação da língua e das linguagens ou a academização e a sofisticação causaram grandes danos à homilética. Nem um nem outro jeito de pregar oferecem conteúdo compreensível da fé.

Por isso o ministério da Palavra deveria ser dado apenas depois de verificado se o pregador é capaz de se expressar de maneira acessível à maioria dos ouvintes. As faculdades de teologia deveriam dar tanta importância à comunicação da teologia quanto ao aprendizado da mesma.

Há mais a ser dito, mas o estudante de homilética deve tomar a peito o propósito de ter na sua estante e conhecer seus dicionários de homilética, tanto quanto deve conhecer a Bíblia e outros tomos de teologia. Se o fará é questão de projeto de vida. Vai enfrentar, por décadas, multidões de olhos e ouvidos que esperam aprender com o que ele diz e faz naquele templo ou naqueles veículos midiáticos. Se tiver aprendido a pregar com serenidade, força e conteúdo sólido fará maior bem à igreja do que com suas pregações emotivas e repetitivas que não trazem novidade porque não levam conhecimento.

O assunto é vital! É como se estivéssemos construindo enormes prédios com pedreiros despreparados e com material de segunda ou de quinta categoria! Questionemos e provoquemos! Estamos chegando ao povo com nossa linguagem? Ou a linguagem do mundo nos deixou para trás? Ligue seu rádio e sua televisão, olhe os trajes de alguns pregadores, preste atenção nos seus enfoques e conclua.

Pe. Zezinho, scj

domingo, 5 de setembro de 2010

Artigos - 02 de Setembro




DEPUTADOS E VEREADORES

Vereador é alguém que encaminha propostas e as vota. Deputado é alguém que julgamos digno de nossa confiança. Falará por nós na assembleia do Estado e na do País. Senador é supostamente alguém mais experiente que definirá melhor as leis dos outros legisladores.

O país funciona em estâncias, para que nenhuma lei seja apressada e não venha de um só homem, nem de um só partido. Aí, seria ditadura. Para o país funcionar como nação de todos e para todos, as leis precisam ser justas e contemplar o desejo da maioria.

Jogo sujo e eleição na calada da noite, compra de votos, promessa de recompensa são atitudes antiéticas. Peca o governo que compra votos peca o deputado ou senador que os vende; peca o cidadão que troca sua liberdade por dinheiro ou favores. É uma forma de prostituição. Não vendem o sexo, mas vendem a cabeça, o que não deixa de ser uma forma de se dar do jeito errado.

Se os políticos andam em baixa há que se ver os motivos. E nem é porque um deles está em alta que, por conseguinte, ele será mais ético. Há ditadores que mataram centenas de opositores, mas conseguiram ser populares. Quem o apoia pôs na balança o sangue que ele derramou e os grilhões que pôs nos pés dos adversários. Popularidade não pode ser o maior critério. A ética, sim! Foi e é honesto? Pune os desonestos? Usa de jogo sujo para se perpetuar no poder? Esmaga a oposição? Os que o apoiam são mocinhos e quem discorda e mostra os desvios do seu governo são bandidos? Ele domina a mídia? Só se fala e se escreve o que ele quer? Seus companheiros tomaram todas as estâncias do poder?

Formule-se estas perguntas ao escolher vereadores, deputados e senadores. Não escolha fracalhões, corruptos e medrosos. Uma democracia boa é feita de bom governo e boas oposições. Governo que massacra e oposição que só se opõe não agem de forma democrática.

Vem aí as eleições! Escolha bem! Mas não deixe que na sua cidade ou no país grupo algum se perpetue no poder. Não mude por mudar e não vote por votar. Se achar que o país deve mudar escolha um opositor. Se acha que, como está, nossa democracia vai bem, então reeleja. Mas não caia na armadilha do partido e do governante único. Não se sabe de nenhum partido deles que tenha respeitado o povo. Ninguém é tão bom que não possa ser substituído! Pense na sua cidade, no seu Estado e no seu país, aperte aquela tecla e dê o seu recado! O eleito, que se comporte!


A CRISE DE LINGUAGEM

O Dicionário de Homilética da Palus e Loyola, organizado por Soddi e Triaca, em cerca de 1.800 páginas aborda a pregação cristã através dos tempos. É trabalho que não pode faltar em nenhuma estante. No verbete “Linguagem na Igreja” o autor Ettore Simoni aborda a crise de pregação nas igrejas.

Não há pregador pensante que não tenha se demorado sobre o fenômeno. Se há os que puramente repetem o que ouviram sem maiores reflexões, há os que pensam no que pregam, porque pregam e como pregam e nos que ouvem porque ouvem e como ouvem. Aí entram as línguas e as linguagens. Antropologia, psicologia, sociologia, linguística e neurolinguística são, hoje, preocupação de todos os que estudam a pregação religiosa nos templos, nas ruas e na mídia.

Excelentes estudos sobre linguística e teoria da Comunicação que hoje fazem parte das ciências da comunicação podem ajudar a compreender a Palavra a transmiti-la. A primeira anotação que o estudante de homilética deve jogar no seu computador é esta: pregar a Palavra é coisa séria. Demanda conhecimentos e não apenas sentimentos e deslumbramentos. Todo ato comunicativo supõe um antes e um depois. Se é para ser comunicativo tem que ter um porquê e um para quê. E deve ser parte de um processo.
Ninguém presidirá corretamente um ato litúrgico se não tiver o mínimo conhecimento a situação sociolinguística em que se encontra a comunidade. Não se prega a postes, mas a pessoas que têm uma vida pregressa e sonham com uma vida futura.

Autores profundos falam da cultura clerical e sacral que encontra a cultura leiga e não há como não estabelecer uma dialética entre as duas culturas, já que terão que conviver. O fiel que vai à missa ao ir para lá e ao sair de lá dá de cara com as linguagens do mundo. Achar este diálogo e, se oposição houver, uma oposição serena e culta é a função da homilética.

Quando se fala em crise de linguagem religiosa não se descarta a crise de linguagem laica. A palavra está em crise porque para milhões de pessoas perdeu o seu significado. Não traduz conceitos. E pessoas sem conceitos ou recebem mal ou comunicam mal o sentido das palavras. A crise está no pensamento. Quando Jean Baurdillard nos últimos anos do século XX fala da era fractal e G.K. Chesterton nos inícios do mesmo século falava do suicídio do pensamento, ambos abordavam a crise da linguagem. Os pregadores e políticos, enfim, os comunicadores não andam dizendo o que querem dizer. E a crise vem do parco conhecimento da língua e das linguagens. Grande número de pregadores se expressa mal na sua língua mãe por desconhecer o sentido das palavras e erram no uso das linguagens por desconhecer as simbologias. Isso vem da pouca leitura e da cultura apequenada. Patrimônio, repertório, gramática, códigos linguísticos, gírias entram na composição de uma boa pregação.

A super simplificação da língua e das linguagens ou a academização e a sofisticação causaram grandes danos à homilética. Nem um nem outro jeito de pregar oferecem conteúdo compreensível da fé.

Por isso o ministério da Palavra deveria ser dado apenas depois de verificado se o pregador é capaz de se expressar de maneira acessível à maioria dos ouvintes. As faculdades de teologia deveriam dar tanta importância à comunicação da teologia quanto ao aprendizado da mesma.

Há mais a ser dito, mas o estudante de homilética deve tomar a peito o propósito de ter na sua estante e conhecer seus dicionários de homilética, tanto quanto deve conhecer a Bíblia e outros tomos de teologia. Se o fará é questão de projeto de vida. Vai enfrentar, por décadas, multidões de olhos e ouvidos que esperam aprender com o que ele diz e faz naquele templo ou naqueles veículos midiáticos. Se tiver aprendido a pregar com serenidade, força e conteúdo sólido fará maior bem à igreja do que com suas pregações emotivas e repetitivas que não trazem novidade porque não levam conhecimento.

O assunto é vital! É como se estivéssemos construindo enormes prédios com pedreiros despreparados e com material de segunda ou de quinta categoria! Questionemos e provoquemos! Estamos chegando ao povo com nossa linguagem? Ou a linguagem do mundo nos deixou para trás? Ligue seu rádio e sua televisão, olhe os trajes de alguns pregadores, preste atenção nos seus enfoques e conclua.



O DEDO NA URNA

No dia das eleições você irá por detrás de um biombo, munido de seu dedo indicador e de uma autoridade que parece pequena, mas que, unida à de outros milhões brasileiros, vai determinar quem nos governará pelos próximos quatro anos. Seu dedo, sua cabeça e sua honestidade decidirão os rumos deste país, já que o governante eleito não poderá ir contra o desejo da maioria. Se o fizer, será maldito, silenciosamente odiado, execrado e tratado como ditador. Se for democrata será elogiado, bendito e admirado, mesmo que alguns não aceitem seu governo.

Se a maioria aceitar e, se o pleito decorreu com lisura, aquela pessoa será o nosso servidor número um. Homem ou mulher, casado, solteiro ou divorciado, santa a pessoa eleita não será, por isso mesmo incapaz de milagres, mas governará bem melhor do que muitos milagreiros de plantão, porque ouvirá a voz do povo e das urnas. Fará o milagre da paz social. Caberá ao eleito e aos que com ele forem escolhidos como vereadores, deputados, senadores e governadores cuidar desta paz e arriscar suas vidas por esta causa. Os eleitos para a oposição terão que exercer vigilância sobre os atos dos eleitos e os não eleitos, nem por isso estarão dispensados de dar sua contribuição para que nossa democracia se consolide.

Não é, pois tarefa pequena, a sua missão de apertar aquela tecla. Se escolher um corrupto, um mensaleiro, mais um da máfia das ambulâncias, um violento, um pró-ditaduras, um leão faminto que, depois de agarrar o cargo nunca mais o larga, um protetor da família que dará um jeito de colocar no gabinete todos do seu clã; ou se escolher alguém ligado ao tráfico de drogas ou de pessoas, seu dedo ficará ainda mais sujo e sua mente uma cloaca.

Escolher com retidão, pensando no país e dar aquelas cadeiras a pessoas honestas que, por sua atuação na sociedade, mostraram abnegação, alteridade, ponderação e serenidade é escolher um país um pouco mais fraterno. Votar em qualquer um é ser cúmplice dos seus desmandos.

Seu dedo naquela tecla, junto a milhões de outros dedos, tirará do governo algum corrupto ou incompetente e porá outro no seu lugar. O poder não é do candidato: é nosso. Eleito, ainda assim o poder não será dele. Continuará nosso. Terá, pois que exercê-lo, respeitando a vontade dos eleitores. Então, escolha, confirme e depois vigie o desempenho do seu candidato. E se ele votar a favor da morte de quem quer que seja, nas próximas eleições tire-o de lá. Você tem este poder; você, somado a milhões de brasileiros. Aquela urna é sua arma, a tecla o seu gatilho! Aperte-a com lucidez!


O VOTO MINI-MINI-MÓ

Brincadeiras de criança, do tipo “mini-mini-mó”, “mal-me-quer-bem-me-quer”, “minha-mãe-mandou-bater-nessa-daqui” são o que são: brincadeiras infantis que tornam a tarefa de escolher ou de se relacionar, algo meio mágico. Despertam interesse e ensinam a criança que não se pode ter tudo o que se quer. Há que haver escolhas.

Quando, porém, o indivíduo cresce e, na hora de casar, de escolher uma vocação, uma profissão, fazer amigos ou escolher seus políticos para renovar o poder ele continua no “mini-mini-mó” ou parte para o “meu chefe, meu padre, meu pastor, meu partido mandou votar neste daqui” “meu mentor mandou casar com esta aqui” estamos no processo de infantilização da pessoa.

Indicar a pessoa com quem a filha deve casar, indicar o candidato em quem o eleitor deve votar é algo bem diferente do que apresentar uma pessoa e deixar que o outro escolha. Não é porque alguém é filiado a PSDB ou PT, ou porque é católico ou evangélico que terá que votar no candidato proposto pelas lideranças. Se discordar, escolha outro. Candidatos não podem ser impostos, pela mesma razão pela qual esposo ou esposa não podem ser impostos. Foi-se o tempo da união matrimonial das grandes fortunas em que a moça casava com o moço bom partido, indicados, os dois, pelo reino, pelos terratenientes ou pela religião. Para o bem e, às vezes, para o mal, as pessoas hoje são livres para casar, para escolher sua religião e para votar.

Quando, pois, o cidadão vai à urna e brinca de “meu guru mandou votar neste daqui” escolhendo um cidadão que ele nunca viu, de quem nunca ouviu falar antes da campanha, que nunca foi ao seu bairro ou à sua cidade, e que concorreu porque foi indicado por alguém famoso ou poderoso, ou ainda, porque sua igreja mandou votar nele para ter acesso ao poder, se vota de cabresto, está se infantilizando.

Uma coisa é votar porque entende, conhece o suficiente e sabe e outra, porque mandaram. Uma coisa é “ter que votar” em alguém e outra “escolher com liberdade”. O voto, pela Constituição, é livre. Também é livre pela Igreja. Ela só aconselha que se vote com determinados critérios, porque não é possível “pendurar a religião no cabide na hora de entrar na cabine!” Vota-se como cidadão e como crente em Deus. Todo mundo faz isso. Além da fé, porém, há outro critério que decorre da própria fé: o candidato tem que ser honesto, não violento, não corrupto, não fanático, democrático, com uma história de altruísmo e de luta em favor de todos e não só de seu grupo religioso.

Voto mini-mini-mó é voto infantilizado!


Pe. Zezinho, scj

domingo, 22 de agosto de 2010

Artigos - 22 de Agosto



RESUMIR JESUS

Suponha que foram e sejam milhões os escritores que, em livros e artigos já falaram sobre Jesus. Suponha que foram e sejam milhões os pregadores da fé que anunciaram e aclamaram Jesus. Suponha, ainda, que milhares, talvez milhões de crentes de outras religiões e considerável número de ateus e agnósticos tenham lançado dúvidas sobre a pessoa de Jesus de Nazaré. Eles dizem que Jesus não foi quem dizem que ele era... Suas suposições não estarão longe de verdade.
Agora, suponha você que alguém, num programa de televisão para milhões de telespectadores lhe perguntasse ao microfone “Quem foi Jesus de Nazaré? Diga isso em sessenta segundos”

A pergunta foi feita a três pregadores da fé que representavam três igrejas e três obras sociais. O vencedor levaria dois caminhões de alimentos. Dois responderam resumidamente, afirmando que pelo que tinham lido, estudado e aprendido ao longo de 40 anos de pregação, Jesus era o diálogo da humanidade com Deus e de Deus com a humanidade e que ele foi o divino mais humano e o humano mais divino que já passou por este mundo! Arrancaram aplausos da multidão. Cada qual falou do seu jeito. Ambos encantaram a plateia

O terceiro respirou fundo, fez um longo silêncio, olhou para os presentes que o miravam em silêncio, pediu desculpas e disse:- “ Infelizmente, em mais de 30 anos de leituras não aprendi a responder com tanta pressa a uma pergunta tão grande como esta. Jesus não pode ser resumido numa frase de um minuto. Nenhuma pessoa pode ser resumida em 60 segundos. Estou levando uma vida para responder a esta pergunta; não saberia resumir Jesus em um minuto. Considerem-me fora da competição”.

O apresentador consultou a direção e esta reformulou a pergunta: - “Diga-nos em um minuto o que você considera o mínimo que se espera de quem crê em Jesus!” Os outros dois primeiro explicaram suas respostas anteriores e deram razão ao colega: não se resume Jesus em 60 segundos. Entre outras qualidades do discípulo de Jesus acentuaram a fé, a solidariedade, o coração fraterno, o diálogo, o senso de justiça e a humildade.

O terceiro fechou os olhos, fez uma pausa de 15 segundos e disse: - “ Continuar aprendendo o que já sabe, tentar aprender o que não sabe sobre Jesus e ensinar o que já conseguiu assimilar”

Eram 20 perguntas. O primeiro, muito simpático e brincalhão, venceu. Mas o terceiro saiu de lá admirado pelos funcionários da emissora e, lá fora, pelos telespectadores: haviam conhecido um pregador que quando não tem certeza não fala, e quando fala, pensa em cada palavra que vai dizer!



O CARTEIRO ARREDIO

Esta é a curtíssima história de um carteiro que passava pelas casas e não conversava com ninguém; apenas entregava a correspondência. Entendia que sua missão era entregar e não dar o recado. Assim, ele chegava, entregava a correspondência e ia embora. Passava o recado, mas não o comunicava porque não tinha nada a ver com o que estava dentro daqueles envelopes e caixas. Não vivia o que entregava!

Esta é a história, também curtíssima, de um pregador que também não achava que tinha que conversar com os fiéis ou misturar-se a eles. Desculpava-se dizendo que era tímido. Chegava e dava o recado, mas não se comunicava. Apenas comunicava. Tinha excelente pregação falada, mas a pregação vivida não fazia parte de sua vida. Pregava, dava comunhão e retirava-se para os seus aposentos.

Seu bispo exigiu que ele se misturasse mais com o povo e se tornasse mais disponível. Dizem que ele mudou. Agora, ele vai, dá o recado e fala com alguns, mas deixa claro que não aceita ter que atender a mais de cinco pessoas!...



NOSSOS SANTOS E NOSSOS PECADORES

Não nos compete julgar. Fatos são fatos. Temos santos e temos pecadores. Aceitemos a realidade e trabalhemos com ela. Não é a toa que começamos nossas missas pedindo perdão e admitindo-nos pecadores e tornamos a pedir perdão antes da comunhão. Não somos uma igreja de anjos. Nenhuma igreja é.
No dia 30 de abril de 2010, das 20,25 às 20,29 a TV Globo apresentou duas notícias; uma sobre a morte da Irmã Dorothy Stangl e outra sobre o caso de pedofilia de três sacerdotes católicos. Detalhe: em nenhum momento a notícia sobre a mártir assassinada por defender a ecologia e os que trabalhavam na terra lembrava que ela era católica, irmã de caridade e religiosa. Foi apenas identificada como missionária norte-americana. Mostraram seu irmão e sua foto.
Na notícia seguinte sobre pedofilia e prevaricação de sacerdotes católicos os sacerdotes foram três vezes identificados como padres e monsenhores.
Não é a primeira vez. Para nossos mártires que deram a vida pelo povo nenhuma identificação como católicos. O povo não ficou sabendo que se tratava de uma freira. Para quem errou a identificação: padres...
Intencional? Acaso? Eis aí mais uma razão pela qual devemos desenvolver nossa própria mídia. As outras mídias não têm a obrigação de mostrar e homenagear nossos santos e mártires. Se escolhem identificar como católicos nossos irmãos que erraram e não identificar como nossos os irmãos que deram a vida pelo povo e os ameaçados de morte por lutarem pelo povo, cabe-nos questionar seus motivos. Direito de selecionar a notícia eles têm.
Na América Latina mais de 200 católicos, vários deles missionários, já morreram pelo povo. Não são lembrados. Proponho um dia de memória dos nossos mártires e uma ladainha com os seus nomes para ser recitada em outubro no mês das missões.
Não nos convém alardear nem tão pouco esquecer ou esconder os pecados cometidos por católicos: são uma dolorosa realidade. Todas as igrejas têm seus pecadores. Também nós temos os nossos. Todas têm os seus santos. E nós temos centenas deles. Sejam lembrados e reverenciados. Não esperemos que quem não crê como nós o faça. Nenhuma queixa contra a mídia que prefere noticiar nossos pecados e nossos pecadores. Fazem o que acham que devem fazer. Nós é que poderíamos fazer mais por nossos mártires. Somos a Igreja que mais os tem no Brasil e na América Latina. Oremos por uns outros.


UM JESUS ROMANCEADO

A afirmação da historicidade de um acontecimento ainda não implica que a afirmação esteja garantida de tal modo que não se pudesse mais discutir sobre a sua facticidade...

W. Pannenberg Teologia Sistemátia, pg 597 A.C e Paulus

Uma coisa é duvidar deles e outra é discutir os fatos a respeito de Jesus.
Não sabemos as feições nem a compleição de Maria.
Não sabemos o porte nem as feições de José.
Não sabemos em que casa moravam.
Não sabemos para que lugar do Egito fugiram.
Não sabemos com certeza suas feições nem sua compleição.
Não sabemos exatamente quais roupas vestia.
Não sabemos que cores preferia.
Não sabemos a cor de seus cabelos.
Não sabemos a forma do seu rosto.
Não sabemos qual a cor de seus olhos e da sua pele.
Não sabemos tudo o que ele disse. Registraram apenas parte!
Não sabemos quantos discípulos e admiradores ele tinha.
Não sabemos se falava mais dialetos.
Não sabemos como sorria ou se era sempre sério.
Não sabemos o que fez depois dos doze anos até que começou a pregar o novo reino: exceto que ele crescia em sabedoria e graça.

E isso é apenas uma pequena lista do que não sabemos sobre Jesus, porque os evangelistas se preocuparam em retratar seu conteúdo e não suas aparências. Mesmo que os fatos sejam questionáveis e discutíveis, merecem reflexão exatamente porque não estivemos lá e quem os narrou estava mais perto deles do que nós.

Por isso, quando sei de livros piedosos que apontam Maria como a mais linda moça de Nazaré, falam da maciez da sua pele, da beleza profunda de seu rosto de mulher jovem; que falam de Jesus de olhos negros, verdes ou azuis, cabelos castanhos e que o tom de sua voz que soava a barítono... só posso concluir o que fica evidente: criamos um Jesus que se pareça com o tipo de homem que nos cativaria, mas não um Jesus que seja realmente quem foi.

Na falta de maiores detalhes e de fotografias, mais do que imaginar, inventamos, ou mergulhamos nos escritos apócrifos que são pródigos nisso que os americanos chamam de “niceties”, coisinhas lindas e gostosas de ler!...O Evangelho Pseudo-Mateus da Infância é um dos mais pródigos em histórias mirabolantes estilo “não fui lá, mas deve ter sido um espetáculo depois do outro!”

É melhor não nos preocuparmos demais com as aparências de Jesus, para não acontecer que ele entre nos nossos esquemas e acabe exatamente como o imaginamos, ao invés de sermos nós a nos ajustarmos a ele!

Pe. Zezinho, scj

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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Artigos - 27 de Julho




BENÇÃO PELA MÍDIA

Não é incomum ver pregadores católicos, evangélicos e pentecostais abençoarem através da mídia. Nada mais natural, pois a benção não está restrita a lugar. Percebe-se, com freqüência, que alguns deles, abençoam copos de água e o bebem e sugerem a quem pôs o copo de água diante da televisão e do rádio, que também o beba. Atribuem poder de benção sobre objetos à distância. Isso também está na Bíblia. Mas, daí a concluir que a benção dada pelo pastor ou padre, pelo padre ou pastor, através da televisão é mais forte do que a benção dada pelo seu pároco é um passo ousado. Equivale a dizer que a benção de perto, dada pelo padre em carne e osso, vale menos do que a benção de longe dada pelo pregador famoso. Aí se confunde a fama do pregador com o poder de benção que ele tem. O que não é a mesma coisa!

Se é para receber a benção de uma Igreja, qualquer pregador daquela Igreja, por ela autorizado, deve dá-la. Pode-se recebê-la pelo rádio, ou pessoalmente, lá na Igreja matriz com o pároco. Não é porque um padre famoso fez o sinal da cruz a dois mil quilômetros e a benção veio televisão que, de repente, a benção do padre a quinhentos metros daquela casa valerá menos! Mas é o que tem acontecido! Foi a história a mim contada por um pároco de cidade do interior de Minas Gerais, que ouviu da fiel, que morava a menos de um quilômetro da sua Igreja, que ela não ia perder tempo de andar um quilômetro para ir receber uma benção, se ela poderia recebê-la na casa dela, sentada, pela televisão, por um padre que tinha mais poder do que ele, porque abençoava mais gente do que ele.

O pároco se calou, diante do marido dela, estupefato ele com a dureza da esposa. Mais tarde o marido foi ao padre pedir desculpas. Ele, o esposo não pensava daquele jeito. Disse: - “Minha mulher se deixou influenciar por alguns pregadores de televisão. Porque eles estão mais lá em casa do que o senhor, concluiu que os pastores dela são aqueles que falam pela televisão. Pra ele é mais fácil porque podem estar em milhões de casas ao mesmo tempo, para o senhor eu sei que é difícil, porque uma coisa é pregador de mídia e outra é pregador de paróquia. Minha mulher ainda não entendeu isso. Ela foi convencida pela mídia e pelo marketing e ainda não conseguiu estabelecer a diferença. Pra ela padre de mídia tem mais autoridade do que o bispo e o pároco. Mil perdões por minha esposa. Não há santo que a convença que pregador famoso não é o mesmo que pregador preparado”.

Embora com a língua a coçar, o pároco nunca falou do fato na paróquia. Limitou-se a me pedir que, na entrevista que eu daria na emissora de rádio, eu transmitisse essa catequese, coisa que eu fiz com muito prazer, porque acredito que padre de mídia não pode substituir padre de paróquia, de hospital e de colégio e por achar que o dízimo primeiro deve ser dado à paróquia e só depois alguma contribuição para o movimento ou para a televisão. No máximo somos humildes colaboradores. Nunca podemos usurpar. Cabe a nós que trabalhamos na mídia dizer com clareza: - “Minha benção vale menos ou tanto quanto outras bênçãos. Não atribua a mim uma santidade ou um poder que eu não tenho só porque estou na mídia. Seu padre aí pertinho da sua casa, tem muito mais direito do que eu até porque tem mais deveres junto a você.” É o que digo, falo e faço.

Sei dos limites de trabalhar na mídia, sei também do valor de um bispo e de um sacerdote que se desgastam no seu cotidiano pelo bem do povo de Deus a ele confiado. Trabalhar na mídia pode até ser mais sensacional, mas não é nem deve ser mais importante. Registre-se esta observação de quem já tem 43 anos de mídia!...


BENÇÃOS ALTAMENTE SELETIVAS

Abordo um tema relativamente freqüente nesses dias de padre famosos. Falo da benção especial de alguns sacerdotes em detrimento da benção sacerdotal dada pela Igreja, na pessoa de qualquer um dos seus sacerdotes. Criou-se entre alguns fiéis a idéia de que a benção de um padre famoso vale mais do que a benção de um bispo ou do que a benção de outro. Falo do que aconteceu comigo e imagino que aconteça com outros sacerdotes mais conhecidos do que os demais. Lembro que mais conhecido não significa mais culto, nem mais sábio nem mais santo!

Alguns desses fiéis chegam a afirmar que um sacerdote famoso tem benção mais forte e mais poderosa do que a de um sacerdote anônimo. Já o disseram a mim! Explico que não é assim, mas insistem que assim é que é. Atribuem mais poder de benção a quem tem mais poder de fogo, mais publicidade e mais divulgação. Nada mais errado!

Eu havia chegado cansado, com taxa alta de diabetes e pressão elevada a uma cidade onde deveria celebrar missa e, mais tarde, dar um show. Já faz tempo que deixei de ser um jovenzinho! Uma senhora me procurou pedindo que eu fosse ao hospital abençoar a sua mãe. Acreditava que minha bênção a curaria mais depressa. Perguntei-lhe se o pároco já havia visitado sua mãe. Disse que sim. Perguntei-lhe se algum outro sacerdote tinha estado com ela. Sim, um diácono e outros dois. E respondi serenamente: -

-Então, a senhora não precisa que eu vá. Se o sacerdote, que é seu pároco, já foi e se diácono e sacerdotes abençoaram sua mãe, ela está mais que abençoada, porque a benção não é do padre: é da Igreja. Ela está abençoada. Eu tenho a missa das 19h para celebrar, tenho um problema de saúde no momento e tenho um show logo após a missa. Peço-lhe que me liberte deste compromisso, até porque eu não poderia fazer mais do que estes piedosos e bons sacerdotes já fizeram.

Ela não aceitou. Disse aos amigos e amigas que eu me recusara a ir ver uma enferma. Evidentemente, não explicou as razões. Isto revela uma dimensão da falta de catequese entre os católicos de hoje. Quando alguém acha que um padre famoso dará uma benção melhor do que seu padre não tão famoso é porque não recebeu catequese adequada. Bênção de pároco pelo seu testemunho de pastor presente, talvez seja mais profunda do que bênção de padre famoso e de passagem. São, talvez, os mesmos fiéis que acham que, no céu, há santos que podem mais que os outros e que existem orações de poder mais poderosas do que outras orações. Esquecem aquele que pede com santidade e humildade, mas não é tão famoso como o padre que fala na televisão. Como tenho o hábito de ensinar catequese sempre que posso, ensinei àquela senhora a catequese oficial da Igreja, mas ela tomou minha decisão como falta de amor ao próximo. E não adiantou eu prometer que iria ao dia seguinte antes de viajar. Não aceitou! Fiz uma inimiga! Pensou nela, na sua mãe e na benção de um padre famoso, quando, um dia antes, o pároco e três outros ministros tinham estado lá. Temos um longo caminho de catequese a percorrer na Igreja que se deixou envolver pelo poder da mídia... Nós padres de mídia temos muita catequese a dar ao povo que nos aplaude! Não estamos com essa bola toda!


DEBATER OU COMBATER?

Cristóvão Buarque, senador da República, disse em programa levado ao ar dia 19 de julho de 2010 que quem tem uma causa não tem o direito de ficar em casa. Falava de coisas positivas da política. Mas o que ele disse serve para crentes e não-crentes militantes. Que se manifestem, mas com serenidade! E a questão é bem esta! Debate ou combate?

Os crentes das ultimas décadas escreveram milhares de livros sobre Deus e sobre Jesus, muitos deles, infelizmente, desrespeitosos com relação aos não-crentes ou aos declaradamente ateus. Agora, os ateus respondem com dureza, ironia e de maneira envolvente, questionando os crentes e o Deus por eles anunciado. Entre eles estão Saramago, Christopher Hitchens, Richard Dawkins, Dan Brown e Daniel Dennet. Há centenas de outros. Como não acreditam em Deus, não é contra ele que lutam. Não lutariam contra o que consideram inexistente! Combatem, sim, a idéia de Deus e quem a divulga! De quebra, combatem os que anunciam que Jesus era o Deus eterno aqui presente.

Do lado dos crentes, são incontáveis os autores das mais diversas correntes de fé a provar que Deus existe e é do jeito que eles anunciam! Mas um grande número deles ainda não consegue ir até o meio da ponte para contemplar, juntos, as mesmas águas...

Há os ateus e os crentes serenos. E há os de cimitarra, de espada, de porrete e de punho fechado. Atingem a religião pelos flancos e acertam nos pontos fracos de todas as igrejas, como nós também acertamos nos pontos fracos do ateísmo que, no poder, silenciou, massacrou, prendeu e matou.

E daí? Aonde vão dar estes livros e estas conferências pró-Deus e contra-Deus, pró-religião e contra-religião? Foi John Lennon que na sua canção mensagem “Imagine” sacudiu meio mundo ao dizer que poderíamos chamá-lo de sonhador, mas ele sugeria que imaginássemos, com ele, um mundo sem religião, sem céu acima e ou inferno abaixo de nós, sem fome, todo mundo se entendendo numa fraternidade humana. Aí, sim, a vida seria vida de verdade e o mundo seria um só!...

Deu o seu recado que os crentes cantaram sem pensar no que diziam. Cantavam contra si mesmos!...

O mundo está repleto de pessoas que nunca precisaram, ou que cada vez precisam menos de religião e de Deus. Está, também, repleto de crentes que aceitam, precisam de Deus e o procuram. Conseguirão debater sem combater? Enquanto houver respeito, tudo bem! Triste será quando os agressivos de ambos os lados se encontrarem de punhos cerrados. Já aconteceu e sabemos no que deu!


FÉ EM JESUS

Sou um religioso cristão e católico. Isto significa que minha fé em Deus passa pela fé em Jesus e minha fé em Jesus, passa pelo meu catolicismo. Aceito o jeito da Igreja católica falar de Jesus, seus ritos e suas práticas.

Falo com o Pai em nome Jesus e creio que Jesus é o Filho e me espera no Pai. Mas tento me lembrar que estou falando com o único Deus que há. Minha cabeça é pequena demais para entender este mistério. Então, ou eu fundo uma nova igreja, ou entro numa outra, ou migro para uma religião que crê numa só Deus, que é uma só pessoa, ou, ainda, fico com os cristãos que sustentam este mistério de que só há um Deus, mas ele é Pai, Filho e Espírito Santo.

E se estivermos errados? Ainda assim quero crer com os cristãos. E se os outros estiverem errados e Deus for um só, mas for Pai, Filho e Espírito Santo? Neste caso, eles morrerão crendo errado, mas serão amados por Deus porque foram sinceros.

Não tenho o menor constrangimento em admitir que talvez eu creia errado. Mas, como não fui lá e não vi, e os outros também não foram e não viram, cada qual escolhe a fé que deseja seguir. Eu decidi continuar na fé que estava seguindo.

Continuo não sabendo explicar Jesus, O Filho. Eu também não sei explicar nem pilotar um avião a jato, mas viajo nele e espero que aquele vôo não caia. Se tenho fé nos engenheiros e no piloto, posso também ter fé na minha Igreja. Não estou nela por questão de certeza absoluta. Estou nela por questão de fé. É o avião que escolhi para ir aonde espero chegar!

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sábado, 17 de julho de 2010

Artigos - 17 de Julho




OSIRIS, ODIN E JESUS

Demonstrando algum conhecimento de mitologia ela me trouxe recortes de uma revista esotérica que comparava Osíris, o senhor do submundo e da vida eterna e Jesus, o Senhor dos mundos e da via eterna. Segundo a mitologia egípcia, Osíris tornou-se importante depois que ressuscitou. Fazia par com a deusa Isis, sua irmã e sua esposa. Nos dias de hoje seria um incestuoso. Segundo o mito todos os faraós se tornariam Osíris depois da morte. A superação de Osíris que também foi esquartejado e remendado inspirou os mortais a desejarem a vida eterna.

Deixou o texto e foi embora. Dois dias depois me telefonou para saber o que eu achava das semelhanças. Falei-lhe de outras semelhanças em todas as mitologias e disse que o texto em nada mudava minha convicção de que Jesus é Deus. Falei de Cronos, o deus tempo que engoliu os filhos que mais tarde foram vomitados por interferência de Zeus ou Júpiter e por Métis, a deusa prudência. Falei de Vivasvat e Saranya, Vishnu e Shiva, Odin que sacrificou um olho em troca de sabedoria, porque toda sabedoria tem um preço. Falei de Ometeotl, de Huracan, de Viracocha e Mamacocha, de Tupã, de Tangaroa, de Thor, de Urano e de Hera, de Gaia, Poseidon, de Hades. Acentuei que cada povo tinha nomes e funções diferentes para seus deuses e deusas. Todos profundamente ligados à natureza e seus fenômenos e à busca do imanente e do transcendente. Lembrei que os povos contavam a história do universo endeusando o que viam, mas não compreendiam: chuva, tempestade, astros, ventos e luzes no céu. No caso dos gregos o Deus Cronos (tempo) engoliu alguns valores (filhos), mas a deus Prudência ou Métis e Zeus os devolveu à vida.

Falei-lhe de Prometeu, Epimeteu e Pandora, de Narciso, de Eco de deus vaidosos e superficiais que não percebiam o extremo grau de sua vaidade. Falei de Pandora e de Eva e da tentação de mexer nos segredos do infinito. Mostrei que também lia mitologia. Sabia das deusas, ninfas de musas, dos semideuses, dos gigantes e de como os gregos e latinos explicavam a vida, a dor, a alegria, a morte, as paixões com histórias e atribuições aos deuses.

Ouviu-me e perguntou como eu, sabendo tudo isso, ainda afirmava que Jesus é diferente. Respondi que poderia escolher o caminho da comparação como o sujeito que compara estradas e não viaja por nenhuma, compara computadores mas escreve a mão e compara veículos mas escolhi ir a pé. A fé supõe conhecimento, mas também supõe adesão. Mostrar cultura qualquer um pode. Informar-se sobretudo nos dias de hoje está ao alcance de qualquer um. Mas escolher e assumir é questão de atitude. O mundo tem muitos rios e estradas, mas se decidi aonde quero ir escolho os que me deixariam lá ou o mais perto possível de onde quero ir. Eu escolhi não ficar apenas nas comparações. Escolhi continuar crendo em Jesus, mesmo sabendo que antes dele houve histórias um pouco semelhantes às dele.

Conclui dizendo que sabia distinguir entre mito e realidade, entre símbolo e mistério e entre crença e fé.

Semanas depois veio falar comigo e quis saber mais sobre Cristologia. Indiquei cinco livros de católicos e dois de evangélicos que poderiam ajudá-la. Mas decidir, só ela poderia! Pelo que sei está lendo e comparando. Um dia desses ela decidirá se fica apenas no conhecimento ou se adere... Se aderir será por convicção dela. Não puxo ninguém para Jesus. Tenho sérias restrições ao marketing da fé. Deixo que a pessoa se informe e decida. O que decidir estará bom para mim. Não me tornei padre católico para encher os bancos dos nossos templos e arrastar milhões de almas para o Cristo e, sim, para revelar da melhor forma que conheço o rosto de Jesus Cristo. Tento seguir o jeito de Paulo:

Porque convosco falo e, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério, para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. (Rm 11, 13- 14)

Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. (I Cor 9, 22)

Não quero que ninguém me siga. Mas se alguém quiser caminhar comigo iremos juntos. E não faço questão de ser madrinha de tropa ou de ir à frente segurando a seta. Descobri a importância das palavras outro e juntos. Para ser ouvido não preciso estar acima do meu povo. Às vezes um barco bastava para Jesus.

Posso até levar a Jesus, mas na maioria dos casos, sei que bastará apontar. Eles já o procuram há muito tempo. Até porque Jesus mandou duvidar dos que se dispõem a levar até ele agindo como quem sabe o caminho. (Mt 24,24-26) Pregador não é aeronave: é seta. E se for piloto terá que obedecer as rotas e os limites da aeronave!


A ERA DO CRACK

Por crack entende-se “quebra”. Vem do inglês. Um galho que se quebra com alguém em cima dele faz crack. Nunca se espera coisa boa de um crack, seja ele de objeto de estimação, seja de galho onde estamos, seja de bolsa de valores.


O crack da bolsa de 1929 e o impasse econômico de 2008 foram frutos de dinheiro qualquer, oferecido de jeito qualquer para pessoa qualquer que não tinha como saldar. Emprestadores e tomadores de empréstimo deixaram-se levar pela urgência e pela falta de critérios. Aventuraram-se, arriscaram, jogaram e perderam.


De certa forma a droga crack é este passo urgente de quem quer chegar mais depressa, não se sabe aonde nem porquê. Semelhante é a aids que, nem sempre em todos os casos, mas em muitíssimos é o resultado um jogo chamado sexo sem proteção e sem cuidados, com parceiro qualquer de qualquer jeito urgente e sem maturidade. Não é por menos que todos os países, além de objetos que protejam, insistem na escolha de pessoa certa. A promiscuidade foi o crack do sexo depois dos anos 60, como já foi em eras prístinas.


A sociedade deu um passo mais avançados quando ligou o casamento ao amor e à escolha certa do parceiro ou da parceira. As pessoas, ao invés de serem dadas em casamento passaram a dar-se. Mas da mesma forma que havia promiscuidade quando se contraiam casamentos por interesse pecuniário e união de fortunas e, por isso, também de corpos, passou a haver promiscuidade quando as pessoas declaravam o fim de um ou vários casamentos por conta de beleza, sexo com alguém mais jovem, união com alguém socialmente mais interessante. O fim da fidelidade sacramentada pelo Estado possibilitou um crack assistido de casamentos juramentados e livremente contraídos. O contrato matrimonial passou a ser desfeito a partir do sentimento em baixa. Como no passado casamento não tinha muito a ver com amor porque fundamentado em fortunas, com o tempo passou a nada ter com fidelidade porque fundamentado em humores.


Excesso de retrocesso e de desajustes acaba em promiscuidade. Passa-se de um desajuste a outro desajuste, por conseguinte de uma a cinco ou seis uniões. O argumento é a felicidade pessoal. Não estando outra vez feliz com esta outra pessoa, a pessoa insatisfeita advoga o direito de tentar mais uma vez até encontrar alguém com quem se ajuste e seja feliz.

Trocar de parceiras com freqüência não é bom nem para o indivíduo, nem para os filhos nem para a sociedade; pior ainda, é transar sem transação de afeto, encontros que não nascem de uniões nem as visam, porque não haverá coabitação. De qualquer jeito, com qualquer um, a qualquer hora não é exercício da sexualidade: é crack. É como subir a dois em árvore desconhecida sem saber se os galhos resistirão... O ruim do quebra galho é que em geral o galho se quebra. Quem sobe depressa e sem cuidado corre maior risco de se machucar! O crack nas ruas, no leito e na política é esta pressa de novas sensações sem as devidas salvaguardas. Acaba em perda de critérios. Não deixa de ser triste que estejamos vivendo esta era e que as maiores vítimas tenham menos de 30 anos! É assassinato de uma geração!


INSTRUÇÕES DE AEROPORTO

Algumas pessoas são confiáveis como vozes de aeroporto. Isto é: não são. O que elas dizem não merece crédito. Espere por outras instruções, porque as primeiras raramente valem.
Há o lado ruim e o lado bom. Pelo que há de bom acho que devo agradecer quem dá aquelas instruções atabalhoadas porque graças a elas tenho caminhado cerca de dois quilômetros por vôo, e de mala na mão. Pratico, assim, um sadio halterofilismo, além de andar a quilometragem necessária para meu diabetes e minha pressão alta. Meu médico também agradece. Quem viajar de avião com freqüência semanal e embarcar no aeroporto de Congonhas certamente não levará vida sedentária. Infalivelmente a porta indicada não será a porta de embarque... Aos portadores de algum limite oferecem uma cadeira de rodas. E isto compensa em parte pelo incômodo causado aos demais. Ao menos alguém recebe os devidos cuidados. O resto, que se cuide.
O que isso tem a ver com religião? É que as pessoas dependem daquelas vozes de aeroporto para subir aos céus num avião e não poucas vezes são obrigadas a correr como baratas tontas de um lado para o outro por falta de melhores instruções. As companhias culpam a Infraero, a Infraero culpa o atraso das companhias e ninguém assume a culpa. Cai um avião e morrem 199 passageiros e ninguém assume a culpa. Reina a desinformação.
Não é muito diferente com as igrejas que chamam o povo para passar pelos seus templos se quer ir para o céu. Lá, supostamente os fiéis receberão as instruções. Mas também lá, a depender do pregador e da linha vigente na igreja ou no templo, como baratas tontas os fiéis não sabem o que é certo ou errado porque um pregador diz uma coisa e outro diz outra; um interpreta de um jeito de outro de outro. É outro empurra-empurra, outra prá-lá-pra-cá que cansa o fiel. Basta ligar o rádio e a televisão para ver o que as igrejas ensinam em nome de cristianismo. Pode e não pode, não pode e pode, Jesus falou, Jesus mandou, Jesus me disse, Jesus não quer, Jesus quer... Os textos caem como luva para os propósitos daquela igreja ou daquele movimento. Nunca se sabe qual a porta de acesso a Jesus porque cada pregador tem uma chave!
Estamos muito longe da unidade no essencial, como parece que os porta-vozes das companhias aéreas e a Infraero parecem não chegar a um acordo. Mais de cinqüenta vezes- e não exagero- fiz o trajeto do portão 12 para o portão 17 ou 21, porque a primeira instrução não valia.
As igrejas parece padecerem do mesmo problema. Não há unidade na pregação. Depois fica difícil explicar ao fiel que seguiu aquele pregador que São Paulo não disse aquilo daquele jeito, que isto é pecado e aquilo não é e que, quando alguém peca não enfia mais um espinho na cabeça de Jesus, nem que orar em línguas é sinal de maturidade na fé. Se fosse assim teríamos que dizer que os santos, as santas, os papas e os cardeais e bispos dos últimos séculos eram todos imaturos porque nenhum deles orou em línguas... Alguém inventa e depois não há quem tire a idéia da cabeça do fiel mal instruído pela voz não se sabe de quem... Talvez seja hora de voltarmos à catequese e abandonarmos o achismo que tomou conta de alguns púlpitos e mídias religiosas...


PROCLAMAR-SE CRISTÃO

Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. (I Cor 2, 2)

Imagino que o mesmo aconteça com você! Sou um religioso com intenção manifesta de ser cristão e católico. Isto significa que minha fé em Deus passa pela fé em Jesus e minha fé em Jesus, passa pelo meu catolicismo. Aceito o jeito da Igreja Católica falar de Jesus, seus ritos e suas práticas. Eu não saberia fazê-lo sozinho. Não tenho nem cultura nem espiritualidade para isso. Impressiona-me quem diz que não precisa de uma igreja. Eu preciso.

Falo com o Pai em nome Jesus e creio que Jesus é o Filho que me espera no Pai. Tenho consciência de que quando falo, seja com o Pai , seja com o Filho, seja com o Espírito Santo estou falando com o único Deus que existe. Minha cabeça é pequena demais para explicar este mistério, mas não para aceitá-lo; eu o aceito. Se discordasse teria que fundar uma nova religião, ou entrar numa outra, ou ainda, migrar para uma religião que creia num só Deus mais lógico para ela. Mas quem disse que este Deus que coubesse na lógica deles seria o verdadeiro Deus? E existe religião que se guie apenas pela lógica?

Então vem a pergunta: -“E se estivermos errados?” Ainda assim quero crer com os cristãos. E se os outros estiverem errados e Deus for um só, mas for Pai, Filho e Espírito Santo? Neste caso eles morrerão crendo errado, mas serão amados por Deus porque foram sinceros.

Não tenho o menor constrangimento em admitir que eu talvez creia errado. Mas, como não fui lá e não vi, e os outros também não foram e não viram, cada qual escolhe a fé que deseja seguir. Dia houve em que eu decidi continuar na fé que estava seguindo. Continuo não sabendo explicar Jesus, “O” Filho. Para mim Jesus é, antes de tudo, o próprio Deus. Mas, sendo Deus uma trindade e pessoas, ele é o Filho.

Difícil de crer? Eu também acho. Não creio porque é fácil, nem porque faz sentido. Creio porque aceito o que está nos evangelhos. Também não amo só porque faz sentido. Ninguém ama só porque faz sentido. A tendência é amar a quem nos agrada. E não poucas vezes amamos a quem não nos ama nem nos agradece. Nem o amor tem lógica, nem a fé. Foi o que Jesus disse a Tomé, que queria provas. Seguiu a lógica. Jesus lhe disse que há um caminho mais completo. O daquele que não vê, mas assim mesmo aceita. Não disse que era fácil. Não o é para um ateu e não o é para um crente que pensa.

Também não sei explicar nem pilotar um avião a jato, mas viajo nele, esperando sempre que aquele vôo não caia. Se confio nos engenheiros e no piloto que não vejo, posso também ter fé no Cristo que não vejo e na minha Igreja da qual vejo apenas uma parte. Não estou na Igreja por questão de certeza absoluta. Estou nela por questão de fé. É o avião que escolhi para ir aonde espero chegar!



MIL CANÇÕES PARA MARIA... O novo CD do Padre Zezinho...



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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Artigos - 12 de Julho




PERDÃO POR NÓS, PERDÃO POR ELES!

Pediram-me que escrevesse sobre o tema que os bispos e o papa já abordaram com maior maturidade e autoridade. Mas lembro-me de um incidente que sacudiu uma cidade nos Estados Unidos no tempo em que eu lá estudei. No Middle East, uma cidade acordou em luto pela morte de oito garotas covardemente assassinadas por um desequilibrado. Seus parentes que nada tinham a ver com o caso preferiram não dar entrevistas, mas em nome da família, um deles pediu perdão à sociedade americana. Daquele dia em diante sua família carregaria para sempre o peso dos atos dele.

O mesmo fez um irmão mais novo no sul do Brasil, ao saber, dos crimes de seu irmão mais velho. Pediu perdão em nome da família. A cidade entendeu que não poderia culpar pai, mãe, irmãos e irmãs, porque, disse a vice-prefeita, na família de qualquer um poderia acontecer a mesma tragédia. A cidade resolveu não culpar toda a família. Seria injusto!

Agora que se fala dos pecados de alguns membros do clero católico e é o que mais aparece na mídia, a tentação é de nos defendermos dizendo que outras igrejas também têm criminosos e pedófilos. Isso não mudaria o fato de que os há entre nós. Da mesma forma que temos a obrigação de respeitar os bons médiuns, os bons pastores, os bons rabinos e os fiéis das outras religiões quando se noticia que um deles errou, esperam-se deles que nos respeitem. Mas fez bem o papa e não se esperava outra coisa dele quando pediu perdão e determinou providências.

Doeu, dói e doerá muito na igreja o pecado que há nela. Dói também nas outras. Mas é bom não esquecermos os santos de todas elas, os consagrados e os abnegados que os há em grande quantidade. E nem faz sentido acusar os jornalistas. Eles deram cobertura a João Paulo II, a Dom Helder, a Madre Tereza de Calcutá, a Irmã Dulce, a Padre Josimo e a Irmã Dorothy. Mostraram nossos mártires. Quando retrataram as acusações, mostraram as provas e deram ao entrevistados a chance de explicar-se fizeram o que faz a mídia. Gostaríamos que mostrassem apenas os nossos santos. Não o fizeram!

A nós compete perdoar e pedir perdão. Os caluniados, perdoem, os que de fato erraram e há provas, peçam perdão. A Igreja perdoe, ore, eduque e re-eduque. E não há um só ser humano que não precise de perdão. Quem tem fé humilhe-se, porque igrejas não são feitas de anjos. Não é sem razão que começamos nossas missas acolhendo-nos e pedindo perdão! Sirva-nos sempre o texto de Paulo em Mateus 7,10-

O leitor o leia! É um retrato do que somos!


MIDIA, FOLHAS E FORMIGAS.

Não existe mídia leve. Existem programas leves. Quem quiser se dedicar de corpo e alma à mídia como formador de opinião, saiba que se trata de trabalho agradável, e certamente terá seus bônus, mas não sem seus devidos ônus. Serve para jornalista, colunista, radialista, apresentador, político e pregador de moral e costumes. Em algum momento o comunicador que fala diante de um microfone ou de uma câmera baterá de frente com alguma outra corrente de pensamento. Ai verá se tem ou não tem cacife para dialogar.

Dias atrás, mais uma vez tomei tempo para seguir um carreiro de formigas. Essas pequenas trabalhadoras me encantam; elas, as aves e as abelhas. Notei mais uma vez que pelo menos 99% delas levavam carga que podiam levar. Pareciam ter consciência do peso a levar, do próprio corpo, das próprias forças, da distância, dos ventos e dos empecilhos. Um grupo delas levava uma companheira morta. Outro grupo de cinco partilhava um pedaço maior, estilo força tarefa.

Mas vi algumas, poucas, é verdade, levando penosamente uma carga duas ou três vezes maiores do que as demais. No caminho, havia pedaços grandes abandonados.

Pensei na no carreiro chamado mídia! Vivi o suficiente para conhecer as histórias de Marilyn Monroe, Judy Garland, Frank Sinatra, James Dean, Elvis Presley, Michael Jackson, Elis Regina, Jim Jones, Soeur Sourire e centenas de outros, para quem a fama pesou demais. Foi pedaço maior do que podiam carregar. Houve os que desistiram, os que se mataram, os que saíram chamuscados.

Mídia é organismo vivo. Como cavalo xucro escoiceia e corcoveia. Não é todo peão que a doma. Mídia é como sol quente das 10h às 16h. Quem, sem a devida proteção, se expõe demais ao seu brilho sai cheio de pústulas e queimaduras. Mídia é como pedaço de folha grande que a formiguinha achou que poderia levar, mas cambaleou e desistiu. Esperto é quem sabe o que montar, e como montar, e quando pular da sela. Esperto é quem sabe quanta luz agüenta. Esperto ainda, quem sabe o que pode e o que não pode.

Demonstra pouco critério e pouca inteligência emocional aquele que de tal maneira se apaixona pela mídia que aceita qualquer coisa para ser notado. Ao invés de agente transforma-se em objeto, ídolo, comunicador sem liberdade de ir e vir. A ironia das ironias é que os que mais se expõem e se oferecem à multidão são pessoas que já não se possuem. Como droga, mídia às vezes vicia e escraviza.

Formiga esperta só leva o que pode levar. Comunicador esperto nunca se super-expõe!


MENOR QUE UM ALFINETE

A caminho de Porto Alegre, num domingo à tarde dei-me conta, não faz muitos anos, da importância das coisas pequenas; para o bem e para o mal. O carro parou e não havia jeito de fazê-lo funcionar. Eram três da tarde e o avião partiria às sete. Telefonamos ao pároco e um mecânico generoso veio de carro até nós, para constatar que um reles, rele Zinho causara toda a confusão. Tinha o tamanho de uma cabeça de alfinete. Mas aquela pecinha parou um carro de duas toneladas. Consertou-a e seguimos viagem, agora refletindo sobre a importância das pequenas coisas.

Escapa-nos à reflexão, mas um pequeno coágulo pode nos matar, uma infecção numa unha pode nos levar, uma bactéria rebelde pode acabar com o leão, com o hipopótamo e o elefante. O pequeno mosquito da dengue derruba um rapaz de um metro e noventa. E foi um palito de fósforo que pôs fogo em dez hectares... Para o bem e para o mal um pequeno objeto pode afetar milhares de vidas.

Dias atrás meu computador enguiçou. Outra vez foi uma pequena peça que mal cabia na minha unha, a causadora do problema. Uma tecla de acréscimo afetou a conta bancária de um amigo meu. Ele confirmou duas vezes o que jamais poderia confirmar. Apertou o s pela segunda vez...

Quando, pois, Jesus manda valorizar os pequenos gestos e diz que um copo d água pode fazer a diferença (Mt 10,42); quando compara ao Reino de Deus a um grão de mostarda que, depois de semeado e crescido, aninha aves nos seus ramos (Mt 12, 31) oferece-nos a catequese das pequenas coisas. Um pingo no i, uma palavrinha mal usada, um pequenino grão de trigo, (Jo 12,24) sete pães e alguns peixes, (Mt 15, 34) ou cinco pães e dois peixes (Mt 14,17), uma fé pequena mas forte, tudo isso faz a diferença. Jesus não se rege por números nem se impressiona com gestos grandiosos e teatrais. (Mt 7,15-22) A mulher que depositou duas moedas no templo fez mais do que muitos ricos.(Mc 12,42) Um pouco das pombas e um pouco das serpentes ajuda a viver. (Mt 10,16) O pequeno rebanho não deve, pois, ter medo. (Lc 12,32) Deus olha o conteúdo e oferece o discernimento.

Em época de grandiloqüências e teatralidade, de excesso de mídia e de enxurradas de mensagens, pirotecnias e espalhafatos. (Lc 9,54) em tempo de poderosas luzes a iluminar os pregadores, talvez seja de bom alvitre insistir no simples e no pequeno. Não deixa de ser uma forma de cultura! Francisco e sua simplicidade
Ainda seriam o melhor púlpito e o melhor sermão para o nosso tempo. Ele talvez usasse a mídia, mas não perderia a pequenez.


MISERICÓRDIA DE FUNDO DE QUINTAL

Conto uma estória sem os nomes, mas acontecer, aconteceu! Casados por 18 anos, três bonitos e serenos filhos, ele deu de beber, jogar e procurar mulheres. Culpa dela é que não era, posto que continuava bonita, dona de si e excelente educadora. Mas havia alguma coisa a mais que ele queria e não achava nela. Foi reviver suas liberdades de solteiro com meninas da idade da filha.

O casarão construído com os lucros de uma firma de sucesso não mais o atraia. Chegava tarde e saia cedo. Deu de dormir no sofá. Perdera o interesse pela esposa. Um dia, deixou claro que gostava mesmo era de gatas... Ele tinha o que elas queriam e elas tinham o que ele queria!

Ela o preveniu contra os arranhões. Disse que a casinha de fundo estava à disposição dele, desde que não trouxesse as gatas para a casa. No quarto, não o queria mais! Nem se tocou; continuou indo aonde não devia e voltando para dormir no fundo do quintal. Os filhos, é claro escolheram a mãe.

Com o tempo ele degringolou. Nem voltar, voltava. Ia da firma para a festa. Montou apartamento e viveu com três outras meninas no curto espaço de dez anos. Um dia, o coração bateu errado. Foi achado no apartamento à beira da morte, depois de uma noitada com mais uma menina de programa. Ela confessou que rolaram bebidas e drogas.

Não viveria muito! Ai entrou em ação o perdão da esposa católica apostólica romana que não divorciara, resistira a outros homens, não o entregara ao demônio e silenciosa e sofrida o recomendara a Deus. Seu casamento tinha sido para sempre! Acolheu-o e cuidou dele. Envergonhado, ele não quis sair da casinha de fundo. Morreu aos 60 anos, nos braços dela. Foi misericórdia de fundo de quintal.

Conclusões? Cada qual tire as suas! Mas está aí um tipo de fidelidade cada dia mais raro. Ela realmente o amara. Ele, nem tanto. Quando ela disse o sim foi para sempre. Quando ele começou a dizer não, ela insistiu sofrida, mas serena no seu sim. Esperava que ele se convertesse e saísse do infantilismo para o qual regredira. Não deu certo. Ele se mostrou incapaz de superar o gosto pelo aplauso, pela bebida e por mulheres. Dinheiro ele tinha para bancar a família e as noitadas! Amigos e funcionários tomaram o lado dela. Sobraram os novos amigos dos quais nenhum prestava.

Boba? Trouxa? Senhora? Adjetivos não mudariam uma pessoa assim substantiva. No dia do enterro a cidade estava lá, muito mais por causa dela! Sumarizou o fato um respeitado jornalista:- “Ele ganhou um belo túmulo, mas para ela a cidade deveria erguer um monumento! Amores como este andam cada dia mais raros”...

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MIL CANÇÕES PARA MARIA... O novo CD do Padre Zezinho.



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