domingo, 22 de agosto de 2010
Artigos - 22 de Agosto
RESUMIR JESUS
Suponha que foram e sejam milhões os escritores que, em livros e artigos já falaram sobre Jesus. Suponha que foram e sejam milhões os pregadores da fé que anunciaram e aclamaram Jesus. Suponha, ainda, que milhares, talvez milhões de crentes de outras religiões e considerável número de ateus e agnósticos tenham lançado dúvidas sobre a pessoa de Jesus de Nazaré. Eles dizem que Jesus não foi quem dizem que ele era... Suas suposições não estarão longe de verdade.
Agora, suponha você que alguém, num programa de televisão para milhões de telespectadores lhe perguntasse ao microfone “Quem foi Jesus de Nazaré? Diga isso em sessenta segundos”
A pergunta foi feita a três pregadores da fé que representavam três igrejas e três obras sociais. O vencedor levaria dois caminhões de alimentos. Dois responderam resumidamente, afirmando que pelo que tinham lido, estudado e aprendido ao longo de 40 anos de pregação, Jesus era o diálogo da humanidade com Deus e de Deus com a humanidade e que ele foi o divino mais humano e o humano mais divino que já passou por este mundo! Arrancaram aplausos da multidão. Cada qual falou do seu jeito. Ambos encantaram a plateia
O terceiro respirou fundo, fez um longo silêncio, olhou para os presentes que o miravam em silêncio, pediu desculpas e disse:- “ Infelizmente, em mais de 30 anos de leituras não aprendi a responder com tanta pressa a uma pergunta tão grande como esta. Jesus não pode ser resumido numa frase de um minuto. Nenhuma pessoa pode ser resumida em 60 segundos. Estou levando uma vida para responder a esta pergunta; não saberia resumir Jesus em um minuto. Considerem-me fora da competição”.
O apresentador consultou a direção e esta reformulou a pergunta: - “Diga-nos em um minuto o que você considera o mínimo que se espera de quem crê em Jesus!” Os outros dois primeiro explicaram suas respostas anteriores e deram razão ao colega: não se resume Jesus em 60 segundos. Entre outras qualidades do discípulo de Jesus acentuaram a fé, a solidariedade, o coração fraterno, o diálogo, o senso de justiça e a humildade.
O terceiro fechou os olhos, fez uma pausa de 15 segundos e disse: - “ Continuar aprendendo o que já sabe, tentar aprender o que não sabe sobre Jesus e ensinar o que já conseguiu assimilar”
Eram 20 perguntas. O primeiro, muito simpático e brincalhão, venceu. Mas o terceiro saiu de lá admirado pelos funcionários da emissora e, lá fora, pelos telespectadores: haviam conhecido um pregador que quando não tem certeza não fala, e quando fala, pensa em cada palavra que vai dizer!
O CARTEIRO ARREDIO
Esta é a curtíssima história de um carteiro que passava pelas casas e não conversava com ninguém; apenas entregava a correspondência. Entendia que sua missão era entregar e não dar o recado. Assim, ele chegava, entregava a correspondência e ia embora. Passava o recado, mas não o comunicava porque não tinha nada a ver com o que estava dentro daqueles envelopes e caixas. Não vivia o que entregava!
Esta é a história, também curtíssima, de um pregador que também não achava que tinha que conversar com os fiéis ou misturar-se a eles. Desculpava-se dizendo que era tímido. Chegava e dava o recado, mas não se comunicava. Apenas comunicava. Tinha excelente pregação falada, mas a pregação vivida não fazia parte de sua vida. Pregava, dava comunhão e retirava-se para os seus aposentos.
Seu bispo exigiu que ele se misturasse mais com o povo e se tornasse mais disponível. Dizem que ele mudou. Agora, ele vai, dá o recado e fala com alguns, mas deixa claro que não aceita ter que atender a mais de cinco pessoas!...
NOSSOS SANTOS E NOSSOS PECADORES
Não nos compete julgar. Fatos são fatos. Temos santos e temos pecadores. Aceitemos a realidade e trabalhemos com ela. Não é a toa que começamos nossas missas pedindo perdão e admitindo-nos pecadores e tornamos a pedir perdão antes da comunhão. Não somos uma igreja de anjos. Nenhuma igreja é.
No dia 30 de abril de 2010, das 20,25 às 20,29 a TV Globo apresentou duas notícias; uma sobre a morte da Irmã Dorothy Stangl e outra sobre o caso de pedofilia de três sacerdotes católicos. Detalhe: em nenhum momento a notícia sobre a mártir assassinada por defender a ecologia e os que trabalhavam na terra lembrava que ela era católica, irmã de caridade e religiosa. Foi apenas identificada como missionária norte-americana. Mostraram seu irmão e sua foto.
Na notícia seguinte sobre pedofilia e prevaricação de sacerdotes católicos os sacerdotes foram três vezes identificados como padres e monsenhores.
Não é a primeira vez. Para nossos mártires que deram a vida pelo povo nenhuma identificação como católicos. O povo não ficou sabendo que se tratava de uma freira. Para quem errou a identificação: padres...
Intencional? Acaso? Eis aí mais uma razão pela qual devemos desenvolver nossa própria mídia. As outras mídias não têm a obrigação de mostrar e homenagear nossos santos e mártires. Se escolhem identificar como católicos nossos irmãos que erraram e não identificar como nossos os irmãos que deram a vida pelo povo e os ameaçados de morte por lutarem pelo povo, cabe-nos questionar seus motivos. Direito de selecionar a notícia eles têm.
Na América Latina mais de 200 católicos, vários deles missionários, já morreram pelo povo. Não são lembrados. Proponho um dia de memória dos nossos mártires e uma ladainha com os seus nomes para ser recitada em outubro no mês das missões.
Não nos convém alardear nem tão pouco esquecer ou esconder os pecados cometidos por católicos: são uma dolorosa realidade. Todas as igrejas têm seus pecadores. Também nós temos os nossos. Todas têm os seus santos. E nós temos centenas deles. Sejam lembrados e reverenciados. Não esperemos que quem não crê como nós o faça. Nenhuma queixa contra a mídia que prefere noticiar nossos pecados e nossos pecadores. Fazem o que acham que devem fazer. Nós é que poderíamos fazer mais por nossos mártires. Somos a Igreja que mais os tem no Brasil e na América Latina. Oremos por uns outros.
UM JESUS ROMANCEADO
A afirmação da historicidade de um acontecimento ainda não implica que a afirmação esteja garantida de tal modo que não se pudesse mais discutir sobre a sua facticidade...
W. Pannenberg Teologia Sistemátia, pg 597 A.C e Paulus
Uma coisa é duvidar deles e outra é discutir os fatos a respeito de Jesus.
Não sabemos as feições nem a compleição de Maria.
Não sabemos o porte nem as feições de José.
Não sabemos em que casa moravam.
Não sabemos para que lugar do Egito fugiram.
Não sabemos com certeza suas feições nem sua compleição.
Não sabemos exatamente quais roupas vestia.
Não sabemos que cores preferia.
Não sabemos a cor de seus cabelos.
Não sabemos a forma do seu rosto.
Não sabemos qual a cor de seus olhos e da sua pele.
Não sabemos tudo o que ele disse. Registraram apenas parte!
Não sabemos quantos discípulos e admiradores ele tinha.
Não sabemos se falava mais dialetos.
Não sabemos como sorria ou se era sempre sério.
Não sabemos o que fez depois dos doze anos até que começou a pregar o novo reino: exceto que ele crescia em sabedoria e graça.
E isso é apenas uma pequena lista do que não sabemos sobre Jesus, porque os evangelistas se preocuparam em retratar seu conteúdo e não suas aparências. Mesmo que os fatos sejam questionáveis e discutíveis, merecem reflexão exatamente porque não estivemos lá e quem os narrou estava mais perto deles do que nós.
Por isso, quando sei de livros piedosos que apontam Maria como a mais linda moça de Nazaré, falam da maciez da sua pele, da beleza profunda de seu rosto de mulher jovem; que falam de Jesus de olhos negros, verdes ou azuis, cabelos castanhos e que o tom de sua voz que soava a barítono... só posso concluir o que fica evidente: criamos um Jesus que se pareça com o tipo de homem que nos cativaria, mas não um Jesus que seja realmente quem foi.
Na falta de maiores detalhes e de fotografias, mais do que imaginar, inventamos, ou mergulhamos nos escritos apócrifos que são pródigos nisso que os americanos chamam de “niceties”, coisinhas lindas e gostosas de ler!...O Evangelho Pseudo-Mateus da Infância é um dos mais pródigos em histórias mirabolantes estilo “não fui lá, mas deve ter sido um espetáculo depois do outro!”
É melhor não nos preocuparmos demais com as aparências de Jesus, para não acontecer que ele entre nos nossos esquemas e acabe exatamente como o imaginamos, ao invés de sermos nós a nos ajustarmos a ele!
Pe. Zezinho, scj
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