quarta-feira, 28 de julho de 2010

Artigos - 27 de Julho




BENÇÃO PELA MÍDIA

Não é incomum ver pregadores católicos, evangélicos e pentecostais abençoarem através da mídia. Nada mais natural, pois a benção não está restrita a lugar. Percebe-se, com freqüência, que alguns deles, abençoam copos de água e o bebem e sugerem a quem pôs o copo de água diante da televisão e do rádio, que também o beba. Atribuem poder de benção sobre objetos à distância. Isso também está na Bíblia. Mas, daí a concluir que a benção dada pelo pastor ou padre, pelo padre ou pastor, através da televisão é mais forte do que a benção dada pelo seu pároco é um passo ousado. Equivale a dizer que a benção de perto, dada pelo padre em carne e osso, vale menos do que a benção de longe dada pelo pregador famoso. Aí se confunde a fama do pregador com o poder de benção que ele tem. O que não é a mesma coisa!

Se é para receber a benção de uma Igreja, qualquer pregador daquela Igreja, por ela autorizado, deve dá-la. Pode-se recebê-la pelo rádio, ou pessoalmente, lá na Igreja matriz com o pároco. Não é porque um padre famoso fez o sinal da cruz a dois mil quilômetros e a benção veio televisão que, de repente, a benção do padre a quinhentos metros daquela casa valerá menos! Mas é o que tem acontecido! Foi a história a mim contada por um pároco de cidade do interior de Minas Gerais, que ouviu da fiel, que morava a menos de um quilômetro da sua Igreja, que ela não ia perder tempo de andar um quilômetro para ir receber uma benção, se ela poderia recebê-la na casa dela, sentada, pela televisão, por um padre que tinha mais poder do que ele, porque abençoava mais gente do que ele.

O pároco se calou, diante do marido dela, estupefato ele com a dureza da esposa. Mais tarde o marido foi ao padre pedir desculpas. Ele, o esposo não pensava daquele jeito. Disse: - “Minha mulher se deixou influenciar por alguns pregadores de televisão. Porque eles estão mais lá em casa do que o senhor, concluiu que os pastores dela são aqueles que falam pela televisão. Pra ele é mais fácil porque podem estar em milhões de casas ao mesmo tempo, para o senhor eu sei que é difícil, porque uma coisa é pregador de mídia e outra é pregador de paróquia. Minha mulher ainda não entendeu isso. Ela foi convencida pela mídia e pelo marketing e ainda não conseguiu estabelecer a diferença. Pra ela padre de mídia tem mais autoridade do que o bispo e o pároco. Mil perdões por minha esposa. Não há santo que a convença que pregador famoso não é o mesmo que pregador preparado”.

Embora com a língua a coçar, o pároco nunca falou do fato na paróquia. Limitou-se a me pedir que, na entrevista que eu daria na emissora de rádio, eu transmitisse essa catequese, coisa que eu fiz com muito prazer, porque acredito que padre de mídia não pode substituir padre de paróquia, de hospital e de colégio e por achar que o dízimo primeiro deve ser dado à paróquia e só depois alguma contribuição para o movimento ou para a televisão. No máximo somos humildes colaboradores. Nunca podemos usurpar. Cabe a nós que trabalhamos na mídia dizer com clareza: - “Minha benção vale menos ou tanto quanto outras bênçãos. Não atribua a mim uma santidade ou um poder que eu não tenho só porque estou na mídia. Seu padre aí pertinho da sua casa, tem muito mais direito do que eu até porque tem mais deveres junto a você.” É o que digo, falo e faço.

Sei dos limites de trabalhar na mídia, sei também do valor de um bispo e de um sacerdote que se desgastam no seu cotidiano pelo bem do povo de Deus a ele confiado. Trabalhar na mídia pode até ser mais sensacional, mas não é nem deve ser mais importante. Registre-se esta observação de quem já tem 43 anos de mídia!...


BENÇÃOS ALTAMENTE SELETIVAS

Abordo um tema relativamente freqüente nesses dias de padre famosos. Falo da benção especial de alguns sacerdotes em detrimento da benção sacerdotal dada pela Igreja, na pessoa de qualquer um dos seus sacerdotes. Criou-se entre alguns fiéis a idéia de que a benção de um padre famoso vale mais do que a benção de um bispo ou do que a benção de outro. Falo do que aconteceu comigo e imagino que aconteça com outros sacerdotes mais conhecidos do que os demais. Lembro que mais conhecido não significa mais culto, nem mais sábio nem mais santo!

Alguns desses fiéis chegam a afirmar que um sacerdote famoso tem benção mais forte e mais poderosa do que a de um sacerdote anônimo. Já o disseram a mim! Explico que não é assim, mas insistem que assim é que é. Atribuem mais poder de benção a quem tem mais poder de fogo, mais publicidade e mais divulgação. Nada mais errado!

Eu havia chegado cansado, com taxa alta de diabetes e pressão elevada a uma cidade onde deveria celebrar missa e, mais tarde, dar um show. Já faz tempo que deixei de ser um jovenzinho! Uma senhora me procurou pedindo que eu fosse ao hospital abençoar a sua mãe. Acreditava que minha bênção a curaria mais depressa. Perguntei-lhe se o pároco já havia visitado sua mãe. Disse que sim. Perguntei-lhe se algum outro sacerdote tinha estado com ela. Sim, um diácono e outros dois. E respondi serenamente: -

-Então, a senhora não precisa que eu vá. Se o sacerdote, que é seu pároco, já foi e se diácono e sacerdotes abençoaram sua mãe, ela está mais que abençoada, porque a benção não é do padre: é da Igreja. Ela está abençoada. Eu tenho a missa das 19h para celebrar, tenho um problema de saúde no momento e tenho um show logo após a missa. Peço-lhe que me liberte deste compromisso, até porque eu não poderia fazer mais do que estes piedosos e bons sacerdotes já fizeram.

Ela não aceitou. Disse aos amigos e amigas que eu me recusara a ir ver uma enferma. Evidentemente, não explicou as razões. Isto revela uma dimensão da falta de catequese entre os católicos de hoje. Quando alguém acha que um padre famoso dará uma benção melhor do que seu padre não tão famoso é porque não recebeu catequese adequada. Bênção de pároco pelo seu testemunho de pastor presente, talvez seja mais profunda do que bênção de padre famoso e de passagem. São, talvez, os mesmos fiéis que acham que, no céu, há santos que podem mais que os outros e que existem orações de poder mais poderosas do que outras orações. Esquecem aquele que pede com santidade e humildade, mas não é tão famoso como o padre que fala na televisão. Como tenho o hábito de ensinar catequese sempre que posso, ensinei àquela senhora a catequese oficial da Igreja, mas ela tomou minha decisão como falta de amor ao próximo. E não adiantou eu prometer que iria ao dia seguinte antes de viajar. Não aceitou! Fiz uma inimiga! Pensou nela, na sua mãe e na benção de um padre famoso, quando, um dia antes, o pároco e três outros ministros tinham estado lá. Temos um longo caminho de catequese a percorrer na Igreja que se deixou envolver pelo poder da mídia... Nós padres de mídia temos muita catequese a dar ao povo que nos aplaude! Não estamos com essa bola toda!


DEBATER OU COMBATER?

Cristóvão Buarque, senador da República, disse em programa levado ao ar dia 19 de julho de 2010 que quem tem uma causa não tem o direito de ficar em casa. Falava de coisas positivas da política. Mas o que ele disse serve para crentes e não-crentes militantes. Que se manifestem, mas com serenidade! E a questão é bem esta! Debate ou combate?

Os crentes das ultimas décadas escreveram milhares de livros sobre Deus e sobre Jesus, muitos deles, infelizmente, desrespeitosos com relação aos não-crentes ou aos declaradamente ateus. Agora, os ateus respondem com dureza, ironia e de maneira envolvente, questionando os crentes e o Deus por eles anunciado. Entre eles estão Saramago, Christopher Hitchens, Richard Dawkins, Dan Brown e Daniel Dennet. Há centenas de outros. Como não acreditam em Deus, não é contra ele que lutam. Não lutariam contra o que consideram inexistente! Combatem, sim, a idéia de Deus e quem a divulga! De quebra, combatem os que anunciam que Jesus era o Deus eterno aqui presente.

Do lado dos crentes, são incontáveis os autores das mais diversas correntes de fé a provar que Deus existe e é do jeito que eles anunciam! Mas um grande número deles ainda não consegue ir até o meio da ponte para contemplar, juntos, as mesmas águas...

Há os ateus e os crentes serenos. E há os de cimitarra, de espada, de porrete e de punho fechado. Atingem a religião pelos flancos e acertam nos pontos fracos de todas as igrejas, como nós também acertamos nos pontos fracos do ateísmo que, no poder, silenciou, massacrou, prendeu e matou.

E daí? Aonde vão dar estes livros e estas conferências pró-Deus e contra-Deus, pró-religião e contra-religião? Foi John Lennon que na sua canção mensagem “Imagine” sacudiu meio mundo ao dizer que poderíamos chamá-lo de sonhador, mas ele sugeria que imaginássemos, com ele, um mundo sem religião, sem céu acima e ou inferno abaixo de nós, sem fome, todo mundo se entendendo numa fraternidade humana. Aí, sim, a vida seria vida de verdade e o mundo seria um só!...

Deu o seu recado que os crentes cantaram sem pensar no que diziam. Cantavam contra si mesmos!...

O mundo está repleto de pessoas que nunca precisaram, ou que cada vez precisam menos de religião e de Deus. Está, também, repleto de crentes que aceitam, precisam de Deus e o procuram. Conseguirão debater sem combater? Enquanto houver respeito, tudo bem! Triste será quando os agressivos de ambos os lados se encontrarem de punhos cerrados. Já aconteceu e sabemos no que deu!


FÉ EM JESUS

Sou um religioso cristão e católico. Isto significa que minha fé em Deus passa pela fé em Jesus e minha fé em Jesus, passa pelo meu catolicismo. Aceito o jeito da Igreja católica falar de Jesus, seus ritos e suas práticas.

Falo com o Pai em nome Jesus e creio que Jesus é o Filho e me espera no Pai. Mas tento me lembrar que estou falando com o único Deus que há. Minha cabeça é pequena demais para entender este mistério. Então, ou eu fundo uma nova igreja, ou entro numa outra, ou migro para uma religião que crê numa só Deus, que é uma só pessoa, ou, ainda, fico com os cristãos que sustentam este mistério de que só há um Deus, mas ele é Pai, Filho e Espírito Santo.

E se estivermos errados? Ainda assim quero crer com os cristãos. E se os outros estiverem errados e Deus for um só, mas for Pai, Filho e Espírito Santo? Neste caso, eles morrerão crendo errado, mas serão amados por Deus porque foram sinceros.

Não tenho o menor constrangimento em admitir que talvez eu creia errado. Mas, como não fui lá e não vi, e os outros também não foram e não viram, cada qual escolhe a fé que deseja seguir. Eu decidi continuar na fé que estava seguindo.

Continuo não sabendo explicar Jesus, O Filho. Eu também não sei explicar nem pilotar um avião a jato, mas viajo nele e espero que aquele vôo não caia. Se tenho fé nos engenheiros e no piloto, posso também ter fé na minha Igreja. Não estou nela por questão de certeza absoluta. Estou nela por questão de fé. É o avião que escolhi para ir aonde espero chegar!

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sábado, 17 de julho de 2010

Artigos - 17 de Julho




OSIRIS, ODIN E JESUS

Demonstrando algum conhecimento de mitologia ela me trouxe recortes de uma revista esotérica que comparava Osíris, o senhor do submundo e da vida eterna e Jesus, o Senhor dos mundos e da via eterna. Segundo a mitologia egípcia, Osíris tornou-se importante depois que ressuscitou. Fazia par com a deusa Isis, sua irmã e sua esposa. Nos dias de hoje seria um incestuoso. Segundo o mito todos os faraós se tornariam Osíris depois da morte. A superação de Osíris que também foi esquartejado e remendado inspirou os mortais a desejarem a vida eterna.

Deixou o texto e foi embora. Dois dias depois me telefonou para saber o que eu achava das semelhanças. Falei-lhe de outras semelhanças em todas as mitologias e disse que o texto em nada mudava minha convicção de que Jesus é Deus. Falei de Cronos, o deus tempo que engoliu os filhos que mais tarde foram vomitados por interferência de Zeus ou Júpiter e por Métis, a deusa prudência. Falei de Vivasvat e Saranya, Vishnu e Shiva, Odin que sacrificou um olho em troca de sabedoria, porque toda sabedoria tem um preço. Falei de Ometeotl, de Huracan, de Viracocha e Mamacocha, de Tupã, de Tangaroa, de Thor, de Urano e de Hera, de Gaia, Poseidon, de Hades. Acentuei que cada povo tinha nomes e funções diferentes para seus deuses e deusas. Todos profundamente ligados à natureza e seus fenômenos e à busca do imanente e do transcendente. Lembrei que os povos contavam a história do universo endeusando o que viam, mas não compreendiam: chuva, tempestade, astros, ventos e luzes no céu. No caso dos gregos o Deus Cronos (tempo) engoliu alguns valores (filhos), mas a deus Prudência ou Métis e Zeus os devolveu à vida.

Falei-lhe de Prometeu, Epimeteu e Pandora, de Narciso, de Eco de deus vaidosos e superficiais que não percebiam o extremo grau de sua vaidade. Falei de Pandora e de Eva e da tentação de mexer nos segredos do infinito. Mostrei que também lia mitologia. Sabia das deusas, ninfas de musas, dos semideuses, dos gigantes e de como os gregos e latinos explicavam a vida, a dor, a alegria, a morte, as paixões com histórias e atribuições aos deuses.

Ouviu-me e perguntou como eu, sabendo tudo isso, ainda afirmava que Jesus é diferente. Respondi que poderia escolher o caminho da comparação como o sujeito que compara estradas e não viaja por nenhuma, compara computadores mas escreve a mão e compara veículos mas escolhi ir a pé. A fé supõe conhecimento, mas também supõe adesão. Mostrar cultura qualquer um pode. Informar-se sobretudo nos dias de hoje está ao alcance de qualquer um. Mas escolher e assumir é questão de atitude. O mundo tem muitos rios e estradas, mas se decidi aonde quero ir escolho os que me deixariam lá ou o mais perto possível de onde quero ir. Eu escolhi não ficar apenas nas comparações. Escolhi continuar crendo em Jesus, mesmo sabendo que antes dele houve histórias um pouco semelhantes às dele.

Conclui dizendo que sabia distinguir entre mito e realidade, entre símbolo e mistério e entre crença e fé.

Semanas depois veio falar comigo e quis saber mais sobre Cristologia. Indiquei cinco livros de católicos e dois de evangélicos que poderiam ajudá-la. Mas decidir, só ela poderia! Pelo que sei está lendo e comparando. Um dia desses ela decidirá se fica apenas no conhecimento ou se adere... Se aderir será por convicção dela. Não puxo ninguém para Jesus. Tenho sérias restrições ao marketing da fé. Deixo que a pessoa se informe e decida. O que decidir estará bom para mim. Não me tornei padre católico para encher os bancos dos nossos templos e arrastar milhões de almas para o Cristo e, sim, para revelar da melhor forma que conheço o rosto de Jesus Cristo. Tento seguir o jeito de Paulo:

Porque convosco falo e, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério, para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. (Rm 11, 13- 14)

Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. (I Cor 9, 22)

Não quero que ninguém me siga. Mas se alguém quiser caminhar comigo iremos juntos. E não faço questão de ser madrinha de tropa ou de ir à frente segurando a seta. Descobri a importância das palavras outro e juntos. Para ser ouvido não preciso estar acima do meu povo. Às vezes um barco bastava para Jesus.

Posso até levar a Jesus, mas na maioria dos casos, sei que bastará apontar. Eles já o procuram há muito tempo. Até porque Jesus mandou duvidar dos que se dispõem a levar até ele agindo como quem sabe o caminho. (Mt 24,24-26) Pregador não é aeronave: é seta. E se for piloto terá que obedecer as rotas e os limites da aeronave!


A ERA DO CRACK

Por crack entende-se “quebra”. Vem do inglês. Um galho que se quebra com alguém em cima dele faz crack. Nunca se espera coisa boa de um crack, seja ele de objeto de estimação, seja de galho onde estamos, seja de bolsa de valores.


O crack da bolsa de 1929 e o impasse econômico de 2008 foram frutos de dinheiro qualquer, oferecido de jeito qualquer para pessoa qualquer que não tinha como saldar. Emprestadores e tomadores de empréstimo deixaram-se levar pela urgência e pela falta de critérios. Aventuraram-se, arriscaram, jogaram e perderam.


De certa forma a droga crack é este passo urgente de quem quer chegar mais depressa, não se sabe aonde nem porquê. Semelhante é a aids que, nem sempre em todos os casos, mas em muitíssimos é o resultado um jogo chamado sexo sem proteção e sem cuidados, com parceiro qualquer de qualquer jeito urgente e sem maturidade. Não é por menos que todos os países, além de objetos que protejam, insistem na escolha de pessoa certa. A promiscuidade foi o crack do sexo depois dos anos 60, como já foi em eras prístinas.


A sociedade deu um passo mais avançados quando ligou o casamento ao amor e à escolha certa do parceiro ou da parceira. As pessoas, ao invés de serem dadas em casamento passaram a dar-se. Mas da mesma forma que havia promiscuidade quando se contraiam casamentos por interesse pecuniário e união de fortunas e, por isso, também de corpos, passou a haver promiscuidade quando as pessoas declaravam o fim de um ou vários casamentos por conta de beleza, sexo com alguém mais jovem, união com alguém socialmente mais interessante. O fim da fidelidade sacramentada pelo Estado possibilitou um crack assistido de casamentos juramentados e livremente contraídos. O contrato matrimonial passou a ser desfeito a partir do sentimento em baixa. Como no passado casamento não tinha muito a ver com amor porque fundamentado em fortunas, com o tempo passou a nada ter com fidelidade porque fundamentado em humores.


Excesso de retrocesso e de desajustes acaba em promiscuidade. Passa-se de um desajuste a outro desajuste, por conseguinte de uma a cinco ou seis uniões. O argumento é a felicidade pessoal. Não estando outra vez feliz com esta outra pessoa, a pessoa insatisfeita advoga o direito de tentar mais uma vez até encontrar alguém com quem se ajuste e seja feliz.

Trocar de parceiras com freqüência não é bom nem para o indivíduo, nem para os filhos nem para a sociedade; pior ainda, é transar sem transação de afeto, encontros que não nascem de uniões nem as visam, porque não haverá coabitação. De qualquer jeito, com qualquer um, a qualquer hora não é exercício da sexualidade: é crack. É como subir a dois em árvore desconhecida sem saber se os galhos resistirão... O ruim do quebra galho é que em geral o galho se quebra. Quem sobe depressa e sem cuidado corre maior risco de se machucar! O crack nas ruas, no leito e na política é esta pressa de novas sensações sem as devidas salvaguardas. Acaba em perda de critérios. Não deixa de ser triste que estejamos vivendo esta era e que as maiores vítimas tenham menos de 30 anos! É assassinato de uma geração!


INSTRUÇÕES DE AEROPORTO

Algumas pessoas são confiáveis como vozes de aeroporto. Isto é: não são. O que elas dizem não merece crédito. Espere por outras instruções, porque as primeiras raramente valem.
Há o lado ruim e o lado bom. Pelo que há de bom acho que devo agradecer quem dá aquelas instruções atabalhoadas porque graças a elas tenho caminhado cerca de dois quilômetros por vôo, e de mala na mão. Pratico, assim, um sadio halterofilismo, além de andar a quilometragem necessária para meu diabetes e minha pressão alta. Meu médico também agradece. Quem viajar de avião com freqüência semanal e embarcar no aeroporto de Congonhas certamente não levará vida sedentária. Infalivelmente a porta indicada não será a porta de embarque... Aos portadores de algum limite oferecem uma cadeira de rodas. E isto compensa em parte pelo incômodo causado aos demais. Ao menos alguém recebe os devidos cuidados. O resto, que se cuide.
O que isso tem a ver com religião? É que as pessoas dependem daquelas vozes de aeroporto para subir aos céus num avião e não poucas vezes são obrigadas a correr como baratas tontas de um lado para o outro por falta de melhores instruções. As companhias culpam a Infraero, a Infraero culpa o atraso das companhias e ninguém assume a culpa. Cai um avião e morrem 199 passageiros e ninguém assume a culpa. Reina a desinformação.
Não é muito diferente com as igrejas que chamam o povo para passar pelos seus templos se quer ir para o céu. Lá, supostamente os fiéis receberão as instruções. Mas também lá, a depender do pregador e da linha vigente na igreja ou no templo, como baratas tontas os fiéis não sabem o que é certo ou errado porque um pregador diz uma coisa e outro diz outra; um interpreta de um jeito de outro de outro. É outro empurra-empurra, outra prá-lá-pra-cá que cansa o fiel. Basta ligar o rádio e a televisão para ver o que as igrejas ensinam em nome de cristianismo. Pode e não pode, não pode e pode, Jesus falou, Jesus mandou, Jesus me disse, Jesus não quer, Jesus quer... Os textos caem como luva para os propósitos daquela igreja ou daquele movimento. Nunca se sabe qual a porta de acesso a Jesus porque cada pregador tem uma chave!
Estamos muito longe da unidade no essencial, como parece que os porta-vozes das companhias aéreas e a Infraero parecem não chegar a um acordo. Mais de cinqüenta vezes- e não exagero- fiz o trajeto do portão 12 para o portão 17 ou 21, porque a primeira instrução não valia.
As igrejas parece padecerem do mesmo problema. Não há unidade na pregação. Depois fica difícil explicar ao fiel que seguiu aquele pregador que São Paulo não disse aquilo daquele jeito, que isto é pecado e aquilo não é e que, quando alguém peca não enfia mais um espinho na cabeça de Jesus, nem que orar em línguas é sinal de maturidade na fé. Se fosse assim teríamos que dizer que os santos, as santas, os papas e os cardeais e bispos dos últimos séculos eram todos imaturos porque nenhum deles orou em línguas... Alguém inventa e depois não há quem tire a idéia da cabeça do fiel mal instruído pela voz não se sabe de quem... Talvez seja hora de voltarmos à catequese e abandonarmos o achismo que tomou conta de alguns púlpitos e mídias religiosas...


PROCLAMAR-SE CRISTÃO

Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. (I Cor 2, 2)

Imagino que o mesmo aconteça com você! Sou um religioso com intenção manifesta de ser cristão e católico. Isto significa que minha fé em Deus passa pela fé em Jesus e minha fé em Jesus, passa pelo meu catolicismo. Aceito o jeito da Igreja Católica falar de Jesus, seus ritos e suas práticas. Eu não saberia fazê-lo sozinho. Não tenho nem cultura nem espiritualidade para isso. Impressiona-me quem diz que não precisa de uma igreja. Eu preciso.

Falo com o Pai em nome Jesus e creio que Jesus é o Filho que me espera no Pai. Tenho consciência de que quando falo, seja com o Pai , seja com o Filho, seja com o Espírito Santo estou falando com o único Deus que existe. Minha cabeça é pequena demais para explicar este mistério, mas não para aceitá-lo; eu o aceito. Se discordasse teria que fundar uma nova religião, ou entrar numa outra, ou ainda, migrar para uma religião que creia num só Deus mais lógico para ela. Mas quem disse que este Deus que coubesse na lógica deles seria o verdadeiro Deus? E existe religião que se guie apenas pela lógica?

Então vem a pergunta: -“E se estivermos errados?” Ainda assim quero crer com os cristãos. E se os outros estiverem errados e Deus for um só, mas for Pai, Filho e Espírito Santo? Neste caso eles morrerão crendo errado, mas serão amados por Deus porque foram sinceros.

Não tenho o menor constrangimento em admitir que eu talvez creia errado. Mas, como não fui lá e não vi, e os outros também não foram e não viram, cada qual escolhe a fé que deseja seguir. Dia houve em que eu decidi continuar na fé que estava seguindo. Continuo não sabendo explicar Jesus, “O” Filho. Para mim Jesus é, antes de tudo, o próprio Deus. Mas, sendo Deus uma trindade e pessoas, ele é o Filho.

Difícil de crer? Eu também acho. Não creio porque é fácil, nem porque faz sentido. Creio porque aceito o que está nos evangelhos. Também não amo só porque faz sentido. Ninguém ama só porque faz sentido. A tendência é amar a quem nos agrada. E não poucas vezes amamos a quem não nos ama nem nos agradece. Nem o amor tem lógica, nem a fé. Foi o que Jesus disse a Tomé, que queria provas. Seguiu a lógica. Jesus lhe disse que há um caminho mais completo. O daquele que não vê, mas assim mesmo aceita. Não disse que era fácil. Não o é para um ateu e não o é para um crente que pensa.

Também não sei explicar nem pilotar um avião a jato, mas viajo nele, esperando sempre que aquele vôo não caia. Se confio nos engenheiros e no piloto que não vejo, posso também ter fé no Cristo que não vejo e na minha Igreja da qual vejo apenas uma parte. Não estou na Igreja por questão de certeza absoluta. Estou nela por questão de fé. É o avião que escolhi para ir aonde espero chegar!



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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Artigos - 12 de Julho




PERDÃO POR NÓS, PERDÃO POR ELES!

Pediram-me que escrevesse sobre o tema que os bispos e o papa já abordaram com maior maturidade e autoridade. Mas lembro-me de um incidente que sacudiu uma cidade nos Estados Unidos no tempo em que eu lá estudei. No Middle East, uma cidade acordou em luto pela morte de oito garotas covardemente assassinadas por um desequilibrado. Seus parentes que nada tinham a ver com o caso preferiram não dar entrevistas, mas em nome da família, um deles pediu perdão à sociedade americana. Daquele dia em diante sua família carregaria para sempre o peso dos atos dele.

O mesmo fez um irmão mais novo no sul do Brasil, ao saber, dos crimes de seu irmão mais velho. Pediu perdão em nome da família. A cidade entendeu que não poderia culpar pai, mãe, irmãos e irmãs, porque, disse a vice-prefeita, na família de qualquer um poderia acontecer a mesma tragédia. A cidade resolveu não culpar toda a família. Seria injusto!

Agora que se fala dos pecados de alguns membros do clero católico e é o que mais aparece na mídia, a tentação é de nos defendermos dizendo que outras igrejas também têm criminosos e pedófilos. Isso não mudaria o fato de que os há entre nós. Da mesma forma que temos a obrigação de respeitar os bons médiuns, os bons pastores, os bons rabinos e os fiéis das outras religiões quando se noticia que um deles errou, esperam-se deles que nos respeitem. Mas fez bem o papa e não se esperava outra coisa dele quando pediu perdão e determinou providências.

Doeu, dói e doerá muito na igreja o pecado que há nela. Dói também nas outras. Mas é bom não esquecermos os santos de todas elas, os consagrados e os abnegados que os há em grande quantidade. E nem faz sentido acusar os jornalistas. Eles deram cobertura a João Paulo II, a Dom Helder, a Madre Tereza de Calcutá, a Irmã Dulce, a Padre Josimo e a Irmã Dorothy. Mostraram nossos mártires. Quando retrataram as acusações, mostraram as provas e deram ao entrevistados a chance de explicar-se fizeram o que faz a mídia. Gostaríamos que mostrassem apenas os nossos santos. Não o fizeram!

A nós compete perdoar e pedir perdão. Os caluniados, perdoem, os que de fato erraram e há provas, peçam perdão. A Igreja perdoe, ore, eduque e re-eduque. E não há um só ser humano que não precise de perdão. Quem tem fé humilhe-se, porque igrejas não são feitas de anjos. Não é sem razão que começamos nossas missas acolhendo-nos e pedindo perdão! Sirva-nos sempre o texto de Paulo em Mateus 7,10-

O leitor o leia! É um retrato do que somos!


MIDIA, FOLHAS E FORMIGAS.

Não existe mídia leve. Existem programas leves. Quem quiser se dedicar de corpo e alma à mídia como formador de opinião, saiba que se trata de trabalho agradável, e certamente terá seus bônus, mas não sem seus devidos ônus. Serve para jornalista, colunista, radialista, apresentador, político e pregador de moral e costumes. Em algum momento o comunicador que fala diante de um microfone ou de uma câmera baterá de frente com alguma outra corrente de pensamento. Ai verá se tem ou não tem cacife para dialogar.

Dias atrás, mais uma vez tomei tempo para seguir um carreiro de formigas. Essas pequenas trabalhadoras me encantam; elas, as aves e as abelhas. Notei mais uma vez que pelo menos 99% delas levavam carga que podiam levar. Pareciam ter consciência do peso a levar, do próprio corpo, das próprias forças, da distância, dos ventos e dos empecilhos. Um grupo delas levava uma companheira morta. Outro grupo de cinco partilhava um pedaço maior, estilo força tarefa.

Mas vi algumas, poucas, é verdade, levando penosamente uma carga duas ou três vezes maiores do que as demais. No caminho, havia pedaços grandes abandonados.

Pensei na no carreiro chamado mídia! Vivi o suficiente para conhecer as histórias de Marilyn Monroe, Judy Garland, Frank Sinatra, James Dean, Elvis Presley, Michael Jackson, Elis Regina, Jim Jones, Soeur Sourire e centenas de outros, para quem a fama pesou demais. Foi pedaço maior do que podiam carregar. Houve os que desistiram, os que se mataram, os que saíram chamuscados.

Mídia é organismo vivo. Como cavalo xucro escoiceia e corcoveia. Não é todo peão que a doma. Mídia é como sol quente das 10h às 16h. Quem, sem a devida proteção, se expõe demais ao seu brilho sai cheio de pústulas e queimaduras. Mídia é como pedaço de folha grande que a formiguinha achou que poderia levar, mas cambaleou e desistiu. Esperto é quem sabe o que montar, e como montar, e quando pular da sela. Esperto é quem sabe quanta luz agüenta. Esperto ainda, quem sabe o que pode e o que não pode.

Demonstra pouco critério e pouca inteligência emocional aquele que de tal maneira se apaixona pela mídia que aceita qualquer coisa para ser notado. Ao invés de agente transforma-se em objeto, ídolo, comunicador sem liberdade de ir e vir. A ironia das ironias é que os que mais se expõem e se oferecem à multidão são pessoas que já não se possuem. Como droga, mídia às vezes vicia e escraviza.

Formiga esperta só leva o que pode levar. Comunicador esperto nunca se super-expõe!


MENOR QUE UM ALFINETE

A caminho de Porto Alegre, num domingo à tarde dei-me conta, não faz muitos anos, da importância das coisas pequenas; para o bem e para o mal. O carro parou e não havia jeito de fazê-lo funcionar. Eram três da tarde e o avião partiria às sete. Telefonamos ao pároco e um mecânico generoso veio de carro até nós, para constatar que um reles, rele Zinho causara toda a confusão. Tinha o tamanho de uma cabeça de alfinete. Mas aquela pecinha parou um carro de duas toneladas. Consertou-a e seguimos viagem, agora refletindo sobre a importância das pequenas coisas.

Escapa-nos à reflexão, mas um pequeno coágulo pode nos matar, uma infecção numa unha pode nos levar, uma bactéria rebelde pode acabar com o leão, com o hipopótamo e o elefante. O pequeno mosquito da dengue derruba um rapaz de um metro e noventa. E foi um palito de fósforo que pôs fogo em dez hectares... Para o bem e para o mal um pequeno objeto pode afetar milhares de vidas.

Dias atrás meu computador enguiçou. Outra vez foi uma pequena peça que mal cabia na minha unha, a causadora do problema. Uma tecla de acréscimo afetou a conta bancária de um amigo meu. Ele confirmou duas vezes o que jamais poderia confirmar. Apertou o s pela segunda vez...

Quando, pois, Jesus manda valorizar os pequenos gestos e diz que um copo d água pode fazer a diferença (Mt 10,42); quando compara ao Reino de Deus a um grão de mostarda que, depois de semeado e crescido, aninha aves nos seus ramos (Mt 12, 31) oferece-nos a catequese das pequenas coisas. Um pingo no i, uma palavrinha mal usada, um pequenino grão de trigo, (Jo 12,24) sete pães e alguns peixes, (Mt 15, 34) ou cinco pães e dois peixes (Mt 14,17), uma fé pequena mas forte, tudo isso faz a diferença. Jesus não se rege por números nem se impressiona com gestos grandiosos e teatrais. (Mt 7,15-22) A mulher que depositou duas moedas no templo fez mais do que muitos ricos.(Mc 12,42) Um pouco das pombas e um pouco das serpentes ajuda a viver. (Mt 10,16) O pequeno rebanho não deve, pois, ter medo. (Lc 12,32) Deus olha o conteúdo e oferece o discernimento.

Em época de grandiloqüências e teatralidade, de excesso de mídia e de enxurradas de mensagens, pirotecnias e espalhafatos. (Lc 9,54) em tempo de poderosas luzes a iluminar os pregadores, talvez seja de bom alvitre insistir no simples e no pequeno. Não deixa de ser uma forma de cultura! Francisco e sua simplicidade
Ainda seriam o melhor púlpito e o melhor sermão para o nosso tempo. Ele talvez usasse a mídia, mas não perderia a pequenez.


MISERICÓRDIA DE FUNDO DE QUINTAL

Conto uma estória sem os nomes, mas acontecer, aconteceu! Casados por 18 anos, três bonitos e serenos filhos, ele deu de beber, jogar e procurar mulheres. Culpa dela é que não era, posto que continuava bonita, dona de si e excelente educadora. Mas havia alguma coisa a mais que ele queria e não achava nela. Foi reviver suas liberdades de solteiro com meninas da idade da filha.

O casarão construído com os lucros de uma firma de sucesso não mais o atraia. Chegava tarde e saia cedo. Deu de dormir no sofá. Perdera o interesse pela esposa. Um dia, deixou claro que gostava mesmo era de gatas... Ele tinha o que elas queriam e elas tinham o que ele queria!

Ela o preveniu contra os arranhões. Disse que a casinha de fundo estava à disposição dele, desde que não trouxesse as gatas para a casa. No quarto, não o queria mais! Nem se tocou; continuou indo aonde não devia e voltando para dormir no fundo do quintal. Os filhos, é claro escolheram a mãe.

Com o tempo ele degringolou. Nem voltar, voltava. Ia da firma para a festa. Montou apartamento e viveu com três outras meninas no curto espaço de dez anos. Um dia, o coração bateu errado. Foi achado no apartamento à beira da morte, depois de uma noitada com mais uma menina de programa. Ela confessou que rolaram bebidas e drogas.

Não viveria muito! Ai entrou em ação o perdão da esposa católica apostólica romana que não divorciara, resistira a outros homens, não o entregara ao demônio e silenciosa e sofrida o recomendara a Deus. Seu casamento tinha sido para sempre! Acolheu-o e cuidou dele. Envergonhado, ele não quis sair da casinha de fundo. Morreu aos 60 anos, nos braços dela. Foi misericórdia de fundo de quintal.

Conclusões? Cada qual tire as suas! Mas está aí um tipo de fidelidade cada dia mais raro. Ela realmente o amara. Ele, nem tanto. Quando ela disse o sim foi para sempre. Quando ele começou a dizer não, ela insistiu sofrida, mas serena no seu sim. Esperava que ele se convertesse e saísse do infantilismo para o qual regredira. Não deu certo. Ele se mostrou incapaz de superar o gosto pelo aplauso, pela bebida e por mulheres. Dinheiro ele tinha para bancar a família e as noitadas! Amigos e funcionários tomaram o lado dela. Sobraram os novos amigos dos quais nenhum prestava.

Boba? Trouxa? Senhora? Adjetivos não mudariam uma pessoa assim substantiva. No dia do enterro a cidade estava lá, muito mais por causa dela! Sumarizou o fato um respeitado jornalista:- “Ele ganhou um belo túmulo, mas para ela a cidade deveria erguer um monumento! Amores como este andam cada dia mais raros”...

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Artigos - 05 de Julho




O ESPIRITO QUE NADA LHES DIZ

Não são poucos os que apostam demais nas luzes do momento, dadas pelo Espírito Santo. Mas é muito duvidoso que as recebam, porque pela excessiva obviedade do que dizem no rádio e na televisão, mostram que não estudam nem Deus, nem sua Igreja nem o mundo. Alguns deles teriam dificuldade de dar aulas para adolescentes de segundo grau. Perguntei a cinco deles, jovens ainda, quem tinha lido algum livro do profundo teólogo Bento XVI, embora já estejam publicados pelo menos cinco no Brasil. Ninguém tinha lido. Tiveram sete ou oito anos de filosofia e teologia para conhecer o pensamento do papa e não leram nada do que eles escreveu, nem mesmo suas encíclicas? Mas dois deles tinham liderado romarias a santuários da Europa e se faziam presentes a quase todos os encontrões que podiam. Falei da lacuna que havia na sua formação: faltaram os livros de gente que sabe mais do que nós. Tomei o cuidado de usar o pronome correto. Não disse vocês, disse nós!

Pareço cruel? Leciono há mais de 25 anos e sei que tipo de pregador gosta de ler e se aprofundar e quem dispensa livros antigos e livros novos. Ler ou estudar cansa e é tarefa exigente. É trabalho duro, ainda que, às vezes, a depender do livro, seja tarefa agradável. Mas o pregador que odeia livros trai seus sentimentos na pregação. Não espere nenhuma profundidade dele. Ele não a tem porque não a buscou nem busca! Viverá de frases prontas e de efeito. Uma Igreja com mídia dominada por eles vai sentir em muito pouco tempo a falta de uma catequese abrangente. Digo , insisto , provoco e repito: A simpatia não substitui a teologia



UM CRISTO CONVENIENTE

Um tanto quanto entristecido, ao ver alguns programas de televisão e ouvir quadros e programas de rádio nos quais Jesus era anunciado de maneira categórica e cabal por pregadores com claros sinais de pouco estudo da fé, afirmou o professor de cristologia: - Eles estão enfatuados de Jesus. O perigo é que acabem enfastiados tão depressa como ficaram enfatuados. Eles parecem saber mais sobre Jesus do que o próprio Jesus.

Pensei comigo. O velho mestre está certo! Gastou 50 anos estudando teologia, especialmente teologia dogmática e mais de vinte a estudar exegese e cristologia. Nunca lhe foi pedida qualquer opinião, nem por emissoras de rádio nem de televisão. Mas meninos e meninas, padres e pastores novos de novas igrejas em deslumbrados êxtases, entusiasmados com um Jesus que não estudaram, podem falar horas e horas e cantar dezenas de canções com textos nunca revistos sobre Jesus. É como pedir palestras sobre cardiologia a quem apenas aprendeu a medir pressão e a passar pomada nas feridas...

Pensei mais. Todo cristão tem o direito de crer em Jesus e entusiasmar-se com ele. Jesus realmente encanta e entusiasma. Mas, se for o Jesus dos Evangelhos e não o da imaginação do pregador, também obriga a pensar uma sociedade mais justa e a ser solidário. O direito que um pregador entusiasmado e em êxtase não tem é o de afirmar perante milhões de ouvintes e telespectadores, coisas que não estão na Bíblia, nem fazem parte da Tradição da Igreja.

Pensei ainda no livro de Jürgen Moltmann- “O Caminho de Jesus Cristo- Cristologia em Dimensões Messiânicas”. O autor e, com ele, inúmeros outros por ele citados, deixam claro que a subjetivização da mensagem de Jesus tornou-se uma espécie de grife. Criou um Cristo que só diz o que o pregador deseja que ele diga e de cuja doutrina se tira apenas o que traz proveito ao grupo que o anuncia. O Cristo que salvou um indivíduo não se transforma no cristo que ceio salvar milhões e sacudir as estruturas do mundo. Pedem a ele, cantando, que mexa com a estrutura pessoal do novo convertido, que quer amar somente a ele, mas raramente lhe pedem que nos ensine a mexer com as estruturas de um mundo que não aceita repartir nem incluir quem não é do clube dos eleitos e privilegiados. Andamos esquecidos de pedir a ele que nos ensine a amar os outros, especialmente quem não concorda conosco e até nos questiona e silencia.

Ocultam ou silenciam o Cristo que certamente combateria a proliferação das armas nucleares, o empobrecimento das nações, a supremacia das potências econômicas e atômicas e a corrida às armas de conquista e de dissuasão, corrida que desvia trilhões de dólares, rublos, euros, ienes e reais para a produção de instrumentos de defesa ou de morte, enquanto o terrorismo, a fome e o desperdício grassam pelos cinco continentes.

Desse Jesus não se ouve falar com tanta freqüência: o reivindicador, o que manda vestir a camisa dos pequenos e oprimidos. Do Jesus que salva o indivíduo e lhe dá paz interior e certeza de que será salvo se orar todos os dias e for bonzinho para com o seu vizinho, ouve-se falar o tempo todo. Canoniza-se o sujeito e o seu projeto pessoal e subjetivo e ignora-se o projeto de justiça e paz que Jesus anunciou a vida inteira. Trocam o “ai de vós” pelo “bem-aventurados sois vós”.

O velho professor de cristologia lembrava que o Jesus conveniente tomou conta das pregações e os templos viraram lojas de arrecadação e de conveniência... Pegue o que lhe interessa e pague ao sair... Foi embora ajustando o boné e eu fiquei pensando em tudo o que ouvira. De fato, com esse discurso pouquíssimos programas de rádio e de televisão o convidariam. Mas isso não torna os convidados sorridentes e suaves mais certos do que ele. Paulo já previa isso na 2 Tm 4,1-5. O leitor faria bem se as relesse!



TELESCÓPIOS E MICROSCÓPIOS

“Nossa visão de Cristo é mais atual e coerente do que a de vocês! O verdadeiro Cristo é este que nós anunciamos.”

Um cristão, católico ou evangélico, se quiser ficar mais confuso ou talvez mais seguro do que é, entre na Internet e leia os mais de 500 artigos sobre cristologia. Encontrará de tudo: diálogo sereno, humildes proposições de quem procura entender o mistério de Cristo, busca de maior compreensão, violentos ataques de um cristólogo contra o outro, de pentecostais e evangélicos contra os católicos, destes contra aqueles. Maria e os santos certamente entrarão no rolo...

Não é coisa agradável de ser ver. Em algumas páginas a impressão que se tem é a de briga de porretes entre defensores da verdade mais verdadeira sobre o Cristo. Lembra os circumcelliones dos primeiros séculos*... Quando a cristologia vira porrete, a visão do outro um saco de pancadarias e o triunfalismo vaidoso de pregadores certíssimos um show de fé vaidosa e prepotente, perde o cristianismo e perde a cristologia que, se pretende ser ciência, em primeiro lugar terá que ser humilde e abrangente, nunca açambarcante!

O que se percebe na exposição do rosto de Cristo é que telescópios e microscópios da fé levam pregadores mais radicais a mirar o céu da teologia, não tanto na busca de conhecer melhor o Senhor Jesus e sua presença na História, quanto na agressiva tentativa de provar que o outro o deturpou. Parecem jogadores que, ao invés, de perseguir a bola perseguem a canela do adversário. É como se algum pintor, munido de lentes sofisticadas, procurasse na imagem pintada pelo outro, algum traço errado para criticá-la. Não há tempo para admirar a maneira como o outro delineou o rosto de Cristo. Procuram-se mais os defeitos do que a concepção!

O que seria uma tentativa serena de estudar Jesus? Certamente, não a de impor a própria visão. Sem diálogo entre os estudiosos da mesma igreja e entre os especialistas de todas as igrejas não se pode falar em cristologia. Não tem Cristo nem logia.

Não se pode acreditar em pregador que jamais discorda da pregação do outro, mas não se deve também acreditar naquele que não perde uma ocasião de mostrar que a outra igreja está errada. Já não é mais procura do Cristo sim, dos erros dos outros a respeito do Cristo. É perda de foco! Lembra, parafraseando Fulton Sheen* o sujeito que prova que 2 mais 2 não são 5, mas acaba ensinando que são 6.

Que discordemos um da visão do outro parece natural. Não se vê do mesmo jeito a mesma cachoeira, por conta das distâncias, dos binóculos, dos ângulos e das árvores que porventura estejam à frente de quem olha. Mas quem tem juízo ouve o relato do outro e procura entender a visão dele, mesmo que discorde das suas conclusões.

Em Corupá, Santa Catarina, há várias cachoeiras, uma delas é a do Rio Novo. De um lado se vê apenas a parte superior. De outro se vê quase toda ela, mas não toda! É impossível vê-la toda. Os empecilhos naturais não o permitem. Sem ouvir o outro, um espectador dirá que ela tem 30 metros. O outro que estudou, ou subiu todas as quedas dirá que tem quatro vezes mais. Estão certos os dois. É que falam do que viram ou de determinada queda das sete que ela tem. As conclusões não são as mesmas porque as visões não são as mesmas.

Em Cristologia acontece o mesmo. “Fui lá, estudei, vi experimentei Jesus, senti e fui revelado, li este ou aquele documento, fico com esta ou aquela igreja, com este ou aquele concílio ” podem ser argumentos, mas não são os definitivos. Jesus permanecerá o mistério que é.

Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai. (Jo 16, 16)

Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem eu sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo como meu Pai me ensinou. (Jo 8, 28)

Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir. (Jo 7, 34)

Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; (Mt 24, 23)


Procurar é uma coisa, dizer que achamos e sabemos é outra. A cristologia é mais uma procura do que um achado. Quando se reveste de pomposas afirmações e de achados definitivos corre o grande risco de deixar de ser cristologia. Perde a logia. Vira pregação entusiasmada do que achamos ser o certo e não do que se tornou visão abrangente de todas as igrejas. Não se pode hoje fazer cristologia sem ouvir a palavra dos que estudam Jesus. Deixada apenas aos pregadores de mídia e de grandes concentrações, grande número dos quais sabidamente lê pouco a cristologia terminará em triunfalismo: Yes, we have Jesus! Sim, nós temos Jesus! Venha e conheça o Jesus que se revelou a nós...

O maior sinal de que alguém se afastou da cachoeira e enveredou pelo caminho oposto é quando ouve apenas a própria voz e ignora a dos que caminhavam com ele. Os sons da floresta enganam... O maior sinal de que alguém está se afastando da cristologia e do Cristo é quando gasta mais tempo provando que sua visão é a única certa. Quem abandona a humildade e o diálogo abandona Jesus. Encantou-se mais com sua procura do que com aquele que deveria procurar.

Entre na Internet e verifique. Está repleta de “sabemos, achamos, Cristologia é com a nossa igreja!” Entre os artigos e documentos achará os sérios e profundos: “Foi assim, tem sido assim, talvez prossiga assim a busca pelo Senhor Jesus”

Outra vez vale a advertência de Jesus:

Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; (Mt 24, 23)

Jesus é muito mais! A verdadeira cristologia sabe disso!



PREGADORES E LIVROS

Digo muitas vezes em aula e repito nestas páginas: Pregador (prae-dicator) é quem prae-dicet: diz na frente dos outros. Sua função é a de entregar o recado que outro escreveu. Muito mais do que suas idéias pessoais e historinhas simpáticas sobre sua infância em família, dos valores do seu pai e da sua mãe que o formaram, cabe ao pregador, como porta-voz que tem um determinado público, entregar ao povo a catequese oficial da Igreja, explicar a Bíblia, levar ao conhecimento dos fiéis os documentos da Igreja. O quanto menos falar de si, mais eficaz será como pregador. “Eu” demais será sempre Deus de menos na pregação. Além do que, a Igreja tem milhares de santos para servirem de exemplo. A vida deles deve ser mais conhecida do que a do pregador simpático e querido. Se puder falar dos seus pais sem falar de si mesmo, siga em frente. Se, no fundo, ao falar de seus pais está é falando de si, tome cuidado com a auto-exposição. Quase nunca dá certo! Cuidado imenso com a expressão : “eu me converti”! A primeira coisa que um verdadeiro convertido faz é falar pouco de si mesmo e muito de Jesus e dos santos. Paulo falou pouco da própria conversão. Pelo volume do que escreveu é admirável que tenha falado quase nada sobre sua conversão e quando o fez foi para mostrar que era o último dos apóstolos.(1 Cor 4,9) (1 Cor 15,9)

Pobre da diocese ou a Igreja cujos pregadores ignoram os pensadores da fé: papa, bispos, teólogos, liturgistas, historiadores, psicólogos, antropólogos, canonistas, sociólogos e especialistas aos quais a Igreja chama de licenciados ou mestres. Paulo os lista depois dos apóstolos e dos profetas (1Cor12,28)

E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.

Onde ele situaria o tipo de pregador moderno de mídia ou os que reúnem multidões para levá-la a louvar? É doutor? É profeta? É mestre? É pensador ou é animador? Como você os classificaria a partir do que pregam e ensinam?

Pobre da igreja cujos pregadores odeiam livros e raramente conseguem ler mais do que dois ou três por ano. Pregarão o de sempre, do mesmo jeito, com as mesmas palavras e, na falta de assunto, fará orar e cantar, repetirão tudo e certamente falarão de si mesmos.

A nenhum pregador é facultado por questão de ética e de moral pregar apenas o que sente e o que gosta. Ele é um afixador de cartazes atualizados, um arauto, um porta-voz. Deveria ser. Muitos grandes pregadores do passado conheciam teologia. As multidões iam lá para beber da sua sabedoria. Outros pregavam apenas a indulgências ou coletavam fundos, como foi a questão que cindiu mais uma vez o cristianismo, a partir do protesto de Lutero.

Um grande número de pregadores de hoje, nas mais diversas igrejas sabe pouca teologia. Posso citar muitos da nossa Igreja que admitem não ter lido ainda o Catecismo (CIC) ou a Bíblia por inteiro. Nas suas estantes há poucos livros de teologia, história, psicologia e sociologia. E se há, num momento de verdade, admitem que não leram, porque não são de ler. Grande número deles não assina revistas especializadas de teologia, de missão ou de catequese, não entra no site do Vaticano e não lê L´Osservatore Romano que tem edição semanal em português com noticias e comentários atuais sobre a visão dos católicos. A quem pretendem enganar? Se não sabem o que sua igreja está dizendo, como pretendem proclamar-se pregadores da fé católica?



DESEJAR A FAMA E A NOTORIEDADE

Numa lúcida entrevista na revista Veja de 20.01.2010 o famoso ator negro Morgan Freeman disse: “Sei que sou bom ator porque desde o início ouvi isso das pessoas. Aceito ser um ator importante. Ser tido como importante em outras esferas da vida- isso não.” Tocou no assunto central da fama e da mídia.

Há pessoas mundialmente famosas porque perseguiram a fama e conseguiram. Outras fizeram bem o que faziam e tornaram-se famosas porque sua atuação, sua obra e sua liderança se destacaram. Não buscaram ser famosos. Foram colhidos pela fama enquanto agiam. Há os nacionalmente famosos, os localmente famosos e os famosos dentro do seu círculo. Famosos, porque conhecidos e reconhecidos por muitas pessoas. Destacam-se mais do que os demais indivíduos da sua cidade, da sua igreja, do seu partido, da sua área de atuação. Não são mais pessoas comuns, embora muitas consigam agir como tal. Nunca perderam a simplicidade. É coisa para quem tem sabedoria!

Há uma fama que veio aos poucos, naturalmente, e há uma fama arquitetada, construída, perseguida e conseguida. O famoso em questão apareceu como pode e onde pode porque desejava ser visto, conhecido e reconhecido para vender seu filme, sua canção, seu livro e suas idéias. Foi busca pessoal por notoriedade. Queriam ser aplaudidos, reconhecidos, e em alguns casos, ricos, muito ricos.

Alguns se tornaram apenas notórios. Nunca chegaram a ser famosos. Apareceram muito, mas não repercutiram. Não conseguiram causar impacto. Faltou ou conteúdo ou carisma. Sabe-se que eles existem porque são muito vistos, mas não têm seguidores, nem adeptos. Não deixaram marcas.

Um jovem seminarista me perguntou como era ser famoso e deixou claro que ele também gostaria de o ser. Brincando, sugeri que procurasse uma pessoa famosa e repetisse a pergunta, porque nunca me considerei famoso, então não teria como responder. Mas aproveitei para oferecer-lhe uma catequese sobre a fama. Sugeri que não a buscasse. Não se entra em qualquer água, não se adentra qualquer floresta, não se monta qualquer cavalo. A fama é sempre maior do que o sujeito que a busca. Ele pode não conseguir carregá-la ou ferir-se na procura. Talvez se torne notório, mas nunca notável. E mesmo que seja notável, talvez jamais se torne famoso. Além disso, poderá ser notório, notável ou famoso apenas regionalmente, talvez nacionalmente, mundialmente, talvez nunca.

Falei de profecia. Fama é uma coisa e profecia é outra. Pregar a fé é uma coisa e ter fé é outra. Há crentes que têm fé e não sabem pregar e há pregadores que falam bonito, mas mentem para conseguir seus objetivos. Há profetas não famosos que, contudo são profetas. Há famosos muito famosos que, contudo, não são profetas. E há profetas que são, ao mesmo tempo profetas e famosos.

Citei nomes mundialmente conhecidos: Moisés, Buda, Jesus, Paulo, Pedro, Shakespeare, Voltaire, Sartre, Camus, Pelé, Ronaldo, Brigite Bardot, Roberto Carlos, Gisele Bündchen, Marilyn Monroe, Angeline Jolie, Chico Buarque, Thomas Morus, Caetano Veloso, John Kennedy, Nelson Mandela, João XXIII, João Paulo II, Dom Helder, Dom Paulo Arns, Doutora Zilda Arns, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Al Capone, Os Beatles, John Lennon, Raul Seixas, Arnoldo Schwarzenegger, Padre Marcelo, Pe Fábio de Melo, Paulo Coelho, Morgan Freeman, Paulo Autran, Cacilda Becker, Karen Armstrong, Joseph Campbell, Leonardo Boff, Karl Barth, Karl Rahner, Charles Chaplin.

Ele conhecia a maioria. Admitiu que nunca ouvira falar de outros. Lembrei-lhe que poderia indicar mil outros nomes de gente famosa no Brasil e no mundo. Alguns se promoveram porque freqüentaram todas as mídias possíveis. Queriam a notoriedade por algum propósito pessoal. Outros e outras chamaram a atenção pela beleza, pelo que fizeram bem feito, ou pelo que escreveram. Nem todos eram cultos, nem todos competentes no que faziam. Havia muitos melhores do que alguns eles, mas eles foram os promovidos. Queriam aquela notoriedade e, preparados ou não, aceitaram a exposição. Lembram o violinista que ficou famoso por saber tocar dez melodias e não necessariamente por dominar o violino. Perdeu o trono quando os admiradores descobriram que ele não sabia mais do que aquilo. Não ensaiava, não aprendia e repetira demais.

Quem não queria ser profeta maior, mas foi e por isso também se tornou famoso, teve que aprender a fazer uso das duas experiências: a da notoriedade mundial e a da profecia: Madre Tereza, João Paulo II, Helder Câmara não procuraram auditórios nem platéias, mas diante delas não se calaram. A mídia se curvou aos fatos. Eles repercutiam, com ou sem ela. Então os noticiaristas, ou os deturparam ou enalteceram, a depender do ponto de vista daqueles periódicos. Mas eles seguiram fazendo o que sempre faziam. Quiseram diminuir a caridade de Tereza de Calcutá, mas Tereza e a sua caridade foram maiores do que seus críticos com ideologia, mas sem gestos.

O grande risco de quem deseja a fama é o de adaptar-se para caber! Se a câmera e o veículo exige deles determinada postura eles se curvam e se dobram porque precisam do veículo. É diferente o caso de quem não procura e não deseja nem notoriedade nem fama. Segue sendo quem é. O veículo, ou o abandona, ou o respeita. Às vezes tenta diminuí-lo ou destruí-lo, às vezes se rende ao fato de que ele não é ajustável nem abalável. É peão que o cavalo deixa quieto.

Aquele que procura desesperadamente a fama, ajusta-se. Faz o jogo do veículo e da indústria e, se cresce, porque sua fama interessa ao veículo, também corre o risco de cair se este se cansar dele. Age como o produto da hora. Será trocado por outro produto da hora. Sucede no mundo dos esportes, da moda, da canção e da religião. Mandela, Chico Buarque, John Lennon e outros ícones mundiais ou nacionais são poucos. A maioria dos famosos depende da mídia para continuarem lembrados. E há os religiosos, que tendo deixado sua marca na sua igreja, serão lembrados, com ou sem as outras mídias.

Disse ainda mais ao seminarista. Uma coisa é alguém ser famoso porque representou uma instituição e outra ser famoso porque buscou pessoalmente a notoriedade para vender livros, discos e idéias. Paulo VI, João Paulo II, Helder Câmara, Tereza de Calcutá não buscaram a fama. Representaram instituições. Seu trabalho e sua posição exigiam que falassem não como indivíduos e sim como instituição. Não se expuseram. Foram expostos e administraram o que aconteceu.

Sacerdotes ou teólogos que foram à mídia levar suas idéias e defendê-las ganharam notoriedade porque, sendo diferentes, sendo ou parecendo intelectuais opinaram. Às vezes de tão pessoais que eram conflitaram com sua igreja. Receberam da mídia um tipo de tratamento. Estavam diante de um pregador que provocava. Outros sacerdotes que não pareceram nem eram intelectuais e não opinaram, foram tratados de outra forma. Estavam diante de um pregador interessante.

É a história da lagoa, do cavalo, da floresta e da onda. Assim é a fama, assim a mídia. Quem se arrisca esteja preparado para eventuais quedas e arranhões. Por mais que se proteja, se entrar vai ter que se haver com o inusitado. Há quem queira e procure a fama, custe o preço que custar. O resultado lhes parece compensatório. Há quem não queira, mas administre. E há quem fuja. Não quer tudo aquilo!

O que o seminarista entendeu, eu não sei. Mas não acho boa idéia começar o sacerdócio com o projeto de um dia ser famoso! Sacerdócio e fama podem até andar juntos, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.


Pe. Zezinho, scj




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