terça-feira, 6 de julho de 2010

Artigos - 05 de Julho




O ESPIRITO QUE NADA LHES DIZ

Não são poucos os que apostam demais nas luzes do momento, dadas pelo Espírito Santo. Mas é muito duvidoso que as recebam, porque pela excessiva obviedade do que dizem no rádio e na televisão, mostram que não estudam nem Deus, nem sua Igreja nem o mundo. Alguns deles teriam dificuldade de dar aulas para adolescentes de segundo grau. Perguntei a cinco deles, jovens ainda, quem tinha lido algum livro do profundo teólogo Bento XVI, embora já estejam publicados pelo menos cinco no Brasil. Ninguém tinha lido. Tiveram sete ou oito anos de filosofia e teologia para conhecer o pensamento do papa e não leram nada do que eles escreveu, nem mesmo suas encíclicas? Mas dois deles tinham liderado romarias a santuários da Europa e se faziam presentes a quase todos os encontrões que podiam. Falei da lacuna que havia na sua formação: faltaram os livros de gente que sabe mais do que nós. Tomei o cuidado de usar o pronome correto. Não disse vocês, disse nós!

Pareço cruel? Leciono há mais de 25 anos e sei que tipo de pregador gosta de ler e se aprofundar e quem dispensa livros antigos e livros novos. Ler ou estudar cansa e é tarefa exigente. É trabalho duro, ainda que, às vezes, a depender do livro, seja tarefa agradável. Mas o pregador que odeia livros trai seus sentimentos na pregação. Não espere nenhuma profundidade dele. Ele não a tem porque não a buscou nem busca! Viverá de frases prontas e de efeito. Uma Igreja com mídia dominada por eles vai sentir em muito pouco tempo a falta de uma catequese abrangente. Digo , insisto , provoco e repito: A simpatia não substitui a teologia



UM CRISTO CONVENIENTE

Um tanto quanto entristecido, ao ver alguns programas de televisão e ouvir quadros e programas de rádio nos quais Jesus era anunciado de maneira categórica e cabal por pregadores com claros sinais de pouco estudo da fé, afirmou o professor de cristologia: - Eles estão enfatuados de Jesus. O perigo é que acabem enfastiados tão depressa como ficaram enfatuados. Eles parecem saber mais sobre Jesus do que o próprio Jesus.

Pensei comigo. O velho mestre está certo! Gastou 50 anos estudando teologia, especialmente teologia dogmática e mais de vinte a estudar exegese e cristologia. Nunca lhe foi pedida qualquer opinião, nem por emissoras de rádio nem de televisão. Mas meninos e meninas, padres e pastores novos de novas igrejas em deslumbrados êxtases, entusiasmados com um Jesus que não estudaram, podem falar horas e horas e cantar dezenas de canções com textos nunca revistos sobre Jesus. É como pedir palestras sobre cardiologia a quem apenas aprendeu a medir pressão e a passar pomada nas feridas...

Pensei mais. Todo cristão tem o direito de crer em Jesus e entusiasmar-se com ele. Jesus realmente encanta e entusiasma. Mas, se for o Jesus dos Evangelhos e não o da imaginação do pregador, também obriga a pensar uma sociedade mais justa e a ser solidário. O direito que um pregador entusiasmado e em êxtase não tem é o de afirmar perante milhões de ouvintes e telespectadores, coisas que não estão na Bíblia, nem fazem parte da Tradição da Igreja.

Pensei ainda no livro de Jürgen Moltmann- “O Caminho de Jesus Cristo- Cristologia em Dimensões Messiânicas”. O autor e, com ele, inúmeros outros por ele citados, deixam claro que a subjetivização da mensagem de Jesus tornou-se uma espécie de grife. Criou um Cristo que só diz o que o pregador deseja que ele diga e de cuja doutrina se tira apenas o que traz proveito ao grupo que o anuncia. O Cristo que salvou um indivíduo não se transforma no cristo que ceio salvar milhões e sacudir as estruturas do mundo. Pedem a ele, cantando, que mexa com a estrutura pessoal do novo convertido, que quer amar somente a ele, mas raramente lhe pedem que nos ensine a mexer com as estruturas de um mundo que não aceita repartir nem incluir quem não é do clube dos eleitos e privilegiados. Andamos esquecidos de pedir a ele que nos ensine a amar os outros, especialmente quem não concorda conosco e até nos questiona e silencia.

Ocultam ou silenciam o Cristo que certamente combateria a proliferação das armas nucleares, o empobrecimento das nações, a supremacia das potências econômicas e atômicas e a corrida às armas de conquista e de dissuasão, corrida que desvia trilhões de dólares, rublos, euros, ienes e reais para a produção de instrumentos de defesa ou de morte, enquanto o terrorismo, a fome e o desperdício grassam pelos cinco continentes.

Desse Jesus não se ouve falar com tanta freqüência: o reivindicador, o que manda vestir a camisa dos pequenos e oprimidos. Do Jesus que salva o indivíduo e lhe dá paz interior e certeza de que será salvo se orar todos os dias e for bonzinho para com o seu vizinho, ouve-se falar o tempo todo. Canoniza-se o sujeito e o seu projeto pessoal e subjetivo e ignora-se o projeto de justiça e paz que Jesus anunciou a vida inteira. Trocam o “ai de vós” pelo “bem-aventurados sois vós”.

O velho professor de cristologia lembrava que o Jesus conveniente tomou conta das pregações e os templos viraram lojas de arrecadação e de conveniência... Pegue o que lhe interessa e pague ao sair... Foi embora ajustando o boné e eu fiquei pensando em tudo o que ouvira. De fato, com esse discurso pouquíssimos programas de rádio e de televisão o convidariam. Mas isso não torna os convidados sorridentes e suaves mais certos do que ele. Paulo já previa isso na 2 Tm 4,1-5. O leitor faria bem se as relesse!



TELESCÓPIOS E MICROSCÓPIOS

“Nossa visão de Cristo é mais atual e coerente do que a de vocês! O verdadeiro Cristo é este que nós anunciamos.”

Um cristão, católico ou evangélico, se quiser ficar mais confuso ou talvez mais seguro do que é, entre na Internet e leia os mais de 500 artigos sobre cristologia. Encontrará de tudo: diálogo sereno, humildes proposições de quem procura entender o mistério de Cristo, busca de maior compreensão, violentos ataques de um cristólogo contra o outro, de pentecostais e evangélicos contra os católicos, destes contra aqueles. Maria e os santos certamente entrarão no rolo...

Não é coisa agradável de ser ver. Em algumas páginas a impressão que se tem é a de briga de porretes entre defensores da verdade mais verdadeira sobre o Cristo. Lembra os circumcelliones dos primeiros séculos*... Quando a cristologia vira porrete, a visão do outro um saco de pancadarias e o triunfalismo vaidoso de pregadores certíssimos um show de fé vaidosa e prepotente, perde o cristianismo e perde a cristologia que, se pretende ser ciência, em primeiro lugar terá que ser humilde e abrangente, nunca açambarcante!

O que se percebe na exposição do rosto de Cristo é que telescópios e microscópios da fé levam pregadores mais radicais a mirar o céu da teologia, não tanto na busca de conhecer melhor o Senhor Jesus e sua presença na História, quanto na agressiva tentativa de provar que o outro o deturpou. Parecem jogadores que, ao invés, de perseguir a bola perseguem a canela do adversário. É como se algum pintor, munido de lentes sofisticadas, procurasse na imagem pintada pelo outro, algum traço errado para criticá-la. Não há tempo para admirar a maneira como o outro delineou o rosto de Cristo. Procuram-se mais os defeitos do que a concepção!

O que seria uma tentativa serena de estudar Jesus? Certamente, não a de impor a própria visão. Sem diálogo entre os estudiosos da mesma igreja e entre os especialistas de todas as igrejas não se pode falar em cristologia. Não tem Cristo nem logia.

Não se pode acreditar em pregador que jamais discorda da pregação do outro, mas não se deve também acreditar naquele que não perde uma ocasião de mostrar que a outra igreja está errada. Já não é mais procura do Cristo sim, dos erros dos outros a respeito do Cristo. É perda de foco! Lembra, parafraseando Fulton Sheen* o sujeito que prova que 2 mais 2 não são 5, mas acaba ensinando que são 6.

Que discordemos um da visão do outro parece natural. Não se vê do mesmo jeito a mesma cachoeira, por conta das distâncias, dos binóculos, dos ângulos e das árvores que porventura estejam à frente de quem olha. Mas quem tem juízo ouve o relato do outro e procura entender a visão dele, mesmo que discorde das suas conclusões.

Em Corupá, Santa Catarina, há várias cachoeiras, uma delas é a do Rio Novo. De um lado se vê apenas a parte superior. De outro se vê quase toda ela, mas não toda! É impossível vê-la toda. Os empecilhos naturais não o permitem. Sem ouvir o outro, um espectador dirá que ela tem 30 metros. O outro que estudou, ou subiu todas as quedas dirá que tem quatro vezes mais. Estão certos os dois. É que falam do que viram ou de determinada queda das sete que ela tem. As conclusões não são as mesmas porque as visões não são as mesmas.

Em Cristologia acontece o mesmo. “Fui lá, estudei, vi experimentei Jesus, senti e fui revelado, li este ou aquele documento, fico com esta ou aquela igreja, com este ou aquele concílio ” podem ser argumentos, mas não são os definitivos. Jesus permanecerá o mistério que é.

Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai. (Jo 16, 16)

Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem eu sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo como meu Pai me ensinou. (Jo 8, 28)

Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir. (Jo 7, 34)

Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; (Mt 24, 23)


Procurar é uma coisa, dizer que achamos e sabemos é outra. A cristologia é mais uma procura do que um achado. Quando se reveste de pomposas afirmações e de achados definitivos corre o grande risco de deixar de ser cristologia. Perde a logia. Vira pregação entusiasmada do que achamos ser o certo e não do que se tornou visão abrangente de todas as igrejas. Não se pode hoje fazer cristologia sem ouvir a palavra dos que estudam Jesus. Deixada apenas aos pregadores de mídia e de grandes concentrações, grande número dos quais sabidamente lê pouco a cristologia terminará em triunfalismo: Yes, we have Jesus! Sim, nós temos Jesus! Venha e conheça o Jesus que se revelou a nós...

O maior sinal de que alguém se afastou da cachoeira e enveredou pelo caminho oposto é quando ouve apenas a própria voz e ignora a dos que caminhavam com ele. Os sons da floresta enganam... O maior sinal de que alguém está se afastando da cristologia e do Cristo é quando gasta mais tempo provando que sua visão é a única certa. Quem abandona a humildade e o diálogo abandona Jesus. Encantou-se mais com sua procura do que com aquele que deveria procurar.

Entre na Internet e verifique. Está repleta de “sabemos, achamos, Cristologia é com a nossa igreja!” Entre os artigos e documentos achará os sérios e profundos: “Foi assim, tem sido assim, talvez prossiga assim a busca pelo Senhor Jesus”

Outra vez vale a advertência de Jesus:

Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; (Mt 24, 23)

Jesus é muito mais! A verdadeira cristologia sabe disso!



PREGADORES E LIVROS

Digo muitas vezes em aula e repito nestas páginas: Pregador (prae-dicator) é quem prae-dicet: diz na frente dos outros. Sua função é a de entregar o recado que outro escreveu. Muito mais do que suas idéias pessoais e historinhas simpáticas sobre sua infância em família, dos valores do seu pai e da sua mãe que o formaram, cabe ao pregador, como porta-voz que tem um determinado público, entregar ao povo a catequese oficial da Igreja, explicar a Bíblia, levar ao conhecimento dos fiéis os documentos da Igreja. O quanto menos falar de si, mais eficaz será como pregador. “Eu” demais será sempre Deus de menos na pregação. Além do que, a Igreja tem milhares de santos para servirem de exemplo. A vida deles deve ser mais conhecida do que a do pregador simpático e querido. Se puder falar dos seus pais sem falar de si mesmo, siga em frente. Se, no fundo, ao falar de seus pais está é falando de si, tome cuidado com a auto-exposição. Quase nunca dá certo! Cuidado imenso com a expressão : “eu me converti”! A primeira coisa que um verdadeiro convertido faz é falar pouco de si mesmo e muito de Jesus e dos santos. Paulo falou pouco da própria conversão. Pelo volume do que escreveu é admirável que tenha falado quase nada sobre sua conversão e quando o fez foi para mostrar que era o último dos apóstolos.(1 Cor 4,9) (1 Cor 15,9)

Pobre da diocese ou a Igreja cujos pregadores ignoram os pensadores da fé: papa, bispos, teólogos, liturgistas, historiadores, psicólogos, antropólogos, canonistas, sociólogos e especialistas aos quais a Igreja chama de licenciados ou mestres. Paulo os lista depois dos apóstolos e dos profetas (1Cor12,28)

E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.

Onde ele situaria o tipo de pregador moderno de mídia ou os que reúnem multidões para levá-la a louvar? É doutor? É profeta? É mestre? É pensador ou é animador? Como você os classificaria a partir do que pregam e ensinam?

Pobre da igreja cujos pregadores odeiam livros e raramente conseguem ler mais do que dois ou três por ano. Pregarão o de sempre, do mesmo jeito, com as mesmas palavras e, na falta de assunto, fará orar e cantar, repetirão tudo e certamente falarão de si mesmos.

A nenhum pregador é facultado por questão de ética e de moral pregar apenas o que sente e o que gosta. Ele é um afixador de cartazes atualizados, um arauto, um porta-voz. Deveria ser. Muitos grandes pregadores do passado conheciam teologia. As multidões iam lá para beber da sua sabedoria. Outros pregavam apenas a indulgências ou coletavam fundos, como foi a questão que cindiu mais uma vez o cristianismo, a partir do protesto de Lutero.

Um grande número de pregadores de hoje, nas mais diversas igrejas sabe pouca teologia. Posso citar muitos da nossa Igreja que admitem não ter lido ainda o Catecismo (CIC) ou a Bíblia por inteiro. Nas suas estantes há poucos livros de teologia, história, psicologia e sociologia. E se há, num momento de verdade, admitem que não leram, porque não são de ler. Grande número deles não assina revistas especializadas de teologia, de missão ou de catequese, não entra no site do Vaticano e não lê L´Osservatore Romano que tem edição semanal em português com noticias e comentários atuais sobre a visão dos católicos. A quem pretendem enganar? Se não sabem o que sua igreja está dizendo, como pretendem proclamar-se pregadores da fé católica?



DESEJAR A FAMA E A NOTORIEDADE

Numa lúcida entrevista na revista Veja de 20.01.2010 o famoso ator negro Morgan Freeman disse: “Sei que sou bom ator porque desde o início ouvi isso das pessoas. Aceito ser um ator importante. Ser tido como importante em outras esferas da vida- isso não.” Tocou no assunto central da fama e da mídia.

Há pessoas mundialmente famosas porque perseguiram a fama e conseguiram. Outras fizeram bem o que faziam e tornaram-se famosas porque sua atuação, sua obra e sua liderança se destacaram. Não buscaram ser famosos. Foram colhidos pela fama enquanto agiam. Há os nacionalmente famosos, os localmente famosos e os famosos dentro do seu círculo. Famosos, porque conhecidos e reconhecidos por muitas pessoas. Destacam-se mais do que os demais indivíduos da sua cidade, da sua igreja, do seu partido, da sua área de atuação. Não são mais pessoas comuns, embora muitas consigam agir como tal. Nunca perderam a simplicidade. É coisa para quem tem sabedoria!

Há uma fama que veio aos poucos, naturalmente, e há uma fama arquitetada, construída, perseguida e conseguida. O famoso em questão apareceu como pode e onde pode porque desejava ser visto, conhecido e reconhecido para vender seu filme, sua canção, seu livro e suas idéias. Foi busca pessoal por notoriedade. Queriam ser aplaudidos, reconhecidos, e em alguns casos, ricos, muito ricos.

Alguns se tornaram apenas notórios. Nunca chegaram a ser famosos. Apareceram muito, mas não repercutiram. Não conseguiram causar impacto. Faltou ou conteúdo ou carisma. Sabe-se que eles existem porque são muito vistos, mas não têm seguidores, nem adeptos. Não deixaram marcas.

Um jovem seminarista me perguntou como era ser famoso e deixou claro que ele também gostaria de o ser. Brincando, sugeri que procurasse uma pessoa famosa e repetisse a pergunta, porque nunca me considerei famoso, então não teria como responder. Mas aproveitei para oferecer-lhe uma catequese sobre a fama. Sugeri que não a buscasse. Não se entra em qualquer água, não se adentra qualquer floresta, não se monta qualquer cavalo. A fama é sempre maior do que o sujeito que a busca. Ele pode não conseguir carregá-la ou ferir-se na procura. Talvez se torne notório, mas nunca notável. E mesmo que seja notável, talvez jamais se torne famoso. Além disso, poderá ser notório, notável ou famoso apenas regionalmente, talvez nacionalmente, mundialmente, talvez nunca.

Falei de profecia. Fama é uma coisa e profecia é outra. Pregar a fé é uma coisa e ter fé é outra. Há crentes que têm fé e não sabem pregar e há pregadores que falam bonito, mas mentem para conseguir seus objetivos. Há profetas não famosos que, contudo são profetas. Há famosos muito famosos que, contudo, não são profetas. E há profetas que são, ao mesmo tempo profetas e famosos.

Citei nomes mundialmente conhecidos: Moisés, Buda, Jesus, Paulo, Pedro, Shakespeare, Voltaire, Sartre, Camus, Pelé, Ronaldo, Brigite Bardot, Roberto Carlos, Gisele Bündchen, Marilyn Monroe, Angeline Jolie, Chico Buarque, Thomas Morus, Caetano Veloso, John Kennedy, Nelson Mandela, João XXIII, João Paulo II, Dom Helder, Dom Paulo Arns, Doutora Zilda Arns, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Al Capone, Os Beatles, John Lennon, Raul Seixas, Arnoldo Schwarzenegger, Padre Marcelo, Pe Fábio de Melo, Paulo Coelho, Morgan Freeman, Paulo Autran, Cacilda Becker, Karen Armstrong, Joseph Campbell, Leonardo Boff, Karl Barth, Karl Rahner, Charles Chaplin.

Ele conhecia a maioria. Admitiu que nunca ouvira falar de outros. Lembrei-lhe que poderia indicar mil outros nomes de gente famosa no Brasil e no mundo. Alguns se promoveram porque freqüentaram todas as mídias possíveis. Queriam a notoriedade por algum propósito pessoal. Outros e outras chamaram a atenção pela beleza, pelo que fizeram bem feito, ou pelo que escreveram. Nem todos eram cultos, nem todos competentes no que faziam. Havia muitos melhores do que alguns eles, mas eles foram os promovidos. Queriam aquela notoriedade e, preparados ou não, aceitaram a exposição. Lembram o violinista que ficou famoso por saber tocar dez melodias e não necessariamente por dominar o violino. Perdeu o trono quando os admiradores descobriram que ele não sabia mais do que aquilo. Não ensaiava, não aprendia e repetira demais.

Quem não queria ser profeta maior, mas foi e por isso também se tornou famoso, teve que aprender a fazer uso das duas experiências: a da notoriedade mundial e a da profecia: Madre Tereza, João Paulo II, Helder Câmara não procuraram auditórios nem platéias, mas diante delas não se calaram. A mídia se curvou aos fatos. Eles repercutiam, com ou sem ela. Então os noticiaristas, ou os deturparam ou enalteceram, a depender do ponto de vista daqueles periódicos. Mas eles seguiram fazendo o que sempre faziam. Quiseram diminuir a caridade de Tereza de Calcutá, mas Tereza e a sua caridade foram maiores do que seus críticos com ideologia, mas sem gestos.

O grande risco de quem deseja a fama é o de adaptar-se para caber! Se a câmera e o veículo exige deles determinada postura eles se curvam e se dobram porque precisam do veículo. É diferente o caso de quem não procura e não deseja nem notoriedade nem fama. Segue sendo quem é. O veículo, ou o abandona, ou o respeita. Às vezes tenta diminuí-lo ou destruí-lo, às vezes se rende ao fato de que ele não é ajustável nem abalável. É peão que o cavalo deixa quieto.

Aquele que procura desesperadamente a fama, ajusta-se. Faz o jogo do veículo e da indústria e, se cresce, porque sua fama interessa ao veículo, também corre o risco de cair se este se cansar dele. Age como o produto da hora. Será trocado por outro produto da hora. Sucede no mundo dos esportes, da moda, da canção e da religião. Mandela, Chico Buarque, John Lennon e outros ícones mundiais ou nacionais são poucos. A maioria dos famosos depende da mídia para continuarem lembrados. E há os religiosos, que tendo deixado sua marca na sua igreja, serão lembrados, com ou sem as outras mídias.

Disse ainda mais ao seminarista. Uma coisa é alguém ser famoso porque representou uma instituição e outra ser famoso porque buscou pessoalmente a notoriedade para vender livros, discos e idéias. Paulo VI, João Paulo II, Helder Câmara, Tereza de Calcutá não buscaram a fama. Representaram instituições. Seu trabalho e sua posição exigiam que falassem não como indivíduos e sim como instituição. Não se expuseram. Foram expostos e administraram o que aconteceu.

Sacerdotes ou teólogos que foram à mídia levar suas idéias e defendê-las ganharam notoriedade porque, sendo diferentes, sendo ou parecendo intelectuais opinaram. Às vezes de tão pessoais que eram conflitaram com sua igreja. Receberam da mídia um tipo de tratamento. Estavam diante de um pregador que provocava. Outros sacerdotes que não pareceram nem eram intelectuais e não opinaram, foram tratados de outra forma. Estavam diante de um pregador interessante.

É a história da lagoa, do cavalo, da floresta e da onda. Assim é a fama, assim a mídia. Quem se arrisca esteja preparado para eventuais quedas e arranhões. Por mais que se proteja, se entrar vai ter que se haver com o inusitado. Há quem queira e procure a fama, custe o preço que custar. O resultado lhes parece compensatório. Há quem não queira, mas administre. E há quem fuja. Não quer tudo aquilo!

O que o seminarista entendeu, eu não sei. Mas não acho boa idéia começar o sacerdócio com o projeto de um dia ser famoso! Sacerdócio e fama podem até andar juntos, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.


Pe. Zezinho, scj




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