quarta-feira, 28 de julho de 2010
Artigos - 27 de Julho
BENÇÃO PELA MÍDIA
Não é incomum ver pregadores católicos, evangélicos e pentecostais abençoarem através da mídia. Nada mais natural, pois a benção não está restrita a lugar. Percebe-se, com freqüência, que alguns deles, abençoam copos de água e o bebem e sugerem a quem pôs o copo de água diante da televisão e do rádio, que também o beba. Atribuem poder de benção sobre objetos à distância. Isso também está na Bíblia. Mas, daí a concluir que a benção dada pelo pastor ou padre, pelo padre ou pastor, através da televisão é mais forte do que a benção dada pelo seu pároco é um passo ousado. Equivale a dizer que a benção de perto, dada pelo padre em carne e osso, vale menos do que a benção de longe dada pelo pregador famoso. Aí se confunde a fama do pregador com o poder de benção que ele tem. O que não é a mesma coisa!
Se é para receber a benção de uma Igreja, qualquer pregador daquela Igreja, por ela autorizado, deve dá-la. Pode-se recebê-la pelo rádio, ou pessoalmente, lá na Igreja matriz com o pároco. Não é porque um padre famoso fez o sinal da cruz a dois mil quilômetros e a benção veio televisão que, de repente, a benção do padre a quinhentos metros daquela casa valerá menos! Mas é o que tem acontecido! Foi a história a mim contada por um pároco de cidade do interior de Minas Gerais, que ouviu da fiel, que morava a menos de um quilômetro da sua Igreja, que ela não ia perder tempo de andar um quilômetro para ir receber uma benção, se ela poderia recebê-la na casa dela, sentada, pela televisão, por um padre que tinha mais poder do que ele, porque abençoava mais gente do que ele.
O pároco se calou, diante do marido dela, estupefato ele com a dureza da esposa. Mais tarde o marido foi ao padre pedir desculpas. Ele, o esposo não pensava daquele jeito. Disse: - “Minha mulher se deixou influenciar por alguns pregadores de televisão. Porque eles estão mais lá em casa do que o senhor, concluiu que os pastores dela são aqueles que falam pela televisão. Pra ele é mais fácil porque podem estar em milhões de casas ao mesmo tempo, para o senhor eu sei que é difícil, porque uma coisa é pregador de mídia e outra é pregador de paróquia. Minha mulher ainda não entendeu isso. Ela foi convencida pela mídia e pelo marketing e ainda não conseguiu estabelecer a diferença. Pra ela padre de mídia tem mais autoridade do que o bispo e o pároco. Mil perdões por minha esposa. Não há santo que a convença que pregador famoso não é o mesmo que pregador preparado”.
Embora com a língua a coçar, o pároco nunca falou do fato na paróquia. Limitou-se a me pedir que, na entrevista que eu daria na emissora de rádio, eu transmitisse essa catequese, coisa que eu fiz com muito prazer, porque acredito que padre de mídia não pode substituir padre de paróquia, de hospital e de colégio e por achar que o dízimo primeiro deve ser dado à paróquia e só depois alguma contribuição para o movimento ou para a televisão. No máximo somos humildes colaboradores. Nunca podemos usurpar. Cabe a nós que trabalhamos na mídia dizer com clareza: - “Minha benção vale menos ou tanto quanto outras bênçãos. Não atribua a mim uma santidade ou um poder que eu não tenho só porque estou na mídia. Seu padre aí pertinho da sua casa, tem muito mais direito do que eu até porque tem mais deveres junto a você.” É o que digo, falo e faço.
Sei dos limites de trabalhar na mídia, sei também do valor de um bispo e de um sacerdote que se desgastam no seu cotidiano pelo bem do povo de Deus a ele confiado. Trabalhar na mídia pode até ser mais sensacional, mas não é nem deve ser mais importante. Registre-se esta observação de quem já tem 43 anos de mídia!...
BENÇÃOS ALTAMENTE SELETIVAS
Abordo um tema relativamente freqüente nesses dias de padre famosos. Falo da benção especial de alguns sacerdotes em detrimento da benção sacerdotal dada pela Igreja, na pessoa de qualquer um dos seus sacerdotes. Criou-se entre alguns fiéis a idéia de que a benção de um padre famoso vale mais do que a benção de um bispo ou do que a benção de outro. Falo do que aconteceu comigo e imagino que aconteça com outros sacerdotes mais conhecidos do que os demais. Lembro que mais conhecido não significa mais culto, nem mais sábio nem mais santo!
Alguns desses fiéis chegam a afirmar que um sacerdote famoso tem benção mais forte e mais poderosa do que a de um sacerdote anônimo. Já o disseram a mim! Explico que não é assim, mas insistem que assim é que é. Atribuem mais poder de benção a quem tem mais poder de fogo, mais publicidade e mais divulgação. Nada mais errado!
Eu havia chegado cansado, com taxa alta de diabetes e pressão elevada a uma cidade onde deveria celebrar missa e, mais tarde, dar um show. Já faz tempo que deixei de ser um jovenzinho! Uma senhora me procurou pedindo que eu fosse ao hospital abençoar a sua mãe. Acreditava que minha bênção a curaria mais depressa. Perguntei-lhe se o pároco já havia visitado sua mãe. Disse que sim. Perguntei-lhe se algum outro sacerdote tinha estado com ela. Sim, um diácono e outros dois. E respondi serenamente: -
-Então, a senhora não precisa que eu vá. Se o sacerdote, que é seu pároco, já foi e se diácono e sacerdotes abençoaram sua mãe, ela está mais que abençoada, porque a benção não é do padre: é da Igreja. Ela está abençoada. Eu tenho a missa das 19h para celebrar, tenho um problema de saúde no momento e tenho um show logo após a missa. Peço-lhe que me liberte deste compromisso, até porque eu não poderia fazer mais do que estes piedosos e bons sacerdotes já fizeram.
Ela não aceitou. Disse aos amigos e amigas que eu me recusara a ir ver uma enferma. Evidentemente, não explicou as razões. Isto revela uma dimensão da falta de catequese entre os católicos de hoje. Quando alguém acha que um padre famoso dará uma benção melhor do que seu padre não tão famoso é porque não recebeu catequese adequada. Bênção de pároco pelo seu testemunho de pastor presente, talvez seja mais profunda do que bênção de padre famoso e de passagem. São, talvez, os mesmos fiéis que acham que, no céu, há santos que podem mais que os outros e que existem orações de poder mais poderosas do que outras orações. Esquecem aquele que pede com santidade e humildade, mas não é tão famoso como o padre que fala na televisão. Como tenho o hábito de ensinar catequese sempre que posso, ensinei àquela senhora a catequese oficial da Igreja, mas ela tomou minha decisão como falta de amor ao próximo. E não adiantou eu prometer que iria ao dia seguinte antes de viajar. Não aceitou! Fiz uma inimiga! Pensou nela, na sua mãe e na benção de um padre famoso, quando, um dia antes, o pároco e três outros ministros tinham estado lá. Temos um longo caminho de catequese a percorrer na Igreja que se deixou envolver pelo poder da mídia... Nós padres de mídia temos muita catequese a dar ao povo que nos aplaude! Não estamos com essa bola toda!
DEBATER OU COMBATER?
Cristóvão Buarque, senador da República, disse em programa levado ao ar dia 19 de julho de 2010 que quem tem uma causa não tem o direito de ficar em casa. Falava de coisas positivas da política. Mas o que ele disse serve para crentes e não-crentes militantes. Que se manifestem, mas com serenidade! E a questão é bem esta! Debate ou combate?
Os crentes das ultimas décadas escreveram milhares de livros sobre Deus e sobre Jesus, muitos deles, infelizmente, desrespeitosos com relação aos não-crentes ou aos declaradamente ateus. Agora, os ateus respondem com dureza, ironia e de maneira envolvente, questionando os crentes e o Deus por eles anunciado. Entre eles estão Saramago, Christopher Hitchens, Richard Dawkins, Dan Brown e Daniel Dennet. Há centenas de outros. Como não acreditam em Deus, não é contra ele que lutam. Não lutariam contra o que consideram inexistente! Combatem, sim, a idéia de Deus e quem a divulga! De quebra, combatem os que anunciam que Jesus era o Deus eterno aqui presente.
Do lado dos crentes, são incontáveis os autores das mais diversas correntes de fé a provar que Deus existe e é do jeito que eles anunciam! Mas um grande número deles ainda não consegue ir até o meio da ponte para contemplar, juntos, as mesmas águas...
Há os ateus e os crentes serenos. E há os de cimitarra, de espada, de porrete e de punho fechado. Atingem a religião pelos flancos e acertam nos pontos fracos de todas as igrejas, como nós também acertamos nos pontos fracos do ateísmo que, no poder, silenciou, massacrou, prendeu e matou.
E daí? Aonde vão dar estes livros e estas conferências pró-Deus e contra-Deus, pró-religião e contra-religião? Foi John Lennon que na sua canção mensagem “Imagine” sacudiu meio mundo ao dizer que poderíamos chamá-lo de sonhador, mas ele sugeria que imaginássemos, com ele, um mundo sem religião, sem céu acima e ou inferno abaixo de nós, sem fome, todo mundo se entendendo numa fraternidade humana. Aí, sim, a vida seria vida de verdade e o mundo seria um só!...
Deu o seu recado que os crentes cantaram sem pensar no que diziam. Cantavam contra si mesmos!...
O mundo está repleto de pessoas que nunca precisaram, ou que cada vez precisam menos de religião e de Deus. Está, também, repleto de crentes que aceitam, precisam de Deus e o procuram. Conseguirão debater sem combater? Enquanto houver respeito, tudo bem! Triste será quando os agressivos de ambos os lados se encontrarem de punhos cerrados. Já aconteceu e sabemos no que deu!
FÉ EM JESUS
Sou um religioso cristão e católico. Isto significa que minha fé em Deus passa pela fé em Jesus e minha fé em Jesus, passa pelo meu catolicismo. Aceito o jeito da Igreja católica falar de Jesus, seus ritos e suas práticas.
Falo com o Pai em nome Jesus e creio que Jesus é o Filho e me espera no Pai. Mas tento me lembrar que estou falando com o único Deus que há. Minha cabeça é pequena demais para entender este mistério. Então, ou eu fundo uma nova igreja, ou entro numa outra, ou migro para uma religião que crê numa só Deus, que é uma só pessoa, ou, ainda, fico com os cristãos que sustentam este mistério de que só há um Deus, mas ele é Pai, Filho e Espírito Santo.
E se estivermos errados? Ainda assim quero crer com os cristãos. E se os outros estiverem errados e Deus for um só, mas for Pai, Filho e Espírito Santo? Neste caso, eles morrerão crendo errado, mas serão amados por Deus porque foram sinceros.
Não tenho o menor constrangimento em admitir que talvez eu creia errado. Mas, como não fui lá e não vi, e os outros também não foram e não viram, cada qual escolhe a fé que deseja seguir. Eu decidi continuar na fé que estava seguindo.
Continuo não sabendo explicar Jesus, O Filho. Eu também não sei explicar nem pilotar um avião a jato, mas viajo nele e espero que aquele vôo não caia. Se tenho fé nos engenheiros e no piloto, posso também ter fé na minha Igreja. Não estou nela por questão de certeza absoluta. Estou nela por questão de fé. É o avião que escolhi para ir aonde espero chegar!
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MIL CANÇÕES PARA MARIA... O novo CD do Pe Zezinho.
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