Escrevo
porque muitas pessoas me perguntam e também porque meus superiores de
congregação e o próprio Pe. Zezinho me autorizaram a dar, vez por outra,
notícias mais concretas sobre a evolução de seu estado de saúde desde
que, em setembro de 2012, foi acometido por um AVC isquêmico.
Nesta sexta e sábado, 12-13 de abril estivemos algum tempo juntos, em São Paulo,
para terminar um livro que será lançada em breve. Percebi Pe. Zezinho
mais ativo e criativo que nunca. Inicialmente o AVC o deixou com
diversos limites, como já narrei aqui neste BLOG. Um deles foi a falta
de autonomia. Os médicos o aconselharam a não dirigir sozinho. Aos
poucos ele já foi se superando e hoje dirige seu carro por pequenas
distâncias, mesmo dentro de São Paulo. Aparentemente o acidente vascular
não afetou nada em sua mobilidade, visão, audição e reflexos. Apenas
estava sob observação e, por prudência, não dirigia. Etapa vencida.
Também sua alimentação e acompanhamento médico entraram em uma fase mais
tranquila e sem a tensão dos inícios. Todos os que sofrem um AVC ficam
como quem foi assaltado dentro da própria casa e espera o ladrão voltar.
Aparentemente, no caso de Pe. Zezinho, foi um episódio isolado que só
não foi mais grave pela forma saudável como ele sempre tratou o próprio
corpo: sem vícios e vivendo com moderação (menos nas cansativas viagens,
shows, discos, livros… mas isto é um capítulo à parte).
Logo no
início o limite mais evidente ficou no campo justamente da comunicação e
expressão. Ele tinha muita dificuldade para lembrar nome de pessoas,
lugares, funções. Algumas palavras também aparentemente haviam sido como
que deletadas de sua memória. Não digitava e falava com dificuldade.
Pensava certo. Mas, como ele mesmo dizia, os pensamentos não grudavam
nas palavras. A leitura era muito difícil. Não conseguia digitar e era
incapaz de cantar suas canções de memória. Apenas assobiava as melodias.
Mas cantar mais do que um verso era impossível.
E hoje? A foto
acima é um indiscreto registro de hoje, da bagunça organizada em que ele
grava programas de rádio em seu próprio quarto, em São Paulo. Você deve
estar estranhando: programas de Rádio? Sim. Encontrei um Pe. Zezinho
extremamente empenhado em superar os limites que o AVC lhe deixou.
Passados seis meses, ele ainda permanece com falhas perceptíveis na
pronúncia. Os nomes próprios voltaram, mas ele se esforça para lembrar e
para pronunciar. Algumas palavras como “solidariedade” não saem de
jeito nenhum. É o que se conhece por “a-fonia”. Ele não se expõe. Acha
cedo. Mas em casa não tem pudor. Está cada vez mais falante. Para
procurar uma foto para nosso livro ele me trouxe uma geringonça com,
pelo menos, 20 pendrives. Fui procurando a tal foto e achando sem querer
seus mais de 300 livros inacabados. São inspirações preciosas que ele
teve e continua tendo. Agora tem tempo de concluir sua obra inacabada.
Acaba de publicar pela editora Universo dos Livros Pensar como Jesus
pensou. Tem mais ao menos cinco livros no prelo em quatro editoras
diferentes. Prepara um CD com canções ao Coração de Jesus (Dehonianas)
que pretende ser uma ajuda na manutenção das obras de formação dos
futuros padres. Não canta. Nem consegue ainda. Mas orienta cantores a
fazer do jeito que ele faria. Pe. Zezinho recuperou completamente seu
ritmo de produção literária e continua sendo o modelo de catequista que
todos conhecemos.
O que me surpreendeu de fato foi ver que ele
começa a ensaiar sua volta ao rádio. Para isso inventou uma forma de
driblar seus limites. Com ajuda de um programa de computador ele grava
sozinho em seu próprio quarto e edita suas próprias falas retirando
pequenas falhas, gaguejadas, palavras repetidas ou faltantes. Mostrou-me
uma gravação de dois minutos que estava simplesmente perfeita. Milagre
da tecnologia e da genialidade de alguém criativo o bastante para criar
novos poemas e melodias, mas teimoso e humilde o suficiente para
reinventar seu modo de comunicar. Como ele mesmo diz: o rio teimosamente
encontra o caminho do mar!
Posted by Padre Joãozinho, scj