sábado, 22 de maio de 2010

Artigos - 17 de Maio

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A NOSSA SENHORA DE VOCÊS...

Há católicos e evangélicos gentis e fraternos. Estes se entendem. E há os outros... Uma vizinha pentecostal, crente que só ela é crente, disse a uma outra crente católica: -“ A Nossa Senhora de vocês não tem nenhum poder”...E lascou o verbo, acusando a vizinha de idolatria, posto que fala com quem nada pode e ignora quem tudo pode. Falou para ofender.

Mas errou de endereço, porque ao lado da vizinha estava uma professora de teologia, prima da agredida. Ela deixou que a agressora falasse e pediu para responder. E não falou muito. Começou por elogiar os bons evangélicos e pentecostais, com quem se encontrava com freqüência. Deixou claro que sabia a diferença entre um católico bem educado e outro mal educado e um pentecostal sereno e outro exaltado.

Prosseguiu dizendo que vinha de uma família na qual a mãe é importante. Ela pode não ter todo o poder, mas muito do poder passa por ela. Concordou com a doutrina de que todo o poder foi dado a Jesus Cristo que é Deus e que aqui neste mundo ele era e é o único intercessor que um cristão admite. Não há nome maior do que este nome. Aí, então, falou de intercessões e intercessores. Como a agressora tinha, minutos antes, afirmado que iria orar por uma criança internada no hospital, a mestra católica perguntou se ela intercedia e perante quem ela intercedia. E a mulher teve que admitir que intercedia e que falava com Jesus.

A resposta veio contundente. -“Se a senhora pode falar direto com Jesus, a mãe dele que não está dormindo e que há tempos mora com ele no céu, também pode e o faz melhor do que a senhora. Não sei de quem a senhora é senhora, mas sei que Maria é Nossa Senhora porque foi e é a mãe de Nosso Senhor. É uma pena que ela seja vista como apenas senhora dos católicos, porque sendo mãe do Cristo que vocês adoram, ela também é senhora de vocês. A senhora chama tantas mulheres de “senhora”, mesmo não sendo elas suas senhoras, e eu mesmo a estou chamando de “senhora”... Então por que esse desprezo? Pode escrever aí que eu a proclamo Nossa Senhora, não por causa dela mesma, mas por causa do Filho que ela gerou!”

Mais não disse. A mulher pediu desculpas! Se você já passou por isso e não soube responder, caso passe de novo pela mesma situação, responda, com classe e com gentileza. E não se esqueça que a maioria dos irmãos de outras igrejas são pessoas de coração sincero e bonito. Nós e eles precisamos formar crentes serenos! É o único jeito de apressar o Reino de Deus neste mundo!


CANTAR O AMOR ROMÂNTICO

Esperançoso de que outros me seguissem, a pedido da editora publiquei, anos atrás, um CD romântico para músicas de casamento. Ainda hoje se ouve cantar aquelas canções em missas de casais e celebrações de matrimônio. Imagino que meu leitor as tenha ouvido. Comigo, Antonio Cardoso e, creio que não mais de três outros compositores, cantaram o amor romântico-religioso, às vezes litúrgico, às vezes não, mas sempre sagrado.

Percebo que faltam canções de matrimônio nos templos. Isso inclui a Igreja católica, as evangélicas e as pentecostais. Os autores cantam 99% das vezes o amor de Deus e o amor a Deus e ao próximo, mas quase ninguém canta o amor conjugal nos templos, mesmo sabendo que São Paulo o chama de mistério grande em Cristo e na Igreja. (Ef 5,32)

Por que não se compõe e não se canta este amor que é sagrado e até mereceu um livro inteiro na Bíblia com o sugestivo nome de O Cantar dos Cantares? São hinos de amor entre um homem e uma mulher. A Igreja considera aquele livro sagrado! Nada mais justo que judeus, cristãos e ortodoxos cantassem este amor nos seus templos. O mundo tem belíssimas e comoventes canções de amor, mas os compositores religiosos parecem ter sido formados na escola do amor celibatário que só tem olhos para Deus.

Influenciados por padres, monges, freiras e outros cristãos não casados, com quem está a liderança das paróquias, escolas e movimentos, os cantores e autores, mesmo os bem casados, preferem cantar apenas o amor a Deus e o amor de Deus. Uma das canções que se ouve por todos os templos tem até a audácia de dizer a Deus: quero amar somente a Ti. João ensinou o oposto...(1 Jo 4,20) Não devemos ter olhos somente para Deus. Seria o fim da família! Como cristãos somos chamados a prezar o amor fraterno e o amor conjugal. Mas não se canta este amor nos templos embora nossas liturgias o aceitem e até recomendem. Basta que as letras sejam, também elas, litúrgicas.

Tenho pedido aos compositores que admiram Oração pela Família, Utopia e algumas canções litúrgicas ou não litúrgicas que escrevi para os casais, que leiam os documentos da Igreja e estudem a teologia do matrimônio. Acabarão compondo canções até melhores do que as minhas. Será que serei ouvido? Ou ouvirei, de novo, o argumento de que nos templos não se canta nada profano?E quem disse que o amor conjugal é não é sagrado?


ANUNCIAR E RENUNCIAR

Sou católico e, para quem recebeu dessa doutrina, se não ficou, precisa ficar mais do que claro que nosso “eu” precisa caber folgadamente no grande “nós” da História. Viemos depois e sempre seremos segundo ou milésimo, se não formos milionésimos. A História, a família, o país e a Igreja é que não podem encolher para caberem nas nossas pretensões.

Quem vai embora de um povo, de uma família, de uma igreja, de uma comunidade ou de amigos porque eles não correspondem ao seu projeto pessoal deveria ter a lisura de dizer que está indo ou foi embora por inadaptação ao projeto coletivo que um dia jurou viver. Ponha o limite em si e não nos outros!

Uma coisa é exercer a nossa individualidade. É dever e é direito. Para um católico é virtude. Outra é ceder ao crasso individualismo de quem vai embora de tudo o que não lhe satisfaz. Escolher o próprio “eu” o tempo todo e fugir de qualquer renúncia é ir na direção contrária à da fé. Quem não sabe renunciar dificilmente saberá anunciar! As pessoas perceberão!


ÂNGULO E CORAÇÃO ABERTO

Jesus de Nazaré tinha um coração aberto! Quem quisesse ficar, não ficasse nem por medo nem por coação, nem vencido pelos truques de um marketing bem feito. Antes que o escolhessem ele os havia escolhido para irem e produzirem frutos (Jo 15,16) Mas eram livres. Esta liberdade na verdade os libertaria (Jo 8,32) Não prometia sucesso financeiro. Sugeria que nem sequer levassem bolsa a tiracolo (Lc 10,4) nem buscassem o primeiro lugar. (Mt 23,6; Mt 20,21-25). Quem quisesse ser o primeiro que fosse então o que mais se mostrasse capaz de servir.(Mt 20,26)

Ia à direção contrária à de grupos que se proclamam igreja dele, mas ensinam seus fiéis a procurarem sucesso financeiro, o primeiro lugar nas firmas e na sociedade e a proclamar-se vencedores na carreira pelo fato de terem aderido a Ele. Dois discípulos passaram pela tentação de sentar-se um à direita e outro à esquerda dele. Os outros ficaram zangados, talvez porque quisessem o mesmo... Foi preciso Jesus sacudi-los e dizer o que disse. Mateus 20,21-28 é muito significativo e deveria ser repetido o tempo todo nos dias de hoje em que a luta por adeptos, por mais contribuição, pelo incenso, pelos elogios e pela fama e primeiros lugares volta a tentar fortemente as igrejas.

O novo trono chama-se mídia...E pode seduzir muitos pregadores. Manter a paz e continuar pobre com tudo o que a mídia oferece é um chamado que exige ascese e fé. O tudo isso te darei da tentação no deserto se repete cada vez que falamos ou cantamos diante de milhões de pessoas. Saberemos fazê-lo sem nos tornarmos pequenos deuses?


ACRESCENTAR AMIGOS

Há os que substituem. Para eles amigos antigos são descartáveis. No seu lugar, entram os novos e mais interessantes. Amiga rica e famosa cede lugar a outra mais rica mais influente e mais famosa. Sabem o que fazem, mas fazem. Vale a carreira e o pragmatismo de quem deseja subir na vida. Não conseguem conservar os amigos de cinco, dez ou quinze anos atrás, porque sua carreira e sua busca de projeção exige novos amigos. Quem não for junto nem acrescentar, já era! Acontece muito nos meios artísticos ou com pessoas em ascensão na sociedade. A fama a carreira e o dinheiro já mataram muitas amizades.

E há os que não abrem mão, não substituem, nem descartam. Conservam e acrescentam amigos. São ricos de amizades porque os amigos de ontem os consideram amigos de sempre e os novos juntam-se, de bom grado, aos outros amigos no novo amigo. Dizem com alegria: -Eu também sou seu amigo. Sou uma de suas amigas. Nesse “também” está o elogio a quem conseguiu acrescentar sem descartar. Veio a fama e o dinheiro, mas os amigos não se foram. Nenhum foi descartado ou passado para trás. A fila cresceu colateral. Lado a lado. O amigo de todos, bem no meio.

Revela um traço falho de caráter aquele que vai substituindo amigo após amigo. Ideal seria que, mesmo depois de anos sem se verem, percebessem a mesma amizade, o mesmo acolhimento. É verdade que alguns amigos silenciam, distanciam-se, perdem-se no emaranhado do viver e raramente se visitam.

Amizades, ás vezes, silenciam e se distanciam. Mas basta um reencontro para reavivar memórias e os dois perceberem que nada mudou – Cara, como você está bem! Quanto tempo! Menina, como você está fabulosa! Me perdoe, mas acho que a culpa foi minha! Dessa vez a gente não fica mais tanto tempo longe! Podem ser frases falsas ou verdadeiras. Os olhos dirão!

“Amigos para sempre” pode ser um belo poema e uma bela canção, mas tem muito de verdade. Muitos conseguem ser isso: amigos de verdade e para sempre. Haja o que houver, aquela amizade foi eterna. Vida bem vivida talvez seja isso: fazer bons amigos e acrescentar amizades. Parece fácil, mas exige desprendimento e humildade. É por isso que quem pensa demais em si tem poucos amigos. Não sabe conservá-los! Talvez não os mereça!


CATEQUESE DA ESPERANÇA

Uma simpática história, que quase todo mundo já ouviu ou narrou, embora pouco científica fala de duas rãs que caíram numa barrica de leite. Uma delas não tinha esperança. Não vendo saída imaginou seu fim trágico e o abreviou. Prendeu a respiração e morreu minutos depois. A que tinha esperança bateu-se até que acabou pisando em algo duro. De tanto espernear para não morrer, o leite havia se transformado em manteiga. Vale como ilustração para milhões de seres humanos. Sua esperança transforma as coisas. Vencem porque acreditam que, mesmo sem saída, encontrarão alguma solução. Não confundem solução com saída. Se o mundo não lhes deixa nenhuma saída, eles encontram uma outra solução.O rio sempre acha o seu caminho, mesmo quando uma barreira desliza sobre ele.

Paulo lembra que a falsa certeza decepciona, mas a serena esperança não. Há esperanças verdadeiras e falsas. A catequese cristã da esperança está narrada nas histórias de Abraão, Sara, Tobias, José do Egito, Moisés, Susana, Daniel, e centenas de outros personagens para quem aparentemente não havia perspectiva de salvação, ou de realização, mas ela veio. O Eclesiastes diz que quem está vivo tem esperança, pois até um cão vivo é melhor do que um leão morto.(Ecl 9,4) Jesus costumava perguntar aos beneficiados se eles acreditavam que sua vida poderia mudar e se queriam sua ajuda (Mt 9,28; Mt 21,22). Para Jesus o verbo crer passa pelo verbo esperar. Paulo diz que Abraão acreditou contra toda a esperança e conseguiu (Rm 4,8) exatamente porque sua fé foi esperançosa. Pela fé nós esperamos com garra que o Espírito nos conceda o que pedimos (Gl 5,5), diz Paulo . A garra é a esperança. Poderíamos dizer que a esperança e a fé continuada. Nossa cidadania, está no céu (Flp 3,20), diz ainda o mesmo Paulo, e o que nos caracteriza é a esperança no Salvador que vem de lá. Em Gálatas 2,20 ele afirma que já não é ele que vive, mas Cristo vive nele, porque sua vida no corpo é sustentada pela vida na fé. Aos Efésios ele afirma que ora para que eles conheçam a esperança para a qual Deus os chamou (Ef 1,18), e lembra que quando Deus chama para a fé está chamando para a esperança (Ef 4,4).


É próprio do apressado mergulhar no marketing de resultados. Garante o que não pode garantir. Promete que não pode prometer. Há milhares de púlpitos de agora pregando certezas. Muitas delas, falsas. Faz melhor o pregador que prega a esperança. Mais experiente, decepcionará menos. ( Rm 5,4-5)


Padre Zezinho

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