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A UNIVERSIDADE E O MICRO-VESTIDO
Como não poderia deixar de ser, sobrou para os católicos o conflito começado pela jovem Geisy Arruda, 20 anos, com a sua Universidade. Não sei como a London, a Upckins e a Berkeley tratariam do caso, mas sei que o problema era com ela e a comunidade Uniban de Santo André. Estudei nos Estados Unidos e sei que lá as universidades reagem a provocações de cunho social ou moral. Quebra de decoro vai contra os estatutos. Quem estuda lá tem um compromisso. A Universidade que suspendeu seis a oito alunos por causa do tumulto, expulsou-a. Entende que ela causou conscientemente aquela reação. Os alunos se dividiram entre apoiadores e apupadores.
Mas alguns provedores na Internet, entre eles o Google News, deram um jeito de falar do país da tanga e da quase nudez nas praias e da nossa maioria católica. De repente, sobrou para nós católicos, como se nos países evangélico sou pentecostais tais comportamentos fossem tolerados. Mesmo que Geisy fosse de comunhão diária, os católicos não têm absolutamente culpa alguma no que aconteceu naquele recinto sagrado de cultura e de conhecimento. A Igreja Católica não é a favor da expulsão de uma estudante que errou ao trazer à cena de maneira negativa numa instituição digna de crédito, mas também não é a favor de Geisy Arruda, que admite ter errado ao passar dos limites daquela casa.
Já que fomos citados, opinemos sobre o que houve naquela universidade e o que pensam os católicos. Não é preciso nem que os bispos, nem o Papa se pronunciem. Qualquer católico que foi ordenado para ensinar a doutrina sabe a resposta. Micro-vestidos mais as formas da mulher. Sabemos o que isso causaria numa comunidade muçulmana. Sabemos dos limites até nas mais tolerantes instituições do Ocidente. A depender do local e do ambiente, a mulher que quase se despe, exceto nas passarelas, sabe muito bem o que causa. Temos uma cultura cristã e muitas igrejas, não apenas a católica, desaprovam a excessiva exposição do corpo humano de ambos, homem e mulher. Um homem que desfilasse de calças excessivamente reveladoras receberia a mesma desaprovação.
Talvez devamos, todas as igrejas, desenvolver uma catequese do corpo e do seu uso. Ela anda esquecida. Vende-se e expõe-se o corpo com enorme facilidade como se ele fosse um produto dissociado da pessoa. Ele seria um objeto e a pessoa o sujeito que o usa, vende, ou aluga. Nada mais errado! Para a grande maioria das religiões a pessoa humana é sagrada e o corpo não é apenas um adendo. É sagrado porque a pessoa é sagrada. Creu-se que Deus criou o ser humano, então o ser humano prestará contas a ele do que faz no e com o seu corpo. Se o usa para ganhar dinheiro, provocar ou desafiar, a instituição provocada tem o direito de reagir. Como reagirá, já são outros quinhentos, mas ficar impassível, ela não pode. Universidade não é passarela. Há lugares outros para quem quer revelar o corpo ou provocar pessoas. Não é preciso ser crente em Deus parta saber que há limites para um traje. Cristão, muçulmano, judeu o ateu, quem pensa sabe que há limites para a convivência. Não se faz o que se quer numa comunidade.
Já que lá fora falaram dos católicos e da nossa cultura, pois, então, saibam todos que de uma católica, e não sabemos se Geisy o é, espera-se que se porte e saiba o que vestir numa universidade ou numa igreja. A Igreja tem, sim o direito e o dever de orientar. A Universidade tem , sim o direito de reagir e censurar. Não é necessário expulsar. Mas a moça deve ser chamada às falas. Se ela fez o que quis e para alguns até virou heroína e vítima, a Universidade também se sentiu vítima. Alguém desafiou suas leis. O protocolo do Palácio do Planalto teria o que dizer, se uma funcionária se vestisse daquela forma.
Estive em Aparecida no domingo, dia 8 de novembro. Entre os fiéis que me reconheceram e vieram pedir a minha bênção estavam duas moças de mini-vestido. Fiz uso do momento para oferecer a elas uma catequese de padre católico. Perguntei, sem ofendê-las, se tinham trazido no ônibus alguma calça comprida e uma blusa mais longa para participarem da missa. Uma delas baixou os olhos, pediu desculpas e disse que sim. Perguntei se, com a minha bênção, eu poderia pedir que não usassem aquela roupa lá no templo. Concordaram sem conflito. Tornei a vê-las no mesmo lugar onde estava meu carro. Estavam de calça comprida. Toquei-lhes o nariz como fazem os idosos meio tio velho e meio avô e disse: - Assim, sim!
Não foi preciso expulsá-las de Aparecida... Imagino que alguém da Uniban tenha feito o mesmo. Se fez, erro da moça. Se não fez, erro da Uniban.
UMA IGREJA EM CADA QUADRA
No Brasil inteiro há cidades onde a média é de um lugar de oração e de pregação para cada duas ou três quadras. O fenômeno tem sido estudado, mas os estudos não chegam nem aos pregadores nem aos seus fiéis. Na vale a interpretação dos estudiosos e, sim, o que eles sentem. E eles sentem que Deus os chamou para aquele lugar e que de lá sairão vencedores, num mundo que derrota e humilha.
Saberemos as conseqüências daqui a algumas décadas. É na terceira ou quarta geração desses crentes que verá o resultado dessa ocupação de terreno e utilização de espaços vazios. Funciona como um MST espiritual. Movimento dos Sem Templo. Ocupam uma casa ou um galpão, onde pregam e oram. Com o tempo a depender do número de fiéis que conseguem tirar da outra igreja, ou constroem e ocupam aquela região, ou mudam. Mas os fiéis são disputados quadra por quadra, casa por casa.
Não importa se já são de outra igreja, ou de terreno já cultivado. Arranja-se um motivo para atraí-lo. A terceira ou quarta geração mostrará se saberão conviver, ou se brigarão nas ruas para mostrar quem é o herdeiro da verdade mais verdadeira. Já vimos este filme dos séculos XI ao XVIII entre cristãos católicos e ortodoxos, católicos e muçulmanos, católicos e evangélicos. Era briga para ver quem sabia mais sobre Deus e quem era mais fiel a ele. Nasceu política e terminou em violência. Ou se conversa desde o começo, ou se disputa terreno na ânsia de crescer e, com isso, a caridade vai embora. Ela vai embora toda a vez que convencemos os nossos de que o outro é inferior a nós...
Felizes os cristãos que sabem ouvir os outros e trata-os como irmãos, ainda que orem e pensem diferente sobre alguns aspectos da vida e da fé. Mas nem sempre eles vencem. A maioria dos muçulmanos não é terrorista, mas bastam alguns deles para que toda uma região sofra um conflito religioso. Foi assim e continua assim com cristãos, sicks, muçulmanos, católicos, pentecostais e evangélicos mundo afora. Vão ceifar na roça dos outros. Não estão buscando vitória apenas contra o pecado. Muitos falam claramente de vitória sobre outras igrejas. É só prestar atenção nas suas pregações para saber onde situam o demônio. Nunca na Igreja deles. Quase sempre no mundo imundo e numa outra religião ou igreja... Fiel dele não precisa tirar encosto. Já está salvo em Jesus. Tira-se o encosto do fiel que veio de outro grupo.
Oremos pela paz e segurança do mundo, mas oremos, também, para que Deus nos livre de pregadores fanáticos que não conseguem nem sequer tomar um café na esquina com o pregador da outra igreja!... Eles dizem que Deus os está usando, mas é Deus quem está sendo usado por eles...
PELO PRAZER DE MATAR
Dizem que Gengis Khan matava por prazer. Também Nero e Calígula. Para eles era espetáculo. Embora o mundo não toque no assunto, é de se perguntar o que passa pela cabeça de um ditador que prendeu amigos e mandou matar seus adversários e aldeias inteiras. Como é a cabeça de um terrorista que destrói um prédio cheio de crianças? Cruzou de volta a fronteira entre a fera e o humano? O que terá passado na cabeça de H.Trumann após o lançamento das até agora, duas e únicas bombas atômicas a cair sobre o povo inocente?
Não mudou muito. Arranja-se um motivo e, se não há motivo, mata-se do mesmo jeito. Uma geração sem nenhum critério de vida mata para se divertir, e acha que está limpando o país de outros bandidos como eles, até que outros bandidos como eles os matem pelo mesmo motivo. O publico considera a violência na televisão uma boa programação, caso contrário, não lhe daria o Ibope que ela afirma ter. Tínhamos nas mãos as escolas que, bem ou mal, educaram milhares de cidadãos para a convivência. Três piedosas freirinhas chegavam a tocar com disciplina um orfanato de 100 crianças. Agora, nas mãos do Estado ou de particulares, para cada três crianças há dez funcionários. Creches do Estado viraram lugar de poucas crianças e muitos funcionários. Perdeu-se o sentido social. Há crianças ocupando as ruas e os faróis e fingindo que vendem doces ou lavam carros, para pedir dinheiro que nem sempre entregam para os pais. Vão para quem os recrutou.
O Governo sabe disso e age pisando em ovos porque tem medo da opinião pública. O mesmo jornal que mostra a violência desses meninos mostrará a dos policiais. O circulo é vicioso. O criminoso bem armado comete crimes e, se for pego, tem defesa bem armada que o coloca de vítima e quem o prendeu se torna o repressor que lhe tirou seu direito de continuar envenenando o povo com drogas.
Acham sempre uma brecha. O criminoso sai de lá e quem o denunciou fica mal. Das muitas escolas de violência, a imprensa e a televisão são as mais eficientes. Gostam de levar o lixo para todas as casas. Chamam a isso de informação e cultura e classifica como espetáculo ou diversão. Não são todas, mas você sabe qual delas pisoteia na cidadania. Quando matar vira espetáculo a algo de errado em quem o produziu e em quem o sintoniza.
IGREJA VERDADEIRA
Um livro pode conter verdades e nem por isso ser verdadeiro. As outras passagens podem estar cheias de mentiras. Um locutor de rádio ou um cantor pode dizer algumas palavras em inglês e nem por isso pode afirmar que sabe inglês. O marketing contém verdades e nem por isso é verdadeiro. Se a equipe exaltar demais o produto de quem a contratou e se diminuir o produto concorrente, provavelmente estará mentindo.
Uma igreja pode conter verdades e nem por isso ser verdadeira. Se falsear os números, se omitir as passagens do livro santo que podem ir contra a sua pregação, se citar apenas as que lhe interessa, se mudar o sentido dos textos sempre a seu favor, se anunciar milagres sem submetê-los a exame acurado dos médicos e de outras cabeças, se encherem os fiéis de medo e de culpas, ou de falsa certeza, se ensinar que a eles estão reservados os primeiros lugares aqui e na eternidade, podem até parecer verdadeiras, mas não são.
A Bíblia é um livro de verdades e, além disso, revela-se verdadeiro. Mostra o lado bom e o lado mau, os acertos e os erros da maioria dos seus personagens. Não faz marketing enganador ou maravilhoso de nenhum deles. Abraão, Sara, Agar, Isaque, Jacó, os filhos de Jacó, Rebeca, Moisés, Elias, os profetas, os reis, os apóstolos, de todos eles a Bíblia conta o lado bom e algum lado obscuro. Ou mandaram matar, ou se descontrolaram, ou puxaram mais para um do que para outro filho, ou mentiram para conseguir seus objetivos, ou se vingaram de maneira brutal, ou faltaram à palavra dada, ou quiseram ser mais do que os outros... Quem lê a Bíblia sabe disso.
Por isso, mostrar só o lado bom da nossa igreja e ocultar os pecados dos nossos, enquanto quase nos deliciamos em mostrar os pecados dos membros da outra igreja; mostrar em fotos e letras garrafais no jornal da nossa igreja os pecados de alguém da outra e nem mencionar a noticia de que um membro da nossa assassinou o colega num dos nossos templos é viver da mentira.
O que seria uma comunidade cristã verdadeira? Uma que faz mais do que contar algumas verdades. Uma que não faz uso da mentira para atingir os seus objetivos. O pregador que chamou a jovem para anunciar-se curada de um câncer naquele encontro de domingo e lhe deu três minutos ao microfone, mas negou-lhe, três meses depois, o acesso ao mesmo microfone para dizer que não tinha sido curada e pode pedir mais orações, mostrou de que lado está. O fiel pode anunciar que sua prece conseguiu o milagre, mas não pode anunciar que não o conseguiu! Seu microfone só vai à boca de quem mostra as maravilhas da sua igreja... Nesta busca desenfreada por novos testemunhos a meia verdade acontece mais do que imaginamos!
EX-CATÓLICOS
A fala tranqüila de um amigo, que eu não via há mais de 15 anos mexeu comigo. Disse-me que há doze anos não era mais católico e que, ao mudar de cidade, e ao casar-se pela segunda vez com uma pentecostal, mudou também de igreja e agora é pastor da mesma igreja. Disse-o, sorrindo, feliz, enquanto deixava claro que a amizade era a mesma.
O mundo sempre teve ex-católicos, ex-evangélicos, ex-judeus e ex-maometanos. Nos últimos 30 anos, milhões de católicos deixaram o catolicismo e foram adorar a Deus numa outra igreja, que acharam melhor ou de maiores resultados que a nossa. Conheci alguns deles. Entre eles há alguns amigos e familiares meus.
Fiz o que minha igreja ensina: falei e respeitei. Segui o que está escrito em João, capítulo 6, verso 67. Sempre achei que tínhamos Jesus, mas eles parecem não tê-lo encontrado entre nós e agora dizem que o encontraram entre os outros. Eu só poderia ter feito aquilo o que minha igreja ensina que se deve fazer. Acolhi e orei. Continuo amigo, em nada diminuí o meu afeto e a minha amizade e desejei e desejo que sejam felizes no seu novo ângulo de vivencia da fé. Discordar é uma coisa, destratar é outra.
Recentemente, um grupo de metodistas tomou uma decisão controvertida para toda a sua igreja, que é bastante ecumênica: decidiram sair do conselho das igrejas. Não aceitam participar do ecumenismo como está sendo vivido.
Não é que todos os metodistas sejam contra a vivência do diálogo ecumênico. É que o grupo que decidiu foi mais forte do que os outros. Também em outras igrejas há uma tendência muito forte de volta ao fundamentalismo. E mesmo dentro da igreja católica, alguns grupos também não se sentem confortáveis no diálogo ecumênico. Preferem não participar.
Isso quer dizer que, muitos cristãos têm dificuldade de aceitar o jeito do outro adorar, ler, concluir e crer. E, se procuram outro jeito, é porque acham que lá existe mais verdade do que aqui. E eu fico, por achar que aqui existe mais verdade do que lá, ou melhor dizendo, verdade suficiente para me fazer feliz. Não vou negar nunca que o mesmo sol que entra pela minha casa também entra pela deles. Nem vou discutir sobre quem de nós aproveita melhor a luz do sol. Direi somente que em casa há luz suficiente para eu ver o que vejo e da forma como vejo.
Sou como o filho que não troca de lar ou de família mesmo quando as coisas não vão bem. Mas existem os outros que se sentem da família de Deus e trocam de lar e de casa por não estarem bem na casa dos pais ou na de algum irmão. Preferem ir para outra casa e ali fazer novos irmãos.
Como é Deus quem julga, abstenho-me de julgamentos. Mas a nossa é uma era de muitos ex. Isso quer dizer que muita gente não é mais o que era. Alguns mudaram para melhor. Outros, pelo que dizem e fazem ainda não se acharam.
Pe. Zezinho, scj
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