sábado, 5 de setembro de 2009

Artigo - Relação Estéril

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Os pregadores das mais diversas religiões têm batido nessa tecla. Nós pregadores católicos, cada vez com maior intensidade. Uma relação matrimonial onde não acontecem os filhos não é uma relação estéril. É apenas e tão somente um matrimônio sem filhos. Muitas vezes é doloroso, mas não é nem nunca foi estéril, nem pode ser comparado a uma árvore que não deu frutos. Se gerou amor e ternura entre os dois e, se gerou frutos de amor na comunidade, é um casamento pleno de frutos. Não veio o fruto que desejavam, um filho do seu sangue para o seu colo, mas encheu a comunidade de frutos de ternura e de misericórdia. O matrimônio existe para gerar vidas, mas, se não é possível porque o corpo não responde, nem por isso aquele lar perde a sua razão de ser. Não é que não queriam uma vida. É que ela não veio em forma de filhos, mas veio em forma de caridade e de serviço ao seu povo

Não há pregador que não conheça tais casais. Seus corpos não geraram vidas, mas seu amor bonito enche a comunidade de sentido. Nunca foram e nunca serão estéreis, porque seus frutos são abundantes. Estéril, infelizmente é o casal, que, mesmo tendo gerado filhos, não consegue gerar ternura e amor. Batem, brigam, espancam, ofendem, abandonam, enchem-se de drogas, ou de corrupção, oferecem um inferno de presente ao filho que saiu daquele ventre. Isto, sim é esterilidade. Quem consegue gerar filhos fez apenas a primeira parte do seu chamado. Há uma outra, que é gerá-los para a paz e para a convivência. Há casais que deram seus filhos á luz, mas não conseguem dar luzes aos seus filhos.

É por isso que os pregadores andam insistindo na tecla de que pôr um filho no mundo ainda não é gerá-lo. Gestação é uma coisa e geração é outra. O processo biológico da gestação termina com o parto. O de gerar continua até que este pequeno ser tenha capacidade de se mostrar pessoa entre as pessoas, ser humano capaz de Deus e capaz de cidadania. Alguém está devidamente gerado, quando tiver aprendido a colocar o outro na sua vida, sem eu demais, nem eu de menos. Quando este filho aprende o significado da palavra “eu” e consegue colocá-la dentro da palavra “nós”, descobriu o que é ser pessoa. Aí, os pais podem sentar um pouco mais sossegados naquele sofá cheio de lembranças.

E o casal que nunca teve um filho? Passa pelo mesmo processo. Seu amor não pariu, mas repartiu! E por isso gerou! Serviu ao criador. Seu matrimônio gerou ternura e ternura é uma das mais elevadas formas de vida! Estéreis? Nem pensem nisso! Amor que é amor nunca deixa de gerar mais amor. Quem se casou e até gerou filhos, como a laranjeira, mas não faz como a laranjeira que expõe seus frutos à luz do sol, nunca vai vê-los dourados e amadurecidos. É estéril o matrimônio que não joga luzes sobre aquelas cabecinhas infantis ou adolescentes. Dê colo, mas também dê luzes ao seu filho. O colo passará, mas a necessidade de mais luzes eles a terão por toda a vida. Não pais iluminados e iluminadores que não saibam disso!


Pe. José Fernandes de Oliveira

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Um comentário:

  1. Padre. Vejo na crítica a relação homoafetiva justamente o argumento de que a relação não pode gerar frutos. Partindo do seu texto, é possível afirmar que qualquer casal que gere "amor e ternura entre os dois" e gere "frutos de amor na comunidade" está abençoado pela Igreja. Desse modo, um relacionamento homoafetivo que preencha esses requisitos também está.

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