terça-feira, 8 de setembro de 2009

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“Há um tipo de mentalidade religiosa e secular que afirma “sou porque aconteço”,” sou porque repercuto” e a outro que afirma “sou porque compreendo”. Acontece no mundo dos negócios, no mundo dos esportes e principalmente no mundo da religião. É a luta entre os “experimentei” e o “estudei”, entre o sentir e o perceber, mesmos em sentir. Os fiéis que buscam explicações procuram um tipo de sacerdotes e pregadores que lhes dêem doutrina e ensinem o modo de entender, encarar as coisas e viver. Apostam fortemente na doutrina. Os que buscam sensação e querem experimentar, procuram os que pregam sobre o que acontece naquele que crê. Apostam fortemente nos sinais. Deus está operando maravilhas naquela igreja ou naquele grupo. E, se tudo aquilo está acontecendo então é sinal de eleição.

A um deles que, falando dos milagres quase diários nos seus templos, me perguntava a queima roupa onde estavam os sinais na Igreja Católica, falei de Lurdes, Fátima, e de inúmeros santuários cheios de lembranças e sinais de curas, falei dos nossos templos dos confessionários onde há curas silenciosas não publicadas na mídia, e dei o nome de dezenas de mártires católicos atuais que derma a vida pelos outros. Se a vida de um mártir não vale como sinal de Deus para o povo, então a cura de um caroço vale menos!...

O convite para vir, experimentar e ver milagres e buscar a cura, porque naquele templo as coisas acontecem, é a religião do tocar. Tem o seu valor. Jesus não rejeitou Tomé porque exigiu provas. Apenas disse a ele que havia um jeito mais profundo de buscá-lo. O de crer mesmo sem ver. (Jô 20,29)

Por mais que um pregador explique e seja culto, preparado e profundo, esse tipo de fiel que insiste em tocar e ver não vai ouvi-lo. Irá ao outro que, mesmo não tendo cultura e escolaridade e com pouca filosofia oferece o Deus que acontece. Entre acontecer e compreender há um espaço enorme que poucos conseguem transpor. A turma do pathein: tocar sentir e acontecer jamais vai se dar bem com a turma do mathein: compreender. E a turma do compreender vai estranhar a turma do acontecer. Mais felizes são os que conseguem viver as duas experiências. Compreender muito e, por menos que aconteça, entender o acontecido.

Sim, Deus opera milagres, mas nossa primeira obrigação não é buscar os atos de Deus e sim o ser de Deus. Tocar pode ser profundo, como fez aquela mulher enferma com doze anos de sofrimento. (Mt 9,20) Pensar pode ser até mais ousado, como fez Pedro ao responder sobre quem ele pensava ser o Cristo. (Mt 16,17) Ao aluno que me perguntou se não era uma santa ousadia anunciar um milagre respondi que sim. E acrescentei: há uma ousadia em querer sentir e tocar, há uma outra em anunciar ali mesmo, na hora, o milagre e outra ainda mais avançada em querer entender. Alguma ousadia pode até ser santa, mas outras são pura e simplesmente ousadias imaturas. O pregador ou o fiel não esperou amadurecer a obra de Deus. Não deu à semente o tempo de germinar. Deve ser por isso que Jesus muitas vezes pediu segredo sobre suas curas. A ninguém o digais. (Mt 17,9; 5, 43, Mc 9,9)

Deve ser também por isso que, na visão de Pedro, ele foi convidado a matar e comer o conteúdo da visão; deveria tocá-la e assimilá-la a ponto de que ela fizesse parte do seu pensamento e do seu modo de ser. ( At 11,5-13)“Sou mais porque aconteço” não é atitude cristã. Nem o é também o “sou mais porque penso”. O correto é querer ser melhor por pensar no que acontece e naquilo que não aconteceu! É mais santo aquele que se enganou ao proclamar um milagre e ao ver seu engano voltou atrás e pediu desculpas. Quantos pregadores fazem isso?


PE JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA

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