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Ouvi com a paciência que aprendi a ter, ao longo de 40 anos de padre. Sei que os pentecostais não são todos como aquele rapaz. Mas aquele crente que se dizia evangélico, pregador de poucas leituras, enquanto meu carro era lavado pelos seus colegas, me interpelava por causa da cruz que eu levava e levo ao peito. Era daqueles que falam, mas não aceitam ouvir. Mostrava certeza absoluta. Estava certíssimo de que Jesus estava com ele e não estava comigo, porque, segundo ele, eu era um idólatra. Ignorou meus estudos, meus 60 anos de idade naqueles dias, o fato de eu escrever e lecionar. Aos vinte e três anos ele sabia mais do que eu. Os colegas que sabiam quem eu era, deixaram acontecer para ver como o colega se daria.
Observei bem enquanto ele gesticulava exaltado, para provar aos colegas que sabia mais do que o velho bem-vestido à sua frente. Tinha ares de combatente espiritual, disposto a mostrar a luz de Deus que estava nele, mas não estava em mim. Foi fácil perceber que não pretendia salvar mais uma alma para Cristo e, sim, provar alguma coisa para os seus colegas. Era o tipo de religioso gabola. Precisava provar aos colegas que sua igreja era melhor.
Dei corda. Ele mordeu a isca. Falou quinze minutos sem parar sobre a idolatria dos católicos e a verdade da Bíblia. Apostou que eu não tinha uma Bíblia no carro. Errou. Eu a tinha e toda rabiscada e anotada. Busquei-a. Ele começou a hesitar. Escolhera o lutador e o ringue errado... Eu sabia mais de Bíblia do que ele...
Com vinte e três anos de vida e menos de quarenta meses de escola, mas muita revelação, ele se dizia crente fiel a Jesus. Saiu a combate e errou na escolha da arma, até porque a Bíblia não é uma arma. Pensou que eu não conhecia os textos que ele decorara. Pedi tempo para responder e solicitei os mesmos quinze minutos que eu lhe dera para falar. Comecei a responder, um por um, os textos de Paulo, do Levítico, do Números, do Deuteronômio e de Juízes capítulos 7 a 9. Falei também de João, que ele citara. Acrescentei alguns dados que ele não sabia.
Falei da tribo de Dan que matou a sangue frio a gente pacifica de Laís e depois disse que Deus queria aquele crime. Falei do guerreiro Gideão, famoso por combater as imagens dos outros e de como o temido destruidor de imagens, com o seu grupo de combatentes, famoso por aterrorizar outras religiões, tornou-se herói e rico com sua arrecadação de dinheiro e de bens dos outros. Já que ele se considerava um gideão era bom saber quem o inspirava. Gideão terminou seus dias fazendo um éfode e adorando ídolos. Teve 70 filhos de muitas mulheres e um de uma concubina. Este, Abimeleque matou seus setenta irmãos. Violentos, eles tinham aprendido com o pai que guerreava e provocava os outros em nome da sua fé e do seu povo.
Exigiu provas e mostrei-lhe sua própria Bíblia. Antes que eu concluísse dez minutos ele pediu para interromper, porque tinha que ajudar a lavar outro carro. Eu lhe disse que esperaria para acabarmos a conversa que ele começara. Diante do riso irônico de seus colegas disse ele: -Desculpa aí, moço. Desculpa se eu o desrespeitei.
Escrevi o número do meu telefone e o entreguei a ele dizendo: -Conte ao seu pastor que promove novos Gideões da fé, o que lhe aconteceu hoje e diga a ele que, se quiser uma conversa comigo, terei o maior prazer de tomar um café com ele aqui mesmo, depois do seu serviço. Marque o dia que eu dou um jeito de continuar nossa conversa.
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Nunca ligou e nunca marcou. Passei por lá dois meses depois e seus colegas me disseram que ele mudara de emprego, mas que nunca mais discutiu religião com ninguém. A um deles ele dissera: -Meu, aquele padre sabe muita religião!
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Mais do que ele, eu sabia. Talvez não soubesse mais do que o seu pastor. Mas um pastor que promove gideões e não explica o lado sombrio do modelo que propõe aos fiéis deveria ser questionado. Sei mais do que muitos irmãos meus que não costumam ler livros de teologia ou de catequese, mas admito que há pessoas em outra igrejas que sabem muito mais do que eu. Pregadores cultos não propõem modelos violentos aos seus fiéis. Seria como um muçulmano propor Bin Laden como modelo de fé islâmica. E é dever de quem sabe mais, ouvir os outros e esclarecer os que sabem menos.
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Tenho feito isso. O que sei, eu ensino. Se erro, corrijo-me. Se o outro ensina errado, eu reajo e o corrijo, quer ele queira, quer não, porque li Paulo a Timóteo. ( 2 Tm 4,1-5) Já perdi alguns amigos por isso. Mas eles haviam ensinado um erro crasso para milhões de pessoas. Se eles ensinam errado para vinte milhões de pessoas na sua televisão, eu tento corrigir seu erro como e onde posso mesmo que eu não atinja mais do que trinta mil. Catequese se faz e se corrige. Catequista corrige e aceita ser corrigido. Quem deixa de abarcar alguém por ter sido corrigido por este irmão não entendeu os evangelhos. Somos todos corrigíveis.
PADRE ZEZINHO, SCJ
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Olá pe. Zezinho,sua benção.
ResponderExcluirAcabei de ler seu texto, e conto que em muitos momentos, evangelicos
querem me colocar na parede com suas perguntos, e teimam em afirmar que minha religião que amo, é falsa, idolatra,sem falar nos comentarios sobre o vaticano e os papas, que com certeza o senhor esta acostumado a receber.
Fico um pouco nervosa por nao ter tanto conhecimento dos textos biblicos, e saber pouco de catequese.
Mas, sempre penso em ser humilde e pensar no outro.
e assim, responder de maneira que, acredito, Cristo faria.
Sou pequena, tenho pouca experiencia, apenas 21 anos.
Mas, sei o que qro, o que sou. Sou de Cristo, sou catolica.
Eu creio,mesmo sem entender. :)
Paz e bem, padre. estou indo para minha aula. abraços.
(alicleise@hotmail.com)
Sou ex protestante convertido ao catolicismo. A questão toda dos evangélicos é que eles são ávidos por falar e tardios para escutar. Poucos querem aprender e todos querem ensinar.
ResponderExcluirE por que ?
Porque Martinho Lutero instituiu o livre exame.
Como alguém que julgando-se intérprete e entendendo que na sua interpretação pessoal conta com a Assistência do Espírito Santo, desejará aprender de alguém ou ouvir algum tipo de correção ?
Martinho Lutero criou o problema e parece ter criado a "solução":
Disse o famoso hersiarca:
"Quem não crê como eu está destinado ao inferno. O meu juízo e o juízo de DEUS são a mesma coisa."
Não por acaso se dividem. Pois todos são "mestres" "infalíveis". E sendo assim, não suportam doutrina alheia.
Divergindo, e isto acontece a todo momento, surge o embrião de uma nova denominação sob a regência de um novo super "sábio" e "doutor" em Bíblia.
Por isto se diz: "A letra mata, mas o espírito vivifica."
Ora, a fé vem pelo ouvir e não pela leitura particular da Bílbia. E todo mundo conhece o slogan protestante: "Leiam a Bílbia".
O exame das escrituras é útil para instrução. E útil não é suficiente. Suficiente é a Igreja, definida pela própria Bíblia como coluna e sustentáculo da verdade. Quem escuta a Igreja, faz o que a Bíblia ensina. E a Igreja que é mãe da Bíblia e não sua filha, nada faz contra a palavra escrita de DEUS.
O que significa Igreja coluna e sustentáculo da verdade ?
Significa que sem a Igreja, a verdade não se sustenta.
Se Pedro diz que interpretação alguma é de caráter privado, como é possível que o evangélico "interprete" por conta própria e ainda se diga seguidor da Bíblia que, entre outras coisas, lhe proíbe de ser um "intérprete" ?
Se dois protestantes discordam entre si, é óbvio que pelo menos um deles está errado e por vezes até os dois.
A verdade é una e não pode se dividir.
Da mesma forma, as meias verdades protestantes também são meias mentiras.
Depois de 18 anos enganado pelas seitas e vivendo nas trevas convicto pela minha própria soberba e auto suficiência, fui resgatado pelo amor de Maria e pela misericórdia do Senhor Jesus Cristo.
E hoje posso dizer sem dúvida: "Fora da Igreja Católica não há salvação."