terça-feira, 24 de novembro de 2009

Artigos - 23 de Novembro

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O PESO DE SER EU MESMO

Do livro “ Um Entre Bilhões”

Posso ser pequeno e quase insignificante, mas não sou insignificante. Tenho meu peso. Eu significo, até mesmo quando não pareço pesar. E sou tanto mais significante quando mais aumento minha capacidade de resposta. Todo grão de areia tem seu peso. Eu, que sou um entre bilhões de humanos tenho o meu peso, você tem o seu, cada um de nós tem seu pondus. Por isso quando respondo e pondero, mostro meu peso. Quando uso de minha capacidade de ponderar e respondo começo a fazer a diferença. Deixo de ser número para ser agente de transformação.

Comparado ao peso da Terra, o grão de areia não é muito, mas ele é ponderável, pode ser pesado e junto a outros grãos pode mudar o fiel da balança. Até o Criador, ao nos criar, dotou-nos da capacidade de ponderar, responder, dizer sim ou dizer não. Não flutuamos no existir. Não somos seres etéreos. Temos nosso peso no chão em que pisamos, chão do qual fazemos parte.

Por isso, educar é ensinar a ponderar, a ter consciência do nosso peso, a suportar os nossos pesos, a responder e a corresponder. Família, escola, igrejas que não ensinam a ponderar falham na missão. Quem cria filhos, alunos ou crentes instintivos que deixam para os outros, principalmente para Deus a tarefa de ponderar, cria tiranos, fanáticos ou dependentes. Por isso diz Lucas que Maria ponderava... Elaborava o que via e guardava no coração. Era mulher de peso. Respondeu. Guardou a Palavra e a pôs em prática. Não é sem razão que os católicos acentuam o “sim” de Maria. Jesus a elogiou por isso. Não foi por seus seios e por seu ventre. Foi por sua ponderação e capacidade de responder. Ela sabia do seu peso e do seu lugar na História do Cristo. É o que se lê no Canto de Maria.

Mas Maria guardava todas estas coisas, ponderando-as em seu coração. (Lucas 2,19)

E aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher dentre a multidão, levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste. Mas ele disse: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam. ( Lc 11,27-28)

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. (Mateus 7, 24-25)

Eis aqui a serva do Senhor. Aconteça em mim o que diz a tua mensagem. ( cf Lc 1,38)

Maria é modelo para um católico que se sente um entre bilhões. O canto a ela atribuído, ainda que seja no seu todo muito semelhante ao de Ana de Elcana, mãe de Samuel, o canto mostra como a mãe de Jesus exerceu a auto- estima, sem cair em estima excessiva de si.


46 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,
47 E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador;
48 Porque atentou para a pequenez de sua serva; pois eis que de agora em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada,
49 Porque em mim fez grandes coisas o Poderoso; Seu nome é santo.
50 E a sua misericórdia é de geração em geração Sobre os que o temem.
51 Com o seu braço agiu fortemente; dispersou os soberbos e desmascarou-os mostrando o que eles pensam.
52 Depôs os poderosos dos tronos e elevou os humildes.
53 Encheu de bens os que tinham fome, e despediu os ricos de mãos vazias.
54 Auxiliou a Israel seu servo, Recordando-se da sua misericórdia;
55 Como falou a nossos pais, Para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.
56 E Maria ficou com ela quase três meses, e depois voltou para sua casa. ( Lc 1,46-56)

Maria comunicou-se, entendeu o peso que lhe punham nos ombros e correspondeu!



SOCIEDADE SEM FREIOS


As pessoas escolhem. Também os comerciantes. E não são poucos os que escolhem o erotismo como forma de vender. Como era de se imaginar, notícia de 13 de novembro, menos de quinze dias depois do incidente Geisy Arruda e Band, nos informa que a Du Loren pensa em contratar Geisy para divulgar suas lingeries. Não tivesse havido o incidente da excessiva exposição, será que a contratariam? A projeção por ela conseguida ajudou a moça e prejudicou a faculdade. Venceu o indivíduo, perdeu a comunidade. Por conta do episódio, em nome da liberdade no vestir-se em público, estudantes se desnudaram em Brasília. A questão ganhou contornos políticos.

Estamos em plena era da licenciosidade. O “eu quero, e daí?” trouxe à cena a primazia do indivíduo sobre a comunidade. O que pensa a comunidade vale menos do que o que o sujeito pensa. A comunidade que se lixe e os incomodados que olhem para o outro lado. E quero mostrar nudez e baixaria na televisão, a dona de casa que mude de canal. Se há crianças do outro lado, a família que controle o que elas vêem. Eu, indivíduo, não aceito que me digam o que dizer o que vestir e como conduzir meu corpo em público!

Tem sido assim nas sociedades ocidentais onde o culto ao indivíduo virou ditadura. E o erotismo é um dos fortes componentes dessa imposição de costumes. Está na bancas, na televisão, em programas ditos humorísticos, em piadas que 90% das vezes visam o sexo, nos desfiles de moda íntima, nas praias, nas canções. O sexo tornou-se o tema principal de muitos veículos de comunicação. Quando acham alguém disposta a vender seus produtos porque esta moça teve a coragem de bater de frente com uma instituição de ensino, abrem-lhe espaço. Às faculdade fica reservado apenas e tão somente o ofício de informar. Se ela opinar, será desafiada. Escolas não põem mais formar: devem apenas informar...

Aonde vamos? Na direção do “é proibido proibir”. Isso, até que as mesmas heroínas um dia se tornem mães de crianças e adolescentes e descubram que sem semáforos em casa e na sociedade ninguém avança. Precisamos redescobrir a palavra não! Ela nem sempre é negativa. Lembra-se do dia em que você, ainda criança começou a bater a porta da geladeira e a mãe reagiu irada? Pois é. De estudantes universitários era de se esperar que já tivessem entendido a importância do limite. E nem sempre somos nós a decidir onde eles começam. Faça isso no trânsito e seus amigos em lágrimas saberão no que dá, isso de passar por cima das leis vigentes. Nem todas elas são estúpidas...



INCIVILIZADOS


Civitas (pronúncia: cívitas) e polis (pronúncia: pólis) referem-se à arte de viver em comum. Delas vieram os conceitos de cidadão, cidadania, civismo, civilidade, civilização, política, politicagem. Trata-se a virtude da convivência, de achar o nosso lugar e nossa vez e respeitar o lugar e a vez do outro.

Platão no seu “De Republica”, Livro V, cita como sinal claro de cidadania a descoberta do “meu” e do “não meu”. Quando, pois, na cidade e no país se rouba, se desvia vultosas e polpudas quantias de dinheiro do povo para o bolso do político, do partido e dos seus apaniguados, quando se aplica errado o dinheiro das igrejas e o pregador enriquece visivelmente, quando alguém assalta, rouba e mata para tomar posse do que pertence ao outro, quando nossos parentes e amigos têm mais chance porque estamos no poder, quando damos emprego a familiares e amigos do peito; quando nos colocamos em primeiro lugar como se, por termos dinheiro, fama, ou poder fôssemos mais cidadãos do que os outros... Uma cidade e um país correm perigo, posto o nosso é cada dia mais nosso e o dos outros passa a ser cada dia mais nosso.

É o caso do Brasil de agora que, quase todos os dias instaura mais um inquérito e abre mais uma sindicância para verificar as responsabilidades. No fim o culpado é o clima, são os raios, os pilotos que morreram. Quem tem algum poder escapa ileso: a grande construtora e o grande funcionário. É a clássica versão da culpa do mordomo. Onde há muita corrupção e impunidade há pouca cidadania e onde há brechas demais para quem tem poder há sangramentos demais nas reservas moais de um país. Mina-se a confiança do povo.

Tudo começa no cotidiano. Cidadão que fura fila porque é amigo do amigo do secretário do prefeito; distinta senhora que consegue porque é prima da primeira dama e por quatro anos a família dela será mais cidadã do que as outras... Um jeito aqui, outro jeito ali e, de jeito em jeito, criamos um país sem jeito.

Os fura filas, o lixo nas ruas, os pneus e fogões boiando no rio, o barzinho com o som ao máximo após as 10 da noite, os palavrões e os murros, os gritos na rua em plena madrugada, o carro estacionado em frente à garagem do outro... Quando isso deixa de ser exceção para ser corriqueiro, a democracia corre perigo. Começa na rua e continua no Congresso.




NUS PERANTE MILHÕES


Nuas por alguns milhões. Nuas perante milhões. A linda moça disse que vendeu 1,5 milhões de cópias. Triunfo da beleza. Triunfo do marketing. Exaltação do estético. Quem comprou queria ver ao menos a imagem da mulher que nunca poderá ter perto de si.

A moça que briga pelo direito de mostrar-se mais na praia, na faculdade e na televisão sem ser punida e o casal que teimou em caminhar totalmente nu pela praia desafiaram um costume. Em nosso país o costume é o de caminhar vestidos de maneira adequada, em público e em casa. Um juiz tem o direito de proibir que um casal ande em roupa diante dos filhos e filhas, ou que receba as visitas sem roupas.

Os costumes de um povo impõem limites. Cristãos, judeus e muçulmanos, budistas e hinduístas consideram o corpo sagrado. Expô-lo demais e para qualquer um é ofensa e transgressão. A nudez pode até ser bonita, mas não é decente ostentá-la diante de quem não quer vê-la. Também é questionável a venda do corpo, como se vendê-lo fosse o mesmo que vender um objeto bonito, que não é a pessoa. Acontece que enquanto estivermos vivos somos também nosso corpo.

Por isso, a Igreja impõe limites para a nudez. O mundo parece não aceitá-los mais. Mais cedo ou mais tarde veremos as suas conseqüências. Há mistérios na pessoa humana. O corpo é um deles. Tratá-lo como se fosse um colar, uma faixa ou uma pulseira que se exibe pode ser nefasto.

Perguntada sobre seu passado, o que ela não repetiria se voltasse atrás, uma jovem senhora que duas vezes posara nua para revista masculina disse que aquilo de ter se desnudado em fotos para milhões de pessoas a incomodava. Depois dos vinte e cinco anos, o amor e o casamento lhe trouxeram outra dimensão do corpo e da sexualidade. Os filhos, agora jovens, a compreendem, mas se ele pudesse viver de novo, não mais se desnudaria para olhos desconhecidos. A vaidade, o dinheiro e o marketing a haviam seduzido. O matrimônio e a maternidade a fizeram ver que o corpo humano é sagrado. Não se o descortina a qualquer um.

À outra entrevistada que achou aquilo um retrocesso, disse ela:- Opinião também é sagrada. Eu respeito a sua. Agradeceria se respeitasse a minha!



MEDO DE CORRESPONDER

Do livro “ Um Entre Bilhões”

Se pondus é peso e se ponderar é assumir-nos como pessoas que respondem então sólida é a pessoa que tem como e o que responder e sabe corresponder. Relações de peso são portanto relações sólidas solidárias e conscientes. Responder de direito e de fato é ponderar junto. Supõe reciprocidade. O outro posta, você resposta, pondera e você re-pondera, fala e você reage. A relação é de conteúdo e de peso. Corresponder supõe responsabilidade, ou seja: capacidade de responder pelos nossos atos. É coisa de pessoas em diálogo, às vezes terno, ás vezes, sereno, às vezes, áspero. Ainda assim pode ser diálogo.

Não se faz isto sem alteridade, sem reconhecer o outro com os seus valores, ainda que ele não pense como você pensa. Se quiser dialogar com a árvore, com o cãozinho, com o seu papagaio, vá em frente! Não é diálogo no mesmo nível. Por isso é mais fácil. Eles raramente o desafiam! O cãozinho entortará a cabeça até captar suas ordens. O papagaio falará o que sempre falou. Mas, se dialogar com seres humanos será desafiado pela imprevisibilidade da resposta deles. Como os animais, nem sempre as pessoas respondem como esperávamos, mas quando respondem lançam-nos o desafio da clareza.

Pessoas, às vezes prometem uma coisa e fazem outra, porque nem todo ser humano é confiável. Também as feras domadas não são. Chega o dia em que o leão come o domador... Se você não tiver medo do outro, fale, pergunte, deixe que ele fale e responda e aceite que pessoas nem sempre correspondem. Conte com a possível mentira, o embuste, a ingratidão. Mas confie, porque é melhor confiar e ser enganado do que desconfiar a vida inteira de tudo e de todos. È assim que se constroem a fé, a família, as amizades, os grupos sociais, a cidadania.

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Se tiver medo da fé ou das idéias dos outros, torne-se um fanático a mais e fale o tempo todo. Não deixe o outro falar. Interrompa-o a todo instante e insista que Deus assim o quer porque você é porta-voz dele! Evite que o outro conclua o que está dizendo, amordace-o e não o ouça por nada neste mundo. Fanático que se preza não dá chance para o outro se expressar. Se o faz, não prossegue no assunto. Muda-o com uma pergunta fora de contexto, porque diálogo não é com ele. O fanático religioso ou político não troca nem vende idéias, Impõe a sua.

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Fanáticos adoram pregar e odeiam ouvir as pregações dos outros. Fazem inimigos com a maior facilidade. Basta que um irmão discorde para excluí-lo do seu círculo. Não hesitam em jogar seus discípulos contra quem aponta neles algum desvio. Fanáticos são tudo, menos generosos para com quem pensa ou crê diferente deles.

Se você é um misógino, desses que vêm cheios de novas idéias, mas temem as novas idéias do outros; se tem medo de ouvir ou ler os outros, comporte-se como quem já viu, já foi revelado e já sabe tudo. Morra de medo da opinião dos outros e continue embrião, botão, lagarta, crisálida. Seu mundo será sempre pequeno, redoma feliz onde não cabe ninguém que pense, ore, cante, fale ou cuspa diferente de você. Mas se for honesto, não diga que foi Deus quem o fez essa pessoa fechada e ditatorial que gosta de falar, mas não gosta de ouvir os outros.
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O certo é que seu pequeno mundo-redoma terá o tamanho do seu pequeno cérebro. Será como aquele astrônomo que nunca aceitou os modernos telescópios nem as novas lentes dos seus colegas. Descobriu, num congresso do qual não foi possível fugir, que estava cinqüenta anos atrasado. Parara de ler os outros e de ver as novidades no campo da física e da astronomia. Via tudo, mas não soube ver o novo chegar...

Pe. Zezinho, scj



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Um comentário:

  1. Nossa como seria bom e instrutivo se mais pessoas tivessem o conhecimento de poderem ler, compreender e no possível colocar em prática estes sábios artigos escritos por essa pessoa iluminada e abençoada que é nosso Pe.Zezinho,scj!!!

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