terça-feira, 22 de setembro de 2009

Artigos - 19 Setembo 2009

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ENTRE O BELO E O FEIO

Ser mais bonito do que os outros, acontece. Ser menos bonito, também. Mas isso ainda não faz a pessoa. É um adendo. Tanto a beleza pode ser um peso quanto pode sê-lo um corpo ou um rosto menos chamativo. Descartemos a palavra “feio”, porque é relativa. O que para uns é feio, para outros é bonito. Poucas belezas são unanimidade.

A Igreja precisa educar para o visual correto e formar os seus fiéis na convicção plena de que não basta o estético. É preciso o ético que nos leva a ver além das aparências. Quando a Igreja deu o grito de “queremos ver Jesus” estava dizendo tudo isso nas entrelinhas.

Nas feições dos pobres, dos negros, dos índios, dos pequenos, dos grandes, dos corpos desajeitados, na festa de Corpus Christi, na festa da Eucaristia, o que a Igreja ensina é que corpos feridos e mutilados ressuscitam e que pessoas massacradas têm beleza extraordinária, desde que as vejamos além das aparências. E dai se Madre Tereza não era bonita de rosto? O que ela viveu foi ou não foi bonito?

Há bonitos que se tornam feios. Como levaremos nosso discurso de que o que a sociedade considera feio é bonito e que aquilo que a sociedade considera bonito nem sempre é bonito? Muitas vezes é horrorosamente feio, porque vem acompanhado de egoísmo, mentira calculada, planejada e até de drogas e outras violências. Como convencer uma sociedade como a nossa de que o estético não pode vir em primeiro lugar, embora seja importante? E Jesus? Para fazer o que fez tinha que ser bonito? Maria tinha que ser bonita? Os santos tinham que ser bonitos? Beleza e bondade são dois substantivos diferentes. Às vezes combinam, às vezes não! Quem disse que o diabo é feio? Ele se disfarça muito bem. Há belezas que levam ao pecado e à morte. Quem disse que a cocaína é um pacote feio? É pelos resultados que se vê sua feiúra.


ECUMENISMO E ENTREGUISMO


Tome o leitor a sua Bíblia e, se gosta de tira-teimas, com um pincel amarelo assinale os trechos nos quais católicos, ortodoxos e evangélicos divergem. Perceberá porque devemos nos encontrar em espírito de “oikia”. Se chegar a tanto, não será 2% daquele livro. Na Palavra de Deus há muito mais do que nos une do que daquilo que nos separa. Se soubermos dialogar sobre o que nos une e respeitosamente discordar sobre o que nos separa, administrando fraternalmente essas diferenças, teremos alguma chance de aqui e depois. É de caridade que estamos a falar. Se quisermos ofender e diminuir os outros por causa das diferenças, a chance é a de que, em nome da verdade mais verdadeira, criemos um inferno ao nosso redor. E isso tem acontecido em todas as igrejas por parte de alguns fiéis mais aguerridos.

Temos e devemos ter o direito de não pensar nem orar do mesmo jeito. Num mesmo jardim há frutos diferentes e flores diferentes. Não é tudo a mesma coisa, mas um bom hortifrutigranjeiro ou jardineiro sabe o que fazer com elas. Só quem não entende de flores e de frutos negará o valor de cada qual. Talvez queira só rosas e só laranjas no seu quintal. É seu direito, mas não terá entendido o porquê das diferenças.

Uma casa de boa família terá diferenças que, nem por isso, impedirão pais, filhos, irmãos e parentes de se respeitarem. Não dá certo o lar onde um quer saber mais e mandar mais do que o outro; onde sempre se impõe a própria visão da verdade, onde não se respeitam os mais velhos e não se ouve os mais novos. Famílias que é família dialoga. Não dá certo uma vizinhança onde um se acha mais do que o outro e só vê defeitos nas famílias ao lado. Ali não pode haver “oikumene”. Isso de ver só anjos do nosso lado e só demônios do outro é uma das piores maneiras de viver em sociedade.

Está em livros e na Internet a campanha pró e contra o ecumenismo. Que alguém não queria tal aproximação pode-se até admitir, embora entre nós católicos tenha ficado mais do que claro em documentos e encíclicas como, por exemplo, o Decreto Unitatis Redintegratio do Concílio Vaticano II e a encíclica Ut Unum Sint, de João Paulo II que, pelo menos nós, católicos, não devemos fugir desse diálogo. E, diz o Documento de Aparecida, nº229 e nº 230 que se deve reabilitar a autêntica apologética que não tem porque ser negativa ou meramente defensiva per se. A unidade é dom do Espírito Santo e devemos pedi-lo.

Não falta, contudo, crueldade a alguns que, nos chamam de entreguistas e irenistas e nos acusam de sacrificar verdades e doutrinas para nos sairmos bem perante todos. Rejeitando todo e qualquer ato de ecumenismo, tentam provar que eles, os aguerridos não-ecumênicos, estão certos e nós, que nos encontramos em diálogo, somos errados. Não entendem que é possível dialogar sobre todos os temas, concordando, ou discordando sobre aqueles em que haja divergências. O papa o faz, os bispos o fazem e todos devemos fazê-lo. Mas para isso será preciso conhecermos melhor a Bíblia e nosso catecismo. Não se envia qualquer um, nem se deve ir de qualquer jeito a esses encontros. Vai quem já mostrou que tem convicções, mas respeita as diferenças.

Dialogar não significa ceder, nem perder. Até porque, diabólico é o gesto de quem separa e angélico o de quem leva mensagens. A paz depende da atitude da reconciliação e de, se preciso, deixar para depois dela a oferta ao pé do altar. ( Mt 5,23-24) Não é frase de um modernista demolidor da fé. Em Mateus afirma-se que foi Jesus que a proferiu!


ELE TINHA JESUS


Havia um moço que dizia que tinha Jesus no coração e que, por isso achava que podia tudo. -Eu sei que Jesus que tudo pode, e nele eu tudo posso. Nada me é impossível - dizia. Afirmava que a força que tinha vinha de Jesus e que, por isso sua fé era poderosa. Não tinha noção do risco que é proclamar-se poderoso.

Entendera mal a frase de Jesus e a de Paulo. Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível. (Mateus 19, 26) Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece. (Filipenses 4: 13) Uma coisa é dizer que aquele que me dá forças tudo pode e outra, dizer que tudo posso em Jesus. Vale dizer: se eu o invocar com fé, conseguirei. Nem sempre as coisas saem do nosso jeito. Paulo usou de metáfora, porque ele mesmo mostrou que não podia tudo, quando três vezes pediu para ser libertado de um problema que o incomodava e Jesus lhe disse que lhe daria ajuda na hora, mas que não o libertaria do problema.

Jesus mesmo, filho encarnado que também sofria, disse ao Pai que, se possível, o libertasse daquela hora de dor e não foi libertado. E certamente não foi por alta de amar! O mesmo Jesus que diria, antes de ir para o céu, que tudo lhe fora dado pelo Pai, (Mt 28,18) dissera que sem o Pai ele nada podia.(Jo 5 30) Mc 9,23 põe na boca de Jesus a afirmação de que tudo é possível para quem crê. O que está por traz dessas afirmações aparentemente contraditórias? O fato de que ninguém pode se proclamar poderoso porque ora e tem Jesus no coração. Tem o poderoso, mas nem por isso tem oração poderosa.

Se quem podia tudo no Pai não pode algumas coisas, como, converter Judas, porque muitas graças passam pela vontade da pessoa, então um cristão não pode sair por aí dizendo que tudo pode. Não pode! Tudo é possível, mas nem tudo me convém, disse o mesmo Paulo (1 Cor 6,12). Era metáfora, da mesma forma que alguém afirma que Deus é tudo, mas sabe que Deus não é tudo, porque Deus não é pecado, nem mentira, nem falsidade. Há coisas que Deus não é. Então Deus não é tudo.

Quem acha que tudo pode em Jesus e sai por ai marketeando poder garantindo curas, chamando fiéis, filmando seus cultos de cura, pregando e ressuscitando, terá que explicar porque na sua família há pessoas que não se curaram, mesmo com todas as suas promessas. Uma coisa é orar por milagres e outra é garantir que acontecerão.

Então estamos conversados. Ter Jesus no coração é uma coisa e ter o poder de Jesus é outra. Ter um pouco é uma coisa e ter tudo é outra. Cuidado com as pregações retumbantes e peremptórias. Talvez contenham mais marketing do que verdade!


ELEGANTES, RETOCADOS E ATRAENTES


Nada contra a maquiagem e o retoque. A maioria precisa. Mas tudo contra o exagero. Nosso tempo se tornou a era do visual, que precisa ser elegante, atraente, bonito, se possível metro-sexual. Tudo na medida do belo, do estético, do sedutor. É questão de sobrevivência. Não há lugar para aqueles cujas formas corpóreas não agradam e, se houver, terão que ser muito inteligentes, muito engraçados ou muito talentosos. O cidadão comum não tem muita chance se não for esteticamente apresentável e se não agradar aos olhos. Já a beleza em muitos casos vale no mínimo seis talentos. Quem é bonito já larga na frente!

Há uma beleza que leva ao sucesso. A que leva ao abismo infelizmente, também existe. Em alguns casos, basta ser bonito para se conseguir o emprego, mesmo que a pessoa não tenha outras qualificações. Na era da super exaltação do corpo, o corpo é em si mesmo uma qualificação.
O raciocínio é aberto:
-Sou bonita, logo conseguirei esse emprego, mesmo que não seja capacitada.
-Sou bonito e tenho mais chance de conseguir esse emprego, mesmo que não tenha a capacidade dos outros. As empresas olham não apenas, mas também a aparência. Pequenos e grandes novos deuses, eles e elas, transitam pela mídia, pela televisão, por outdoors e revistas ostentando aquilo que constitui seu maior apanágio: um corpo para ser visto e desejado!

Beleza dá lucro. A moça, extraordinariamente linda e inteligente, que trabalhava como inspetora de qualidade numa firma exportadora sofreu o constrangimento de ter sido convidada para entreter e agradar o dono de uma firma espanhola que viera estudar a compra daqueles produtos. Ao reagir indignada, recebeu o recado de que tinha sido contratada pela beleza e não por outros atributos. Não foi. A partir daí complicaram tanto a sua vida que ela pediu demissão. Infelizmente não foi a primeira nem será a última.

Numa era como essa, o que pode e deve fazer uma Igreja que se diz cristã e que anuncia o corpo consagrado do Cristo, mas também massacrado e crucificado? O que faz uma Igreja diante de tantos corpos mutilados e feridos, sem estética? O que faz ela com eles e o que pode fazer por aqueles que, não tendo um corpo de deuses humanos, têm, porém, um coração extraordinariamente bonito e humano? Que pais e catequistas respondam! Passa por eles o conceito cristão do corpo.



ENVELHECER EM CRISTO


No balcão ela que conhecia minhas canções desde a infância, disse à queima roupa:- Nossa! Como o senhor está envelhecendo! Depois pediu desculpas pela sinceridade. Respondi brincando que, se Jesus não tivesse sido assassinado um pouco depois dos trinta, ele também aos 68 anos teria perdido alguns fios de cabelo, a pele não seria mais tão jovem e provavelmente pagaria, como todos nós, os juros de viver mais tempo. E já que ela invocara Nossa Senhora, Maria também ficou idosa.


Ela riu e disse que nunca havia pensado nisso. Foi uma boa conversa com ela e com as três senhoras ao lado. Acharam graça na idéia de que Jesus não envelheceu por ter morrido antes e que Maria, provavelmente morreu com algumas rugas no rosto.

Mas conheço católicos que apelam para um dogma que não existe dizendo que, por ser mãe de Jesus, Maria foi poupada da velhice. Que ela foi eternamente jovem. Não deixa de ser um resquício do juvenilismo imaginado por pintores da idade média, quando o triunfalismo da fé era retratado com anjos e santos sempre jovens. Maria com seu filho de mais de trinta anos, morto e no seu colo, em algumas pinturas parece mais jovem do que o filho. A realidade foi outra.

Os santos envelheceram. Anjos, por não serem humanos não envelhecem, mas os humanos, por mais angelicais que sejam, depois dos sessenta passam a depender das pílulas e do calcanhar. Devem suprir o corpo daquilo que começa a faltar e precisam movimentar-se, para não perder a qualidade de vida.

Mas há uma graça de sabedoria no processo envelhecer. Vamos perdendo as ilusões, burilando e pincelando melhor, os nossos sonhos. Com exceção de alguns mais rabujentos e intolerantes, os mais velhos têm serenidade e bom humor. Exceto as escadas e as subidas, aos 70 ou 80 anos as coisas parecem ter sua justa dimensão. Vejo mais pessoas idosas nos templos, nos supermercados, nos shows de reflexão e de fé, bem mais do que nos shoppings e nos estádios. Talvez isso diga alguma coisa a mais para os filósofos, psicólogos e antropólogos. Para os filhos e netos parece claro: a beleza e as novidades, o desejo de comprar e ter é substituído pelo desejo de ser, simplesmente ser! Viver passa a significar mais ser do que ter, mais estar presente do que tomar posse. Corrijam-me se eu estiver errado!


Pe. Zezinho, scj

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3 comentários:

  1. É mesmo,por demais incríveis e verdadeiramente sábias as colocações do Pe.Zezinho,scj.Ele consegue colocar em palavras muitas coisas que as vezes ou sempre penso,mas jamais ousaria falar...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ele e suas canções embeza o mundo, só fala de Deus e procura catequisar com suas palavras ,sábio como é ,vive para Deus e de Deus ele canta a vida e suas experiências.
    rezo por ele.

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